Racing e Independiente têm torcedores espalhados pelo país, incluindo em Buenos Aires. Mas como são da vizinha Avellaneda, é correto dizer que a capital federal tem em Boca, River e San Lorenzo o seu trio de ferro, já que esse quinteto é formado pelos chamados “cinco grandes do futebol argentino” – esse termo foi criado nos anos 30, e se sedimentou a ponto de só dez pessoas terem sido xeneizes, millonarias e cuervas. Apenas cinco, se considerássemos somente jogadores. Dando sequência ao Especial anterior, que relembrou quem defendeu as duas principais duplas argentinas, é hora de relembrar quem vestiu as principais camisas portenhas.
Juan Carlos Lorenzo: ainda como meia-atacante, chegou ao Boca em 1945, tardando um ano para ganhar titularidade; vinha do Chacarita para concorrer com os ídolos Pío Corcuera e Severino Varela, cuja saída abriu mais espaço a El Toto Lorenzo. Não se sobressaiu e seguiu carreira no Quilmes antes de se formar no futebol europeu, em tempos em que era mais fácil jogadores de segunda linha serem exportados quando havia menos desequilíbrio social-financeiro e mais força das leis de passe para fortalecer a retenção dos principais jogadores. Lorenzo jogou na Espanha, França e Itália. Já como treinador, chegou a passar pela dupla Lazio e Roma e comandou a seleção nas Copas de 1962 e 1966.
Foi na nova carreira que Toto Lorenzo fez realmente seu nome na Argentina. Seu primeiro ciclo como comandante do San Lorenzo foi em 1961, como vice-campeão, aterrissando de última hora na seleção para a Copa do Mundo (Victorio Spinetto havia sido o técnico nas eliminatórias). A Argentina caiu na primeira fase, mas ele ainda pôde emendar trabalhos na dupla Lazio e Roma antes de voltar ao Sanloré em 1965. Foi apenas oitavo, mas o outro filme se repetiu: após José María Minella treinar a Argentina nas eliminatórias, a já bagunceira AFA chamou Lorenzo para o Mundial. Dessa vez, a Albiceleste avançou de fase pela primeira vez desde 1930 e El Toto foi então chamado em 1967 pelo River.
Eram os tempos do duro jejum millonario, que chegava ao décimo ano, o suficiente para ser a maior seca do clube no profissionalismo – chegaria a dezoito. Lorenzo fracassou na missão em encerrar essa fase, mas depois faria história. Seu San Lorenzo de 1972 foi o primeiro time a vencer em um mesmo ano os dois torneios domésticos, o Metropolitano e o Nacional (esse, de modo invicto), e com os azulgranas El Toto também chegou às semifinais da Libertadores de 1973, o mais próximo que o Ciclón chegou no torneio até enfim vencer La Copa em 2014. Com um natural fim de ciclo, Lorenzo rumou ao Unión no auge do time santafesino, a dois pontos do vice-campeonato em 1975.
Esse trabalho no Unión credenciou ao Boca, que desde 1970 não era campeão. Lorenzo trouxe consigo de Santa Fe o goleiro Hugo Gatti e o ponta Ernesto Mastrángelo, curiosamente ambos ex-River, e primeiramente repetiu em 1976 a façanha de 1972: seu Boca ganhou o Metropolitano (encerrando jejum de seis anos) e o Nacional, esse na única final contra o River no século XX, e a única até 2018. O que já era histórico foi o ponto de partida para as duas primeiras Libertadores auriazuis, erguidas no bi de 1977 (sobre o Cruzeiro) e 1978, período em que o time também levantou seu primeiro Mundial – com direito a um 3-0 dentro da Alemanha sobre o Borussia Mönchengladbach.
