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Falece o atacante Walter Parodi, ex-Racing e Independiente e ídolo dos nanicos

Em um Clássico de Avellaneda durante seu melhor momento no Independiente, no Apertura 1993. Com dois títulos pelo Rojo, ironicamente torcia pelo rival Racing

Não é qualquer jogador que uniu Racing e Independiente no luto – e que soube defender decentemente o Rojo por mais que fosse na intimidade torcedor da Academia. Não apenas isso, Walter Adrián Parodi também juntou na dor as torcidas rivalidade mais antiga do país, a quilmenha, entre Quilmes e Argentino de Quilmes. Por mais protocolares que algumas declarações soem, ele foi um verdadeiro ícone do futebol da virada dos anos 80 para os 90 na Argentina, em especial por um sumido clube que teve ali seus momentos de glória, o Deportivo Español. Autor de cerca de uma centena de gols oficiais em 454 jogos, metade deles pelo Español e muitos em característicos toques sutis encobrindo goleiros, o ex-goleador sucumbiu ainda na jovem idade de 54 anos a um cruel câncer no estômago.

Nascido em 2 de maio de 1965, Parodi começou na base do River, mas ingressou no Quilmes ainda nos juvenis cerveceros. Pouco mais de um mês após completar dezoito anos, ele estreou no time adulto, em 11 de junho de 1983, na décima sétima rodada da segunda divisão. Um debute auspicioso: marcou o único gol do duelo com o Atlanta, que ao fim se sagraria campeão. Mas não o suficiente para firma-lo desde logo; anotou só mais um, já na quadragésima rodada, em 2-1 no Arsenal. O Quilmes classificou-se aos mata-matas pelo segundo acesso, mas terminou por cair nas semifinais para o Los Andes.

Em 1984, já foram oito gols, mas dessa vez o clube passou longe de disputar o acesso em uma edição pesada da Primera B, a contar com o recém-descendido Racing. Nem mesmo a Academia pôde subir: o campeão foi justamente o surpreendente Deportivo Español, e o segundo acesso ficou com a camisa tradicional do Gimnasia LP – em quem Parodi marcou duas vezes na trigésima nona rodada. Na edição de 1985, o campeão foi o Rosario Central. O Quilmes voltou a chegar às semifinais do mata-mata pela segunda vaga, mas, embora Parodi tenha deixado um gol, não impediu um 5-1 agregado exatamente para o Racing, que adiante enfim subiria.

No clube de sua vida, o Deportivo Español: segundo maior artilheiro dos “Gallegos”

Se em 1985 a segunda divisão foi disputada ao longo do ano, a elite instituiu um calendário nos moldes europeus, iniciando-o no segundo semestre para conclui-lo no primeiro semestre de 1986. Para fazer o mesmo, a segundona ocupou-se no primeiro semestre de 1986 com torneios qualificatórios (um para clubes da Grande Buenos Aires, Rosario e Santa Fe, e outro reunindo times do resto do país) para definir quem ficaria para a disputa da temporada 1986-87. Parodi foi emprestado ao Cipolletti para o torneio do interior e foi feliz, ajudando o clube de Río Negro a garantir-se na primeira edição verdadeiramente nacionalizada da Primera B – enquanto o Quilmes não sobreviveria, caindo à terceira divisão para a temporada do seu centenário. Dono do seu passe, o Cervecero vendeu-o ao Colón, outro a fazer-se presente na segunda divisão de 1986-87.

Parodi deixou o Quilmes com um total de quinze gols em 103 jogos para enfim virar o Waltergol: em Santa Fe, anotaria quinze gols também, mas em 44 partidas, incluindo o exercício da “lei do ex” nos dois duelos com o Cipolletti. O Colón terminou compartilhando o segundo lugar com Banfield, Belgrano e Huracán na esteira desses gols. Outra vez, as semifinais foram a barreira para o atacante; o Sabalero caiu para o Banfield pelo critério dos gols fora de casa nos mata-matas pelo segundo acesso. Mas a boa temporada permitiu que Parodi enfim saltasse para a elite, contratado pelo Deportivo Español. Não ainda para ser a grande referência españolista: o artilheiro do campeonato de 1987-88 foi seu parceiro de ataque, José Luis Rodríguez, justamente o único a reunir mais gols do que Parodi pelo clube do bairro de Flores. O reforço, porém, iniciou desde já um costume de vazar grandes, anotando nos dois duelos com o San Lorenzo do goleiro José Luis Chilavert.

Na temporada 1988-89, Los Gallegos (apelido comum a espanhóis na Argentina e estendido ao clube da colônia) terminaram o primeiro turno a apenas dois pontos dos líderes e, se não mantiveram aproveitamento similar no segundo, puderam terminar com a medalha de bronze. Parodi teve sua grande tarde contra outro grande, o Racing, um dos co-líderes do primeiro turno, mas que levou dois dele em um 4-0. O time ainda pôde chegar às semifinais da liguilla pre-Libertadores, caindo para o campeão River. Mas, sem El Puma Rodríguez e outra boa peça ofensiva, Esteban González, o Español terminou a temporada 1989-90 em penúltimo, embora sob a tranquilidade do bom promedio. Parodi, individualmente, saiu-se bem como única andorinha. Foram oito gols, incluindo outros diante de Racing e San Lorenzo. O clube também não se saiu bem na temporada 1990-91, entre os três últimos de ambos os turnos. O risco de rebaixamento não foi maior porque Parodi voltou a vitimar Racing, San Lorenzo e, dessa vez, também o Independiente.

