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Familiares na Seleção Argentina – Parte 10: Outros

 

Neste especial que depois de um mês encerra a série “Familiares”, começaremos falando dos primos que passaram pela Albiceleste. Antes de mais nada, vale reforçar a errata deixada em comentário do especial anterior: embora hajam fontes que afirmem que Julio e Omar Asad, dois dos abordados nele, são respectivamente tio e sobrinho, outras – incluindo a palavra do especialista Esteban Bekerman, do 442 – sustentam que eles teriam justamente este outro parentesco.

Dos casos incontroversos de primos, teriam ocorrido seis. Cinco deles relacionam Juan Brown aos cinco irmãos Brown, da família que abriu esta série. O outro é o dos cordobeses Carlos Timoteo e Mario Luis Griguol. Os Griguol eram contemporâneos e jogavam no mesmo time (o Atlanta), mas nunca compartilharam um encontro pela Argentina. Timo, um ano mais velho, agia como um enganche do clube de Villa Crespo: aparentemente lento, ditava o jogo aos colegas a partir do meio-de-campo, sendo ainda bom cabeceador e aguerrido.

Ele participou do segundo Sul-Americano de 1959 (o vencido pelo Uruguai) e do de 1963, além de alguns amistosos, totalizando onze partidas pela Albiceleste, entre os referidos anos. Seu maior sucesso no futebol viria como técnico, onde manteve a qualidade estrategista que já exibia nos gramados. Na nova função, teve grande passagem naquelas que foram as melhores épocas de Ferro Carril Oeste, nos anos 80 (bicampeão nos dois únicos títulos argentinos dos verdolagas), e Gimnasia y Esgrima La Plata, na década seguinte (duas vezes vice nacional com os triperos). Fez sucesso também no Rosario Central, onde encerrara em 1969 a carreira de jogador, treinando o time campeão de 1973.

Já Mario, veloz mas não muito habilidoso na ponta-esquerda, prezava mais pelo oportunismo, jogando no erro do adversário. Chegou à seleção graças ao bom futebol daquele Atlanta, tradicional clube portenho hoje desaparecido das primeiras divisões, estreando pela Argentina exatamente com dois colegas seus nos bohemios: Luis Artime e Alberto González (respectivamente o terceiro e o quarto em pé, na foto acima), que se firmariam nela e nos arquirrivais River Plate e Boca Juniors, respectivamente. Mario, por sua vez, jogou apenas quatro vezes pelo selecionado, todas em 1961, nenhuma delas na Argentina. Não venceu: perdeu três vezes e empatou a outra.

Outro caso de primos na seleção foi o dos Asad. Ambos tiveram trajetórias semelhantes: Julio Daniel Asad e o sobrinho Omar Andrés Asad foram ídolos do Vélez Sarsfield (sobretudo Omar, de gols decisivos em 1994 na final da Libertadores, sobre o São Paulo, e da Intercontinental, contra o Milan) que tiveram a carreira abreviada por lesões.

O meia Julio atuou sete vezes entre 1975 e o ano seguinte. No período, participou da Copa América de 1975 (foi uma das exceções em um elenco argentino repleto de jogadores do futebol santafesino) e nela marcando seu único gol pela seleção, em cobrança de falta na derrota de 1 x 2 para o Brasil no Mineirão. Foi um dos jogadores que César Menotti chamou no início de seu ciclo como técnico. Américo Gallego acabaria conquistando a posição no meio-de-campo de El Turco, prejudicado também pela lesão no joelho que lhe obrigaria a parar de jogar ainda aos 27 anos.

Primos: Carlos e Mario Griguol; Julio e Omar Asad

O atacante Omar, por sua vez, recebeu suas duas oportunidades em 1995, sem marcar. Ele ainda acredita que o técnico Daniel Passarella só dava oportunidades a jogadores do Vélez quando estes, incluindo El Turquito, já não estavam em seu melhor momento. Passarella, de fato, arranjou críticas por carregar a seleção de atletas ligados ao seu River Plate (a Rivercción), o que incluiu a surpreendente convocação de Abel Balbo (que tinha renunciado em 1996, cansado da reserva) no lugar do fortinero Christian Bassedas (que havia participado de todo o ciclo técnico do treinador) para a Copa de 1998. Ainda em 1995, Asad teve a primeira de suas quatro lesões no joelho, da qual nunca se recuperaria totalmente.

