* Com a colaboração de Alexandre Anibal
Após nove especiais sobre a trajetória futebolística de clubes argentinos hoje mais dedicados ao rúgbi – o primeiro, sobre o pioneiro nos dois esportes; os cinco seguintes, sobre os que foram campeões argentinos no futebol; e os três anteriores, aos que foram ao menos vice nacionais nele -, este décimo, para fechar redondamente a série no dia em que a final da última Copa do Mundo completou exato um mês, terá outro enfoque: as equipes de futebol que experimentaram o rúgbi, mas (geralmente) sem o êxito das já abordadas. A maioria das que serão comentadas aqui, por sinal, não se fixaram nele, por diversos motivos.
Para começar, nada mais apropriado do que pegar o mais antigo e que inclusive foi um dos cinco fundadores da União de Rúgbi do Rio da Prata, o primeiro órgão do rúgbi argentino. Bem antes das redondezas do bairro de Flores abrigarem o pequeno Deportivo Español e, mais recentemente, o San Lorenzo (que se fixou lá há 20 anos, mas não deixou de ser identificado com o bairro próximo de Boedo – embora fundado no de Almagro, vizinho a este), nele o Flores Athletic Club teve suas origens, apesar de se fixar no de Caballito, ao lado.
Como outro dos pioneiros clubes dos britânicos, dedicava-se a esportes característicos desta comunidade. Na sua existência, praticou também críquete, atletismo e polo. Foi justamente no campo de polo de Flores, posteriormente utilizado pela equipe (que teria sido fundada por volta de 1890-91), que se deu em 1874 o primeiro jogo de rúgbi na Argentina, entre sócios do Buenos Aires FC. Foi também nele que se deu o jogo extra entre St. Andrew’s e Old Caledonians que, na visão atual, decidiu o primeiro campeonato argentino de futebol, em 1891.
Neste esporte, o Flores participou de sete campeonatos, sendo um dos times fundadores da Liga Argentina de Futebol da Associação que daria origem à atual Associação de Futebol Argentino. Seis de suas participações no torneio deram-se entre 1893 e 1898. Foi duas vezes vice-campeão, ambas para lomenses. A primeira, já na estreia, para o Lomas Athletic. A segunda, três anos depois, para a Lomas Academy (equipe B do Athletic). Seu conjunto no primeiro campeonato incluía os atletas Brown; Gordon e Syer; Gahan, Goddard e Murphy; Fothergill, Jordan, Allen, Bartman e Wilson. A equipe fez ainda dois artilheiros do certame: James Gifford, em 1894, e T.F. Allen, em 1896.
Em 1899, o Flores desafiliou-se da Associação Argentina de Futebol para dedicar-se ao rúgbi, onde também foi time fundador da entidade que daria origem ao atual órgão nacional regulador: co-fundou a então União de Rúgbi do Rio da Prata com o Buenos Aires FC, o Belgrano Athletic e o Rosario Athletic, além do Lomas. Todavia, disputou apenas a inaugural edição daquele ano. Por isso, costuma ser esquecido: é comum, mesmo na mídia argentina, a percepção de que as atuais URBA e UAR tiveram quatro, e não cinco, clubes pioneiros. Elas mesmas costumam inclusive divulgar que seus fundadores foram somente os outros quatro.
Alguns sócios do Flores retomaram o time de futebol em 1903, aceito na liga sem precisar passar pela segunda divisão. Mas a equipe perdeu as dez partidas que disputou, não marcando gols e sofrendo 20, 12 deles em goleada em casa para o Alumni. Não voltou mais. O clube fechou pouco tempo depois, com seu patrimônio sendo comprado em 1907 pelo Ferro Carril Oeste, seu vizinho em Caballito desde 1904, quando fora fundado. Este foi, por sinal, também outro time de futebol (ou, melhor dizendo, com futebol) a ter se aventurado no rúgbi.
O Ferro tem destaque nacional exatamente por seu enorme sucesso em esportes diversos (talvez o maior da Argentina), tendo nos anos 80 a sua década dourada: nela faturou seus dois troféus na primeira divisão argentina de futebol (em 1982 e 1984), ficando aí por nove anos à frente do arquirrival, o Vélez Sarsfield. No basquete, onde revelou Luis Scola, obteve no mesmo decênio três títulos sul-americanos (1981, 1982 e 1987), um deles contra os brasileiros do São José e outra sobre os do Monte Líbano; apenas o Sírio e o Franca têm mais títulos continentais que ele na bola ao cesto. Também nesse período, conquistou dois sul-americanos e dois mundiais de vôlei (em 1987 e 1988) e inúmeros títulos locais nessas e em outras modalidades esportivas. Em 1988, seu valor foi destacado até pela UNESCO.
