Emendando gigantes: o curioso caso de Luis Alberto Carranza
Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo formam desde os anos 30 “os cinco grandes do futebol argentino”. Até hoje, ninguém esteve nos cinco; e mesmo trabalhar em quatro foi tarefa para pouquíssimos. O ponta Luis Alberto Carranza (a pronúncia é “Carança”) foi um desses: só lhe faltou o River, e pode dizer também que os quatro que defendeu foram precisamente os quatro primeiros times da carreira – desde que o quinteto se sedimentou, entre os anos 20 e 30, somente El Betito conseguiu emendar quatro de forma seguida; o uruguaio Zoilo Canaveri (descrito no fim dessa nota) o fez em tempos em que esses clubes mal tinham quinze anos de fundados e ainda engatinhavam em poderio, tendo até participado dos primeiros troféus do Rojo e do Boca na primeira divisão. Carranza, do seu lado, tem no currículo títulos internacionais nestes mesmos clubes, mas uma carreira truncada por lesões e falta de empenho. Vale relembrar El Trapito pelos 50 anos completados.
No Racing, um xodó
Nascido em Avellaneda em 15 de junho de 1972 e criado em Quilmes, Carranza formou-se nos juvenis do Racing, o que não o impedia de torcer e até ser mascote do Boca nos anos 80 – embora estes clubes colecionassem encontros e disputas ríspidas no fim da década. De um lado, La Academia foi ao êxtase com um 6-0 na temporada 1987-88. De outro, na temporada 1988-89 ambos co-lideraram o primeiro turno, encerrado com um duelo direto no qual o Blanquiceleste, em jejum argentino desde 1966, perderia pontos nos tribunais por um rojão racinguista atingir o goleiro boquense Carlos Navarro Montoya; logo depois, o Boca, também em uma década quase perdida, encerraria oito anos de jejum ao vencer no fim de 1989 a Supercopa (torneio já extinto, mas prestigiado, que reunia somente campeões da Libertadores), campanha que incluiu eliminar La Acadé no primeiro mata-mata.
O ponta não participou de nada disso; ainda estava no time B racinguista em 1990, já angariando alguma fama, atraindo torcedores para vê-lo nas partidas preliminares às de equipe principal. Sua primeira vez nela deu-se na pré-temporada de 1991, em 19 de janeiro, nos quinze minutos finais de uma derrota amistosa de 1-0 para o River em Mar del Plata. O técnico racinguista era ninguém menos que a lenda Roberto Perfumo, um dos xerifes no título argentino mais recente até então no Cilindro, aquela taça erguida seis anos antes do nascimento daquela promessa.
O próprio Perfumo, em entrevista concedida já em 2002 à revista El Gráfico, fora indagado a respeito do pupilo – que àquela altura ainda tinha 30 anos, mas já sob impressão irremediável de ter sido um talento desperdiçado: “não fez o processo que tinha que fazer. Chegou muito cedo e se ocupou mais das coisas que o futebol dava do que do próprio futebol. Este é um erro normal. A famosa transição de passar de ser anônimo a famoso. Se na transição fazes todas as cagadas que tens para fazer, tchau, já não és mais famoso. O futebol tem uma coisa épica, de esforço, dor, sacrifício. Se perdes isso, cagas tudo”.
De fato, Carranza geraria rumores de que se alimentaria “à base de hot dogs” e naquele mesmo 2002 era visto como “caso paradigmático” na análise da projeção palpável do jovem Leandro Romagnoli, por ter sido “qualificado nos anos 90 como um diamante bruto e exposto logo a ser moeda de troca em quase todos os clubes em que atuou”. O próprio Carranza assumiria, em 2016, que “fui um vagabundo”, contextualizando que em seu tempo não havia tanta preocupação com o autocuidado corporal – e admitindo que não apreciava treinamentos.
