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Há cinco anos, o Arsenal vencia a Sul-Americana

Mosquera, Gandolfi, Cuenca, San Martín, Damonte e Matellán; Gómez, Yacuzzi, Calderón, Díaz e Villar

2012 é um ano dos mais festivos para o Arsenal Fútbol Club. Além de marcar o primeiro título argentino, no Clausura, também está repleto de comemorações redondas para a instituição de Sarandí. Nenhuma delas é tão importante quanto a celebrada hoje e agora relembrada.

O título de meia década atrás, obtido sob o comando técnico do mesmo treinador do Clausura 2012 (Gustavo Alfaro), junta-se a outros marcos rubrocelestes redondos neste ano: 50 anos do primeiro título, a Primera D de 1962; 20 anos do primeiro acesso à segunda divisão, ao vencer um dos zonais da terceirona de 1992; e 10 anos da chegada à elite, como vice da Primera B Nacional de 2001-02. Ainda não foi rebaixado da primeira, status que só Boca e Independiente também possuem.

Além disso, o clube completou neste ano 55 anos de fundação, organizada pela família controladora desde 1979 do futebol argentino: os Grondona, que forneceram quatro dos cinco presidentes do Arse. O time, na realidade, já existia antes, mas informalmente, como uma equipe mirim dos subúrbios de Avellaneda. Como os jogadores dividam as preferências pelos grandes locais (e nacionais), Racing e Independiente, as cores de ambos foram as escolhidas.

Julio Grondona, atual presidente da AFA e vice da FIFA, era um dos rojos (onde também chegou a ocupar a presidência), enquanto o mais célebre blanquiceleste foi o zagueiro Roberto Perfumo. A equipe de rua passou a ser gerida de forma mais séria como uma terapia dos irmãos Julio e Héctor Grondona (maior artilheiro do clube) após a morte do pai, Humberto, em 1956. Atualmente, é única campeã de elite a ter passado por todas as demais divisões do futebol argentino.

Calderón, ex-goleador de Independiente e Estudiantes, foi o nome mais experiente (37 anos)

Antes mesmo de ser campeão nacional na primeira divisão, porém, o Arsenal já era continental. O 5º lugar na tabela agregada da temporada 2006-07 já o garantira em sua primeira Libertadores, para a edição de 2008. Antes, o colocou na Sul-Americana de 2007. Sua campanha nela foi primorosa, embora encerrada com derrota em casa e contasse com jogadores encostados de outros clubes maiores (Gandolfi e San Martín não se firmaram no River, Cuenca no Racing, Mosquera no Estudiantes), pinçados nas divisões inferiores (Yacuzzi vinha do Tiro Federal, Villar do Godoy Cruz, Damonte do Nueva Chicago) ou em fim de carreira (casos de Díaz e Calderón, ambos do razoável Independiente dos anos 90).

O único que vinha da base do Arse era o talentoso Alejandro Gómez. A caminhada começou na eliminatória caseira, contra o San Lorenzo, recém-campeão do Clausura 2007 após um jogo justamente contra o Arsenal, em que este soube complicar. Os azulgranas começaram melhor, com Andrés Silvera abrindo o placar em Sarandí aos 22 minutos. Carlos Casteglione deixou o escore igualado já aos 92. Na volta, no Nuevo Gasómetro, os de Sarandí impuseram um 3-0, com o colombiano Jossimar Mosquera, um contra de Jonathan Bottinelli e com o veterano José Luis Calderón.

A tônica do futuro campeão seria justamente esta: melhores exibições longe de casa, normalmente marcando três. O próximo a sofrer isso foi logo o adversário seguinte: o Goiás, já pelas oitavas. A ida foi no Serra Dourada e contou com uma “contra-virada” relâmpago ao fim. Damonte inaugurou aos 16 minutos o placar, revertido por Paulo Baier aos 25 e aos 76. Aos 79, os visitantes já estavam de novo na frente, com um gol de Pablo Garnier antecedido no minuto anterior por um de Casteglione.