Já no rúgbi, ele não logrou louros tão altos. Embora com diversos britânicos entre os fundadores do clube, a instituição resolveu filiar-se apenas em 1932 na União de Rúgbi do Rio da Prata, exatamente um ano depois de sua equipe de futebol se incluir entre as adeptas do profissionalismo – algo ainda não aceito no rúgbi argentino. Por conta disso, o departamento de rúgbi do clube formou um time oficialmente independente, o Ferro Carril Oeste Rugby Club. O novo representante de Caballito no esporte durou mais tempo que o antecessor, mas sem destaque (obteve apenas títulos de acesso), e saindo vexaminosamente: em 1960, foi desafiliado após a União Argentina de Rúgbi concluir que a independência do Ferro RC era apenas de fachada.
Ainda assim, os Pumas utilizaram regularmente o polidesportivo estádio dos verdolagas, o Arquitecto Ricardo Etcheverri (famoso por, dada a localização de Caballito no centro geográfico da capital federal, ser regularmente alugado por outros times portenhos quando estes não podem dispor de sua própria cancha), entre as décadas de 70 e de 2000, “sucedendo” o campo do Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires, que era a casa principal da seleção até o fim dos anos 60. O último jogo da Argentina no Templo de Madera já completou dez anos: foi em 14 de julho de 2001, contra a Itália. Desde então, o José Amalfitani, El Fortín de Liniers, o campo do rival Vélez, vem sendo o preferencialmente usado.
A exigência do amadorismo também impediu que o River Plate fosse aceito. Os millonarios foram outros que requisitaram filiação em 1932, recusada por conta dessa restrição. Com isso, o time de Núñez acabou nem chegando a competir no rúgbi. Na época ainda uma equipe pouco vencedora no futebol (tinha na primeira divisão apenas o título de 1920), logo desandaria a ganhar troféus nele a partir daquela década – incluindo um já naquele ano -, esquecendo o rúgbi.
O Racing foi o único grande do futebol argentino que de fato jogou oficialmente com a bola oval, em 1911. Curiosamente, repetiu (ou tentou) o caminho da instituição parisiense que lhe inspirou o nome, o polidesportivo Racing Club de France, de tradição supercentenária nos dois esportes e em outros, apesar das recentes décadas sem títulos tanto no futebol (que já teve Enzo Francescoli e Rubén Paz, que depois jogaria – muito bem – no homônimo argentino) quanto no rúgbi (cuja equipe, a contar atualmente com Sébastien Chabal, é oficialmente chamada de Racing Métro 92).
Assim como o River ainda não era El Más Grande quando tentou algo no rúgbi, o time de Avellaneda ainda não era La Academia, que faturaria sete campeonatos argentinos de futebol seguidos (ainda um recorde no país) entre 1913 e 1919: foi afiliado e desafiliado há exatos cem anos da União, uma vez que foi expulso ainda no ano da estreia. O motivo foi uma confusão que seus jogadores promoveram em uma partida contra o Belgrano Athletic, em baderna compreendida como incompatível com o cavalheiro espírito rugbier .
Outro time de futebol a ter participação de apenas um ano no rúgbi foi o Quilmes. Fundado em 1887, é o mais antigo time de futebol profissional ainda em atividade na Argentina (e na América); o Gimnasia y Esgrima La Plata, criado no mesmo ano mas com alguns meses de antecedência, só viria a praticar futebol já no século XX, em situação similar à que ocorre no Brasil entre o Flamengo (fundado em 1895 como um clube de regatas) e o Rio Grande (surgido em 1900 já praticando futebol).
O Quilmes foi outro dos clubes criados na comunidade britânica, e por certo tempo foi restrito a ela. Isso inclusive motivou a criação de seu arquirrival, com os quilmenhos criollos fundando em 1899 um clube apropriadamente chamado Argentino de Quilmes (atualmente na quinta divisão, mas de grande competitividade nas duas primeiras décadas do século passado), exatamente o primeiro time de futebol no país a trajar-se com as cores da bandeira argentina e em listras horizontais alvicelestes, antes mesmo da seleção. O próprio Racing, que despontaria como o primeiro grande clube dos hispânicos, lhe pediu na época autorização para também poder vestir-se de forma parecida.