Antes do corpo cobrar o preço, lampejos não faltaram para quatro das cinco principais torcidas do país. Usado no Clausura 1991 desde a 1ª rodada (foi titular), chamou atenção primeiramente na 4ª, com dois gols e mil dribles em um 5-2 para cima do River – em um deles, deixando para trás Diego Cocca e Jorge Higuaín (pai de Gonzalo) para então concluir. Seria sua exibição mais lembrada na Academia, que disputou aquele Clausura com o Boca. Os auriazuis, após aquela Supercopa 1989, ergueram a Recopa em 1990, mas seguiam sob jejum doméstico desde o maradoniano Metropolitano 1981. Tempo demais para a torcida mais numerosa do país.
O duelo direto ocorreu na 14ª rodada, dias após o Boca sofrer uma dolorosa eliminação nas semifinais da Libertadores para o Colo-Colo. Mas desânimo não foi o que se viu dos anfitriões em La Bombonera: o jovem Batistuta marcou três vezes para cima do consagrado Goycochea em um inapelável 6-1. Carranza, com nota 7, foi avaliado como o melhor racinguista em uma goleada diagnosticada como mentirosa por não refletir a partidaça que teria sido o primeiro tempo – encerrado em 3-1, obrigando os visitantes a tentarem o tudo-ou-nada na segunda etapa e desguarnecerem a defesa. Atordoada, La Acadé só venceu um dos cinco jogos que restavam e desceu para um 4º lugar final.
O Boca, mesmo invicto, também não seria campeão. E voltaria a ser carrasco do Racing na pós-temporada, nas semifinais da liguilla pre-Libertadores, mata-matas que colocavam em jogo a segunda vaga argentina para a edição de 1992 de La Copa. Mas mesmo aquele Clausura já mostrava que Carranza nunca seria exatamente um artilheiro; só marcou outro gol, no 2-1 sobre o Lanús, ainda pela 10ª rodada. Ainda de ressaca, seu clube no restante de 1991 foi apenas 13º no Apertura (Betito só marcou dois gols, em derrota de 3-2 em casa para o sumido Mandiyú e no 1-1 com o Rosario Central, também no Cilindro) e eliminado contra o Peñarol logo no primeiro compromisso da Supercopa.
Mas os dribles, o carisma e arrancadas pela esquerda lhe cavaram matéria em novembro de 1991 como uma das promessas de craque do país – e um lugar na seleção sub-20 que disputaria no início de 1992 o pré-olímpico aos Jogos de Barcelona. Foi um fracasso geral para um time que tinha gente que já aparecia na seleção principal, como Simeone, Diego Latorre ou Turco Mohamed: a Albiceleste sequer avançou ao quadrangular final, ultrapassada por um surpreendente Equador. No Clausura 1992, o Racing foi apenas 7º e Carranza deixou um único golzinho, mas que gol: sob chuva torrencial, arriscou um gol quase olímpico (“quase”, pois não foi cobrando escanteio, mas similarmente chutou rente à linha de fundo) e foi premiado para dar vitória mínima na antepenúltima rodada sobre um Vélez que lutava pelo título. O adversário vivia jejum similar, desde 1968, e atrapalha-lo era uma questão de honra à massa racinguista.
Em crise institucional, o Racing precisava fazer caixa e leiloou sua promessa à dupla Boca e River. Embora acabasse de erguer a esquecida Copa Master (torneio oficial da Conmebol, mas de vida curta, que reunia somente os campeões da Supercopa), o Boca ainda se ressentia de um jejum nacional que chegava ao 11º ano, enquanto o River vinha de um título argentino e um vice em 1990 (além de uma semifinal de Libertadores) e de um título argentino e uma final de Supercopa em 1991. Carranza escolheu com o coração auriazul da infância. E chegaria a afirmar que sua travessia, naquele contexto, teria revoltado a antiga torcida muito mais do que quando virou a casaca para o vizinho de Avellenada. Ao todo, foram 52 jogos e seis gols pela Academia. E 750 mil dólares auferidos pelo Cilindro com a venda de metade do passe do ponta.
No Boca, um jogador (breve) de seleção
Ele apareceu na Casa Amarilla em um pacote de reforços para o maestro Oscar Tabárez: o mais chamativo deles era um brasileiro comprado pessoalmente por Maradona, Charles. Com não menos cartaz, um paraguaio com experiência italiana (Gustavo Neffa) e um filho pródigo reserva na seleção de 1986 (Carlos Tapia, vindo da Suíça). Os uruguaios Rubén Pereira e Sergio Martínez haviam ido com Tabárez à Copa de 1990 e por fim havia um raçudo lateral do Argentinos Jrs: Carlos Mac Allister, a única cara nova a vingar junto ao Manteca Martínez e, de certo modo, do próprio Carranza.