A diferença de idade entre os Asad gerou inclusive uma versão bastante difundida de que seriam tio e sobrinho; nessa entrevista de Omar à El Gráfico, o repórter inclusive usou esses termos, mas o ex-atacante não deixou de referir-se a Julio como primo.

Na seleção, também passaram sogros e genros: Jorge Raúl Solari (já abordado nesta série, no segundo especial) foi o técnico da boa campanha da Arábia Saudita na Copa de 1994, o único mundial do genro Fernando Carlos Redondo Neri pela Argentina.

El Príncipe de Madrid chegara à Albiceleste em 1992, após boas temporadas no Tenerife. Em dois campeonatos seguidos, em 1991-92 e 1992-93, o time das Canárias venceu o Real Madrid na última rodada da liga espanhola (na primeira delas, virando um 0 x 2 para 3 x 2), permitindo que o título ficasse com o arquirrival merengue, o Barcelona. Os blancos caíram ainda por 0 x 3 em pleno Santiago Bernabéu na Copa do Rei de 1993-94. Redondo acabou contratado pelo o próprio clube de Chamartín depois do mundial.

Sua classe encantaria os madridistas até 2000, mas, a despeito da conquista na Liga dos Campeões de 1997-98 (em que o Real, já o maior vencedor da competição, quebrou jejum de mais de três décadas nela), acabou ficando de fora da Copa de 1998. Não se coadunava com a rígida disciplina do técnico Daniel Passarella, que jamais o teria utilizado em razão dos cabelos compridos de Redondo, uma medida que também afetou Caniggia (outro de fora do mundial, apesar do bom momento no Boca Juniors) e Batistuta (que concordou em aparar suas mechas, sendo chamado para a Copa da França).

A versão de Passarella é que o volante teria recusado-se a atuar na meia-esquerda, como desejava o treinador. Outro mundial que Redondo perdeu foi o de 1990, quando ainda estava no Argentinos Juniors. Ainda sem ter defendido a seleção, recusou a convocação de Carlos Bilardo, de quem não gostava, com justificativa de que queria priorizar seu estudos acadêmicos em Ciências Econômicas. Quando Bielsa o chamou três vezes em 1999, Redondo, cuja corrida agenda no Real  e seguidas lesões o atrapalharam para novas convocações depois daquelas, não atuava pelo país desde a eliminação na Copa dos EUA. Fechou o ciclo após declarar que não se sentia apto para corresponder às exigências da seleção. Jogou apenas 29 vezes, com um gol marcado – contra o Paraguai, nas eliminatõrias para 1994.

Jorge Solari na Copa de 1966, Fernando Redondo na de 1994: sogro e genro, tal como Maradona e Agüero

O outro caso, o mais recente e famoso, também esteve na mesma Copa, mas na mesma delegação. Na de 2010, o agora técnico Diego Armando Maradona Franco, que dispensa maiores comentários, convocou o marido da filha Giannina, Sergio Leonel Agüero del Castillo, que lhes deram em 2009 o primeiro neto, Benjamín. O início da carreira de El Kun, justamente um dos “novos Maradonas”, trouxe semelhanças com a do célebre sogro: dentre elas, debute profissional aos quinze anos e certo clamor (ainda que menos intenso) não atendido para que estivesse em uma Copa aos dezessete.

Agüero, já com transferência do Independiente (onde, em um clássico de Avellaneda em 2005, marcara diante do Racing gol similar ao segundo de Dieguito frente aos ingleses em 1986) ao Atlético de Madrid acertada (a mais cara do futebol argentino), ficou de fora do mundial de 2006, com José Pekerman preferindo Julio Cruz e Rodrigo Palacio além dos inquestionáveis Crespo, Saviola e Tévez para o ataque. A estreia do jovem pelo país viria na primeira partida pós-Copa, em derrota de 0 x 3 para os brasileiros em amistoso realizado em Londres que marcou também a chegada de Dunga e Alfio Basile nos comandos técnicos de Brasil e Argentina, respectivamente.

Agüero la rompió a partir do ano seguinte. Ainda pelo time sub-20, com o qual fora discretamente campeão mundial em 2005, foi o melhor jogador do mesmo torneio em 2007 (tal qual Maradona em 1979) – é um dos três bicampeões da categoria -,além de artilheiro do mesmo, enquanto a seleção principal amargava um vice na Copa América. Em seguida, consolidou-se no Atlético, após uma temporada de adaptação na Espanha.

