Primeira Divisão

Fim de semana de Copa Argentina. E de possíveis surpresas

boca

Copa Argentina reserva bons jogos para o fim de semana em vários rincões do país. Rosário Central, Lanús e Boca entram em campo, no sábado; no domingo, River e Racing completam a festa. Contudo, surpresas podem aparecer; principalmente nos confrontos do Central, Boca e River. Problema é que enquanto alguns clubes se perdiam em debates internos irrelevantes, seus rivais trabalhavam sério, assim como demonstrou o Estudiantes Caseros diante do Vélez.

Em sua fase de 16 avos, a Copa Argentina se revela um torneio interessante na mesma medida que pode revelar algumas surpresas dos confrontos programados. Isto porque o torneio se tornou uma sensação neste período imediatamente pós-Copa do Mundo. Porém, enquanto o Mundial do Brasil acontecia, os participantes da fase de 16 avos se prepararam de forma bem diferente para os jogos. Clubes como Boca, River, Racing, Vélez se perderam em debates improdutivos sobre assuntos que iam da saída ou chegada de reforços a brigas, picuinhas e até pleitos eleitorais.

San Lorenzo e Lanús direcionaram suas preocupações legítimas para as disputas continentais, enquanto no Independiente a cartolagem ainda não se dava e não se deu conta de que o Rojo já está na primeira divisão e que é necessário um planejamento mínimo para problemas que vão do pagamento de salários atrasados à baixa qualificação técnica do elenco; problema pelo qual De Felippe pediu demissão e Gabi Milito recusou o convite para comandar o baco de reservas do Rojo.

Ao mesmo tempo, clubes menores trabalharam sério com vistas a importunar seus rivais da Copa Argentina. Foi assim com o Estudiantes de Caseros, que passou fácil pelo Vélez por 2×0. Foi da mesma forma com o Defensa y Justicia, que mesmo após abrir 3×0 contra o Godoy Cruz, e permitir o empate, eliminou o Tomba nos pênaltis e segue na competição. E embora sejam notáveis as estaturas de Boca e River, sobre seus rivais, algumas surpresas ainda podem ocorrer. Vejamos.

Rosário Central x Juventud Unida de San Luís

Legítimo que equipes da elite entrem no Torneio apenas em sua fase de 16 avos de final. Isto, porém, na teoria. Na prática, uma equipe modesta como o Juventud Unida já passou por cinco rivais até se deparar com um gigante como o Rosário Central. Então, enquanto o Canalla tenta entender o torneio, o seu pequeno rival já ganhou casca, manha e Know-how na competição.

Normal que nessas condições uma equipe encontre e lapide uma forma de jogar. Das cinco partidas que disputou, “La Juve” venceu duas e empatou três por 0x0. Marcou cinco gols e levou apenas um. E apesar de ter eliminado o tradicional Unión Santa Fe, o seu mais duro confronto foi justamente o primeiro, quando ficou no zero contra o Sportivo Estudiantes, seu grande rival histórico de San Luís. Na ocasião, a vitória por 5×4 nos pênaltis redeu lágrimas, provocações e pontapés.

A equipe de San Luís montou um elenco experiente, com média de idade de quase 28 anos. O mais experiente é o porteiro Tombolini, com 37 anos e a opção de “La Juve” para levar qualquer confronto para a disputa de pênaltis. O técnico Darío Tempesta joga com três atacantes diante de rivais pequenos, mas diante de rivais como o Rosário Central, costuma formar a equipe com um 3-5-2 no papel, mas na prática apenas com um atacante, já que Iván Agudiak atua como uma espécie meia de ligação para Giménez, isolado e brigando sozinho com a zaga rival.

Só que a AFA atrapalhou bem os planos da pequena equipe de San Luís. Alguns de seus experientes jogadores deixaram a equipe. Outros, com as mesmas características foram contratados, mas a entidade maior do futebol argentino de maneira inexplicável não os liberou ainda para jogar. Considerando este problema, Tempesta vem treinando exaustivamente uma equipe com vários garotos da base. E são principalmente eles quem enfrentarão o conjunto de Rosário. O duelo será no domingo, às 17h15, na cancha do Instituto, em Córdoba.