Eliminado precocemente na Supercopa 1992 pelo Estudiantes (os platenses levaram nos pênaltis logo nos primeiros duelos), o Boca ficou invicto nas 11 rodadas iniciais do Apertura, com direito a oito delas sem sofrer gols – então um recorde no clube, além de representar àquela altura a terceira maior quantidade de minutos (825) da invencibilidade de um goleiro, o onipresente Carlos Navarro Montoya – pois seu reserva Esteban Pogany, outro a quem igualmente apenas faltou o River, praticamente não jogava. Carranza tampouco era titular absoluto, mas “sempre que entrava, rendia”, como um 12º jogador. Sua grande partida foi na 9ª rodada, ao marcar no último minuto o gol da vitória mínima sobre o Argentinos Jrs, no estádio do Ferro Carril Oeste; foi seu único gol na campanha campeã.
O Independiente então ruiu a invencibilidade, sacolejando ligeiramente a nau boquense: empatou-se em 1-1 com o Racing e veio outra derrota, de 3-2 para o cascudo Deportivo Español da época. O que permitiu a aproximação do River. Contamos aqui como terminou aquela saga redentora. Na rodada final, só um ponto separava a dupla de gigantes, com o Boca à frente e tendo como compromisso o modesto San Martín de Tucumán em La Bombonera. E a sorte sorriu ao campeão: o motorzinho José Luis Villarreal, então jogador de seleção, lesionara-se na rodada anterior e seu substituto imediato, o uruguaio Pereira, também machucou-se, já no decorrer do jogo. Coube exatamente ao reserva do reserva ter seu momento mais oportuno de glória: Claudio Benetti acreditou em um chute de longa distância. O River acabaria ficando mais pontos atrás, perdendo alguns no tapetão por incidentes em seu duelo, com o Argentinos.
Mas o desafogo logo provou-se ter vindo em um oásis; o vestiário rachou-se em duas panelinhas (falcones e palomas, “falcões” e “pombas”) e já no Clausura seguinte o Boca foi 7º, empatando nove dos 19 jogos – gol de Carranza, só na rodada final, contra aquele mesmo San Martín. Tabárez caiu no decorrer daquele Clausura 1993. O sucessor Jorge Habegger começou com altos e baixos: em julho, o time caiu no terceiro compromisso da Copa Centenário da AFA, mas foi campeão da esquecida Copa Ouro, quadrangular que reunia os vencedores de 1992 na Libertadores, na Copa Conmebol, na Supercopa e na esquecida Copa Master. Veio o Apertura e o elenco então saboreou só quatro vitórias e seis gols – além de quatro derrotas – nas dez primeiras rodadas do Apertura 1993; e, em paralelo, novamente o Estudiantes tirou o Boca nos primeiros compromissos da Supercopa, vencendo os dois jogos.
César Menotti assumiu na 12ª rodada do Apertura e imprimiu um salto de desempenho, a ponto de fazer o elenco brigar por um campeonato onde quem tinha pinta de campeão parecia ser justamente o Racing. Na penúltima rodada, houve o duelo direito. Carranza, de repente um artilheiro (vinha de gols na 14ª e na 16ª rodadas, vitórias de 3-0 sobre Ferro e Lanús), aplicou a lei do ex em nova goleada de seis gols no histórico entre a Azul y Oro e a Blanquiceleste – um 6-0 já em março de 1994. Mas o salto de qualidade veio tarde: um River pragmático terminou dois pontos à frente e campeão.
