Em uma pequena homenagem a Eusébio, abordaremos os argentinos de destaque por Portugal, que, aliás, foi o primeiro adversário não-americano da Argentina: em 1928, em amistoso preparatório às Olimpíadas de Amsterdã (0-0 em Lisboa). Já o “Pantera” enfrentou duas vezes a Albiceleste, ambas no Rio de Janeiro: pela Copa das Nações em 1964, perdeu por 2-0 no principal torneio vencido pela Argentina até a Copa 1978; e venceu por 3-1, marcando um gol, na Taça Independência em 1972. Duas de suas imagens na Wikipédia como jogador são da principal revista esportiva argentina, a El Gráfico.
Time de Eusébio, o Benfica, dos três grandes portugueses, é justamente quem menos apostou e colheu sucesso com argentinos. Os “encarnados” por muito tempo se orgulhavam por não terem jogadores de fora do Império Português, e o primeiro forasteiro ainda assim era um brasileiro (Jorge Gomes, em 1979), estrangeiro mais comumente apostado pelos lusitanos. Dos clubes atualmente na elite, ao menos dois jamais teriam argentinos vestindo suas “camisolas”: Arouca e Rio Ave.
O primeiro benfiquista hermano foi um astro: Claudio Caniggia, que chegou após a Copa 1994 junto com o goleiro belga Michel Preud’homme, que realmente virou ídolo. Caniggia, nem tanto, mas não foi mal na Luz: foi lá que teve sua melhor média de “golos”, 16 em 33 jogos. Mas o Benfica ficou longe do título, a 15 pontos do campeão Porto. El Pájaro ficou só aquela temporada, sendo repassado pela patrocinadora Parmalat (clique aqui) ao Boca, onde seu segundo jogo foi justo contra o ex-clube.
Caniggia não sabia, mas chegou no início de uma decadência das Águias, então detentoras do título de 1993-94. Desde ali, vieram só outros dois campeonatos portugueses. O último, em 2010, com participação de quatro argentinos. O defensor José Shaffer passou despercebido. Dos outros, dois eram astros no ocaso da carreira e outro, em ascensão: o meia Ángel Di María, que garantiu presença na Copa 2010 e logo depois virou “galáctico” no Real Madrid. Foi colega dos veteranos Pablo Aimar e Javier Saviola, vice-artilheiro do campeão com 11 tentos.
Atualmente, o Benfica tem cinco argentinos: Ezequiel Garay está praticamente certo como titular na Copa 2014. Eduardo Salvio e Enzo Pérez, não usados pela seleção em 2013, correm muito por fora, assim como Nicolás Gaitán, outrora prodígio no Boca. O outro é Rogelio Funes Mori, na luta para se firmar. Franco Jara (Estudiantes), o zagueiro Lisandro López (Getafe) e Luis Fariña (Baniyas) estão emprestados a outros clubes. As bombas que já passaram pela “equipa” incluem o “guarda-redes” Carlos Bossio e o “avançado” Gonzalo Bergessio, ambos ex-seleção.
O arquirrival (e atual líder da liga) Sporting tem hoje dois argentinos, um deles aparentemente também garantido na Copa, embora contestado na seleção: o lateral Marcos Rojo. O outro é o volante e vice-capitão Fabián Rinaudo, último jogador do Gimnasia LP a defender a Argentina, em 2009, depois de quase uma década de ausência tripera na seleção. Mas ídolos nos Leões, mesmo, são outros. A começar por Diego Arizaga (mais conhecido só como Diego em Portugal), dono de 62 “golos” em 92 jogos por quatro anos, na virada dos anos 50 para os 60. Ex-Estudiantes, foi artilheiro do título de 1962, já em tempos em que o Benfica passava a ser o hegemônico em Portugal.
Já Héctor Yazalde foi o primeiro usado na Albiceleste a partir do futebol português, em 1974, para a Copa do Mundo. Não foi por menos: acabara de ser não só campeão nacional duplamente (campeonato e Copa) como também sido o maior artilheiro europeu, com um recorde de gols para a época e ainda não batido para uma única temporada em Portugal, 46. Recebeu a Chuteira de Ouro – só outro argentino a conseguiu, um certo jogador do Barcelona repetidamente eleito melhor do mundo recentemente. Por um bom tempo, El Chirola foi o maior artilheiro estrangeiro tanto do Sporting (só superado pelo longevo Liédson) como do futebol português (superado por Jardel): 126 em 126 jogos.
Yazalde, que até se casou com uma Miss Portugal, já recebeu um especial nosso: clique aqui. O zagueiro Facundo Quiroga, cotado para a Copa 2002, participou dos dois últimos títulos portugueses do clube: 2000, fechando o maior jejum de Alvalade (18 anos) e 2002, e no vice na Copa da UEFA 2004. O plantel de 2000 ainda tinha os meias Aldo Duscher e Julían Kmet, mas ninguém brilhou como o veterano Alberto Acosta, espécie de Martín Palermo (tosco e sem virtuosismo com a bola, mas carismático e batalhador) no San Lorenzo, onde teve idas e vindas e é um semideus.
Acosta, brilhante também na Universidad Católica, é também um dos três únicos usados pela Argentina a partir do futebol chileno. Naquele Sporting de 2000, mesmo aos 34 anos, foi o vice-artilheiro do campeonato, só atrás de Jardel, ainda no Porto (ele próprio seria do Sporting na taça de 2002). Saiu em 2001 para um último retorno ao San Lorenzo, onde enfim ganhou taças, nada menos que as primeiras internacionais do Ciclón: Mercosul 2001 (clique aqui) e Sul-Americana 2002 (aqui). Aposentou-se na última rodada de 2003, onde marcou seu gol 300. O grande maestro azulgrana era Leandro Romagnoli.
