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Gabriel Omar Batistuta, o maior artilheiro da Albiceleste

Há exatos dez anos, uma Argentina que chegou favorita como nunca a uma Copa experimentava um dos maiores vexames albicelestes, a eliminação em plena primeira fase do mundial. Mais do que o jogo da queda, o 1 a 1 contra a Suécia marcou também o fim do ciclo na seleção do maior artilheiro dela, naturalmente um dos maiores ídolos do país: Gabriel Omar Batistuta. É sobre a trajetória de Batigol, um dos mais efetivos e potentes (e, contra ele, individualistas) goleadores do futebol nos recentes tempos mais defensivos, que o Futebol Portenho falará neste especial.

Nasceu na cidade santafesina de Reconquista. Na principal cidade futebolística da província, Rosario, deu seus primeiros passos com a bola. Inspirado pelo Maradona de 1986, deixou o basquete de lado e focou-se com a pelota nos pés. Dois árduos anos após o mundial de El Pibe, estreou aos 19 anos no time principal do Newell’s Old Boys, time ligado ao olheiro que descobria o garoto (que teve de aguentar a distância familiar, poucos recursos financeiros e emagrecer bem), o ex-jogador Jorge Griffa. A primeira partida de Batistuta valeu pela terceira rodada do campeonato de 1988-89, entrando no segundo tempo contra o San Martín em Tucumán, em derrota de 0 a 1.

O NOB havia acabado de ser campeão argentino da temporada anterior, credenciando-se à Libertadores 1988, na época em que o torneio era realizado no segundo semestre. E foi sob o peso de uma semifinal do torneio que o recém-saído da quarta categoria leprosa fez seu primeiro gol profissional. Foi no jogo de volta de um confronto doméstico contra o San Lorenzo, clube de porte maior e ainda hoje sedento por uma inédita Libertadores (é o único dos cinco grandes argentinos que ainda não a venceu).

Os rosarinos haviam vencido por 1 a 0 na ida. No campo do Vélez Sarsfield (era a década em que o CASLA não teve estádio), o prata-da-casa liquidou a fatura. Um chute de fora da área desviou em um zagueiro e encobriu o goleiro Esteban Pogany, colocando 2 a 0 no placar aos 10 minutos do segundo tempo. O jogo terminou em 2 a 1 em com a Lepra garantida em uma final, e com Batistuta a já ter a titularidade nas duas partidas da decisão. Os rubronegros chegaram a sonhar com o título, ao vencerem por 1 a 0 no Coloso del Parque, mas em Montevidéu o Nacional não deu chances: 3 a 0, prorrogação em zero e o título, pela diferença de gols no tempo normal, ficou no Uruguai.

Em um mês de carreira, já decidia contra o Nacional uma final de Libertadores, por seu Newell’s Old Boys

Na ressaca, o Ñuls terminou o campeonato argentino de 1988-89 apenas em décimo segundo. Mas Bati, embora ainda inexperiente, já havia atraído olhares europeus: no torneio italiano de Viareggio, uma das mais tradicionais competições juvenis no mundo, ele, atuando pelo Deportivo (hoje, Sportivo) Italiano, foi o goleador da edição realizada em janeiro de 1989. Esteve perto de ficar na Itália já ali, tendo conversado com a Cremonese, que acabou preferindo Gustavo Dezotti.

Quem acertou com ele foi o River Plate, vindo junto com Hernán Díaz e Ramón Medina Bello. Debutou pelos millonarios ainda na temporada 1988-89, na liguilla pre-Libertadores: a segunda vaga argentina na competição não era dada ao vice-campeão nacional e sim ao vencedor desta repescagem pós-campeonato travada entre os que ficaram da segunda à sétima colocação.

Após o Newell’s ser eliminado (não sem antes ele marcar duas vezes em um 5 a 3 no clássico contra o Rosario Central), Batistuta chegou a Núñez especialmente para os jogos decisivos, e a primeira impressão foi muito boa: fez o gol do pequeno título, um golaço em que, girando o corpo, acertou o canto em um chute na entrada da grande área. A vítima? O San Lorenzo.