O restante do primeiro semestre, por sua vez, voltou a ver um Boca apático, eliminado na lanterna do grupo na Libertadores (com direito a levar de 6-1 do Palmeiras) e com um 7º lugar no Clausura – onde venceu sete vezes enquanto perdeu seis. Carranza deixou ali dois gols, no 2-0 sobre o vice-campeão Huracán, ainda na 2ª rodada, e no 3-3 com os reservas do Vélez na 4ª. O Apertura 1994 foi ainda mais pobre ao Boca: 13º, com mais derrotas (sete) do que vitórias (cinco). Carranza deixou os dele somente no 2-2 com o Platense, na 5ª rodada, e no 5-0 sobre o Lanús, na 10ª. Mas, em paralelo, os xeneizes brilhavam na Supercopa, campanha que segurou Menotti no cargo e catapultaria Betito à seleção principal.
Foi de fato o momento mais regular de Carranza, que ia deixando gols em cada mata-mata: nos 4-1 sobre o Peñarol no jogo de volta das oitavas-de-final; em pleno Superclásico no 1-1 do jogo de ida quartas-de-final (deixando Germán Burgos estatelado no chão antes de concluir); e no 2-0 no jogo de ida das semifinais contra o São Paulo de Telê. Na época da decisão, um Carranza tão facilmente identificável pelos longos cabelos já tinha um penteado aparado, para se encaixar no estilo Daniel Passarella de ser: estava convocado para o primeiro jogo da seleção no ciclo pós-Copa do Mundo.
O novo visual chegou a ser capa da revista El Gráfico – e, na matéria das caras novas da Albiceleste, o talismã do gigante Boca mereceu mais espaço que um jovem do modesto Banfield chamado Javier Zanetti e um garoto do Argentinos Jrs de nome Juan Pablo Sorín. Mas, nas finais da Supercopa, um Independiente mais embalado levou a melhor. O próprio Trapito foi morno no jogo da volta, com uma nota 5 e uma substituição a 15 minutos do fim para John Tréllez tentar algo no ataque. E sua aparição na seleção seria das mais fugazes. Foram só dez minutinhos, nos 3-0 em Santiago sobre o Chile, em 16 de novembro (uma semana após o vice na Supercopa).
O livro Quién es Quién en la Selección Argentina o descreve como “um jogador hábil, escorregadio, rápido, mas também frágil, não só no físico mas também no anímico. Não se estacionava em um só setor do ataque, embora preferisse arrancar desde a esquerda”. Ele substituiu Ortega no minuto seguinte ao terceiro gol e só, prejudicado por uma carreira que logo entrou na curva descendente.
Após a perda da Supercopa, a diretoria boquense substituiu Menotti com o velho ídolo Silvio Marzolini, mítico lateral dos anos 60 e técnico do maradoniano Metropolitano 1981. Começou-se bem no Clausura 1995, com invencibilidade nas sete rodadas iniciais. Houve a maior goleada dos duelos com o Independiente, um 5-0. Mas faltou consistência para manter-se na briga com San Lorenzo e Gimnasia: os xeneizes ficaram em 4º, a seis pontos do campeão Sanloré. Carranza deixou só um gol, já na rodada final, nos 3-1 sobre o Gimnasia de Jujuy. Usado apenas doze vezes e na iminência de perder ainda mais espaço com as chegadas de Maradona e Caniggia, preferiu voltar a Avellaneda, agora para defender o Independiente; segundo matéria daquele ano, a junta-lo com outros jovens craques como Ortega e Ayala, Betito delegava a administração da carreira e das finanças ao pai, com quem ainda vivia.
Em 2021, assumiria um arrependimento por ter saído: “hoje, a um garoto que joga no Boca, daria o conselho de que se for para sair, que seja a um Real Madrid, Barcelona, Inter… mas se decide ir a um clube de meio de tabela, ou ligas ruins, é preferível que fique no Boca, por não há nada melhor que o Boca”. Ao todo, foram 131 partidas (93 como titular) e 16 gols, incluindo-se aí amistosos, segundo seu perfil estatístico no Historia de Boca.
Um desaparecido por Independiente e San Lorenzo
Sua declaração acima refere-se ao fato de calhar de pegar um Independiente sob marasmo. Sob crise institucional apesar de três troféus erguidos entre agosto de 1994 e abril de 1995 (Clausura, Supercopa de um ano e Recopa em outro), o Rojo vivia exatamente o desmanche súbito do elenco-base campeão. E nem assim o reforço se firmou: na acidentada mas vitoriosa campanha do bicampeonato na Supercopa 1995, ele figurou apenas na estreia, atuando os 90 minutos do 1-1 com o Santos em plena Doble Visera – em pontual ausência do craque Gustavo López no tridente ofensivo com Cristian Domizi e Javier Mazzoni.
