Lomas de Zamora é um partido (algo como um distrito intermunicipal) da Província de Buenos Aires, abarcado por toda a Grande Buenos Aires, ao sul da capital federal. Seu time de futebol na ativa mais destacado é o pequeno Banfield, da cidade homônima, campeão argentino uma vez (no Apertura 2009). Ele realiza o chamado Clásico del Sur com o Lanús, da cidade e partido vizinhos também chamados Lanús.
Isto porque os demais times do partido de Lomas têm porte ainda menor; o Temperley, da cidade de mesmo nome, chegou a conseguir um vice-campeonato em 1924 e, já no profissionalismo, um terceiro lugar no Nacional de 1983, mas hoje se encontra na Primera B Metropolitana (equivalente à terceira divisão).
E o Los Andes (da própria cidade de Lomas de Zamora, capital do partido), justamente contra quem o Banfield realizava seu clássico original (na mesma época, o Lanús tinha seu clássico com o Talleres de Remedios de Escalada – equipe do seu partido de Lanús -, antes que as torcidas de Taladro e Granate, que eram aliadas, redirecionarem suas rixas uma à outra ante a pequenez de seus então rivais), jamais teve campanha de maior destaque, encontrando-se hoje na mesma divisão do Temperley.
Se seus três times de futebol são historicamente fracos, principalmente o da capital, no início das disputas do campeonato argentino, a situação foi diferente para Lomas de Zamora – tanto para o partido quanto, sobretudo, para a cidade. O responsável foi o Lomas Athletic Club, time argentino de maior sucesso no esporte antes do século XX. Assim como muitos clubes argentinos pioneiros, ele teve origem na comunidade britânica.
Foi fundado em 1891 como Lomas Academy Athletic Club, como o clube de alunos e ex-alunos da Lomas Academy, escola anglo-argentina da região. O primeiro campeonato argentino ocorreu ainda naquele ano, mas o clube, já com o nome reduzido, só veio a competir em 1893 (no que foi a segunda edição do torneio, a primeira delas organizada pela associação que deu origem à atual Associação do Futebol Argentino, a AFA).
Logo ali, sagrou-se campeão. Thomas Bridge, P. Bridger, Alexander Buchanan, Patricio Rath, W. Cowes, F. Jacobs, C. Reynolds, F. Carter, Guillermo Leslie, Henry Anderson, William Leslie (artilheiro e irmão de Guillermo) e Luis Nóbili (o único não-britânico) formavam o conjunto vitorioso, treinado por A. Leslie. Outros dois títulos viriam em série, fazendo da equipe tricolor a primeira bi e tricampeã nacional seguida. O domínio era tão forte que o vice-campeão no tri, em 1895, foi o estreante time de futebol da própria Lomas Academy, virtualmente uma equipe B do Athletic.
Em 1896, a mesma Academy conquistaria o título, com quatro pontos diferença para o quarto colocado, em um campeonato bastante equilibrado; logo depois, deixou seu lugar vago, com a debandada de oito de seus titulares: três deixaram a escola após concluírem seus estudos e outros cincos deixaram o futebol para focarem-se na vida acadêmica, dois destes na Europa.
Os demais jogadores campeões pela escola foram enfim integrados ao Athletic, que obteve o bicampeonato nas duas edições que se seguiram. De certa forma, a instituição foi hexacampeã consecutiva, algo que só seria igualado (e depois superado) pelo hepta obtido pelo Racing na década de 10, feito este que rendeu à equipe de Avellaneda a alcunha de La Academia.
Os outros times que foram vices do Lomas foram o Flores Athletic (1893 e em 1896, neste para a Academy), Rosario Athletic (1894), Lanús Athletic (1897) e Lobos Athletic (1898). Natural que, enquanto reinou, a equipe tenha feito alguns artilheiros do campeonato: além de Leslie, James Oswald Anderson (em 1896; irmão de Henry Anderson e de outro membro do time, Arthur) e William Stirling (1897, incluindo o gol do título) também se sagraram goleadores máximos do torneio.
Porém, nas onze edições seguintes ao quinto (ou sexto) título no futebol, obteve no máximo dois vice-campeonatos – em 1900 e 1906, neste último por benefício do regulamento: em vez de um certame de pontos corridos, como vinha ocorrendo até então, o torneio dividiu os onze competidores em duas chaves, uma com as cinco equipes mais fortes e outra (a do Lomas) com as fracas. Ele venceu o seu grupo e pôde postular a taça com o seu sucessor no domínio do futebol argentino, o Alumni.