Todavia, o bom momento no novo clube foi breve. Quando Daniel Passarella assumiu o comando técnico no lugar de Reinaldo Merlo em 1990, Batistuta perdeu sequência, relegado ao banco pelo Kaiser, começando ali a má relação entre os dois. O Millo foi campeão com sete pontos de vantagem para o vice, em um título sem muito vestígio do reforço. A falta de espaço com a banda roja o fez se transferir diretamente para o Boca Juniors, estreando ali em setembro de 1990.

No River Plate, não conseguiu destacar-se, sendo um sumido na volta olímpica do campeonato argentino de 1989-90…

Na Ribeira, começou sob natural desconfiança. Além do recente passado no arquirrival, ainda não havia se tornado o goleador que prometia – foram apenas outros três gols pelo River em jogos não-amistosos, todos ainda sob a direção de Merlo e até somente a sétima rodada do campeonato de 1989-90. Mesmo no Newell’s, só entraria para a galeria de personalidades com o tempo, pelo que faria futuramente, pois era tido como um tanto indeciso e lento nos tempos em que esteve no Parque Independencia.

Em seus primeiros meses, não explodiu sob o técnico Carlos Aimar. Mas continuava bem detectado pelo olho clínico de Marcelo Bielsa, em um reencontro contra sua primeira equipe. Em 1988, fora El Loco (então técnico da base leprosa) quem o indicara ao então técnico José Yudica para ser usado no time principal do NOB. Para enaltecer o desempenho do zagueiro Mauricio Pochettino, então com 17 anos, naquele jogo de dezembro de 1990, Bielsa declarou a um jornalista: “você viu como ele anulou o Batistuta?”. O arranque do atacante não tardaria mais.

Aquela temporada argentina de 1990-91 marcou a divisão do campeonato em torneios distintos, os famigerados Apertura (no segundo semestre) e Clausura (no primeiro semestre do ano seguinte). O fraco desempenho do Boca no Apertura 1990, em que Batistuta marcou só duas vezes, provocou a demissão do técnico Aimar, substituído pelo uruguaio Óscar Tabárez para o Clausura 1991. Sob El Maestro, finalmente surgiu o Batigol. Já eram cinco até o final de fevereiro, incluindo um 2 a 0 contra o River no torneio de verão de Mar del Plata com dois dele, marcando pela primeira e segunda vez no Superclásico.

Instigado pelas poucas oportunidades que tivera no arquirrival, Batistuta continuou um carrasco aviário, mas trocou os cuervos (que não mais sofreram com ele) pelas gallinas. Foram outros quatro duelos, todos naquele primeiro semestre de 1991. O Boca venceu todos, com o santafesino marcando outras duas vezes, em outro 2 a 0, agora válido pela Libertadores e no Monumental de Núñez.

…enquanto no Boca Juniors conseguiu ser idolatrado mesmo sem títulos oficiais. À direita, com o “sócio” Diego Latorre

Praticamente eliminou o ex-clube em plena primeira fase – o River ficou em último em um grupo de quatro integrantes onde os demais três avançaram. Na última partida, um empate de compadres entre Boca e Oriente Petrolero, os dois com cinco pontos (então os mesmos do River, que não teria mais jogos), classificou ambos juntamente com o líder Bolívar.

Por aquela Libertadores, as duas maiores torcidas brasileiras também conheceriam Batistuta. Os xeneizes passaram pelo Corinthians nas oitavas-de-final e pelo Flamengo nas quartas com o atacante marcando quatro vezes, dois nos 3 a 1 sobre os paulistas na Bombonera e um em cada jogo contra os cariocas (que perderam por 1 a 2 no Maracanã e 0 a 3 no estádio boquense). A queda veio na semifinal contra o futuro campeão Colo Colo de forma bastante tumultuada, por conta de agressões extracampo dos dois lados. A chamada “Batalha de Santiago” já mereceu um especial do FP, aqui.

As forças logo se redirecionaram ao Clausura, uma vez que o Boca já completava dez anos sem títulos argentinos – o último fora na curta primeira passagem de Maradona, em 1981. Em grande dupla com Diego Latorre, Batistuta marcou onze vezes (com destaque para três em um 6 a 1 no Racing) e os bosteros ficaram, de forma invicta, com o torneio. Mas ainda não com o campeonato.