Mesmo na equipe mista usada em paralelo no time 14º no Apertura quando logo tornou-se claro que a Supercopa seria a prioridade do semestre, Carranza foi subutilizado na Doble Visera; até figurou em 15 partidas, mas com pouco minutos efetivos… e zero gols marcados. Ainda assim, ele seguia com algum mercado entre os gigantes: o San Lorenzo contratou-o para 1996. Parecia começar bem; sem participar da pré-temporada, estreou com direito a gol sobre o River, em cabeceio na rodada inaugural do Clausura para anotar aos 44 do primeiro tempo um 2-1 que terminaria 3-1. Mas precisou ser substituído por Damián Manusovich. E aguardar até a 6ª rodada para voltar a campo.
Ainda pareceu pé-quente. Era o clássico com o Huracán, na casa rival, e Carranza abriu de pênalti o placar dos 1-1, aos 16 minutos do segundo tempo. E foi só aquilo mesmo. Seu verbete no Diccionario Azulgrana, publicado para o centenário sanlorencista (em 2008), explica que “passou a maior parte do seu tempo no consultório do clube, queixoso por contínuas e diferentes lesões. Quando não machucava o tornozelo, sentia o joelho, e assim em todas as partes do seu corpo. Essa fragilidade física não lhe possibilitou render como havia feito no Racing. Pelo menos se deu ao luxo de festejar dois gols importantes: contra Huracán e River”.
O San Lorenzo avançava em paralelo na Libertadores, então “a” obsessão ao único grande argentino ainda sem La Copa. Carranza não chegou a ser usado na campanha encerrada nas quartas-de-final (ironicamente, contra o River, futuro campeão) e foi relegado a jogos esparsos dos torneios domésticos. Ao menos, quase nunca perdeu, mesmo por um San Lorenzo que terminou em penúltimo naquele Clausura, tamanho o foco na Libertadores. O copo meio vazio mostra, por outro lado, que ele só voltou novamente na 13ª rodada (reserva no 0-0 com o Unión) e, depois dali, na 16ª, como titular eventualmente substituído no 1-0 sobre o Belgrano.
O “quase” deve-se à sua participação em triangular de pré-temporada em julho, com o Internacional e a Universidad Católica. Carranza atuou pela única vez os 90 minutos como cuervo em derrota de 1-0 para os gaúchos em pleno Nuevo Gasómetro; em seguida, o Ciclón foi servir de sparring para a estreia de Ronaldo no Barcelona no Troféu Joan Gamper, onde Betito tampouco foi utilizado; ele só teria minutos na 5ª e 7ª rodadas do Apertura, respectivamente como reserva utilizado no 1-0 sobre o Platense e como titular substituído no 1-0 sobre o Gimnasia de Jujuy.
Após passagem mexicana pelo Veracruz em 1997, Carranza ainda vestiria outra camisa pesada do futebol argentino: e nem em tempos medíocres do Estudiantes ele vingou, acumulando só seis jogos com os platenses entre 1998 e 1999. Em 2000, ele conseguiu então um protagonismo, idolatria e prestígio em níveis que nunca desfrutou na terra natal: marcou duas vezes na partida que deu o Apertura peruano para o Universitario, um de pênalti e outro após uma corrida memorável contra o Unión Minas, em compromisso a mais de 4 mil metros de altitude na cidade de Cerro del Pasco – ficando eternizada sua comemoração buscando um oxigênio artificial.
A “volta olímpica mais alta do futebol mundial” lhe serviu de trampolim para uma primeira transferência europeia. O veterano Caniggia fazia sucesso na Escócia com o modesto Dundee, que então armou uma numerosa colônia argentina com direito até a uniforme reserva emulando o da Albiceleste.
