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Futebol e Rugby – Parte 8: o Club Atlético del Rosario

 

Os Pumas já deram adeus à Copa, mas esta série ainda terá sua pequena sobrevida, agora sobre as equipes argentinas de rúgbi que já lograram ao menos um vice-campeonato nacional no futebol. Depois de o especial anterior ter sido dedicado àquela que alcançou mais vezes este quesito (três), este irá tomar partido daquela que, além de ainda ter conseguido três títulos em um torneio mais importante (ainda que já extinto), é a instituição clubística mais antiga ainda existente na Argentina e uma das fundadoras da liga de rúgbi do país. Aqui abordaremos o antigo Rosario Athletic Club, atual Club Atlético del Rosario.

Foi fundado como Rosario Cricket Club, em 27 de março 1867, no mesmo ano do Buenos Aires Football Club – criado em agosto daquele ano e extinto em 1951 juntamente com o Buenos Aires Cricket Club (que existia desde a década de 30 do século XIX e de quem era oficialmente separado) para dar origem ao atual Buenos Aires Cricket and Rugby Club, como visto no primeiro especial desta série.

As semelhanças com o Buenos Aires FC, com quem por sinal travou as primeiras partidas de rúgbi na Argentina (a partir de 1886), vão além do mesmo ano de fundação e da criação a partir de um time de críquete; o Rosario também surgiu no seio da comunidade britânica. Suas cores, com azul celeste e grená na camisa e branco nos calções, são uma combinação comum na Inglaterra, onde vestem, das equipes mais conhecidas, o Aston Villa, o West Ham United e o Burnley.

Futebol também era praticado, e aí teve-se alguma diferença: o Buenos Aires FC (com quem também fez a primeira partida argentina entre dois clubes neste esporte, em 1887; um ano depois, com o críquete perdendo a preferência para os novas modalidades recém-praticadas, o Rosario renomeou-se como um Athletic Club) participou do primeiro campeonato argentino, em 1891, para nunca mais voltar a competições futebolísticas e dedicar-se apenas ao rúgbi. O Rosario, por sua vez, também disputou apenas um campeonato argentino.

Essa participação deu-se no de 1894 e, ao contrário de seu primeiro rival (que fora o último em sua única participação), fez uma bela campanha mesmo utilizando no futebol os mesmos jogadores que praticavam rúgbi: terminou no vice-campeonato, dois pontos atrás do detentor do título e que ali obteve o bicampeonato, o Lomas Athletic. Foi o primeiro clube de Rosario a participar da competição; o time da Buenos Aires and Rosario Railway, presente naquela edição e também nas de 1891 e 1893, era portenho e em 1896 originou o Belgrano Athletic.

Se ele não retornou às edições seguintes, não foi para focar-se apenas no rúgbi, o motivo do Buenos Aires FC: o futebol remanesceu, mas desafiliado da liga argentina, ficando restrito aos jogos em Rosario. Isto seria alterado em 1900. Logo antes, em 1899, o clube fundou a União de Rúgbi do Rio da Prata, ao lado do Buenos Aires, do Lomas, do Belgrano e do Flores Athletic.

As disputas de futebol com as equipes da Grande Buenos Aires retornaram no ano seguinte por meio da Copa Competencia, primeiro torneio de futebol interclubes realizado de forma regular na América, a reunir equipes das associações argentina e uruguaia e algumas rosarinas. Daquela primeira edição até a de 1905, o Rosario Athletic fez bonito, chegando à final em todas estas seis, conquistando a metade delas, incluindo as duas primeiras com decisão internacional.

Após um bivice-campeonato inicial, obteve a de 1902 sobre o Alumni, o grande time argentino daquela década, de forma das mais árduas. A final terminou empatada em 1 a 1, requisitando então uma nova partida. Nesta, o resultado se repetiu em três horas de disputa, só interrompida com o anoitecer. Duas semanas depois desta, com um 2 a 1, o Rosario sagrou-se pela primeira vez campeão, conseguindo após um total de quase sete horas em três jogos a revanche sobre a equipe que lhe derrotara na decisão anterior.

O primeiro elenco de um título rosarino (e também santafesino e de todo o interior argentino) no futebol foi formado por F. Boardman, Ricardo Le Bas e J. Middleton; F. Warner, Eduardo Jewell e C. Parr; Alfredo Le Bas, H. Middleton, Alberto Le Bas, J. Parr e G. Topping. Jewell e seu irmão Carlos haviam doado um terreno para o clube construir sua sede, que em homenagem a eles chama-se Plaza Jewell; o endereço do site oficial do clube é www.plaza.org.ar.

