Há exatamente 10 anos, em 5 de janeiro de 2003, faleceu um dos maiores ponta-esquerdas do futebol. Neste especial, relembraremos dele, Félix Loustau, nascido há pouco mais de 90 anos, no dia de natal de 1922 em Avellaneda. Ele ficou eternizado na mais célebre linha ofensiva do grande River Plate dos anos 40, conhecido como La Máquina. Loustau (apesar do sobrenome francês, ele dizia-se descendente de bascos e era pronunciado como “Loustáu” mesmo, e não “Lustô”) foi a última peça a se juntar.
Ele tentou primeiramente em sua Avellaneda natal: no Racing, chegou até a equipe sub-17, ainda como lateral-esquerdo. Também passou pelos juvenis do Sportivo Dock Sud, daquelas mesmas vizinhanças, antes de rumar ao River. O físico esmirrado (que, juntamente com um bigode que ostentou certa vez, lhe apelidou para sempre como Chaplin) não convenceu o especialista Renato Cesarini, que conciliava o cargo de técnico do River entre 1939 e 1944 com atenta observação também das categorias juvenis do clube. Antigo ídolo como jogador no próprio River e também na Juventus, além de ter defendido as seleções de Argentina e Itália, El Tano Cesarini diagnosticou: “você tem que jogar de wing esquerdo, ouça-me que será um fenômeno”, nas palavras publicadas na enciclopédia oficial do centenário riverplatense. Loustau acatou a ordem. E a cumpriria com maestria.
Mas ele não se restringia ao ataque: roubava a bola do volante adversário e se mandava adiante, dosando piques com freios para confundir rivais. Em 1977, em perfil à revista El Gráfico, deu um exemplo: “os técnicos não ganhavam jogos, como agora. O que acontecia dentro do campo solucionávamos nós mesmos. Minella [José María Minella, técnico do River entre 1947 e 1959, até hoje um recorde de permanência de algum treinador no clube] gritava: ‘faltam dez minutos, rapazes!’ e acabou. Que outra coisa ia dizer? No campo, não há mistérios. Qualquer um com um pouco de cabeça sabe o que está acontecendo, o que é preciso fazer. Quando jogávamos contra o Huracán, Tucho Méndez [Norberto Méndez, até hoje o maior artilheiro da Copa América] escapava de [José] Ramos porque este era pesado. Então contra o Tucho corria eu. Para isso um técnico não fazia falta”.
Alfredo Di Stéfano, seu futuro colega, disse na mesma linha que “Félix foi completo. Tinha capacidade, temperamento, sacrifício, força, técnica. Era um jogador do campo inteiro”. De fato, os companheiros lhe recordam por colaborar na defesa e também ao servir um colega livre no ataque. “Por isso”, já disse Loustau, “rio quando escuto dizerem que antes éramos vagabundos, que não corríamos. Sempre terminava as partidas com 3 ou 4 quilos a menos (…). Joguei com jogadores que viveram todas. Por exemplo, fui só um par de vezes a um cabaré, algo que naqueles tempos era um ritual inevitável. Mas não para mim, que com meu físico pequeno tinha que me cuidar muito. Não poderia me permitir nenhum excesso”.
Todas as declarações acima constam em perfil dedicado a Loustau naquela enciclopédia oficial do centenário do River, a observar que o próprio técnico Cesarini lhe dava um dia extra de folga para recuperar o peso. Em partes, porque Loustau não sossegava, como relembrado por ele na entrevista de 1977: “em 1941, jogava no sub-19 aos domingos e no sub-20 às quintas-feiras. Mas durante a semana jogava no Sportivo Brandsen e o Defensores de Belgrano de Avellaneda… era uma flecha. Aos 20 anos, pesava 64 quilos. Sabe o que fazia Cesarini? Após 15 minutos de começar os treinos, me retirava. Para quê ia treinar se nos dias que não tinha partida oficial jogava das 8h às 10h para o Sportivo e das 10h às 12h para o Defensores?”.
