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Huracán Corrientes: da primeira divisão às ligas regionais

Quando se pensa no futebol de Corrientes, a primeira lembrança pode ser a do Boca Unidos, que representa a província na B Nacional. Ou o Deportivo Mandiyú, time cascudo na elite entre o fim dos anos 80 e 90, primeira equipe a ser treinada por Diego Maradona. No entanto, Corrientes já teve outro representante na primeira divisão: o Huracán Corrientes, que hoje completa 93 anos.

O clube foi fundado por admiradores do Huracán de Buenos Aires, que na época da fundação do correntino estava entre as grandes forças do país: nos anos 20, ganharia quatro dos seus cinco títulos argentinos, sendo ao fim da década mais vitorioso que o rival San Lorenzo, o River e o Independiente – inspirou diversos outros Huracáns na Argentina, dentre os quais o de Tres Arroyos (que revelou Rodrigo Palacio), que também passou recentemente pela elite, entre 2004-05. Curiosamente, o de Corrientes adotaria as mesmas cores do San Lorenzo. Quase uma versão argentina do Juventus-SP.

No fim dos anos 1960, com a reorganização do futebol argentino que incorporou as equipes do interior ao campeonato nacional, o Globo passou a participar das divisões inferiores dos torneios promovidos pela AFA. Mas sem muito sucesso: a grande façanha do clube naqueles anos foi ter revelado o zagueiro Francisco Sá, o jogador que mais conquistou títulos de Libertadores (Independiente 72/73/74/75 e Boca Jrs. 77/78). O zagueiro também foi titular na Copa do Mundo de 1974.

Atualização em 25-10-2015: para saber mais da carreira de “Pancho” Sá, temos esta matéria.

Mas após se fundir com o Atlético Corrientes e adquirir seu nome atual, a equipe ganhou força. Na temporada 1995/96, contando com jogadores como o goleiro Gastón Sessa (que depois se destacou por Rosario Central, Racing e sobretudo Vélez e Gimnasia LP), o atacante uruguaio Josemir Lujambio e o zagueiro Diego Capria (que jogaria no Atlético Mineiro e seria azulgrana também no San Lorenzo, convertendo o pênalti do título da Copa Mercosul de 2001), conseguiu o que parecia impossível.

Primeiramente, o time venceu com alguma folga o primeiro turno da B Nacional, a cinco pontos do segundo Atlético Tucumán e diante de muita gente gabaritada na elite (Tigre, Unión, Chacarita, Atlanta, Quilmes, Talleres) ou na segundona (All Boys, Nueva Chicago, Almirante Brown).

Julio Marinilli, Gastón Sessa, Andrés Gaitán, Darío Ortiz e Diego Capria; Gonzalo Gaitán, Jorge Reinoso, Luis Sosa, Daniel Dobrik, Josemir Lujambio e Oscar Alsina. Time da elite 1996-97

Na final contra o vencedor do segundo turno, o tradicional Talleres, levou em casa o empate em 2-2 mas surpreendeu e massacrou em plena Córdoba o oponente por 4-1, gols uruguaios: foram de Lujambio e três de Luis “Chiche” Sosa, antigo ídolo justamente do grande rival do Talleres, o Belgrano. O Huracán garantia vaga na principal divisão do país enquanto o Mandiyú caía para não mais voltar.

Infelizmente, as coisas também não correram bem para o Globo em sua passagem pela primeira divisão. Depois de 3 derrotas e 2 empates, a equipe só conseguiu sua primeira vitória no Apertura 1996 na sexta rodada, ao vencer o Platense em casa por 1-0. Depois de mais 5 empates e 4 derrotas, a equipe finalmente conseguiu uma sequencia de 3 vitórias consecutivas: 4-1 no Newell’s, 3-0 no Vélez e 3-2 no Independiente. Com apenas 19 pontos, o risco de rebaixamento era grande, mas o bom final dava esperança aos torcedores do clube.

Mas o Clausura 1997 começou da pior maneira possível para o Globo, que não conseguiu vencer nos primeiros dez jogos (curiosamente, nove dessas partidas terminaram empatadas). Com isso, praticamente selou seu retorno à B Nacional. Nas últimas nove partidas, teve quatro vitórias (Lanús, Ferro Carril Oeste, Independiente e Gimnasia LP) e cinco derrotas. Fez 21 pontos no torneio e 40 na temporada, decretando o rebaixamento. Ainda assim, Lujambio foi à Copa América.

A partir daí, o clube desceu a ladeira. Caiu da Nacional B para o Argentino A em 1999, e logo depois foi parar no Argentino B e em seguida no Torneo del Interior, também conhecido como Argentino C, a quinta divisão do país. O Huracán Corrientes havia gasto menos de uma década para cair da primeira até a última divisão.

Atualmente, a equipe disputa a Liga Correntina, formada por equipes amadoras e semi-profissionais de sua província natal. Após experimentar o gosto de disputar uma temporada entre os gigantes do país (que incluiu vitórias sobre o Independiente nos dois confrontos), parece um fim medíocre.

Mas quem conhece o futebol argentino sabe que esses pequenos clubes são parte integrantes de suas comunidades e possuem seus torcedores apaixonados e fiéis. Que festejaram bastante o título da Liga Correntina conquistado pelo clube em 2010 (abaixo). À sua própria maneira, o Huracán Corrientes segue vivo.

Francisco Sá, maior revelação do clube, é quem mais venceu a Libertadores. À direita, festa pelo título correntino de 2010
Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

View Comments

  • Vale expor aqui o que conversamos via twitter: o nome do Huracán camisa do Santa Cruz. Logo, sua ligação com este time vem do inconsciente.

    Abraço.

  • tenho de concordar com os dois ao mesmo tempo. na foto do Lujambio a camisa era muitissimo parecida com a que o Santa usa hoje em dia. Mas na comemoração dos hinchas ano passado, estava mais para Fortaleza mesmo

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