Em 1904 e 1905, então, o Rosario (que levara o troco do Alumni na final de 1903) emendou um bicampeonato vencendo nas duas finais o CURCC (Central Uruguayan Railway Cricket Club), o ferroviário time uruguaio que originou o Peñarol alguns anos mais tarde. Na segunda destas decisões, os aurinegros conseguiam empate em 3 a 3 e abandonaram o campo assim que levaram o quarto gol, no início da prorrogação, protestando contra a arbitragem, da qual já haviam reclamado na final anterior. O autor do tento, Wilfred Stocks, iria no ano seguinte à capital federal para jogar no Belgrano Athletic (que vencera sua equipe na decisão de 1900), de onde chegaria já em 1906 à Seleção Argentina.

A equipe que obteve a Copa Competencia de 1905, terceiro e último título do então Rosario Athletic Club ali e no futebol

Nenhum jogador do Rosario chegou a atuar em jogos válidos (contra outras seleções oficiais) pela Argentina vindo do clube; já em amistosos não-oficiais, o selecionado nacional recrutou em 1904 Eduardo Jewell e F. Boardman para partida contra a equipe inglesa do Southampton, de visita ao país naquele ano. Foram os dois primeiros que a seleção convocou de uma equipe rosarina, embora tal primazia seja atribuída a Zenón Díaz (jogador do Rosario Central), que debutaria em 1906, mas em jogo considerado válido, contra o Uruguai.

Em 1905, outros dois fatos marcaram além do tricampeonato na Competencia. O Rosario Athletic obteve seu primeiro título de rúgbi, a ser emendado com um bi no ano seguinte, e fundou a Liga Rosarina de Futebol, juntamente com o Rosario Central, o Newell’s Old Boys e o Argentino (clube sem relação ao Argentino de Rosario atual; daria origem em 1914 ao Gimnasia y Esgrima de Rosario, outro time de futebol que passou a praticar rúgbi).

O time campeão de rúbgi continha alguns campeões da Competencia daquele ano: E. Le Bas, Ricardo Le Bas, Wilfred Stocks e o capitão Henry Talbot, que cinco anos mais tarde estaria presente no primeiro jogo da Seleção Argentina de Rúgbi, sendo ali o único jogador do interior. Talbot, posteriormente, seria também o primeiro presidente da União de Rúgbi da província de Santa Fe.

No torneio rosarino, por sua vez, o três vezes campeão internacional e uma vez vice argentino, ironicamente, não lograria sucessos. Na primeira edição do campeonato local, que contou também com o Provincial (que ainda pratica futebol e rúgbi) e o futuro Central Córdoba (ainda como time da Córdoba and Rosario Railway), ficou em penúltimo. Conseguiu apenas um único vice-campeonato, em 1913, um ponto atrás do campeão Newell’s. O Athletic também decaiu na Competencia. Além deixar de disputá-la algumas vezes – ausentou-se entre 1910 e 1912 e na de 1914 -, caiu quatro vezes logo no primeiro confronto, duas delas por W.O.

Em 1915, então, o decano dos clubes argentinos teve o seu canto do cisne no futebol, justamente no torneio que o consagrou. Caiu nas semifinais para o futuro campeão (da etapa argentina do torneio) Porteño após eliminar os rivais rosarinos Newell’s e Tiro Federal. Naquele ano, disputou também a Copa Honor (similiar à Competencia, mas com final em jogo único, em Montevidéu), demonstrando sua decadência ao cair na primeira eliminatória, e por um 0 x 5 contra o Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires. Foi apenas a segunda vez que disputou este outro torneio, realizado desde 1905 e mais valorizado pelos argentinos em razão de sua maior dificuldade; em 1913, também fora eliminado no primeiro confronto, contra o San Isidro.

Em 1916, após uma penúltima colocação na liga rosarina, o já Rosario Atlético Club, que posteriormente veio a adotar a forma atual do nome nacionalizado, se desafiliou da mesma e retirou-se do futebol. Apenas em 1939 é que outros clubes rosarinos (Rosario Central e Newell’s Old Boys) viriam a disputar o campeonato argentino, quarenta e cinco anos depois da participação única da equipe azul e grená. Neste quase meio século de intervalo, o torneio, apesar do nome, permaneceu restrito a equipes situadas entre a Grande Buenos Aires e La Plata.

O clube ainda é o time do interior argentino (e, por conseguinte, da província de Santa Fe e da cidade de Rosario) com maior quantidade de títulos internacionais no futebol, com suas três Copas Competencia; depois dele, Rosario Central e o Talleres (da cidade e província de Córdoba e recente objeto deste excelente especial, fora desta série, de Joza Novalis) obtiveram uma Copa CONMEBOL cada um, já na década de 90 do século passado.