A declaração de amor ao Racing em 1991 não impediu sorrisos como campeão no Independiente em 1994 – à frente dele, outro notório racinguista muito profissional pelo Rojo, o volante Hugo Pérez

Ao fim da temporada, foi disputada outra liguilla pre-Libertadores enquanto em paralelo a seleção argentina se ocupava na Copa América, torneio que tirara momentaneamente do Racing o atacante Claudio García. Assim, a Academia providenciou o empréstimo do seu costumeiro carrasco que, ironicamente, era um confesso torcedor e sócio racinguista. Uma pressão interna que pode ter sido demais. Parodi só pôde desfrutar por quatro jogos a experiência, sem marcar. Para variar, viu as semifinais como barreira, eliminado nos pênaltis pelo Boca. Não foi adquirido em definitivo e já estava de volta ao Español para a temporada 1991-92. Deu-se bem: o clube afastou-se do baixo promedio ao terminar o Clausura em terceiro, com Parodi destacando-se especialmente pelo único gol de uma tarde contra o Independiente.

A temporada seguinte foi ainda melhor ao atacante, com quatorze gols que, além da vítima preferencial San Lorenzo, incluíram enfim a dupla Boca e River no cardápio. O jogo contra o Boca, um surpreendente 3-2 dentro de La Bombonera pela antepenúltima rodada do Apertura 1992, inclusive permitiu suspense na definição do torneio, que acabaria vencido com muito drama pelos auriazuis, que ali encerrariam seu pior jejum no campeonato argentino (onze anos) – o gol de Parodi, sempre de cobertura, foi a imagem escolhida no twitter pelo próprio goleiro batido Carlos Navarro Montoya para homenageá-lo ontem. No Clausura, o Español terminou em quinto, a apenas cinco pontos do campeão Vélez. Assim, seu goleador terminou contratado pelo Independiente, onde o coração e o passado racinguistas não eram um impedimento para o sucesso do volante Hugo Pérez ou do técnico Pedro Marchetta, nem para antigos ídolos que torciam pelo rival, como Luis Artime ou Enzo Trossero.

Parodi foi usado principalmente no Apertura (onde faltaram dois pontos para o título), onde marcou seis gols – incluindo mais um para cima do San Lorenzo, por sinal. Perdeu espaço no vitorioso Clausura, só conseguindo balançar as redes em uma única partida: mas que partida. Foi pela 14ª rodada, onde o Rojo perdia em casa por 2-0 para o Rosario Central. Pois Parodi saiu do banco para anotar os dois gols de um empate providencial, que mantinha o time de Avellaneda no encalço do líder Huracán. Ao fim, os dois clubes se encontraram na rodada final, com o oponente ainda à frente, mas que terminou amargando um vice-campeonato após ser goleado por 4-0 e assim ser superado por um mísero ponto. Três meses depois, o Independiente já era campeão de novo, na Supercopa 1994. Com o trio de ataque sedimentado em Gustavo López, Sebastián Rambert e Alveiro Usuriaga, restou a Parodi ser apenas uma opção para os minutos finais, sem marcar.

Por Quilmes, Colón, Talleres e Argentino de Quilmes, Parodi nunca pôde subir de divisão, mas deixou boas recordações

Ainda assim, foi justamente ele o reserva mais acionado na campanha continental, sendo em cinco partidas (os dois primeiros mata-matas, contra Santos e Grêmio, e o jogo de ida na decisão com o Boca) o 12º jogador. O sucesso coletivo não tardaria a provocar um desmanche dos titulares no início de 1995, mas Parodi tampouco ficou: passou todo o ano no futebol mexicano, no Atlas, até ser repatriado no primeiro semestre de 1996 pelo Talleres. Naquela edição de 1995-96 da segundona, haveria Apertura e Clausura, com seus vencedores fazendo finais pelo título e acesso direto. La T faturou o Clausura, com Parodi vazando o Unión em um 4-1 e o Huracán Corrientes em um 1-0. Ironias: o Huracán Corrientes levantara o Apertura e levaria a melhor nas finais, com direito a um 4-1 dentro de Córdoba. O Talleres precisou juntar-se aos mata-matas pelo segundo acesso, onde caiu nas semifinais após duas derrotas de 3-1 para… o Unión. Ao todo, Parodi atuou dezessete vezes como tallarin, marcando cinco.

Ele voltou ao Español para a temporada 1996-97, a penúltima que o clube viveu na elite. Contribuiu com cinco gols, incluindo nos dois duelos com o Independiente, mas uma grave lesão impediu que ajudasse mais na luta contra os últimos lugares. A eficiência de outrora se perdeu pelas camisas seguintes, todas pelas divisões de acesso: foram só quatro jogos possíveis (e sem gols) pelo Nueva Chicago e outros sete (com um gol) pelo Defensa y Justicia, times onde esteve na segunda divisão da temporada 1997-98; nove jogos e um gol pelo Almagro na segundona de 1998-1999; e chuteiras definitivamente penduradas pelo Argentino de Quilmes, com cinco gols na terceira divisão de 1999-2000, com o Mate caindo no primeiro mata-mata pelo segundo acesso. Parodi seguiu no “mundo ascenso” como assistente técnico em diversas equipes.

Abaixo, a série de homagens prestadas ontem ao atacante (em especial, a de perfis relacionados ao Deportivo Español), incluindo a de ex-colegas de Racing e Independiente, do adversário Navarro Montoya e do jornalista Diego “Chavo” Fucks, amigo de infância e conhecido torcedor do Independiente:

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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