Blog FP: Acesso Argentino é um filme de Tarantino
Sendo um site brasileiro sobre futebol argentino, as questões do acesso das demais equipes sempre ficam em segundo plano. Todo mundo só quer saber de Boca Juniors, River Plate, Libertadores e outras coisas mainstream, deixando quase 90% do futebol argentino de lado.
Dessa forma, em um instante de revolta gratuita, o autor dessas linhas resolveu fazer a sua estreia no Blog do Futebol Portenho. No entanto, contrariando o papel social da ferramenta blog de fornecer análises pertinentes e ponderadas, o assunto aqui é cataclísmico, relacionando, tal como indica o título, cinema e futebol à moda do devaneio.
Cães de Aluguel
Tal como o primeiro filme de Quentin Tarantino, os plantéis das equipes do Acesso do futebol argentino não são feitos por nomes famosos do ramo. Nada de Riquelme, Ortega, Palermo, Lamela e Verón, quem joga é a molecada promessa ou gente do próprio bairro. Teve até time na última divisão do Interior (Argentino C) que era composto por presos e carcereiros. Além disso, muitos times nunca jogaram juntos antes, principalmente no Argentino C, sendo uma mistura dos melhores jogadores do time da região sob o distintivo de uma equipe.
Pulp Fiction
Tal como uma ficção barata impressa em papel de baixa qualidade – as pulp fictions que deram nome ao segundo filme -, o cenário do esporte não é nada chique, não há glamour e, na grande maioria das vezes, transmissão pela TV. Torcida se mistura com jogadores para bater e apanhar pelo clube quando um rival merece. Além disso, o futebol não é um dos mais leais e as regras dos campeonatos – cheios de repescagens – seguem uma não-lineariedade lógica tal como o filme de Tarantino .
Jackie Brown
Se Jackie Brown é uma blaxploitation, o acesso do futebol argentino se divide em barrioxploitation (Grande Buenos Aires com Primera B, C e D) e interiorxploitation (Argentino A, B e C). Quer saber como o argentino ama o futebol? Acompanhe o acesso e não faça como os patrulheiros brasileiros que não gostam de estaduais ou da Copa do Brasil. Clássico, amigo, é de rua.
Kill Bill
Vingança, vendetas? O Acesso é o lugar certo. Clássicos não faltam e histórias cruéis de times que tiraram o acesso do rivais existem aos montes. Também há o estigma do rebaixado. Quando o Rosario Central caiu para a B Nacional, a torcida do Newell’s falou que ele tinha que cair mais uma vez, para a Primera B, e pegar o Central Córdoba como adversário do novo clássico de Rosario.
À Prova de Morte
Esse filme de Tarantino foi feito na ideia das sessões duplas, um costume do cinema americano com dia e hora marcados semanalmente. Na Argentina, no futebol, há um ditado: “Sábado é dia de Acesso”. Em bom português, isso significa largue a camisa do seu time grande favorito e vai para a cancha torcer pela sua equipe de bairro, aquela que defende o orgulho de sua vizinhança.
Bastardos Inglórios
Se o último filme lançado por Tarantino, conta um história alternativa da II Guerra Mundial, o Acesso Argentino mostra versões alternativas de grandes clubes com seus inúmeros Boca Juniors, River Plate, San Lorenzos, Vélez e, até mesmo, um Botafogo. Tudo isso sem contar aquelas equipes que copiam as camisas dos grandes para criar um vínculo de identificação.
Poderia até continuar as minhas relações, mas deixo o espaço para a imaginação do leitor. Mas, uma coisa é certa. Se Tarantino é um cineasta crítico pois tem consciência da multitude de referências que faz dentro do próprio cinema, o Acesso Argentino é o melhor depositório de saberes da sociedade argentina.