Campeão olímpico em 2008, chegando a marcar dois gols nos 3 x 0 sobre o Brasil nas semifinais, também virou figura frequente na seleção principal, ainda que rotineiramente indo e voltando do banco em meio à concorrência com Tévez e Higuaín. Foi exatamente esta a sua condição na Copa de 2010 (em que não marcou) e na Copa América de 2011. Suas boas exibições no turbinado Manchester City, onde está desde agosto passado, e a má fase de Tévez dentro e fora de campo (incluindo pela mesma equipe inglesa) vêm alterando isso. Por hora, já marcou 14 vezes em 33 jogos.

Alumni campeão de 1910. Arturo Jacobs é o penúltimo em pé  e Arnold Watson Hutton é o terceiro sentado. Seus respectivos cunhados – Carlos Buchanan e Wilfred Stocks, ambos fora da foto – também defenderam a Argentina

Houveram ainda cunhados Arnold Watson Hutton PencliffeWilfred StocksCarlos BuchananArturo Jacobs datam dos primórdios “britânicos”. Os dois primeiros conviviam ainda no rúgbi do Belgrano Athletic, sendo que Arnold (visto no segundo especial “Pais & Filhos”) praticava futebol no rival Alumni (faria o mesmo no Belgrano posteriormente) com os dois últimos. O atacante Watson Hutton e o ponta-esquerda Stocks, que praticara futebol e rúgbi também no Rosario Athletic (estes três times foram todos abordados na série “Futebol e Rugby” do Futebol Portenho), inclusive estrearam juntos pelo selecionado, em 1906 (no que foi a única partida deste).

O centromédio Carlos Buchanan destacava-se pela raça – não fugia de divididas -, mas também pelo cavalheirismo, o que certa vez lhe rendeu abraços de felicitação do próprio presidente Julio Roca. Também tinha personalidade forte, a ponto de ter imposto a escalação do colega Ernesto Brown (da família referida mais acima), então com dezessete anos e ainda visto como apático em campo, para a partida de 1902 contra o Uruguai que é considerada por alguns como a primeira das duas seleções. Buchanan jogou outras quatro vezes, até 1908.

Já Jacobs (que também atuaria no Belgrano) protagonizou um fato curioso: seu único gol, marcado contra o Uruguai na primeira de suas oito aparições, em 1907, foi um olímpico. Embora oficialmente o primeiro tento assim seja dado a Cesáreo Onzari, outros dois já haviam sido convertidos, sendo de Jacobs o primeiro; em ambos, a jogada foi validada em função de ajuda involuntária do goleiro adversário – até então, se a bola entrasse diretamente, a jogada era tida como irregular. O gol de Onzari, em 1924, entrou para a história justamente porque foi o primeiro depois da mudança desta regra, além de ter sido o primeiro de fato nomeado como “olímpico”, sobre o qual o FP dedicou este outro especial.

Também dos primórdios, mas da latinização, foram o polivalente Alberto Ohaco e o médio Ángel Betúlar, colegas do dominante Racing heptacampeão seguido entre 1913-19 (ainda um recorde). Betúlar só figurou em um único jogo oficial, uma derrota de 2-0 para o Uruguai em 12 de setembro de 1915, em Montevidéu, pelo troféu binacional Copa Lipton. Ohaco, por sua vez, não segue sendo o maior artilheio racinguista, com gols entre o fim dos anos 1900 e o início dos anos 20, como foi inclusive o primeiro atleta que o clube enviou à seleção; estreou oficialmente em 15 de agosto de 1912, em outra derrota de 2-0 pela Copa Lipton contra os uruguaios em Montevidéu. Pela Argentina, ele registrou sete gols em treze jogos, o último em 1918. Dois deles garantiram um 4-2 sobre o Brasil na Copa América de 1917.

Cunhados, Ohaco e Betúlar estão lado a lado nesse Racing campeão de 1915

Outros cunhados na seleção foram Humberto Dionisio Maschio e Vladislao Wenceslao Cap, que não chegaram a atuar juntos por ela. Tornaram-se colegas em 1953, no Quilmes, sendo ambos contratados pelo Racing no ano seguinte. Além de os dois terem se tornado grandes ídolos da Academia, chegaram a treinar a Argentina. Pela Albiceleste, Maschio estreou em 1956 e jogaria até o ano seguinte, em que integrou uma lendária linha de ataque com Omar Sívori, Antonio Angelillo, Osvaldo Cruz e o colega racinguista Omar Corbatta. Os chamados Carasucias (“Cara-Sujas”) de Lima marcaram 24 gols em seus seis jogos no Sul-Americano realizado na capital peruana, garantindo o título na penúltima rodada, em um 3 a 0 sobre o Brasil. Maschio marcou nove desses gols, sagrando-se o artilheiro da competição e, junto com Sívori e Angelillo, acabaria contratado pelo futebol italiano (no seu caso, pelo Bologna).