Semelhantemente ao que ocorrerá a partir da próxima temporada na Argentina, a de 2012-13 (*), o campeão ali seria definido em um tira-teima com o vencedor do Apertura: o mesmo Newell’s Old Boys onde Gabriel Omar surgira. Nos dois jogos da decisão contra os rubronegros, o ataque auriazul não foi composto por Latorre e Bati, e sim por Gerardo Reinoso e o brasileiro Gaúcho (o mesmo que seria campeão nacional com o Flamengo no ano seguinte).

(*) Assim foi divulgado na época em que este texto foi feito. Posteriormente, decidiu-se que os campeões semestrais continuariam a conservar o status de campeões argentinos, no mesmo sistema de dois por ano. Pelo regulamento, o tira-teima da temporada 2012-13, esdruxulamente, também valeu como um título argentino a mais. O da temporada 2013-14, não (!).

Na seleção, ficou invicto nas primeiras 24 partidas, incluídas no período de 32 jogos de invencibilidade da Argentina sob Alfio Basile. Goleador da Copa América de 1991 (à esquerda), decisivo na de 1993 (centro) e marcando três vezes em seu primeiro jogo de Copa, especial também para quem aparece atrás dele (à direita)

O sucesso da dupla titular a havia catapultado para a seleção argentina, que paralelamente preparava-se para a Copa América. Após uma vitória de 1 a 0 em casa para cada lado, o time de Bielsa soube levar a melhor nos pênaltis em plena Bombonera. A partir da temporada seguinte, determinou-se que cada turno valeria como um campeonato, o que vigorará até o fim do corrente Clausura 2012. As finais de 1991 ocorreram nos dias 6 e 9 de julho, ao passo que a Argentina estreou na Copa América no dia 8, com Batistuta marcando dois gols nos 3 a 0 sobre a Venezuela.

Era sua segunda partida pelo selecionado – seu debute fora em 26 de junho, em amistoso contra o Brasil no Pinheirão, em Curitiba (1 a 1). A Argentina estava desfalcada de Maradona, suspenso por um ano e meio por conta de doping positivo para cocaína. A equipe soube se comportar bem sem ele, e o novato seria a grande referência da campanha que fez seu país voltar a ser campeão continental após 32 anos. Fez grande dupla com Claudio Caniggia, que já mereceu um especial meses atrás.

Com Caniggia, aliás, comparte semelhanças além da nacionalidade, origem italiana e cabelos compridos: jogaram nos dois principais clubes argentinos, ganhando títulos mas sem destacarem-se tanto no River e depois sendo mais adotados no Boca, ainda que sem medalhas por ele; passariam pela Roma; foram colegas naquela Copa América e nas Copas do Mundo de 1994 e 2002, onde fecharam seu ciclo na seleção; desentenderam-se com Passarella; e encerraram a carreira no Qatar.

Na Copa América de 1991, só não marcou no 0-0 contra os anfitriões chilenos no quadrangular final, deixando uma marca em todos os outros jogos – contra o próprio Chile (1 a 0) e o Paraguai (4 a 1), na primeira fase (1 a 0); e contra Brasil (3 a 2) e Colômbia (2 a 1), no quadrangular. Até a sua última partida pela Argentina, só uma vez começou no banco. Seus seis gols lhe deram ainda na artilharia da competição e arranjaram uma transferência ao futebol italiano, indo à Fiorentina junto com Latorre.

Com a Copa da Itália de 1995-96 na mão. Em 1996, conseguiria também a Supercopa do país, seus principais troféus pela Fiorentina, e ultrapassar Maradona na artilharia da seleção. No mesmo ano, esteve em uma capa da El Gráfico que se mostraria bem irônica: ele e Caniggia (cuja carreira tem semelhanças com a de Bati) aos sorrisos com o técnico Passarella

Em Florença, passaria os próximos nove anos, com desempenhos ascendentes de gols. Os treze da temporada de estreia, a de 1991-92, subiram para dezesseis na seguinte. E foi aí que Batistuta virou um semideus florentino. Em uma época em que a liga italiana era a mais badalada e equilibrada do mundo, a Fiorentina ficou em antepenúltimo entre 18 competidores mesmo com menos de dez pontos a separarando da quarta colocada, a Juventus. A queda veio nos critérios de desempate com a Udinese, que havia somado os mesmos 30 pontos violas.