Abrindo-se apenas posteriormente aos latinos, o então Quilmes Athletic Club (Quilmes Atlético Club desde 1954) se filiou na União de Rúgbi em 1908. Ao contrário da maior parte das equipes “britânicas”, que foram migrando para o rúgbi enquanto o futebol era abraçado pelos criollos, porém, os cerveceros continuaram com o balompié. No rúgbi, seu único registro é a participação na segunda divisão de 1909. Sabe-se apenas que o campeão ali foi o igualmente estreante Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires.
Em 1912, foi a vez de Atlanta e Estudiantes de La Plata se afiliarem na União. Os bohemios de Villa Crespo logo se retirariam, quando não conseguiram formar uma equipe para disputar a segunda divisão de 1913. Já os pincharratas, como o River e o Ferro, desligaram-se por conta do profissionalismo, sendo registrados pela última vez em ata da União em 1929. O arquirrival pincha, o Gimnasia y Esgrima platense, também teve de enfrentar situação parecida. Sua trajetória, porém, foi outra, justamente a de maior sucesso entre estes clubes.
Os triperos, de certa forma seguindo os passos do seu homônimo portenho (que, como também já mostrado no especial anterior, disputava os torneios de rúgbi já na primeira década do século passado), filiaram-se em 1924. Foi justamente diante de uma equipe secundária do Gimnasia de Buenos Aires que o GELP disputou seu primeiro jogo oficial de rúgbi, na terceira divisão de 1925, perdendo por 0 x 34.
O acesso à segunda divisão veio em 1929, exatamente no mesmo ano em que o Lobo conseguiu seu único título argentino de futebol na elite até hoje. Ganhando 27 dos 28 jogos, foi campeão também na terceirona do rúgbi. Três anos mais tarde, conseguiu novo acesso neste esporte, agora à primeira divisão. Outro ano depois, a União informou que o clube deveria ser desafiliado, por força das diretrizes antiprofissionais da International Rugby Board.
A subcomissão de rúgbi do Gimnasia La Plata, então, à semelhança do que faria a do Ferro Carril Oeste, formou um clube independente. Mas, ao contrário do time de Caballito, isto de fato se efetivou, após um breve período de transição em que o então Gimnasia y Esgrima La Plata Rugby Club contou com o apoio da instituição-mãe. Já em 1934, o novo clube adotaria o nome de La Plata Rugby Club. O uniforme gimnasista ainda seria usado por algum tempo, sendo trocado em 1939 pela vestimenta auriazul, utilizada até hoje.
O La Plata obteve apenas um título na URBA. Foi justamente em 1995, talvez o ano mais forte do esporte platense como um todo: o Estudiantes, de Verón e Palermo, faturou a Primera B Metropolitana, retornando à elite do futebol argentino já um ano depois de seu rebaixamento. E o belo time de Noce, Sanguinetti e dos gêmeos Barros Schelotto só não foi campeão da elite por um desastre – na última rodada, o líder Gimnasia perdeu no seu Bosque para um time misto do Independiente, vendo o troféu ir para o San Lorenzo (que estava dois pontos atrás e há mais de duas décadas em jejum), que venceu fora de casa o Rosario Central com um gol a treze minutos do fim. O La Plata tem também em sua galeria um torneio nacional de clubes, o de 2007.
Outros GyE passaram pelos dois esportes. O de Lanús, no futebol, venceu a terceira divisão de 1929, e esteve perto de novo acesso seguido, agora para a elite, na segundona de 1930: ficou em quarto, com os três primeiros (Temperley, All Boys e Nueva Chicago) empatados entre si na sua frente por dois pontos de diferença e com isso decidindo o campeonato em um triangular, a ser faturado pelo Chicago. A bola no pé acabou arrefecendo pouco depois neste Gimnasia, com o clube passando a dar prioridade ao basquete, o que o faz até hoje, sob o nome de Club Social Lanús. Ainda como Gimnasia y Esgrima de Lanús, filiou um time de rúgbi na União em 1956, mas sem maiores sucessos.
Já o de Rosario participou dos campeonatos rosarinos até 1922 (o campeonato argentino, apesar do nome, continuaria restrito à Grande Buenos Aires e La Plata até 1939), vencendo o de 1912 (quando o clube ainda chamava-se Argentino, sem ligação com o atual Argentino de Rosario) e inclusive fornecendo alguns jogadores à seleção: o goleiro Emilio Araya e o meia-direita Atilio Badalini foram os únicos que atuaram pela Albiceleste vindos dele. Este último o fez ainda aos 17 anos, sendo um dos mais jovens estreantes do selecionado, e marcou o gol da vitória em jogo de 1916 contra o Uruguai.