Em outras seis dessas edições posteriores ao seu último título, ficou em penúltimo, até uma última colocação em 1909, fruto de uma medíocre campanha de apenas uma vitória, seis empates e onze derrotas, terminar por finalmente rebaixá-lo e praticamente decretar o fim do futebol no clube, que no mesmo ano chegou a sofrer derrota de 0 x 18 para o Estudiantes de Buenos Aires (até hoje, é a maior goleada do futebol argentino). Ainda houve um epílogo efêmero, com uma participação na terceira divisão argentina de 1911.
O enfraquecimento de seu futebol deveu-se em partes à escolha feita em 1899, por dar prioridade ao rúgbi, sendo um dos fundadores da União de Rúgbi do Rio da Prata juntamente com o Buenos Aires FC (clube pioneiro no futebol e no rúgbi argentinos, visto no especial anterior, que abriu esta série), o Belgrano Athletic, o Flores Athletic e o Rosario Athletic.
Justamente neste mesmo ano, o Lomas sagrou-se campeão do primeiro campeonato argentino do esporte e teve a sua série de conquistas no de futebol interrompida. É de se notar que, em ambos, ele foi campeão logo no primeiro torneio que disputou em cada um. Dos jogadores presentes no jogo do título de futebol de 1898, alguns estiveram no jogo do título de rúgbi em 1899, casos de Arthur Anderson, Henry Anderson, Frederick Jacobs e Frank John Chevallier Boutell.
O clube, porém, não teria tanto sucesso na nova modalidade, com a primeira década do século XX sendo dominada pelo Buenos Aires no campeonato. O segundo título só viria em 1913, já com o Lomas dedicando-se exclusivamente ao rúgbi. Ainda assim, foi também a última conquista no esporte. Talvez pela falta de mais troféus, ele trocou novamente de prioridade, com o hóquei sobre grama (também popular na Argentina, cuja seleção feminina – Las Leonas – é bastante prestigiada) passando a ser na década de 30 a modalidade predominante. Ainda assim, diferentemente do futebol, o rúgbi permaneceu ativo no clube, que ainda hoje disputa os torneios argentinos.
Apesar da decadência futebolística após o título de 1898, o Lomas ainda mostrou certa importância no futebol, mais especificamente na figura de seu atacante James (Juan) Oswald Anderson, o artilheiro de 1896. Ele, que também era um bom jogador de críquete, foi quem organizou aquela que é oficialmente reconhecida pela atual Associação do Futebol Argentino como a primeira partida da Seleção Argentina, em 16 de maio de 1901, contra o Uruguai. Na partida, curiosamente, quem jogou de celeste foram os argentinos (o Uruguai só adotaria tal cor em 1910 e a Argentina, as listras alvicelestes, em 1908).
A validade desse jogo (3 a 2 para a Argentina, com Anderson tendo marcado um dos gols) é bastante contestada, todavia; quem partilha desta opinião (como o RSSSF e a IFFHS) se sustenta no fato de que o adversário era composto pelo clube uruguaio Albion (cujo uniforme rubroazul, por sinal, vestiu os charruas e em cujo estádio se deu a partida) reforçado com dois jogadores do Nacional, e não um selecionado organizado pela Associação Uruguaia de Futebol. No ano seguinte, em 20 de julho, houve novo encontro e este, sim, teria sido de fato a primeira partida válida entre ambas as seleções. Foi novamente no campo do Albion e terminou em nova vitória argentina, desta vez por 6 a 0 e com Anderson marcando outro gol, no que foi seu último jogo pela Argentina.
Dois anos depois da goleada, ele, que era secretário da Liga Argentina de Futebol da Associação (da qual chegou a ser também vice-presidente), se tornou o terceiro presidente da União de Rúgbi do Rio da Prata, a qual dirigiu no biênio 1904-05. Se for considerado apenas o jogo de 1902, Anderson é o único jogador do Lomas a ter defendido a Argentina no futebol; já no de 1901, ele atuou ao lado do goleiro Roberto Rudd e do ponteiro Guillermo Leslie. William Leslie, ex-colega deles no século XIX, esteve nas duas partidas, mas como jogador do Quilmes. Walter Buchanan, um dos campeões da Lomas Academy, estivera no de 1902 como atleta do Alumni.