Já uma equipe mais direcionada ao rúgbi, o Atlético, neste esporte, também realizou um caminho parecido; fundou em 1928 a União de Rúgbi de Rosario e teve uma trajetória de idas e vindas entre ela e a de Buenos Aires (sucessora da do Rio da Prata, co-fundada por ele em 1899). Em 1936, um ano após obter seu terceiro título nesta (no mesmo torneio que provocou a cisão do San Isidro, objeto do especial anterior desta série), desafiliou-se da mesma pela primeira vez, mas algumas voltas (e novas saídas) ocorreriam até que chegou a estar exclusivamente na de Rosario entre 1955 e 1985, ano em que completou treze títulos locais seguidos. Convidado a retornar à URBA neste mesmo ano, resolveu desligar-se ali da URR.

Na URBA, conquistou ainda as edições de 1996 e 2000, sendo o sexto maior vencedor do torneio da mesma (mais valorizado que o próprio torneio nacional de clubes, já vencido pelos rosarinos Duendes e Jockey Club, mas ainda não pelo Atlético), ao lado do Alumni, um de seus antigos rivais no futebol. Além destes dois esportes, é ligado a outros, alguns em cujas associações também foi fundador. Isto se deu no tênis, na associação argentina e na federação santefesina; na natação, nas associações santafesina e rosarina; e no hóquei sobre grama, na associação santafesina. A prática sempre amadora de sua quase sesquicentenária história de atividades desportivas diversas continua a ser motivo de orgulho da instituição.

Jogadores do Club Atlético del Rosario antes de jogo recente da equipe

 ***

Na primeira semifinal desta Copa do Mundo, a França, após eliminar a arquirrival Inglaterra nas quartas-de-final, teve pela frente outros súditos da Rainha, os do País de Gales. Tais britânicos (os únicos que haviam restado neste mundial) não faziam uma Copa tão boa desde a primeira, em 1987, quando chegaram à terceira colocação. Posto que poderão até repetir, pois, embora tivessem a vitória ao alcance em uma exibição em que souberam segurar os favoritos Bleus mesmo atuando quase desde o início com um a menos (justamente o capitão Sam Warburton foi expulso, ao exagerar na dose de um tackle, executando praticamente um pilão sobre Vincent Clerc), perderam por 8 x 9 em uma dramática noite onde tiveram péssima pontaria.

Isto porque, além de perderem o chute de conversão do try que fizeram (o único do jogo, com Mike Phillips fechando ali o escore da partida ainda antes dos vinte últimos minutos), desperdiçaram três de seus quatro penais, um deles a cinco minutos do fim. Os pontos adversários vieram justamente de três penais, todos convertidos, por Morgan Parra. Com isso, a primeira finalista a ser conhecida, mesmo jogando mal, não foi a seleção galesa, e sim a gaulesa. Os franceses, depois de dois vice-campeonatos (em 1987 e 1999), tentarão seu primeiro título na Copa, que seria também o primeiro de um competidor não-anglófono.

A outra semifinal reuniu o clássico entre a anfitriã Nova Zelândia e sua rival e carrasca em Copas (a eliminou duas vezes, também em semifinais) Austrália. A partida também iria opor os até então únicos invictos no torneio (a França já havia perdido na primeira fase para a própria Nova Zelândia e para Tonga; Gales, para a África do Sul). Os locais enfim devolveram os reveses passados.

A partida não poderia ter se encerrado de forma mais simbólica, com Quade Cooper, neozelandês que joga pelo arquirrival (e naturalmente vilificado onde nasceu), sendo pressionado pelos antigos compatriotas a colocar-se involuntariamente com a bola além da linha lateral e assim permitir ao juiz decretar o fim do jogo. Nele, a Nova Zelândia agiu inversamente ao que fizera nas quartas-de-final, contra a Argentina, tendo errado mais da metade de seus chutes a gol, em uma noite mais fraca de Piri Weepu (que acertara todos os sete penais que chutou diante dos argentinos).

O que faltou em pontaria, todavia, foi muitíssimo bem compensado em segurar o ímpeto do oponente (o que não ocorrera diante dos Pumas) desde o início. A segunda semifinal também só teve um try, concluído em jogada fulminante já aos 6 minutos da partida, por Ma’a Nonu. Os All Blacks praticamente não deixaram os Wallabies pensarem e, após a vitória por 20 a 6 (que poderia ter sido bem mais elástica não fossem os numerosos desperdícios nos chutes), estarão de volta a uma final depois de 16 anos, quando foram derrotados pela anfitriã África do Sul (cujo título ali foi belissimamente retratado no filme Invictus, de Clint Eastwood). Terão a chance de obter uma conquista que não vem há 24 – sua única ocorreu na primeira Copa do Mundo, onde também foram sede.