El Toto ainda chegou a nova final seguida de Libertadores em 1979, mas sentiu na derrota para o Olimpia um fim de ciclo e preferiu rumar ao Racing – só lhe faltou o Independiente para trabalhar nos cinco grandes. Ele ainda teria novas passagens pelos clubes onde mais se consagrou: chegou em 1981 como bombeiro de um San Lorenzo à beira do primeiro rebaixamento de um grande argentino. O que parecia certo pôde ser evitado com uma ligeira reação nas rodadas finais, permitindo que os azulgranas jogassem pelo empate na última rodada – mas perderam e caíram. Lorenzo continuou até 1982, mas sem comandar o time na segundona.
Ex-jogador do Chacarita, virou a casaca também ao ser o técnico do rival Atlanta campeão da segunda divisão de 1983, colocando o Bohemio pela última vez na elite. Foi seu último grande trabalho; ainda voltou ao San Lorenzo em 1985 e ao Boca no segundo semestre de 1987, sem o êxito da passagem setentista por ambos.
José Varacka: dedicamos em 2017 este especial a Varacka, falecido no fim do ano passado após 86 anos. Só não esteve no Racing; de origem eslovaca, o defensor teve uma carreira marcada pela fama de pé-frio: defendeu o Independiente de 1952 ao início de 1960, ano em que, já sem ele, o Rojo encerrou jejum de doze anos. A seca não o impediu de ser ídolo local nem de ir à Copa de 1958. Chegou ao River como contratação mais cara do futebol argentino até então, mas padeceu dos anos iniciais da seca millonaria de 1957-75. Lorenzo não o chamara à Copa de 1962, mas requisitou-o para o San Lorenzo, onde El Puchero chegou em 1966 – sendo inclusive convocado à Copa pelo Toto. Esteve no Boca já como treinador, em 1972, parando nas semifinais exatamente no Superclásico.
Outro a ser vira-casaca também na segunda rivalidade portenha, pois El Puchero trabalhava no Huracán em 1982 (e na temporada da queda em 1985-86) quando voltou sob emergência ao River, cujo técnico Vladislao Cap falecera em pleno exercício do cargo. As glórias ficaram no futebol colombiano, como treinador dos dois primeiros títulos do Junior de Barranquilla, em 1977 e 1980.
Rogelio Domínguez: só faltou o Independiente para que esse goleiro estivesse nos cinco grandes, pois foi formado no Racing, em 1951. Após vencer como titular a Copa América de 1957 (a última da Argentina até 1991), foi contratado pelo Real Madrid de Di Stéfano. Esteve na sequência de conquistas na Liga dos Campeões, mas na época jogar fora do país privava os jogadores da seleção e acabou de fora da Copa de 1958. Ele voltou à Argentina em 1962 para defender o River, sob a expectativa de que o clube se desfalcaria da lenda Amadeo Carrizo para a Copa do Mundo. Mas Carrizo, traumatizado como bode expiatório de 1958, negou a convocação e em seu lugar foi o próprio reserva.
Assim, Domínguez jogou pouquíssimo no River. Ao fim da década, ainda destacou-se no Nacional vice da Libertadores de 1967 (justamente contra o Racing) antes de pendurar as luvas no Flamengo em 1969. Logo engatou uma carreira de técnico, fazendo o estilo boleiro, sendo benquisto por seus jogadores. Pouco apegado à aplicação tática, empregava um futebol ofensivo e conseguia performances boas desde que com as peças certas. Conseguiu isso no San Lorenzo em 1971, onde foi finalista do Torneio Nacional. Porém, ao não ser respaldado pela presidência em um entrevero com o volante Victorio Cocco e o ponta Carlos Veglio, acabou por sair, rumando ao Boca.
Como xeneize, Domínguez manteve sua proposta de jogo. Durou no cargo até 1975 e foi reconhecido pelo futebol vistoso e elogiado, mas a falta de pragmatismo quando necessário impedia títulos (foi inclusive sucedido por Lorenzo nesses dois clubes). Seu Boca foi vice do Metropolitano em 1973 e terceiro em 1974 e 1975. Dos treinadores sem títulos no time, o ex-goleiro é que durou mais jogos (106) e tempo. Em 1977, teve um segundo ciclo no San Lorenzo, que, em crise econômica, já não possuía a quantidade de bons valores do início da década. Domínguez caiu na primeira rodada do segundo turno.