Anderson também foi importante no rúgbi argentino, ainda antes de ser presidente do órgão regulador local: ele era sócio do Buenos Aires FC e em 1898 propusera, em assembleia do clube, a realização de um campeonato de rúgbi, levado a cabo no ano seguinte.
Como outra curiosidade do Lomas, está a história das cores da equipe: o verde e o dourado passaram a ser usados no início do século passado por indicação do atleta Barry Fairy Heatlie, imigrante do Cabo, uma das colônias britânicas que em 1910 dariam origem à África do Sul. Antes mesmo do país surgir, uma seleção sul-africana já reunia esportivamente as colônias do Cabo, Natal, Rio Orange e Transvaal. Ela costumava usar o uniforme da equipe em que atuava seu capitão e, quando Heatlie assumiu este posto, ela passou a vestir tais cores, que eram as do clube em que ele jogava, o Old Diocesan.
Como com elas os Springboks (apelido que teria sido idealizado por ele, em referência a uma espécie de gazela sul-africana) venceram pelas duas primeiras vezes os British and Irish Lions (a seleção de rúgbi que reúne Grã-Bretanha e Irlanda, para festejadas turnês de amistosos), acabaram adotadas de forma fixa. Posteriormente, cores e apelido representariam também a seleção sul-africana, reconhecidamente uma das potências desse esporte.
Além de ter jogado seis vezes pela terra natal, Heatlie também realizou uma partida pela Argentina – por sinal, também contra os Lions, em 1910, exatamente no primeiro jogo realizado pela Seleção Argentina de Rúgbi (no que foi uma celebração do centenário da Revolução de Maio, o movimento de 1810 que desencadeara a independência platina). Ela ganharia a alcunha de Pumas justamente em uma série de jogos pela África do Sul (e pela vizinha Rodésia, atual Zimbábue), na década de 60. Heatlie, por sua vez, foi justamente o único lomense naquela partida de 1910.
A despeito de já não disputar competições no futebol há mais de um século, o Lomas Athletic (que posteriormente nacionalizou o nome para Club Atlético Lomas) ainda é o nono maior vencedor do campeonato argentino, empatado em cinco títulos com o Huracán e o Newell’s Old Boys. Se for considerado o título da Lomas Academy, ele se torna o oitavo, ao lado das seis conquistas do Estudiantes de La Plata (que teve seu sexto título somente em 2010), ficando atrás somente dos cinco grandes (justamente, os cinco maiores campeões), do Vélez Sarsfield (sétimo e que só veio ultrapassar o Lomas em 2009, quando a ausência chegou aos cem anos) e do time que será objeto do próximo especial: o Alumni.
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No último jogo da Argentina na Copa, venceu bem e sem maiores dificuldades a fraca Romênia (43 a 8) e, na madrugada de sábado para domingo (às 4:30 da manhã), enfrentará a Escócia (que venceu o mesmo adversário por apenas 34 a 24). Será praticamente o jogo decisivo pelo segundo lugar do grupo; depois, na última rodada, os argentinos enfrentam a Geórgia (não tão forte) enquanto os escoceses (que venceram os georgianos por somente 15 a 6) têm pela frente a rival Inglaterra. Os Pumas têm boas chances de seguirem para as quartas-de-final.
Argentina: Lucas González Amorosino, Gonzalo Camacho (Juan José Imhoff), Marcelo Bosch, Martín Rodríguez, Horacio Agulla, Santiago Fernández (Nicolás Sánchez), Nicolás Vergallo (Alfredo Lalanne), Juan Martín Fernández Lobbe, Juan Manuel Leguizamón [Genario Fessia (Mariano Galarza)], Julio Farías Cabello, Patricio Albacete, Manuel Carizza, Juan Figallo, Mario Ledesma (Agustín Creevy) e Rodrigo Roncero (Martín Scelzo). Técnico: Santiago Phelan.
Romênia: Iulian Dumitraș (Florin Vlaicu), Mădălin Lemnaru, Minya Csaba Gál, Constantin Gheară, Ionel Cazan, Ionuț Dimofte, Florin Surugiu (Valentin Calafeteanu), Daniel Carpo (Silviu Florea), Ovidiu Tonița, Mihai Macovei (Daniel Ianuș), Cristian Petre (Valentin Popîrlan), Valentin Ursache, Paulică Ion, Marius Tincu e Mihăiță Lazăr. Técnico: Romeo Gontineac.
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