Outro, de sobrenome Faivre, chegou a ser convocado para o Sul-Americano de 1919, embora não tenha jogado. Badalini também esteve em um Sul-Americano (o de 1920), mas ali já como atleta do Newell’s Old Boys – é o segundo maior artilheiro dos leprosos, com 112 gols. Já Araya, em uma de suas três partidas por ela, foi o capitão.
O GER implantou a bola oval em 1927 (tal fato é lembrado em seu distintivo) e, com ela, venceu três vezes o torneio da União de Rúgbi de Rosario e dois Torneios do Litoral (estes reúnem equipes das Uniões de Rosario, Santa Fe e Entre Ríos por um lugar no Torneio do Interior, classificatório para o Nacional de Clubes). O rúgbi é um dos diversos esportes praticados no Gimnasia rosarino, que ainda tem um departamento de futebol – mas para sêniors sócios, naturalmente amadores.
Se o profissionalismo restringiu a prática oficial de rúgbi em muitos clubes, o mesmo não se deu no pequeno Sportivo Barracas. Afinal, esta instituição permaneceu amadora após 1931, sendo inclusive a campeã argentina do torneio amador de 1932 (hoje, encontra-se na Primera C Metropolitana, equivalente à quarta divisão), no que foi a antepenúltima edição deste.
O motivo para o Sportivo ter se retirado do rúgbi dois anos depois, em 1934, foi na verdade similar ao do Racing. Assim diz a ata daquele ano da União do Rúgbi do Rio da Prata, onde estava afiliado desde 1927: “a comissão diretiva lamenta profundamente ter que levar ao conhecimento da Assembleia que se viu obrigada, em salvaguarda aos melhores interesses do jogo e da correção que tem sido tradicional dentro do mesmo, a expulsar de seu seio o Club Sportivo Barracas, como também a suspender pelo período de um ano os clubes Deportivo Central Argentino e San Fernando, por conduta contrária aos regramentos e espírito do jogo”.
O mesmo San Fernando, por sinal, foi outro que viera do futebol, tendo se afiliado igualmente em 1932, como o Barracas, o Ferro e também o Porteño. Deixara a bola redonda com o rebaixamento na primeira divisão amadora, no ano anterior. Com ela, chegou a ser campeão da terceira divisão em 1918, chegando à primeira em 1922, e a fornecer quatro jogadores à seleção: o ponta-esquerda Benjamín Delgado (que, já pertencendo ao Boca Juniors, esteve no Sul-Americano de 1926), os volantes Jorge Alonso e G. Méndez e o lateral-direito L. Pérez. Hoje, está na segunda divisão e desde os anos 70 é vizinho do Buenos Aires FC, que se mudou para a cidade de San Fernando.
Atualmente, o time argentino mais expressivo a dedicar-se aos dois esportes é outro Gimnasia: o Gimnasia y Tiro, de Salta. Fundado em 1902 como Club Atlético Salteño, renomeou-se no ano seguinte indicando seus esportes originais: ginástica e tiro. Outro ano mais tarde, começaram ali as práticas de futebol. Campeão dezoito vezes do campeonato saltenho, teve seus momentos de maior expressão nacional na década de 90. Depois de figurar nos campeonatos nacionais de 1979 e 1981, o clube obteve dois títulos de acesso na Primera B Nacional, estando na elite argentina nas temporadas 1993-94 e 1997-98.
Hoje, está no Torneo Argentino A (equivalente à terceira divisão). Ainda é o único time de sua província a ter participado da primeira divisão argentina de futebol. No rúgbi, praticado desde 1942, por sua vez, sua força, mesmo regional, é menor. Participa do Torneio do Noroeste, que reúne times das províncias de Tucumán, Salta, Jujuy e Santiago del Estero e é um dos principais do interior argentino. Ali, ainda não obteve títulos, alcançados apenas do campeonato local de Salta.