Adolfo Pedernera: segundo Alfredo Di Stéfano, foi o maior jogador da história, conforme mostramos nesse Especial dedicado a Pedernera. Em tempos em que o setor ofensivo se constituía de cinco atacantes (dois pontas, dois meias e o centroavante), Pedernera exerceu as cinco funções com maestria no River e na seleção, consagrando-se como um primeiro falso 9 antes do termo existir – foi quando foi deslocado para ser um centroavante solidário aos colegas que nasceu a célebre La Máquina riverplatense dos anos 40. Promovido ainda em 1935 ao time adulto, ganhou os títulos de 1936, 1937, 1941, 1942 e 1945, deixando o fã Di Stéfano no banco até sair no início de 1947 para um Atlanta ambicioso que terminou rebaixado.
Pedernera permaneceu na primeira divisão em 1948 como jogador do Huracán, agora para suprir a lacuna de Di Stéfano (emprestado a esse clube em 1946 por falta de lugar no River). Ficou pouco: logo estourou a longa greve de jogadores que, não atendida, fez muitos rumarem à lucrativa liga pirata da Colômbia. O Millonarios de Bogotá então juntou ele, Di Stéfano e outros para dominar o país, até um acordo ser feito com as equipes de origem. Pelo acordo, Pedernera voltou ao Huracán em 1954, já em fim de carreira. No Globo, chegou a ser jogador-treinador.
O maestro seria o primeiro dos três que estiveram nos dois lados dos dois principais clássicos de Buenos Aires, já considerando a carreira como técnico. Após levar à Colômbia à sua primeira Copa do Mundo em 1962, transformou o modesto Gimnasia LP no Lobo do campeonato argentino daquele ano, em que os platenses lutaram pelo título com a dupla Boca e River. Já era 1965 quando chegou para treinar o Boca, mas um acidente de carro impediu uma presença mais ativa na campanha campeã – coordenada mais pelo assistente Aristóbulo Deambrossi e pelo interino Néstor Rossi, outros ex-membros do River dos anos 40. Seu mérito foi criar La Candela, o elogiado centro de formação de jogadores do clube.
Com passado no Huracán, Pedernera apareceu no San Lorenzo a partir da 18ª rodada do Metropolitano, onde o Ciclón vinha sofrível, com sete derrotas e quatro derrotas e rebaixamento à vista. Conseguiu incutir uma reação sensacional: foram mais três derrotas apenas, treze triunfos e um quarto lugar. No Nacional, veio o anticlímax: saiu na décima rodada após uma sequência de resultados ruins. O time terminaria na lanterna do grupo e a gota d’água foi um 5-0 em casa para o modesto Aldosivi. Nos anos 80, ele voltou ao River para treinar os juvenis até falecer em 1995.
Victorio Cocco: até Leandro Romagnoli vencer o Torneio Inicial de 2013, eram quatro os profissionais com mais títulos no San Lorenzo, todos presentes no ciclo de quatro títulos argentinos levantados entre 1968 e 1974. Era os casos do goleiro Agustín Irusta, do lateral Sergio Villar e dos volantes Roberto Telch e Cocco, naturalmente um dos maiores ídolos do clube. Revelado pelo Unión como um volante refinado, voltou a Santa Fe em 1975 para integrar aquele grande time treinado por Juan Carlos Lorenzo, de onde partiu para o Deportivo La Coruña.
Em 1976, foi então incorporado pelo River, batendo na trave: o Millo foi vice da Libetadores para o Cruzeiro e do Nacional para o Boca. Após passo pelo Atlanta em 1977, chegou em fim de carreira ao Boca em 1978, sem chegar a participar dos títulos da Libertadores e do Mundial, jogando somente na campanha vice-campeã do Metropolitano. Uma vez penduradas as chuteiras, voltou ao San Lorenzo, sem brilho: era o técnico no início do desastroso torneio que culminou no rebaixamento em 1981.