Romagnoli chegou aos alviverdes em janeiro de 2006 e ficou até 2009. Na temporada 2006-07, foi um dos líderes do elenco que mais esteve perto do título desde o último; perdeu-se só por 1 ponto ao Porto. Depois mais decadente, com El Pipi o time ainda conseguiu ser sempre vice e ganhar duas Copas de Portugal. Voltou ao San Lorenzo em 2009 e, apesar da fragilidade física que sempre lhe atrapalhou, foi fundamental para evitar o rebaixamento em 2012 e conseguir o último campeonato argentino. Das bombas no Sporting, a mais célebre é Gabriel Heinze, que só jogou 6 vezes entre 1998-99.
Já o Porto tem outro que pode ir à Copa: o “defesa” Nicolás Otamendi. Contestado na de 2010, foi lembrado nos últimos amistosos de 2013 após dois anos fora da seleção, amparado pelo tri português (e a Liga Europa 2011). O outro argentino no elenco atual é o capitão Lucho González, 6 vezes campeão português e hermano que mais jogou pelos Dragões, mais de 200 vezes. Também portista, a sempre promessa Juan Iturbe está emprestado ao Hellas Verona. Os alviazuis são quem mais apostaram em argentinos. Dos destaques, o primeiro foi Francisco Reboredo, com 45 “golos” em 56 jogos.
Reboredo esteve nos dois primeiros títulos portugueses do clube, nos anos 30. Também foi técnico. O Porto foi o primeiro campeão português, mas depois do título de 1940 perderia espaço para a dupla lisboeta até os anos 80 e ficou brigando com o Belenenses para ser a terceira força nacional. Se distanciou um pouco dele com dois novos títulos nos anos 50. O zagueiro José Valle esteve no de 1956, quando venceu também a Copa. Outro destaque da década foi o meia Antonio Porcel. Elio Montaño, um dos maiores ídolos do Huracán e campeão das primeiras Libertadores pelo Peñarol, foi outro a passar naqueles tempos pelo extinto Estádio das Antas. Também jogou no Sporting.
A grande aposta em argentinos já rendeu suas bombas, como o ex-cruzeirense Sebastián Prediger, Mario Bolatti, Diego Valeri (craque do único título argentino do Lanús, em 2007), Hugo Ibarra (lateral do Boca de Carlos Bianchi), Juan Esnáider (ex-Real Madrid e Atlético de Madrid) e o naturalizado espanhol Juan Antonio Pizzi (técnico do San Lorenzo campeão ano passado) sendo as mais conhecidas. Fernando Belluschi não vingou como no Newell’s e no River. Já o artilheiro Lisandro López embalou o tetra portista de 2006-09 e poderia ter ido à Copa 2010 se jogasse por uma seleção menos badalada. Quem também passou quatro anos vencedores foi o meia Mariano González, de 2007-11, outro que correu por fora à Copa 2010. Ernesto Farías foi um bom reserva na época.
Dos times menores, o Belenenses teve seus ídolos. Em 1939, buscando país neutro na Segunda Guerra, Oscar Tarrío e Alejandro Scopelli, jogadores da seleção na década (Scopelli jogou a Copa 1930) e que estavam na França, apareceram. O zagueiro Tarrío, grande ídolo do San Lorenzo, adorava tanto Portugal que lá morreu, em 1973. Scopelli, ídolo do Estudiantes e que defendeu também a Itália, foi jogador-treinador da “equipa” azul de Lisboa naquela temporada, que teve ainda Horacio Tellechea. O time campeão em 1946 tinha o atacante Manuel Rocha, logo vendido ao Real Madrid.
Em 1955, com outro trio argentino, o meia Miguel Di Pace e os atacantes Ricardo Pérez e José María Pellejero, o Belenenses, por muito tempo o único campeão de fora dos Três Grandes graças à taça de 1946 (só o Boavista também conseguiu, em 2001), deixou escapar um campeonato que parecia ganho. Receberia em casa o Sporting, mas concorria pela taça justo contra o Benfica, que vira as quatro edições anteriores serem do ainda hegemônico arquirrival. Scopelli era o técnico sportinguista e isso naturalmente aumentou as suspeitas de que haveria uma “entregada”. Mas o visitante empatou aos 41 minutos do segundo tempo. O resultado dramático deu o título ao Benfica nos critérios de desempate.
Scopelli também treinou o Porto e diversas vezes o próprio Belenenses, conseguindo um vice em 1972 e um 3º em 1948. Outro que passou pelo clube do Restelo, em 2009, foi o zagueiro Fernando Ávalos, ex-Corinthians. Mas ficou mais ídolo no Nacional de Funchal, da Ilha da Madeira, onde passou cinco anos entre 2003-08. Vinha da reserva no Boavista; os axadrezados haviam conseguido seu título em 2001 e ainda foram vice em 2002, na última vez que ficaram acima do rival Porto.
De outros argentinos em Portugal, Cristian Amado, mais conhecido pelo apelido Piojo (“Piolho”), roda há 9 anos pelo país, passando por Portimonense, Silves, Atlético, Imortal e desde 2009 está no Tondela. Já Miguel Perrichón fez história no Braga: bem longe de terem hoje um time consistentemente emergente (vice do Porto na Liga Europa 2011), os arsenalistas conseguiram seu título mais expressivo, a Copa de Portugal de 1966, com gol dele no 1-0 da decisão contra o Vitória de Setúbal.
*Uma semana depois, o Benfica venceu o clássico com o Porto com gol do argentino Garay: falamos aqui.
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