Boca Juniors x Huracán

Após o término da B Nacional, o Globo tratou de empossar sua nova diretoria, presidida por Alejandro Nadur, novo homem-forte da gloriosa instituição de Parque Patrícios e dirigente comprometido em recolocar a equipe no seu devido lugar: a elite do futebol argentino. Nesse tempo, a preocupação foi também a de preparar o elenco de Frank Darío Kudelka para as disputas da B Nacional. Vale lembrar que o Huracán fez uma ótima campanha e por pouco não foi promovido na temporada anterior.

Relevante dizer que 14 jogadores deixaram a equipe, já que em sua maioria tratava-se ou de jogadores improdutivos, como Matías Defederico, ou de outros que pediam muito para renovar, casos de Mauro Milano e Alejandro Quintana. Essas saídas permitiram uma renovação do elenco, com a promoção de jovens da base e a chegada de sete bons reforços, como Lucas Favalli, Fede Vismara e Santiago Echeverría.

A pré-temporada foi realizada em Santa Fe, onde o Globo venceu um amistoso contra os reservas do Colón por 2×1 e outro contra o Atlanta por 1×0. A partir da chegada de alguns reforços, e após a vitória no primeiro amistoso, Kudelka finalmente canalizou todas as preocupações para o duelo contra o Boca Juniors, pela Copa Argentina. No papel, o Huracán vai com formação ofensiva para o confronto. O desenho expressa um 4-3-3, com Agustín Torassa, Ramón Ábila, Gonzalo Martínez no ataque. Mas, na prática, a proposta consiste numa marcação acirrada já a partir da saída de jogo do rival.

Apostando que o conjunto de Bianchi deva perder a disputa na condição física, os homens de Kudelka devem explorar os espaços deixados pelo Boca, principalmente no segundo tempo. Enquanto os xeneizes sabem pouco sobre o rival de sábado, os quemeros estudaram atentamente os seus rivais da Ribera. O jogo será neste sábado, às 20h15, no Estádio Bicentenário de San Juan.

Ferro Carril Oeste x River Plate

O Ferro Carril perdeu 14 jogadores, após o fim da B Nacional. Dentre eles, alguns “insubstituíveis”, como Renso Rérez, Marcos Acuña, Alejandro Rébola e Pablo Vegetti. Apenas sete reforços chegaram a Caballito e afora o caso de Álvaro Klusener todos os demais não repõem a qualidade perdida com as baixas. O jeito foi promover alguns garotos da base, como os enganches Christian Curuchet e Nico Echegaray, o volante de contenção Lucas Ferrari e o meia-atacante Federico Segóvia, que tem de tudo para ser uma revelação do Verdolaga na próxima temporada da B Nacional.

A equipe dirigida pela dupla de treinadores Luis Madero e Claudio Marini experimentou exaustivamente a formação que entrará em campo contra o River, no domingo. Trata-se de um 3-5-2 bem defensivo, que deverá ser repetido ao longo da próxima temporada. A equipe será formada por Damián Albil; Pablo Frontini, Javier “Satanás” Páez e Eduardo Tuzzio; Lucas Mancinelli, Israel Coll, Pablo Alderete, Guillermo Vernetti e Rodrigo Mazur; Gonzalo Bazán e Nico Caballero. Ou seja, uma formação que mescla veteranos, como Tuzzio, “Satanás” Páez, Frontini e Albil com jovens da base, como Mazur, Coll e Vernetti.

No clube, a expectativa é grande em torno da partida de domingo. A julgar pela forma como o Ferro atuou nos amistosos, o Millo precisará de paciência para lidar com o ferrolho defensivo do rival. O conjunto de Caballito trabalhou muito para surpreender o River e não será novidade se eliminar da Copa Argentina a um dos mais altivos gigantes do futebol mundial.

Mais duas partidas no domingo

Na tarde de domingo, às 16h15, no estádio do Arsenal, em Sarandí, o Lanús tentará se recuperar da perda da Recopa para o Galo. O rival do Granate será o Colón de Santa Fe, clube que tem abusado de suas canteiras, sem um investimento apropriado para isso. Neste confronto dificilmente teremos alguma surpresa. O conjunto do Sul da Grande Buenos Aires deverá ficar com a vaga.

Já em San Luís, às 18h30, o Racing será rival do San Martín de San Juan. A Academia levaria certo favoritismo diante do rival se não fosse o local da partida. San Luís faz fronteira com San Juan e favorece a tomada do estádio Juan Gilberto Funes pela apaixonada hinchada do Verdinegro. Além disso, a razoável preparação do San Martín ganha relevo frente à bagunça que reina no conjunto dirigido agora por Diego Cocca.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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