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Falcioni salva o Boca

Enxotado do Boca feito um cão, Falcioni ver sua herança livrar o Boca da tragédia

109 anos de vida e crise para todos os lados. Mas isto é assunto para outra matéria. Até porque a coisa poderia estar ainda pior. Desde que assumiu o Boca Juniors, em dezembro de 2012, Carlos Bianchi acumulou 59 pontos em 50 partidas pela principal competição argentina. Deste total, 18 foram alcançados no Torneio Final de 2013; 29 no Torneio Inicial e 12 pontos no atual Torneio Final de 2014. Fosse apenas pelos números do Virrey e o tradicional conjunto da Ribera estaria na zona da degola. Seus promédios atuais seriam de 1,18, superiores apenas ao do último colocado, Argentinos Juniors. Neste caso, salve Falcioni, que, neste momento, salva o Boca Juniors.

São tantos problemas que mais vale lembrarmos de todas as glórias que o magnífico conjunto da Ribera conquistou ao longo de sua história. Porém, deixemos a paixão para os honestos torcedores e vamos tratar o assunto de forma objetiva: no mês de seu aniversário, o Boca vive dias de tormenta. Honesto reconhecer que seu técnico, Carlos Bianchi, não é o único culpado. Desonesto não identificá-lo, contudo, como uma das protagonistas da tragédia atual. E para tanto, basta uma simples mirada para o trabalho do Virrey. Veremos que Falcioni, o técnico de quem ele tanto tentou se diferenciar, é quem o salva no momento.

Em termos de classificação, o Boca é o 14º colocado com 12 pontos em 11 partidas, apenas três a mais que os do último colocado, o Racing. Em termos de promédios, a situação ainda é favorável. O conjunto da Ribera está em terceiro lugar numa tabela que tem Argentinos Juniors, Quilmes e Albo com a corda no pescoço. Porém, esta situação não se deve ao trabalho de Bianchi, mas a resquícios da passagem de Falcioni pelo clube. Em 2012, Falcioni conquistou 76 pontos em 38 partidas. Em 2013, Bianchi conseguiu apenas 47 no mesmo número de jogos. E para piorar as coisas para o Virrey, dos 51 pontos que a equipe obteve ao fim da temporada 2012/13 ele conseguiu apenas 18 contra 33 do seu antecessor.

Os números do atual treinador são grotescos. Ao término do Torneio Final de 2013, primeiro sob comando do novo treinador, o Virrey conseguiu 18 pontos e ficou em 19º lugar, a frente apenas do Unión Santa Fe. Certo que no segundo semestre, a equipe ficou na sétima posição, com 29 pontos conquistados. Mas foi a mesma colocação alcançada por Falcioni ao fim do Clausura/2011, com 28 pontos, sua mais modesta pontuação a frente do gigante argentino.

No comando do banco xeneize, seu atual treinador obteve, até o momento, 59 pontos em 49 pelejas disputadas. Isto gera promédios de 1.180, o que colocaria a equipe em penúltimo lugar na tabela do descenso. Um exercício de visualização do caos nos apresenta a gravidade do problema. Se fôssemos considerar a pontuação apenas da atual competição, chegaríamos a promédios de 1.090, abaixo até dos 1.160 que possui o Argentinos Juniors. Além disso, a atual pontuação coloca o Boca com a oitava pior campanha dentre todas os clubes que disputam todas as divisões do futebol do país. Novamente é Falcioni quem salva. Mas isto está com os dias contados.

Ao fim da atual temporada, o Boca Juniors terá de descartar os 76 pontos da última campanha do Pelusa a frente do time. Desta forma, se a campanha no Torneio Final não melhorar, o conjunto da Ribera deve entrar na próxima temporada lutando contra o rebaixamento. Bianchi deixa claro que quer se diferenciar do trabalho de seu antecessor, porém fica constrangido quando alguém toca na proteção que os números de Falcioni lhe oferecem atualmente. Mas graças ao seu passado glorioso no comando do Boca, pouca gente tem coragem de tocar neste assunto.

Julio César Falcioni foi enxotado do Boca Juniors, acusado de praticar um futebol retranqueiro, feio e incompatível com as tradições xeneizes. Este preconceito foi o mesmo que varreu jogadores como Santiago “el Tanque” Silva do clube. Imersa em profunda crise institucional a comunidade xeneize incorre num paradoxo corrosivo. Não percebe que o padrão Falcioni é mais compatível com o atual momento do que as fantasias em torno de um técnico-ídolo, que merece a consideração e respeito de todos, mas que se revela ultrapassado, teimoso e incapaz de desviar um transatlântico do precipício.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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