Se todos corriam no tempo dele, ele, por outro lado, admitia que sempre se buscava um ideal cadenciado de jogo: “quando eu era garoto, terminava de jogar no sub-19 e ficava para ver o jogo do principal. Isso não era futebol, era xadrez. Tocavam sem se olhar. Depois, quando eu comecei, o mesmo. Se jogava com a cabeça mais do que com o físico. Para mim, o futebol é isso: se desgastar o menos possível, fazendo funcionar o conjunto. O River não goleava quase nunca. Para o quê? Com três ou quatro gols, estava bom. Não nos agradava fazer onze gols; isso era rebaixar o rival. Fazíamos três e nos divertíamos”.
“Gostaria que hoje em dia existissem mais pontas. (…) Grande parte da culpa é dos técnicos, que dão prioridade somente ao resultado. (…) Só para ganhar pontos, mandam seus jogadores ficarem na marcação em vez de obriga-los a olhar o gol de frente. Essa velha frase de que não há melhor defesa do que um bom ataque é a pura verdade” e “Quase não há lugar para a parte criativa. O objetivo parece ser um só: destruir (…). Prefiro ir pescar” foram outras declarações do Loco ou Pistola, outros apelidos, à enciclopédia do centenário riverplatense.
Quando estreou, na 11ª rodada de 1942 (1-0 no Platense), o ataque millonario estava consolidado desde o ano anterior, onde também fora campeão: Juan Carlos Muñoz, José Manuel Moreno, Adolfo Pedernera, Ángel Labruna e Aristóbulo Deambrosi. E foi logo Deambrosi quem sugeriu uma chance ao reserva “por um par de partidas, para ganhar uns pesos”. Quem menos jogava, naturalmente, era pior remunerado. Ao menos na época. “Meu bom gesto significou ver os jogos de fora (do campo). De qualquer forma, Félix não me fez ficar mal”, Deambrosi diria bem-humorado. Ali a linha Muñoz-Moreno-Pedernera-Labruna-Loustau atuou pela primeira vez junta, mas o novato teria que aguardar até a 21ª para nova chance.
A reestreia foi um 1-1 com o San Lorenzo. Loustau também foi usado na 22ª e o Racing aplicou um sonoro 6-1 diante de um ataque “remendado”, com Deambrosi, Moreno, Roberto D’Alessandro (sem parentesco com Andrés), Labruna e Loustau. A capacidade ambidestra de Deambrosi permitiu-lhe manter alguma assiduidade na vaga habitual de um lesionado Muñoz, pois Loustau praticamente já não sairia da ponta-esquerda: na 24ª, quem goleou foi o River, 4-0 no Chacarita, com um primeiro show particular do novato. Foram duas assistências (para o próprio Deambrosi, no segundo gol, e para D’Alessandro, no último) e um primeiro gol, convertendo um pênalti para assinalar o terceiro.
Na 24ª, o Millo não saiu do 0-0 com o Ferro, mas já na 25ª rodada o garoto terminou carregado, na imagem que abre essa matéria. O River vencia o Banfield por 2-1 (seria 5-2) e o ponta, a partir dos 21 minutos do segundo tempo, matou o jogo: anotou o 3-1 com um chute forte e, aos 35, forneceu assistência para Moreno marcar o 4-1. Na imagem, ele aparece rodeado por José Ramos, Joaquín Martínez (tio-avô do corintiano Burrito Martínez, está quase escondido), Muñoz, Bruno Rodolfi, Eduardo Lettieri (também quase escondido), Luis Ferreyra e Ricardo Vaghi. E o ponta seguiu em todo o restante da campanha. A taça se garantiu em pleno Superclásico em La Bombonera, na antepenúltima rodada. O ataque foi Deambrosi-Moreno-Pedernera-Labruna-Loustau, mas o Boca abriu 2-0. Pedernera anotou o empate, igualdade que veio a nove minutos do fim graças ao rebote de uma tentativa prévia de Loustau.
