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Histórico dos cortes da seleção argentina após as convocações finais

Sergio Romero e Manuel Lanzini, na imagem acima, não são os primeiros escolhidos na lista final da seleção argentina a terminarem por não carimbar o passaporte na Copa do Mundo. O ineditismo de 2018 está exatamente nas baixas serem duas de uma vez. Mas o drama extra do corte pós-convocação já ocorreu em algumas outras ocasiões na Albiceleste, tanto com astros punidos como com lendas premiadas de última hora.

1958

O primeiro corte pós-última chamada ocorreu na Copa de 1958. Roberto Zárate, ponta-esquerda do River, embarcou junto com os demais convocados rumo à Europa. Lá, participou de dois amistosos na Itália, contra Internazionale e Bologna, respectivamente nos dias 21 e 29 de maio. A ironia é que os adversários continham astros hermanos que terminaram não chamados por na época só se convocar quem jogasse dentro da Argentina.

O time de Milão alinhou Humberto Maschio, Antonio Angelillo e Omar Sívori, exatamente o trio central do ataque Carasucias de Lima, que dera à Argentina o título na Copa América havia pouco mais de um ano. Maschio e Sívori na realidade pertenciam a Bologna e Juventus, respectivamente, sendo emprestados apenas para aquela ocasião (Juve e Inter só viriam a fazer o Derby d’Italia a partir dos anos 60) – tanto que Maschio também enfrentou os compatriotas pelo Bologna. Foi nessa partida que Zárate lesionou-se, sendo na ocasião substituído por Osvaldo Cruz.

Há quem diga que a lesão em si não foi o único fator, pesando também a indisciplina do próprio Zárate, que anteriormente teria se recusado a treinar para fechar-se em seu quarto de hotel para descansar. Stábile havia inserido na lista de espera outros três atacantes: Rubén Koroch, do Estudiantes; Ángel Cigna, do San Lorenzo; e Luis Pereyra, do Newell’s. Mas optou pelo veteraníssimo Ángel Labruna, colega de Zárate no River, onde havia começado a carreira ainda nos anos 30, embora a posição deste fosse na meia-esquerda e não na ponta.

Recortes do Jornal do Brasil sobre a inclusão de Roberto Zárate e posterior substituição por Ángel Labruna em 1958

Afinal, Angelito havia participado das eliminatórias. Sua convocação foi anunciada em 1º de junho e dez dias depois ele entrou em campo na segunda partida da seleção na Suécia. Derrotados por 3-1 pela Alemanha Ocidental na estreia, os argentinos impuseram o mesmo placar sobre a Irlanda do Norte. Mas ao dia 15 sofreram o vexame do 6-1 para a Tchecoslováquia, na última partida de Labruna pela seleção. Foram dezesseis anos de serviços à Albiceleste, então um recorde (depois superado pelos dezessete de Maradona, Zanetti e Ortega). Com 40 anos incompletos na ocasião, ainda é o mais velho a defende-la em Copas do Mundo e no geral.

1974

O corte seguinte, curiosamente, também trocou um lesionado por um colega de clube. O Huracán havia sido campeão argentino em 1973 após 45 anos, e com um futebol dos mais vistosos. Miguel Ángel Brindisi e Roque Avallay já defendiam a seleção desde antes disso, mas Carlos Babington e René Houseman, todos atacantes daquele time, estrearam pela Argentina no decorrer daquela campanha.

Ao fim, só El Inglés Babington ficou de fora na lista do treinador Vladislao Cap, mas apenas momentaneamente. Avallay, que chegou a participar de vitória sobre a França dentro de Paris em 18 de maio, lesionou-se. Inicialmente, a impressão era que em seu lugar seria chamado Cai Aimar, do Rosario Central. A seu favor, embora não fosse um centroavante como Avallay, estava o fato de ter defendido a seleção rosarina que venceu por 3-0 a própria seleção argentina em amistoso havia alguns meses.

Mas a vaga ficou com outro meia, Babington. Ainda mais incomum na situação foi o time titular da estreia contar com o próprio Babington. O anúncio foi feito na mesma noite em que ele encontrou os demais colegas na Europa, surpreendendo inclusive ele mesmo. Desorganização que se viu nos gramados alemães.

Pôster da Argentina de 1974 ainda com Roque Avallay (segundo em pé). À direita, o substituto Carlos Babington

1990

Por fim, outra situação incomum. Para 1990, Carlos Bilardo só definiu a lista final, então em 22 jogadores, a cerca de dez dias da estreia. Da pré-lista de 25, no dia 15 de maio foi cortado o goleiro Julio César Falcioni. No dia 21, foi a vez de Jorge Valdano “morrer na praia”, como ele próprio declarara após esforço hercúleo para entrar em forma (havia parado de jogar ainda em 1987, foi convencido a retornar apenas para jogar o mundial mas lesionou-se no início de maio).

Por fim, no dia 27, após o amistoso final contra o Valencia na antevéspera, lesões também pesaram para a eliminação de José Luis Brown. Assim, o goleiro Nery Pumpido até carimbou na realidade seu passaporte. Titular da Copa de 1986, foi mantido para 1990 e, apesar do frango decisivo na estreia contra Camarões (vencedor por 1-0), começou jogando na partida seguinte, contra a União Soviética.

Exatamente no jogo com a URSS, Pumpido fraturou a perna em choque com o colega Julio Olarticoechea – foi assim que Sergio Goycochea chegou à titularidade. Na época, apesar do mundial já estar em andamento, a FIFA autorizou trocas supervenientes (o que não mais se repetiria): na Inglaterra, por exemplo, outro goleiro, o jovem David Seaman, deu lugar a Dave Beasant.

Para suprir a vaga de Pumpido, a solução parecia óbvia: chamar Falcioni de volta, correto? Não para o treinador Carlos Bilardo. El Narigón convocou Ángel Comizzo, titular do River e que jamais defenderia a Argentina. Ele e outro goleiro argentino daquela Copa, Fabián Cancelarich (das Olimpíadas de 1988), estão justamente no grupo de jogadores que, a despeito de serem convocados a torneios pela seleção principal, jamais a defenderam.

A lesão de Pumpido em plena Copa de 1990. À direita, seu substituto Ángel Comizzo é o primeiro da esquerda para a direita na comemoração sobre o Brasil
Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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