Isso os fez perder a Copa do Mundo de 1958 – apenas em 1972 é que a Argentina aceitaria convocar atletas que estivessem no exterior. El Bocha, com isso, jogou somente doze partidas pela terra natal, mas marcando igualmente doze vezes. Na Itália, teve sua melhor fase na Atalanta, onde atuou entre 1960 e 1962, deixando de ser um goleador para, mais recuado, municiar os colegas. Acabou convocado com Sívori para jogar a Copa do Mundo de 1962 pela Azzurra, sendo inclusive o capitão dela, transferindo-se em seguida para a Internazionale. Após vencer, já pela Fiorentina, a Copa da Itália de 1966, acertou seu retorno ao Racing. Foi como veterano que se sedimentou no panteão dos blanquicelestes, sendo um dos líderes da Equipo de José campeã argentina já naquele ano e da Libertadores e Intercontinental (a primeira de um clube argentino) de 1967.

Jogou até o ano seguinte, assumindo a direção técnica da seleção uma semana depois de se aposentar dos gramados. A treinou por quatro jogos (uma vitória e três empates), sendo sacado ainda antes das eliminatórias para a Copa de 1970 (para a qual o país não se classificou). Foi uma situação quase inversa à que viveu o marido de uma de suas irmãs: Cap, conhecido como El Polaco embora fosse filho de um ucraniano com uma romena, assumiu o comando da Argentina em janeiro de 1974, após Sívori tê-la classificado para a Copa da Alemanha. Mas seu desempenho também não convenceu, sendo até o pior dentre os técnicos que dirigiram o selecionado por ao menos dez jogos (exatamente a sua quantidade), com três vitórias, três empates e quatro derrotas.

Como jogador, o volante esteve em campo onze vezes por seu país e, como Maschio, também integrou uma Argentina campeã sul-americana, a de 1959. Estreou por ela justamente nessa campanha, após ter enfim conseguido um título no Racing (o do campeonato de 1958, já em seu quinto ano no time). Cap, depois, mudou-se para o Huracán, onde não se deu tão bem, só retornando à seleção em 1962 – ali, já como jogador do River Plate. Como o cunhado, esteve na Copa do Chile, mas pela Argentina. Ambos não se deram bem no torneio, com suas respectivas equipes caindo na primeira fase e não os convocando mais; no caso de Maschio, por proibição da FIFA a partir dali para naturalizados que já tivessem defendido o país natal.

Outra coincidência entre Cap e Maschio: esses ídolos do Racing foram técnicos campeões no arquirrival Independiente, respectivamente no Metropolitano de 1971 e na Libertadores de 1973. Foi inclusive sob El Bocha (apelido relacionado à calvície) que outro Bocha passou a ser mais regularmente usado: ninguém menos que Ricardo Bochini – que debutara sob o comando de outra grande figura racinguista, Pedro Dellacha -, que se tornaria o maior ídolo do Rojo de Avellaneda.

Os anos 70 também tiveram outros cunhados, os volantes Rubén José Suñé e Omar Rubén Larrosa, que foram colegas no Boca (na virada dos anos 60 para os 70) e nos rivais Huracán (semifinalistas da Libertadores de 1974) e San Lorenzo (rebaixados em 1981). Os laços familiares foram criados ainda como jovens no Boca. El Chapa Suñé se consagraria como o capitão xeneize que fez o gol do título argentino de 1976 em plena final com o River para depois levantar os primeiros títulos auriazuis na Libertadores, no bi de 1977 e 1978, e no Mundial Interclubes de 1977. A despeito disso, não foi à Copa do Mundo de 1978, limitando-se a aparecer pela seleção entre 1969 e 1971.

