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Huracán elimina Boca Juniors da Copa Argentina

Torcida do Boca estava em campo. Nas o time, não.  E o Globo se aproveitou
Torcida do Boca estava em campo. Nas o time, não. E o Globo se aproveitou

Cotejo foi no estádio Bicentenário de San Juan. Só que mais parecia a famosa “Caixa de Bombom”, já que todo mundo se vestia com as cores xeneizes, exceto uns gatos pingados, que partiram de Parque Patrício à distante e fria província de San Juan. E dentro de campo foi aquela história prevista: um time sério diante de um bando de garotos mal orientados e perdidos em campo. E a bolinha dos meninos foi pequena demais; minúscula na primeira etapa, quase invisível, na segunda. E se esta era a história do jogo, ela era contada também pelos bravos guerreiros do Globo. Em campo, se desdobraram na marcação, na correria para construir o contragolpe, na braveza de Echeverría, na técnica de Martínez, no meio, e do oportunismo de “Wachope” Ábila, no ataque. Resultado foi 2×0 Huracán e vaga merecida nas oitavas de final da Copa Argentina.

Desde os minutos iniciais o que se viu foi muita gente na cancha. Muita animação e muitos cânticos para acalentar a moçada. Só que dentro de campo foi aquele corre-corre sem graça, improdutivo: besta. Uma bobagem de jogo. Mas tudo isso do ponto de vista do Boca. Para o Globito não poderia haver jogo melhor. Proposta era mesmo a de vencer o duelo por pontos; primeiro desgastando o rival; depois, se valendo dos espaços ofertados por ele e apostar na correria produtiva para guardar ao menos uma pelota no arco. De forma que o Boca não conseguiu superar a forte marcação pelo centro do campo. E mesmo quando Carizzo e Castellani se soltavam e levavam perigo pelos lados dificilmente a pelota chegava na cabeça do sonolento Gigliotti.

Quando se defendia, o Globo fazia duas linhas bem recuadas para marcar e contava com o auxílio de Martínez e Toranzo para puxar o contragolpe. Ramón Ábila ficava isolado na frente, esperando pela bola do jogo. Taticamente o Huracán se dispunha melhor pela cancha, mas tampouco isto foi suficiente para movimentar o placar no primeiro tempo.

Na segunda etapa, a pressão xeneize deu o tom do que seria a peleja em San Juan. Muita correria e a redonda jogada de um lado e de outro e sempre com um cruzamento final para a área, como se não houvesse nenhuma outra forma de se praticar futebol. Visível que para certos técnicos pré-temporada não significa absolutamente nada. Isto é péssimo para o futebol. Contudo, felizmente existe o contrário: técnicos que estudam, modernizam-se e desenham o esquema de seus times a partir das características de seus rivais. Foi assim com Frank Kudelka, que chamou vários jogadores no particular para mostrar como o Boca jogaria. E foi para campo treinar a moçada para atuar nos erros do rival. Em campo não deu outra na primeira etapa. Mas no segundo tempo teve mais.

Teve o gol de Ábila, logo aos 11 minutos, após um erro no meio-campo e uma enfiada de bola precisa de Martínez para “Wachope” guardar. Na fala do técnico, enquanto treinava os garotos, ele destacava que seria no segundo tempo que o Globito ganharia a partida. Alertava que o cansaço xeneize otimizaria seus erros na condução da pelota e que o desespero em sequer levar perigo ao arco de Díaz seria o seu pesadelo na segunda etapa. Isto, associado à má preparação física do rival, daria ao Huracán, no segundo tempo, todos os espaços que ele não teria nos primeiros 45 minutos de jogo. E foi bem assim que a história aconteceu.

O problema físico ficou visível na queda de produção de Castellani e Carrizo. E isto junto com a perda de lugar em campo de Callieri, que batia cabeça com Forlin, Erbes e até Hernán Grana. O ex-lateral do All Boys não marcava ninguém, não cobria no meio e praticamente virava atacante para poluir um espaço tomado por um bando de xeneizes batendo cabeça e por um exército quemero comandado de forma brilhante por Santiago Exheverría. Não era a noite do Boca. E para resolver todo o problema bastava chamar o craque no banco. Bianchi mandou a campo “Burrito” Martínez para ser encaixotado por Carlos Arano e Vismara.

E aos poucos o nervosismo apareceu como sinônimo da perda de rumo dos meninos de Bianchi. E se estavam perdidos era por não ter ninguém para comandá-los. Castellani tem bola para ser titular do Boca Juniors, assim como Grana, Forlín, Isúa e Callieri. Mas correm o risco de serem queimados se a responsa cair todas nas suas costas. Burrito Martínez e Gago tampouco tem jogado bola e faz e tempo. Mas quando a equipe passa apuros, e o seu treinador faz alterações a partir do nome de quem está no banco e não a partir da necessidade de alterações táticas consistentes, é porque esse treinador já abandonou seus homens em campo. E se esses homens são garotos, na sua maioria, eles serão queimados pois não podem suportar uma responsabilidade incompatível com sua natureza. Eis o Boca no jogo de hoje; eis o cenário comandado por Carlos Bianchi no banco de reservas do clube da Ribera.

Mas estamos falando de um problema do Boca, não do Huracán. Ao Globo bastava seguir na sua proposta de desgastar o adversário e praticar seu jogo a partir dos erros do seu confuso rival. E esses erros eram cada vez maiores. Pelota era conduzida e jogada na área. Às vezes até que assustava um tantinho, mas o fato é que os comandados de Kudelka se faziam senhores da partida e justificavam o placar. Tanto foi assim que logo aos 21 minutos Fede Mancinelli guardou o segundo gol no arco de Orión. Pelota parada quase no meio-campo e Toranzo a levantou para o cabeceio livre do ex-zagueiro do Olimpo de Bahía Blanca: 2×0 Huracán e números finais à partida.

Depois disso, melhor mesmo era se o jogo tivesse acabado. Isto porque o que se via era um retrato de time que nada tinha das tradições futebolíticas da gloriosa esquadra da Ribera. Jogo sem variação; o mesmo 4-4-2 de sempre: cansativo, previsível e estudado aos extremos pelos técnicos dos times adversários.

A cada segundo, ficava claro que o resultado era justo não tanto pelo futebol praticado pelo Huracán, mas pela ausência do futebol dos xeneizes que o Huracán, no seu planejamento, sabia que o seu rival não jogaria. Coisa feia; cenário de horrores: verdadeiro pesadelo para quem aprendeu a torcer pelo Boca por amar o seu futebol de qualidade, mágico e de ampla capacidade de surpreender. Este futebol não apareceu hoje no Bicentenário de San Juan. E por isso o Globo mereceu a classificação. Segue na Copa Argentina e espera por Banfield ou Quilmes, nas oitavas de final do torneio.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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