Hugo Coscia: veloz e bom cabeceador ponta revelado pelo Estudiantes que terminou aquém do que prometia quando explodiu no Colón, sendo testado pela seleção ainda como jogador sabalero – estreando inclusive com dois gols marcados, em 6-0 nos EUA. Após um período no México, foi contratado em 1977 pelo River para suprir os esperados desfalques contínuos do Millo para a seleção na preparação à Copa de 1978 (a Argentina não encararia as eliminatórias, mas passaria por uma bateria de seguidos amistosos). Não vingou, mas foi requisitado por Carlos Bilardo para o San Lorenzo em 1979.
Embora seja recordado pelo pênalti desperdiçado no que, sem saber-se, foi o último jogo realizado no velho Gasómetro (0-0 com o Boca), Coscia teve bons momentos como cuervo. Inclusive retornou à seleção para a Copa América, e seus gols foram importantes para atrasar em um ano o rebaixamento: os azulgranas terminaram duas posições acima dos rebaixados All Boys e Tigre no Metropolitano de 1980. Foi então contratado pelo Boca no segundo semestre, mas jogou só sete vezes oficialmente, com um gol marcado, seguindo carreira no Rosario Central.
Pablo Comelles: esse lateral-direito não só esteve no trio da capital como também na dupla principal cordobesa – Belgrano e Talleres, em cujo elenco estava na primeira grande campanha nacional de La T, o quarto lugar em 1974. O técnico tallarin era Ángel Labruna, velha lenda no River como jogador e que assim foi recontratado sob a esperança de encerrar o jejum pendente desde quando Angelito ainda jogava, em 1957. Comelles veio junto com o zagueiro Héctor Ártico e foi titularíssimo no fim em alto estilo da seca: o River foi campeão em 1975 tanto do Metropolitano como do Nacional. Comelles seguiu titular até 1977, ano de outro título no Metropolitano. Seguiu no Millo até 1981 e ganhou diversos outros títulos domésticos até lá, mas desde 1978 passara à reserva de Eduardo Saporiti.
Comelles defendeu o Boca primeiramente em amistosos de pré-temporada em 1982, mas ao longo do ano esteve no San Lorenzo que disputou a segunda divisão. Após se acostumar ao ritmo mais intenso de fricções da Primera B, tornou-se figura superlativa na campanha comovente do acesso, inclusive com um gol marcado exatamente na partida mais lembrada – um empate em 1-1 com o Tigre na qual o Ciclón colocou mais gente na arquibancada (no Monumental) do que os times que no mesmo fim de semana disputavam a elite. Em 1983, o lateral então foi efetivado no Boca, sem ter um desempenho tão bom. Passou então ao Belgrano, participando em 1984 do Torneio Nacional e do fim do jejum de onze anos de La B na liga cordobesa antes de estender a carreira até o início dos anos 90 interior adentro. Querido no meio, o lateral faleceu em agosto do ano passado, sendo homenageado inclusive por Maradona.
Jorge Higuaín: o apelido de Pipita do seu ilustre filho Gonzalo não tem nada a ver com pepita. É apenas um diminutivo do apelido usado com Jorge: El Pipa, gíria argentina para narigudos (como o ex-atacante botafoguense Raúl Estévez, também ex-San Lorenzo e Boca). Com experiência nas ásperas canchas da segunda divisão por Nueva Chicago e Gimnasia LP, Higuaín pai chegou primeiramente ao San Lorenzo, em 1983 para ser daqueles zagueiros duros na marcação e sem frescuras de mandar a bola à arquibancada para afastar perigo. O time vinha de vencer a segundona e esteve perto de um raríssimo bicampeonato com o título da primeira divisão, perdido por um ponto.