O GyT, na realidade, é um dos clubes mais ricos da Argentina, mas as duas modalidades boleiras são deixadas em segundo plano em relação a outros esportes praticados nele. Além dele, outros pequenos clubes também praticam futebol e rúgbi: Atlético Ledesma de Jujuy (onde Ariel Ortega deu seus primeiros passos, antes de rumar ao River Plate), Universitario de Córdoba (onde Claudio López estava antes de passar à base do Racing, formou também Juan Carlos Heredia, depois ídolo no Barcelona e naturalizado pela seleção espanhola), Jorge Newbery de Laprida, Provincial de Rosario, Estudiantes de Paraná e Huracán de Tres Arroyos, o mais recente na elite futebolística – esteve na temporada 2004-05, quando o próprio Huracán principal, o portenho de Parque Patricios, encontrava-se na segunda divisão.
A equipe lapridense, por sua vez, leva o nome do pioneiro da aviação argentina, que curiosamente também foi um jogador de rugby: integrou com o irmão Eduardo o time da Faculdade de Engenharia (o primeiro formado por criollos na Argentina) que alcançou as semifinais de 1904, quinta edição do campeonato da União de Rúgbi do Rio da Prata.
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A quem passou a se interessar por rúgbi por conta desta série e deseja conhecer mais este esporte, eis alguns sites em português: o Blog do Rugby, o Rugbier, o Blog Rugby Brasil, o blog do Rouget Maia na ESPN, o Falando sobre Rugby, o Mão de Mestre, o site do Martoni, diretor da Confederação Brasileira de Rúgbi e o da própria CBRu, o Rugby de Calcinha, o Rugby Futebol Clube, o Rugby Mania e o Rugby Spirit (de Fernando Portugal, atleta da Seleção Brasileira). Também merecem menção as páginas oficiais da URBA, da UAR e do Museu do Rúgbi Argentino, bem como a da Copa do Mundo.
Para encerrar, uma sucinta explicação de como funciona o rúgbi argentino, com informações repassadas a nós por Victor Ramalho, editor do Blog do Rugby. Nacionalmente, é administrado pela União Argentina de Rúgbi, a UAR. Historicamente não muito integrado, o rúgbi argentino viveu exclusivamente de torneios provinciais e regionais até 1993, ano do primeiro torneio nacional de clubes. Mesmo após o advento dele, a competição mais valorizada ainda é a da União de Rúgbi de Buenos Aires, conforme já dito neste e nos especiais anteriores.
A primeira divisão (há quatro) da URBA contém 24 times, divididos em dois grupos de doze, cujos sete primeiros em cada nas disputas do primeiro semestre disputam a taça no chamado Top 14 (oficialmente, Copa Volkswagen), no segundo. Os cinco últimos de cada chave jogam no segundo semestre o Reubicación, torneio que envolve também os seis melhores da segunda divisão (também com 24 clubes) por dez lugares na elite do ano seguinte.
A URBA fornece ainda metade dos competidores do nacional (desde 2009, seus finalistas; até então, os semifinalistas). Vale informar que a mais recente final dela ocorreu em 5 de novembro, com o SIC somando o seu 25º título (o segundo seguido) no campeonato ao derrotar o Alumni por 14 a 11, na cancha do La Plata, em jogo onde precisou-se de prorrogação. As duas equipes foram tratadas nesta série de especiais.
A outra metade do certame nacional é composta pelos finalistas (até 2008, também os semifinalistas) do Torneio do Interior, que por sua vez é travado pelos melhores times dos torneios do Oeste (províncias de San Juan e Mendoza), Pampeano (com times do sul da província de Buenos Aires, abrangendo as cidades de Bahía Blanca e Mar del Plata), os já mencionados do Litoral e do Noroeste e o de Córdoba.
A final interiorana também ocorreu no dia 5, vencida por 37 a 27 pelo cordobês La Tablada sobre o rosarino Duendes (que jogou em casa). O torneio nacional ocorre no final do ano, normalmente ainda em novembro. O vencedor de um enfrenta o vice do outro; neste ano, a final será a mesma da do interior: La Tablada e Duendes medirão neste sábado, dia 26, novamente suas forças, após vencerem respectivamente Alumni (25 a 12) e SIC (30 a 20).
As uniões regionais, além de campeonatos, também possuem suas próprias seleções, à semelhança do que chegou a ocorrer no futebol brasileiro, que já teve um campeonato de seleções estaduais. Os selecionados provinciais (que na Argentina também já existiram no futebol) totalizam 26 e disputam entre si um campeonato realizado anualmente até abril. A primeira divisão dele em 2012 terá Córdoba (campeã deste 2011), Buenos Aires, Tucumán, Rosario, Cuyo, Mar del Plata, Salta e San Juan, que entrará no lugar da rebaixada Santa Fe.