Além desse rebote, o novato gerou outros oito gols em suas onze partidas (ainda em contraste às 28 de Deambrosi, que ocasionalmente era escalado na outra ponta diante de alguma ausência de Muñoz): três próprios e cinco através de assistências, normalmente por seus cruzamentos. Em 1943, o Chaplin já figurava em 27 jogos, deixando onze gols (incluindo no Superclásico, vitória por 2-1) e cinco assistências. Em 1944, foram mais 28 jogos, com oito gols e cinco assistências – uma delas, no Superclásico encerrado em 1-1. A famosa linha Muñoz-Moreno-Pedernera-Labruna-Loustau, porém, só viria a jogar apenas dezoito vezes junta na história do campeonato argentino. A maioria delas, ironicamente, entre 1943 e 1944, justamente quando o campeão foi o Boca – ainda em 1944, Moreno, às turras com a cartolagem, foi ao México.
Apesar do bivicampeonato em 1943 e 1944, o mês janeiro de 1945 chegou a ver Loustau estrear na seleção, em amistosos preparatórios contra o Paraguai para a Copa América que começaria naquele mesmo mês. Foi sua primeira conquista como titular; só se ausentou da segunda partida. Outro atestado de qualidade é que seu reserva na posição era Manuel Pelegrina, até hoje o maior artilheiro do Estudiantes. Ao longo do ano, o River também sorriu, reconquistando a liga argentina, ainda que sem o mesmo encantamento do início da década: as vitórias magras renderam até o apelido de Los Caballeros de la Angustia ao elenco. Em 29 jogos, o absoluto Loustau contribuiu com dez gols, oito assistências e um pênalti cavado.
Dentre os gols da temporada 1945, destaque a um olímpico, no 2-0 contra o Atlanta; e outro no Superclásico que não apenas serviu para o River tomar a liderança do rival ao fim do primeiro turno, como foi com categoria ímpar: recebeu de Pedernera, driblou o lateral Alberto Pascal e acertou sem ângulo um chute entre a trave e o goleiro Claudio Vacca para anotar o único gol do duelo. Nesse embalo, Loustau estaria em todas as partidas de novo título da seleção na Copa América, realizada em casa em janeiro de 1946, ano em que também em todas as partidas do campeonato argentino. Chegou a ser novamente herói no Superclásico do primeiro turno, marcando os dois gols que, outra vez, tiraram a liderança do rival para dá-la ao River.
Em meados do mesmo ano de 1946, Moreno até voltou do México, mas, contra a teoria, o Millo acabou não mantendo o gás na disputa com o Terceto de Oro do campeão San Lorenzo. O ponta contribuiu ao todo com nove gols (incluindo um olímpico, no 2-1 no Vélez) e oito assistências em 30 jogos, no último torneio a reunir o famoso quinteto: para 1947, o maestro Pedernera aceitou proposta chamativa do Atlanta. Menos mal que acabou muito bem substituído pela revelação Alfredo Di Stéfano. O River foi então campeão com sobras em 1947 no embalo da artilharia do então garoto Di Stéfano. Loustau também teve temporada das mais produtivas, com treze gols (cinco deles, como cobrador oficial de pênaltis, é verdade), gerando ainda outro por rebote (aproveitado por Francisco Rodríguez para abrir um 5-1 no Platense) e doze assistências – três delas em um só jogo, no 4-1 no Newell’s.
Pelo terceiro ano seguido, houve Copa América – dessa vez, em dezembro daquele 1947. Loustau novamente foi recrutado e, novamente, campeão. Nenhuma outra seleção conseguiu ser tri seguida no torneio e qualidade era tanta que apenas cinco jogadores estiveram presentes em todo o tri. E desses cinco, a honra maior foi de Loustau, como único titular nas três conquistas. Com o detalhe de que já sentia plenitude física. Detalhou assim, naquela reportagem de 1977: “fiquei doente de amebíase. No Sul-Americano de Guayaquil, em 1947. Me atendia o doutor Augusto Covaro. Tinha uma anemia tremenda. Me dava conta de que estava débil: dava um pique até a linha de fundo, e quando chegava não tinha força para mover a bola. Um ano antes, naquela partida contra o Brasil no campo do River, quando fraturaram Salomón, Covaro me deu coramina: mas em vez de me dar na boca, me aplicou uma injeção. Desmaiei. E Covaro dizia que eram os pulmões… eu estava decidido a provar o contrário. Chequei a pedir junta médica… vai saber? Depois, não quis seguir para não armar escândalo. O caso é que aquela doença mal tratada me arruinou fisicamente”.