El Pipa Higuaín foi azulgrana até 1985, mas desentendimentos com o técnico Nito Veiga e dirigentes levaram-no ao Boca, que também vivia uma década perdida. Teve um bom desempenho como xeneize, cavando uma transferência à França, onde nasceria o filho Gonzalo. César Menotti havia sido seu técnico no Boca que chegou a liderar provisoriamente o campeonato de 1986-87 e requisitou-lhe para o River para a temporada 1988-89. Não virou exatamente um ídolo histórico, mas foi um millonario aplaudido até sair em 1991, com dois títulos argentinos (1989-90 e Apertura 1991) e um vice na Supercopa em 1991. Chegou a ser capitão e teve dois filhos criados no time de Núñez: além de Gonzalo, também Federico Higuaín.
Jorge Rinaldi: atacante habilidoso promovido em 1979 da base do San Lorenzo, onde já jogava seu irmão Osvaldo, viveu tanto o rebaixamento em 1981 como (mesmo cumprindo serviço militar) a campanha redentora da segunda divisão de 1982, onde a comovida torcida azulgrana conseguia pôr mais gente em estádio do que os grandes que estavam na elite. O título da segundona quase foi emendado com o da elite em 1983 e La Chancha, apelido referente à barriguinha saliente, recebeu oportunidades na seleção.
Não explodiu, mas cavou transferência ao Boca no início de 1986, onde voltou a ser colega de Jorge Higuaín. Teve seus bons momentos, em especial com dois gols em um Superclásico terminado em anticlímax: perdendo de 2-0, o rival venceu de virada. Foi outro negociado dali com o futebol francês, mas a contratação emperrou – e nisso terminou fechando com o River como outro requisitado por César Menotti em 1988. Em Núñez, já não foi tão prestigiado e em 1990 acertou um retorno ao San Lorenzo, onde o maior momento foi vencer em 1991 a liguilla pre-Libertadores. No ano seguinte, ainda com 29 anos, optou por parar de jogar. Seu irmão Osvaldo Rinaldi, curiosamente, passou pelo rival Huracán e defendia o River quando Jorge estava no Boca.
Oscar Ruggeri: já dedicamos esse outro Especial ao único campeão no trio e o único a jogar pela seleção vindo do trio. El Cabezón formou-se no Boca e de imediato conseguiu titularidade na zaga campeã do maradoniano Metropolitano de 1981. Porém, o clube logo foi afetado pela severa crise econômica do fim da ditadura, em parte pela valorização repentina do dólar (moeda usada na contratação de Diego) em mais de 200%. Campanhas cada vez piores se sucederam e os xeneizes ficaram muito próximos do rebaixamento e da extinção em 1984. Em meio à crise, Ruggeri e o atacante Ricardo Gareca eram um oásis de bom desempenho, seguindo como jogadores da seleção. Mas o basta chegou e no início de 1985 ambos forçaram uma transferência ao River.
Ruggeri não tardou a ser protagonista no histórico momento vivido em 1986 em Núñez, quando o Millo levantou a primeira tríplice coroa do futebol argentino: o time foi campeão nacional encerrando jejum de cinco anos (a crise, ainda que em menor grau, também afetara a Banda Roja) para em seguida levantar a primeira Libertadores e único Mundial. Além disso, foi a equipe mais representada entre os titulares da seleção vencedora da Copa do Mundo, o que incluía o caudilho. Em 1988, ele transferiu-se ao futebol espanhol, com uma lesão tirando-lhe espaço do Real Madrid em 1990. Ruggeri seguiu carreira no Vélez, mas o estrelismo o fez ser afastado em 1993 pelo novo técnico: Carlos Bianchi.
El Cabezón então acertou com o San Lorenzo, pelo qual foi à Copa de 1994. O time não era campeão da elite desde 1974 e resolveu a pendência no Clausura 1995, encerrando o pior jejum cuervo. Ruggeri saiu em 1996 e antes de pendurar as chuteiras ainda chegou a uma final de Copa Conmebol com o Lanús em 1997. Em 1998, agora treinador, voltou ao San Lorenzo. Saiu no início de 2001 e ainda teve outra passagem em 2006. Em ambas, virou o “treinador do legado”: não foi campeão, mas foi reconhecido por polir os jovens que venceram títulos justamente nos torneios seguintes à saída dele. Só faltou-lhe o Racing: em 2003, Ruggeri treinou rapidamente o Independiente. Técnico que valorizava a base, foi quem promoveu a estreia no time adulto de um adolescente de 15 anos chamado Sergio Agüero.