Após novo título na Copa América, com a Argentina emendando um bicampeonato seguido na edição de 1993 (ainda hoje o último troféu da seleção principal, o que fez dela ser na época a maior vencedora da competição) com Batistuta marcando os dois gols da vitória por 2 a 1 sobre o  estreante México do veterano Hugo Sánchez, o atacante de 24 anos retornou para a Toscana para ajudar o principal clube da região a voltar à Serie A. Tão popular ficou que uma anedota que se tornaria comum é a de que ele seria eleito prefeito de Florença se concorresse no pleito.

E a segundona seria trilhada com sucesso, com os violetas terminando com cinco pontos de vantagem sobre o segundo colocado, embalados por outros dezesseis gols de seu artilheiro. Seu desempenho e o gol “espírita” que marcou na repescagem contra a Austrália, o único do jogo de volta, em Buenos Aires (da ponta-direita, ele procurou cruzar a bola, que desviou em seu marcador e encobriu o goleiro rival; em Sydney, houvera empate em 1 a 1) o garantiram na Copa do Mundo de 1994.

Em sua estreia mundialista, igualou o feito do artilheiro da Copa do Mundo de 1930, Guillermo Stábile: fez três gols no jogo, nos 4 a 0 sobre a Grécia mais lembrados por terem marcad também o último gol de Maradona pela seleção. Dieguito já não era o único craque do elenco, a contar com as boas fases também de Caniggia e Fernando Redondo, mas o corte do camisa 10 inegavelmente abalou os ânimos. Batistuta marcou mais um gol, nos 2 a 3 para a Romênia nas oitavas-de-final que eliminaram os argentinos. Foi justamente essa a única vez em que ele marcou e a Albiceleste perdeu.

Comemorando seu segundo hat trick em Copas, em 1998, e com Simeone celebrando à la Bebeto o que fez nos ingleses no mundial da França

Na retomada do calcio, os gols não pararam de sair: depois dos dezesseis que fizera na segunda divisão, Bati marcou 26 no retorno à elite, números que lhe deixaram na artilharia do campeonato de 1994-95. Os pontos-corridos, porém, mostravam-se duros demais para o restante do plantel, o que seria uma tônica da maior parte de sua estadia na Fiorentina – apenas a décima colocada naquela edição. Na de 1995-96, mesmo em quarto lugar, ficou bem longe do título, com um avassalador Milan 14 pontos à frente. Paralelamente, ali Batistuta pôde erguer ao menos uma Copa da Itália.

Ele já havia feito três gols nas semifinais contra a Internazionale e marcaria também nas duas partidas da decisão contra a Atalanta. Antes do início da temporada, ele fizera cinco na Copa América de 1995, obtendo nova artilharia, mas a Argentina caiu nas semifinais para o Brasil e a mão de Túlio. Já em 1996, ao somar os 35 gols pela seleção, tornou-se o maior artilheiro albiceleste, superando Maradona. Foi em um 1 a 1 contra o Paraguai no Monumental de Núñez, em meios às eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998, partida lembrada pelo gol adversário ter sido do goleiro Chilavert.

Depois de um ponto fora da curva na temporada 1996-97, com apenas doze gols na liga, eles ressurgiram nas posteriores: nas duas seguintes, Batistuta marcou 21 vezes em cada. A de 1998-99 poderia ter sido ainda melhor: a Fiorentina terminou a primeira metade do certame na liderança, mas ficou sem fôlego no final, com ele perdendo jogos por contusão e Edmundo, por se dar férias, sobrando a terceira colocação. Na Copa da Itália, o argentino marcou outra vez na decisão, mas a taça ficou com o turbinado Parma de Buffon, Thuram, Cannavaro, Stanić, Almeyda, Verón e Crespo.