Loustau diria que em médio prazo aquela doença acabaria por encurtar uma carreira que poderia ter durado mais do que os 35 anos com os quais pararia de jogar pelo River. Apesar do declínio gradual, seguia com eficiência acima da média da concorrência: na temporada de 1948, Loustau anotara oito gols em 21 partidas, fornecendo ainda nove assistências (três delas, incrivelmente, não adiantaram: o futuro campeão Independiente venceu por 4-3). Não jogou mais apenas porque na reta final do torneio ocorreu famosa greve de jogadores que paralisou o futebol argentino. Não-atendidos, muitos foram ao exterior. Do River, saíram Moreno (Universidad Católica), Di Stéfano, Néstor Rossi, Hugo Reyes e Luis Ferreyra (Millonarios de Bogotá, que também levara Pedernera).
O próprio Loustau esteve bem perto de ir para o atrativo futebol colombiano da época, recebendo em mãos 20 mil dólares – quantia das mais tentadoras para um jogador, ali – do Deportivo Cali, que já levara os riverplatenses Roberto Coll, Manuel Giúdice e Eduardo Rodríguez. “Os tive em minhas mãos, os contei centenas de vezes”, referiu-se aos dólares, em depoimento publicado naquela enciclopédia do centenário millonario. Segundo ela, exatamente por ele já não se sentir na melhor forma física na época é que negou. “Outra das causas foi que eu era uma espécie de patrimônio do River. E a terceira foi que Nicolini – ministro do governo peronista -, que era interventor da AFA, teria movido céu e terra para impedir que emigrasse um cidadão de Avellaneda…”.
El Chaplin permaneceu em Núñez. E ele frisou em 1977 que era um contexto de maior “respeito” ao que se pactuava em contratos: “naquela época, se falava menos. Nós no River jogávamos e pronto. Se a gente perdia, todo mundo de boca caladinha, nada de andar fazendo declarações nem de acusar este ou outro… isso não dá, não dá… no jogo seguinte, entrávamos em campo como se no anterior houvéssemos ganho por goleada. Hoje é diferente, vejo que se conversa muito. Quer que eu lhe diga uma coisa? Os jogadores do River parecem deuses. Isso eu não entendo, falta humildade. A mim este tipo de coisas me irrita. Viu o dos contratos? Naquela época, também se brigava por grana, por cada um ganhar um pouco mais, mas se eu combinasse hoje por uma cifra e assinasse contrato, não voltava a pedir por mais grana dois meses depois. Não, senhor! O contrato se respeitava até o final”.
Junto com Labruna, o ponta seria um remanescente para o vitorioso ciclo dos anos 50, premiando paciência de quem viveu uma entressafra de cinco anos sem títulos na liga – ela e a crise resultante da greve inclusive fizeram Loustau ausentar-se por mais de dois anos da seleção, reestreando já em março de 1950. Em meio a isso, o River concorrera com o Racing muito por conta dos onze gols em 34 jogos do ponta, fornecedor, sobretudo, de quinze assistências (uma delas, em Superclásico vencido por 1-0). Em 1950, foram 24 jogos, nove gols e três assistências, sem impedir o bivice para o Racing. O time de Avellaneda seria o tricampeão em 1951, temporada em que Loustau registrou 24 jogos, quatro golzinhos, um pênalti cavado e, principalmente, seis assistências – incluindo a do segundo gol em um 3-0 no Boca em plena Bombonera. Foi também a quarta vitória seguida da Banda Roja sobre o arquirrival.
O título enfim voltou a Núñez em 1952, ano marcado também pela pré-temporada que rendeu o primeiro triunfo argentino em terras inglesas (4-3 no Manchester City) em meio a uma exitosa turnê europeia (uma só derrota em 14 jogos, com direito a um gol de Loustau no 3-3 contra um combinado milanês de Inter e Milan). La Máquina dera lugar a La Maquinita. Inicialmente, com Santiago Vernazza, Eliseo Prado, Walter Gómez, Labruna e Loustau no ataque, além do mítico Amadeo Carrizo afirmado desde 1948 entre as traves. Na reconquista, Loustau jogou as trinta rodadas e deixou seis gols – incluindo mais um olímpico na carreira, em pleno Superclásico, para abrir um 3-1 – e dez assistências, uma delas naquele mesmo Super. Gradualmente, porém, a idade foi pesando. Em meio ao bicampeonato em 1953, Loustau jogou 25 vezes… e anotou apenas dois gols (um deles, no Boca, mas em derrota de 3-2) e somente quatro assistências. Não voltou a defender a seleção desde um 3-1 em Lisboa sobre Portugal ainda em dezembro de 1952.