As seleções regionais também realizam campeonato de Rugby Sevens (como o nome diz, modalidade mais enxuta, com sete jogadores o invés de quinze; sete são também os minutos de duração de cada tempo nele), cujo torneio principal se dá ao fim do ano entre elas e equipes convidadas – as do Uruguai e Brasil costumam participar. O sevens, por sinal, é o rúgbi aceito nos torneios olímpicos; no Pan de Guadalajara, neste ano, os argentinos ficaram com a prata. Nas Olimpíadas, o rúgbi, nesta forma reduzida, voltará em 2016, nos Jogos do Rio; o rúgbi original foi disputado entre 1900 e 1928.
A seleção principal fez seu primeiro jogo em 1910, contra os British and Irish Lions. Embora historicamente dominante na América do Sul, só começou a ter maior reconhecimento externo após excursão em 1965 pela Rodésia (atual Zimbábue) e África do Sul. Foi ali que recebeu a alcunha de Pumas, assumida pelos próprios argentinos mesmo tratando-se de um equívoco – o felino do distintivo, que originou o apelido, é na verdade um jaguar; a seleção B, por sua vez, é conhecida justamente como Los Jaguares.
Tal respeito fez a Argentina ser um dos países convidados para a primeira Copa do Mundo, em 1987 (onde foi eliminada em último lugar em seu grupo na fase inicial), que não teve eliminatórias. Sempre marcou presença nos mundiais seguintes, embora tenha caído ainda na primeira fase também nos de 1991, 1995 e 2003.
Em 1999, avançou pela primeira vez às quartas-de-final. Sua melhor campanha deu-se em 2007, ao conseguir o bronze em uma trajetória onde bateu duas vezes a anfitriã, a forte França – na estreia (17 a 12) e na partida pelo terceiro lugar (34 a 10). Terminou a primeira fase pela primeira vez como líder, em um grupo que continha ainda a tradicional Irlanda. Nas quartas, venceu a Escócia, caindo nas semifinais contra a futura campeã África do Sul.
Em anos sem Copas, a Argentina costuma realizar, em junho, três jogos anuais, com pelo menos um deles em Buenos Aires. A partir de 2012, a carga aumentará, com a inclusão puma no Torneio Quatro Nações (oficialmente, Rugby Championship), conforme também já mencionado anteriormente nesta série. Nele, enfrentará exatamente os maiores vencedores mundiais, as bicampeãs África do Sul, Austrália e Nova Zelândia, no evento que reunirá as mais fortes seleções do hemisfério sul.
A busca por voos mais altos deve-se ao fato de que, na América do Sul, o domínio argentino ser descomunal. O único Sul-Americano que não venceu, o de 1981, foi justamente o que não contou com a participação dos alvicelestes, que levantaram simplesmente as demais 32 edições. Tal torneio de 1981 ocorreu em meio às três semanas em que a Inglaterra visitou, pela primeira vez, a Argentina, para alguns test matches contra ela e amistosos contra clubes e combinados locais, daí a ausência puma na edição que seria vencida pelo Uruguai.
Se a profissionalização, admitida no rúgbi desde 1995, ainda não foi muito aceita na Argentina, suas seleções de base já passam por ela. Em associação com o Ministério dos Esportes, a UAR organiza o chamado PladAR, programa para alto rendimento que consiste em um bolsa-atleta para um seleto grupo de jogadores, que, sob o nome de Pampas XV, disputa anualmente a Vodacom Cup.
Trata-se do segundo torneio sul-africano doméstico mais importante, vencido pelos argentinos em 2011 e fazendo com que alguns Pampas fossem aproveitados na Copa do Mundo, meses mais tarde: Agustín Creevy, Genaro Fessia, Mariano Galarza, Leonardo Senatore, Nicolás Sánchez, Maximiliano Bustos, Julio Farías Cabello (autor do try argentino contra os All Blacks, nas quartas-de-final) e Juan José Imhoff – filho de José Luis Imhoff, um dos integrantes daquela histórica excursão de 1965.
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Informação pós-post: o Duendes deu o troco no La Tablada hoje, na final do torneio nacional. Venceu por 26 a 23, conquistando seu terceiro troféu na competição.
Quem se interessar pelo sucesso do Ferro Carril Oeste em outros esportes, há esse especial dos mais completos, que o Leonardo Ferro lançou há umas semanas: https://www.futebolportenho.com.br/2012/06/29/trinta-anos-do-primeiro-titulo-do-ferro-carril-oeste-na-primeira-divisao/