Héctor Veira: um dos mais carismáticos personagens do futebol argentino, a ponto de ser imune em duas rivalidades. Crescido no bairro huracanense de Parque de los Patricios, formou-se no San Lorenzo, onde esse meia-esquerda conseguiu com dezoito anos de idade a artilharia do campeonato argentino de 1964. Era o líder do irreverente ataque juvenil apelidado de Los Carasucias, que incluía também Narciso Doval, ídolo na dupla Fla-Flu. A semelhança física e de estilo com o astro italiano Gianni Rivera rendeu-lhe o apelido de El Bambino, que veio a estrear na seleção no início do ciclo pós-Copa de 1966.
Porém, com a boemia prevalecendo sobre o cuidado físico (“ia do motel ao treino”, assumiu em 2013), já havia perdido a titularidade quando enfim pôde ser campeão, no histórico título de 1968 em que Los Carasucias viraram Los Matadores, o primeiro elenco campeão de modo invicto no profissionalismo. Em 1970, então, Veira rumou ao Huracán, declarando-se torcedor quemero. Teve um bom desempenho de meio gol por jogo e um terceiro lugar em 1972, mas não ficou para o título histórico que em 1973 encerrou 45 anos de jejum do Globo: ele simplesmente voltou ao San Lorenzo, terceiro lugar no Metropolitano vencido pelo rival e quarto no Nacional.
Já em declínio, passou até pela Guatemala antes de negociar com o Palmeiras em 1976. Após ser razoável em dois amistosos, atraiu o Corinthians, que atravessou a contratação e levou-lhe ao Parque São Jorge. Veira, porém, não triunfou como alvinegro, despedindo-se em janeiro de 1977. Em 2008, ano do centenário sanlorencista, acabou eleito o maior ídolo do clube, o que se deve especialmente aos diversos ciclos como técnico: é o recordista de jogos e passagens pelo cargo. O primeiro foi no difícil ano de 1980, onde brigou para não cair.
Quando o time venceu a segundona em 1982, o técnico era José Yudica e Veira treinava o oponente Banfield, mas El Bambino é quem terminou carregado na empolgação dos fãs. Logo reassumiu o posto para treinar o elenco que quase foi bi da segundona com a elite em 1983, trabalho que levou-o ao River para fazer história: era o treinador da tríplice coroa de 1986. Seu desligamento em 1987 foi uma surpresa e ele então voltou ao San Lorenzo para levar às semifinais da Libertadores de 1988 um time de operários e sem estádio, apelidado de Los Camboyanos pela força estoica. Após enfrentar até a cadeia por acusação (sempre negada) de estuprar um menor, iniciou em 1992 seu mais longo ciclo no San Lorenzo.
Veira saiu em 1996 tendo como ponto alto aquela conquista do Clausura 1995 em que encerrou o maior jejum azulgrana na elite, 21 anos. Chegou em 1997 a um Boca que, mesmo estrelado, não era campeão havia cinco anos. Foi o último técnico de Maradona e, mesmo desfalcado de Dieguito na metade final do Apertura 1997, fez grande campanha, só superada por outras seis na era dos torneios curtos. Para seu azar, uma dessas vezes foi exatamente ali: o River, derrotado em casa no Superclásico, somou um ponto a mais. Uma sequência ruim em 1998 o afastou do cargo e Veira seguiu carreira na seleção boliviana. Ainda teve um último passo pelo San Lorenzo entre 2004 e 2005, sem a importância dos anteriores. Já dedicamos ao Bambino esse outro Especial.
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