Curiosamente, a decisão naquela Copa de 1987 também foi contra os franceses, e o jogo pelo terceiro lugar dela envolveu exatamente Gales e Austrália, como o que se verá nas duas partidas restantes deste mundial. Será a grande chance dos neozelandeses de igualarem os arquirrivais, e também os sul-africanos, no posto de maiores campeões do torneio (estes têm ambos dois títulos), justamente onde não vinham impondo a supremacia que tradicionalmente sempre tiveram no rúgbi.

A final de 2011 reunirá precisamente as duas seleções que mais avançaram às fases decisivas da competição: contando com esta edição, Nova Zelândia e França chegaram às semifinais em seis dos sete mundiais, passando à decisão três vezes; na Copa passada, os Bleus, anfitriões de 2007, foram justamente os primeiros a impedir a estadia dos All Blacks entre os quatro melhores, eliminando-os nas quartas-de-final (uma inesperada derrota francesa para a Argentina na primeira fase provocara o precoce choque de potências ali) com um 20 a 18.

Os dois únicos tries das semifinais. O dos galeses não bastou, em noite de pontaria desastrosa contra uma França que conseguiu avançar mesmo de forma apática, apesar da vantagem numérica. Os neozelandeses também não foram tão bons nos chutes (ainda assim, tiveram índice de acerto menos pior que os britânicos), conseguindo a classificação com o enorme domínio que exerceram na rival Austrália
Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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  • Caio, parabéns pelo trabalho, que é fantástico. Eu conhecia pouco do esporte e por causa desses especiais comecei acompanhar os pumas. Queria saber justamente isso. Como é que fica a renovação da equipe, quem deve sair e ficar na seleção? Ao ver aquele "veterano" saindo do jogo com a Nova Zelandia ao prantos fiquei pensando se os pumas teriam no futuro outros jogadores à altura. Grande abraço.

  • Opa, valeu mesmo, João :)

    Cara, até antes dessa Copa, em apenas duas a Argentina passou da primeira fase: em 1999 (ainda assim, como a melhor entre os terceiros colocados) e 2007 (quando conseguiu o bronze). Com isso, ela avançou às edições seguintes a essas sem precisar de eliminatórias (a partir da Copa de 2007, esse benefício também se estendeu aos eliminados na primeira fase que haviam ficado na terceira colocação de seu grupo).

    Mas, mesmo quando teve de passar pelas eliminatórias, era sempre uma barbadazaça para ela (o Uruguai foi a única outra seleção sul-americana presente nas Copas; foi apenas para as de 1999, e por repescagem, e 2003, por causa da classificação automática dos Pumas para esta), o que muito provavelmente dificultava uma grande renovação. Fosse diferente, talvez o Ledesma não tivesse chegado a esta Copa (uma das que o Pumas estavam classificados automaticamente).

    Pois bem, eles também já estão garantidos para a Copa de 2015, mas haverá uma senhora diferença até lá: a partir do ano que vem, como falei no especial de San Isidro, o Três Nações (torneio que reúne desde 1996 as três maiores potências do hemisfério sul) irá virar Quatro, com a entrada argentina. Se essa Copa 2011 terminar como esperado (NZ campeã pela segunda vez), os Pumas enfrentarão três vezes por ano cada uma das maiores campeões da Copa: os All Blacks, a África do Sul e a Austrália. Vai forçar os hermanos a se aprimorarem ainda mais.

    As grandes potências da Copa se aperfeiçoam para a seguinte, onde normalmente chegam com classificação automática, em boa parte por causa de torneios assim. Na Europa, há o Seis Nações, com as quatro do Reino Unido + França e Itália. A versão anterior, sem os italianos, durou uns noventa anos e era a principal competição antes da Copa. Hoje, funciona como uma Eurocopa). O Pacífico também tem um Três Nações (mais antigo que o das potências do hemisfério sul; vem desde 1982), com Fiji, Samoa e Tonga.

    Como o mais provável para os Pumas no Quatro Nações é que uma grande campanha (leia-se: não ficar em quarto, ao menos nas primeiras edições) demore a ocorrer, o rodízio de jogadores deverá aumentar. O meu palpite, ao menos, é esse. Vou ficar lhe devendo maiores nomes dos bois, mas o Contepomi, embora um craque, deve se despedir até 2015 (já terá 38 anos ali).

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