Em 1954, o Boca encerrou um jejum de dez anos na liga enquanto Loustau ainda seguia titular: foram 23 jogos, seis assistências e três golzinhos do veterano, que acabou limitado a 18 jogos em 1955 por conta de uma doença. O River foi novamente campeão e Loustau até deixou quatro gols e sete assistências, mas começou a perder lugar para a ascensão de Roberto Zárate. Um bicampeonato veio em 1956 com Loustau já atuando apenas dez vezes; pôde marcar dois gols e deixar duas assistências. O primeiro tricampeonato millonario veio em 1957, e o ocaso de Loustau só não foi mais escancarado porque sua única partida foi precisamente o Superclásico, na 10ª rodada (2-2). Afinal, o concorrente Zárate voava com 22 gols em 28 jogos – Zárate teria ido à Copa do Mundo de 1958 se não fosse uma lesão já nos amistosos europeus de preparação.
Depois de uma década e meia, era a hora de Núñez despedir-se do ídolo de 365 jogos oficiais e 101 gols (seis no Boca). O mais folclórico deu-se em Tucumán, relembrado na enciclopédia do centenário como ocasião de estádio tão cheio que a cavalaria de segurança estava praticamente nos limites do campo: “em uma jogada, passei por debaixo de um cavalo que havia entrado, chutei no arco e marquei”. Com oito títulos argentinos (1942-45-47-52-53-55-56-57), Loustau foi por muito tempo o segundo maior campeão com a banda roja, só superado pelo colega Labruna, que venceu também o de 1941. Nacionalmente, apenas um os superou: Leonardo Astrada, também do River, com dez – mas a maioria obtida na era dos campeonatos curtos (com dois torneios por ano), introduzidos nos anos 90.
Loustau prosseguiu a carreira no Estudiantes, em 1958. O ataque até foi bem decorado em La Plata: Perfecto Rodríguez, Rubén Koroch, Ricardo Infante (mundialista em 1958), Héctor Antonio e ele, mas o veterano só vestiu a camisa pincharrata em nove partidas, sem chegar a marcar gols – embora contribuísse com sete assistências, incluindo no Clásico Platense, ainda que sem evitar a derrota de 2-1 para o Gimnasia. Parte da quantidade pequena de partidas deveu-se a problemas de pagamento (“creio que durei sete meses… era um clube bárbaro, mas não me pagavam nunca. Eu ganhavas 14 mil pesos por mês, mas não os via nunca”, relembrava na nota de 1977). O astro ainda se manteve ativo no pequeno Cemento, da liga regional da cidade de Azul e arredores, vencida por três anos seguidos.
El Chaplin foi um dos últimos sobreviventes da geração de ouro que o futebol argentino teve nos anos 40, marcada por ausentar-se de Copas do Mundo por fatores extracampo: a presença de Loustau na de 1942 seria improvável, mas era nome certo para a de 1946, também inviabilizada em função da Segunda Guerra Mundial. Como se não bastasse, depois da guerra o presidente Perón vetou a participação nas eliminatórias para as de 1950 e 1954, temendo um vexame sem os astros exilados com a greve de 1948. Ainda assim, a passagem de Loustau pela Albiceleste foi um fenômeno: 27 partidas, 10 gols e só 2 derrotas, ambas fora de casa – uma delas, em virada arrancada apenas nos minutos finais pela Inglaterra em Wembley. Marcou na estreia (5-2 no Paraguai, em 1945) e no último jogo (3-1 em Portugal, em Lisboa, em 1952). E esteve invicto nos 17 jogos em que participou do tricampeonato seguido na Copa América.
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