Os concunhados René Pontoni e Mario Boyé; e alguns cunhados entre si: Vladislao Cap (em pé, à esquerda) e Humberto Maschio (agachado, à direita), Rubén Suñé e Omar Larrosa

Larrosa, por sua vez, não vingou no Boca, mas consagrou-se no Huracán campeão de 1973 com um belo futebol que credenciou seu técnico César Menotti a assumir a seleção – afinal, aquele título também segue sendo o único do Globo no campeonato argentino desde 1928. Foi justamente Larrosa (ainda um ponta) o artilheiro do elenco campeão, mas só veio a estrear pela Argentina em 1977, já como jogador do Independiente. Ganhou pelo Rojo o cardíaco título nacional daquele ano, em que o clube de Avellaneda superou-se com três jogadores a menos em meio a uma arbitragem caseira para o Talleres para marcar nos minutos finais fora de casa o gol do título. Larrosa fora um dos expulsos, exatamente por reclamar do juiz. No Mundial, ele foi reserva de Osvaldo Ardiles, sendo usado como titular no 6-0 sobre o Peru devido a uma lesão do colega, e também na final, substituindo-o no decorrer do jogo.

Por fim, falemos de concunhados – aqueles que se casaram com mulheres irmãs. O ponta Mario Boyé e o centrovante René Pontoni estiveram entre os maiores astros da geração dourada que o futebol argentino teve nos anos 40. A fase era tão boa que a seleção faturou um tri seguido na Copa América (ainda um recorde). Embora as edições tenham se dado em anos seguidos, em 1945, 1946 e 1947, a enormidade de bons jogadores era tanta que as escalações mudavam bastante de um ano a outro. Nisso, só cinco jogadores foram convocados às três edições. El Atómico Boyé, o primeiro ponta a ser artilheiro do campeonato (em 1946), e El Huevo Pontoni estavam entre esses cinco. Boyé brilhava no Boca que, ao faturar o bi argentino de 1943 e 1944, conseguiu uma ironia histórica.

Afinal, aqueles foram justamente os dois anos em que a versão mais famosa do ataque da célebre La Máquina do arquirrival River – Juan Carlos Muñoz, José Manuel Moreno, Adolfo Pedernera, Ángel Labruna e Félix Loustau – jogou mais vezes junta. O tal Pedernera, inclusive, era descrito por Alfredo Di Stéfano como o maior jogador que vira. Pois Pontoni conseguia ser-lhe um concorrente à altura na seleção, tapando-lhe a titularidade da Argentina campeã de 1945 antes de mantê-la em disputa com o próprio Di Stéfano na delegação campeã de 1947. Pontoni jogava no San Lorenzo que em 1946 foi campeão com o ataque mais goleador daquela saudosa década. O elo familiar entre Boyé e Pontoni viraria até sociedade empresarial: criaram a pizzaria La Guitarrita, rede ainda em funcionamento, com unidades nos bairros portenhos de Núñez, Palermo, Villa Urquiza, Las Cañitas e até em Assunção, no Paraguai – um dos sabores se chama Atómica, aliás.

Carlos Bianchi e Carlos Veglio foram outros concunhados. Antes de conseguir reconhecimento estrondoso como técnico, El Virrey foi um grande matador, acumulando nada menos que oito artilharias em ligas nacionais – três na Argentina, pelo seu Vélez, e cinco na França, por Stade de Reims e Paris Saint-Germain. A ida ao futebol francês inclusive lhe prejudicou, pois na época ir à Europa mais atrapalhava do que ajudava a manter-se na seleção. As aparições de Bianchi pela Albiceleste se resumiram a quatorze jogos entre 1970 e 1972 – com sete gols marcados. Veglio, por sua vez, destacou-se primeiramente no Deportivo Español que subiu pela primeira vez à elite, rumando ao San Lorenzo que em 1968 obteve o primeiro título invicto do profissionalismo argentino.

Exatamente em 1968, Veglio estreou pela Argentina, pela qual jogou nove vezes dali até abril de 1970. Ele posteriormente se destacaria também no Boca, sendo dele o único gol do clube nas finais da Libertadores de 1977, a primeira ganha pelos auriazuis, sobre o Cruzeiro. Veglio é justamente o homem que mais ganhou Libertadores pelo time, só não recebendo medalha na última delas, a de 2007: foi campeão como jogador também em 1978 e depois esteve nas quatro que os xeneizes levantaram entre 2000 e 2003 – dessa vez, justamente como assistente técnico do concunhado Bianchi…

Carlos Veglio e Carlos Bianchi, ambos carrascos de brasileiros na Libertadores, estenderam ao trabalho a proximidade desenvolvida como concunhados: Veglio virou assistente técnico de Bianchi

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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