Este desempenho veio após a melhor Copa do Mundo de Batistuta. Mesmo com desentendimentos com Passarella, que em 1997 o excluiu da parte final das eliminatórias (segundo o treinador, por Bati não se coadunar com Crespo no ataque; segundo o folclore, por conta dos cabelos compridos, que já haviam tirado Caniggia e Redondo do grupo), foi confirmado na França. Na época, apenas Ronaldo era mais caro que ele, por 30,5 milhões de dólares, 500 mil a mais que o argentino.

Na Fiorentina e na Roma viveu sua melhor fase no exterior

Na primeira fase, outra vez aplicou um hat trick, sobre a Jamaica. Gols sobre Japão, também na fase inicial, e Inglaterra, nas oitavas-de-final, o deixavam momentaneamente na artilharia da Copa, junto com o italiano Christian Vieri (o croata Davor Šuker demoraria mais três jogos para superá-los em um gol, na partida pelo terceiro lugar).

Contudo, um excessivo esquema defensivo para o jogo contra a Holanda terminou por prejudicar a ele e à seleção, eliminada de forma dramática aos 45 do segundo tempo, não sem antes Batistuta chegar a acertar a trave. Ele voltou a jogar pela Argentina quase um ano depois, em novo jogo contra os holandeses, quando um time já comandado pelo mesmo Marcelo Bielsa que o treinara nos juvenis do Newell’s arrancou um empate em Amsterdã em 1 a 1, gol de Bati. Bielsa, como Passarella na Copa América de 1997, porém, preferiu usar um elenco mais caseiro para a de 1999, não o convocando.

Batigol foi ganhar sequência com Bielsa em 2000, ano em que deixou a Fiorentina como o maior artilheiro da história do time, que ergueu-lhe até uma estátua no estádio Artemio Franchi. Em sua última temporada ali, fez 23 gols (um a menos que Shevchenko, artilheiro da liga) diluídos na sétima colocação, com alguns marcados nos principais oponentes: dois na Internazionale (derrotada no San Siro por 0 a 4), dois na dobrada campeã Lazio, um na Juventus, um no Milan e outro na Roma.

E foi a Roma quem o contratou, por um valor entre 32 e 35 milhões de dólares. O clube da capital ansiava responder o feito da arquirrival Lazio, que, além de ter faturado a liga e a Copa da Itália em 2000, se igualara aos giallorrossi em número de scudetti.

Marcando de cabeça o seu último gol pela Argentina, contra a Nigéria no mundial de 2002. E duas partidas depois, lamentando a eliminação precoce

Mesmo aos 32 anos, demonstrou ótima forma, sendo o artilheiro romanista, com gols que incluíram um no dérbi romano (2 a 2) e outro sobre a sua antiga Fiorentina (1 a 0), em que ele chorou. Bati, Montella e Totti fizeram a Roma ter o melhor ataque e, mais do que isso, ser campeã depois de 18 anos do time de Falcão e Bruno Conti. Não só a resposta aos laziali veio rápida, como deixou novamente a Loba na frente (os três títulos a dois mantêm-se até hoje).

Na temporada seguinte, a impressão foi que o ponto de bala de Batistuta e da seleção passou. A Roma perdeu o título italiano por um ponto, resultado que poderia ter sido outro não fossem problemas no joelho do argentino, que só marcou seis vezes (ainda assim, o suficiente para alcançar Roberto Baggio entre os maiores artilheiros do calcio que estavam em atividade). Crespo, Simeone, Ayala e Verón também tiveram desempenhos mais abaixo do habitual em seus respectivos clubes.

Nada que fizesse, porém, o mais pessimista imaginar a queda na primeira fase no Japão, mesmo que no chamado “grupo da morte”. Ainda mais quando, na estreia, a Argentina dominou amplamente a Nigéria, com o resultado em 1 a 0 ficando aquém do que poderia. O gol? Dele, de cabeça. Àquela altura, Batigol tinha média de um gol por jogo em Copas – onze. Ultrapassar os quatorze do então recordista Gerd Müller parecia uma missão das mais factíveis, assim como o título. As eliminatórias, mesmo sem Batistuta na maior parte, haviam sido arrasadoras: doze pontos de vantagem para o segundo (Equador) e apenas uma derrota, para o Brasil.