Semifinal, contra o River Plate: Mosquera anulando Falcao García e Cuenca celebrado após os pênaltis

Nas quartas (o Goiás caiu após um 1-1 em Sarandí, com Alejandro Gómez e Harison), o empate sem gols em casa contra o Chivas Guadalajara foi compensado na volta, no Estádio Jalisco. Javier Yacuzzi complicou a situação mexicana ao marcar já no segundo minuto, e também aos 27. Santiago Raymonda fechou os 3-1 – Sergio Santana empatara momentaneamente aos 16 – aos 78.

Pela frente, uma semifinal caseira contra o River, que já estava em crise, mas era naturalmente favorito e já demonstrara grande desempenho em uma classificação espetacular diante do Botafogo, regada a salvadores gols de Radamel Falcao García no fim. O confronto de Davi e Golias, porém, ficou no zero nas duas partidas entre ambos na semifinal. Nos penais, Martín Andrizzi teve o seu defendido pelo riverplatense Juan Pablo Carrizo. O arqueiro dos rubrocelestes (ou melhor, “vinocelestes”, naquela época em que o Arsenal lembrou outro time londrino, o West Ham), porém, brilhou mais.

Cuenca, campeão com o Talleres na Conmebol de 1999, decretou a eliminação do River em pleno Monumental de Núñez ao converter o último, logo depois de ter defendido a cobrança de René Lima. Já havia pego também a primeira dos anfitriões, de Fernando Belluschi. O adversário da final fez o Arsenal voltar ao México, agora contra o América, do técnico argentino-israelense Daniel Brailovsky, e para 100 mil pessoas no Estádio Azteca. Lá, o paraguaio Cabañas abriu o placar para os anfitriões no quinto minuto. Aníbal Matellán igualou aos 31, após boas chances desperdiçadas pelos locais.

Alejandro Argüello colocou os 2-1 aos 55 em chute forte de fora da área. Só que Alejandro Gómez reigualou aos 57 e impôs a virada e a vitória dos visitantes aos 66, em lances parecidos, aproveitando lançamentos de Cuenca e falhas americanas. Com a segunda partida não podendo ser realizada no Viaducto, o Estádio Julio Humberto Grondona, a casa do Arse, por não cumprir a capacidade mínima exigida pela Conmebol para uma final, a festa dar-se-ia no Cilindro, o estádio do Racing.

Os nomes das finais: Gómez e Andrizzi celebrando seus gols no América

A escalação Mario Cuenca, Javier Gandolfi, Josimar Mosquera, Aníbal Matellán, Cristian Díaz, Diego Villar, Andrés San Martín, Damonte, Javier Yacuzzi, Gómez e Calderón não festejou facilmente no estádio do Racing, porém, contra Guillermo Ochoa, José Antonio Castro, Duilio Davino, Ricardo Rojas, Óscar Rojas, Germán Villa, Juan Carlos Silva, Argüello, o argentino Federico Insúa (campeão nacional no último fim de semana, com o Vélez), Rodrigo López e Cabañas: estes abriram 2-0, com Díaz desviando contra cruzamento de Óscar Rojas, e aos 63, com uma bomba da canhota de Silva.

O gol salvador poderia ter vindo pelo experiente Calderón, que carimbou duas vezes o travessão. Para a meia Sarandí que compareceu (a cidade tem 60 mil habitantes; o público, incluindo Maradona, foi de 30 mil), o desafogo só veio a sete minutos do fim. Após dois escanteios e muita insistência, a bola chegou a Andrizzi na grande área após longo passe de San Martín. Mesmo sem equilíbrio e chutando fraco, o meia, que substituíra Villar aos 63 minutos, levou a melhor contra três adversários e deslocou Ochoa.

O inconformismo mexicano levou às expulsões de Davino e do argentino Lucas Castromán, que entrara no lugar de Ricardo Rojas. Pois, como o critério de gols fora de casa também valia para a decisão da Sul-Americana (diferentemente da final da Libertadores), a derrota por 1-2 naquele 5 de dezembro de 2007 bastou para que o Arsenal coroasse o ano em que completou meio século com o primeiro grande título de sua história. E logo o mais expressivo da mesma.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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