Seu rendimento nos jogos seguintes não foi o mesmo. Em ambos, Crespo o substituiu já no início do segundo tempo. A Inglaterra venceu por 1 a 0, o que obrigou uma vitória sul-americana sobre a Suécia. Desde os 13 minutos do segundo tempo, teve de ver os escandinavos levarem a melhor: para a agonia de Batistuta, o gol sueco veio um minuto depois que ele deixou o gramado. A Argentina só conseguiu um empate, no finalzinho, e com duas irregularidades seguidas: Ortega cavou um pênalti inexistente, cujo rebote foi convertido por um Crespo a adentrar a grande área antes da hora permitida.

Aquela que é provavelmente a sua primeira foto com Maradona, quando El Diez visitou os garotos do Deportivo Italiano que estavam disputando o tradicional Torneio de Viareggio de 1989 (mais à esquerda, no canto, aparece Darío Franco, atual técnico do Instituto de Córdoba e quase colega deles na Copa de 1994); em 2010, foi a vez de Bati visitar a delegação de Diego, em meio à Copa da África do Sul

Aquela eliminação em Miyagi em 12 de junho de 2002 fechou a conta para Batigol na seleção: 56 gols em 78 jogos. É ainda o maior artilheiro dela também em Copas do Mundo (doze) e o segundo em Copas América (treze, atrás de Norberto Méndez). Foi oito vezes goleador anual, seis seguidas entre 1991 e 1996, quando Passarella o barrou. Nenhum argentino fez mais de doze gols em um único ano na seleção, marca atingida em 1998 [Messi o superaria ao fim de 2012]. E é o quarto mais veterano a ter marcado um gol pela Albiceleste, atrás de Maradona, Martín Palermo e Ángel Labruna.

Ele ainda ficou na Itália por mais um ano. Com apenas quatro gols na primeira metade da temporada 2002-03, mesmo que contra Lazio e Internazionale (seus últimos pela Roma), foi negociado com a própria Inter, onde não foi melhor: dois tentos, contra Piacenza e Como, não eram o melhor número para alguém trazido para suprir a saída de Ronaldo.

Como o compatriota Caniggia, o brasileiro Romário e os espanhóis Hierro e Guardiola, em 2003 Batistuta foi jogar na menos exigente liga do Qatar. E deu-se bem: 25 gols em 21 partidas nos dois anos em que defendeu seu último clube, o Al Arabi. Acabou convidado para atuar na vitoriosa campanha do minúsculo país do Oriente Médio pelo direito de sediar a Copa do Mundo de 2022.

Sua vida esportiva nos últimos anos havia se focado para os campeonatos de polo, bastante prestigiados em Buenos Aires. Ainda que não tão prolífico nos handicaps como nos gols, ganhou a Copa Stella Artois pelo Loro Piana em 2009. Recentemente, voltou a um clube de futebol, em outro rubronegro da província de Santa Fe: o Colón, onde exerce o cargo de gerente de futebol.

Jogando polo e em sua apresentação para a gerência do Colón

Abaixo, dois vídeos com seus gols pelo futebol argentino. O primeiro, com os que ele fez em jogos não-amistosos nos clubes que defendeu em seu país. Pelo Newell’s Old Boys, marcou contra o San Lorenzo (duas vezes, uma na Libertadores de 1988 e outra no campeonato de 1988-89); Platense, Boca Juniors (campeonato de 1988-89); dois no Rosario Central e um no Deportivo Mandiyú (na liguilla de 1989).

Pelo River Plate, foi sobre San Lorenzo (liguilla de 1989), Platense, Racing e Racing de Córdoba (campeonato de 1989-90). No Boca Juniors, sobre Ferro Carril Oeste e Deportivo Mandiyú (Apertura 1990); três no Racing, duas no Huracán e Unión e um cada contra Argentinos Juniors, Rosario Central, Vélez Sarsfield e Platense (Clausura 1991); e dois cada sobre River Plate, Corinthians e Flamengo (Libertadores de 1991).

O segundo vídeo contém os que marcou pela seleção. Vazou cinco vezes o Chile; quatro a Austrália, Colômbia e Japão; três a Bolívia, Bósnia-Herzegovina, Grécia, Jamaica e Paraguai; duas o Brasil, Costa do Marfim, Eslováquia, Israel, México, Peru e Venezuela; e uma a África do Sul, Bulgária, Holanda, Inglaterra, Irlanda, Nigéria, País de Gales, Romênia e Uruguai.

httpv://www.youtube.com/watch?v=1bJPgtEAXiQ

httpv://www.youtube.com/watch?v=_VL7hwc2Ncw

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

11 thoughts on “Gabriel Omar Batistuta, o maior artilheiro da Albiceleste

  • Horacio Oliveira

    O Batistuta junto com Ortega e Verón foram os caras que sempre mais admirei no futebol, foi uma pena as grandes seleções de 98 e 2002 com esses caras mais Simeone, Redondo (98) e cia não ter ganhado o mundial.

  • Navarro Montoya

    Gabriel Omar Batistuta, o Batigol, mama mia que jogador! Marcou época com a camisa viola, mesmo sendo um dos maiores centroavantes do mundo optou por continuar em Florença para jogar para o povo que tanto o idolatrava, Batistuta era um jogador aguerrido que com personalidade chamava a responsabilidade pra si, teve o sonho de fazer com a Fiorentina o que el pibe de oro fizeste com o Napoli, porém Batigol não conseguiu levar o escudeto pela esquadra de Florença, mas marcou época, marcando golas épicos no Calcio e na liga dos campeões. Depois de várias temporadas foi pro Roma e conseguiu levar a equipe da cidade eterna a um título depois de muitos anos na fila. Na seleção jogou muito, e quando era pra ser campeão sairam inesperadamente em 2002, mas este nome será sempre lembrado como um dos maiores da história.
    Batigol era além de ótimo finalizador e cabeçeador e matador implacável com um chute de fora da área como poucos, era Batigol o EXTILO EM PESSOA, com a cabeleira ao vento e com a marcante faixa na cabeça, comemorando seus gols alucinadamente alá Santiago Silva, e em outras fazendo com as mãos a metralhadora se referindo-se ao que ele era nato, ou seja, Matador!
    ,

  • Douglas

    Um dos atacantes que eu mais gostava de ver jogar. Sua passagem na Roma me fez gostar demais do futebol italiano… Faltou mais físico, durante mais um mês, o mês da Copa de 2002, com ele fisicamente melhor, quem sabe a história teria sido diferente…

  • Caio Brandão

    Caros, a liga italiana era sensacional até a virada do milênio, mesmo que fosse quase um ioiô entre Juventus e Milan quando comecei a acompanhar. Só que, ao contrário de Real e Barça, Manchester United e Chelsea (na época, United e Arsenal), os demais times estavam longe de ser meros coadjuvantes. Foi um raro momento em que Roma e Lazio estavam juntas em grande fase, tinha aquele Parma, a Inter de quando o Vieri prestava, até o Brescia do Baggio. Infelizmente, eu era novo demais para ter acompanhado a melhor Sampdoria.

    Por sinal, a liga espanhola nos anos 90 era até mais equilibrada que a italiana no que se refere a títulos (cheguei a ver o Atlético de Madrid campeão – ! -, Valencia e La Coruña também), mas não tão apaixonante, algo que até hoje não é por conta do duopólio que ficou (Real e Barça são, a liga não). A inglesa só foi roubar mais a cena depois. Ao menos para mim, com aquele SuperArsenal invicto. Mas mesmo ela não tem a mesma imprevisibilidade que a italiana tinha na época.

    Navarro Montoya: realmente, diz-se que Bati é para Florença mais ou menos o que Maradona foi para Nápoles. Ele poderia ter sido um Melhor do Mundo pela FIFA se não tivesse tanta fidelidade pela Viola, pois cansou de esnobar propostas de times mais badalados. Já estava veterano quando ficou de saco cheio de perder títulos. O gás deve ter acabado quando ele enfim conseguiu um scudetto, já trintão, pela Roma.

    Obrigado a todos pelo acesso e sigam nos prestigiando! Abraços :)

  • Navarro Montoya

    Grande Caio Brandão!!!
    Todas as ligas têm o seu valor com suas equipes e tradições, seja a inglesa, a espanhola, o brasileirão, a italiana e etc, Mas futebol de verdade é FUTEBOL PORTENHO!!!!!!!!!!!!!!!!!

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