Foram três temporadas ali e meia temporada no Raith Rovers para então engatar uma sequência de clubes onde sequer chegou a dez jogos em cada: Quilmes, Alumni de Villa María, o Guaraní paraguaio, Almirante Brown e então em partidas na terceira divisão do interior em 2009, longevidade que já fez ao menos um argentino descrever o interminável Paulo Baier como “o Beto Carranza brasileiro”. Ele ainda bate bola, figurando em jogos das equipes de veteranos dos clubes pelos quais passou.
Quem mais esteve em quatro dos cinco grandes?
Em 2019, pelos dez anos do Futebol Portenho, publicamos duas notas que abordavam quem passou por quatro dos cinco grandes: uma para quem esteve nas duas duplas principais (Boca, River, Racing e Independiente) e outra listando outras combinações, embora o foco fosse em quem defendera o trio Racing, Independiente e San Lorenzo. Eis a ordem – com eventuais links para Especiais extras sobre cada um.
Zoilo Canaveri: Independiente 1912-13, River 1913, Racing 1914-17, Independiente 1918, Boca 1919-20 e Independiente 1920-29 como jogador; e Independiente 1929-35 como treinador. Dedicamos este Especial a quem foi “o” vira-casaca do futebol, pois também era uruguaio de nascimento e defendeu a própria seleção argentina.
Pedro Dellacha: Boca 1946 e Racing 1952-59 como jogador; San Lorenzo 1969-70, Independiente 1972, Independiente 1975-76 e Racing 1976 como treinador. Dedicamos este Especial ao técnico vencedor das Libertadores 1972 e 1975. Também esteve no rival sanlorencista, o Huracán (técnico em 1986).
José Varacka: Independiente 1952-59, River 1960-65 e San Lorenzo 1966 como jogador, Boca 1972 e River 1982-83 como treinador. Também esteve no rival sanlorencista, o Huracán (técnico em 1982 e 1985). Dedicamos este Especial a quem incrivelmente não pôde ser campeão em nenhum dos quatro, algo único.
Rogelio Domínguez: Racing 1951-57, River 1962-63 como jogador; San Lorenzo 1971, Boca 1973-75, San Lorenzo 1977, Racing 1982-83 e Racing 1986-87 como treinador. Dedicamos este Especial ao goleiro do Real Madrid de Di Stéfano.
Adolfo Pedernera: River 1935-46 como jogador; Independiente 1957-58, Boca 1965-67, Independiente 1969 e San Lorenzo 1978 como treinador. Também esteve no rival sanlorencista, o Huracán (jogador em 1948, jogador em 1954-55, técnico em 1954, 1956 e técnico em 1970). Dedicamos este Especial ao ídolo de Di Stéfano.
Juan Carlos Lorenzo: Boca 1945-47 como jogador; River 1967, San Lorenzo 1972-74, Boca 1976-79, Racing 1980, San Lorenzo 1981-82 e Boca 1986 como treinador.
Vladislao Cap: Racing 1954-60 e River 1962-65 como jogador; Independiente 1971, Boca 1982 e River 1982 como treinador. Também esteve no rival sanlorencista, o Huracán (jogador em 1961).
Osvaldo Pérez: River 1970-74, Independiente 1977-80, Racing 1981-82 e Boca 1983. Dedicamos este Especial ao único que jogou pelas duas duplas principais no profissionalismo.
Carlos Gay: Independiente 1972-78, San Lorenzo 1978, Racing 1981 e River 1984. Dedicamos este Especial ao carrasco do São Paulo na final da Libertadores 1974. Também esteve no rival sanlorencista, o Huracán (1985-87).
Esteban Pogany: Independiente 1973-80, Racing 1986-87, San Lorenzo 1988-89 e Boca 1989-94. Também esteve no rival sanlorencista, o Huracán (1981-82). Dedicamos este Especial ao goleiro.
César Menotti: Racing 1964 e Boca 1965-66 como jogador; Boca 1987, River 1988-89, Boca 1993-94, Independiente 1996-97, Independiente 1998-1999 e Independiente 2005 como treinador. Dedicamos este Especial ao técnico da Argentina vencedora da Copa do Mundo de 1978. Também esteve no rival sanlorencista, o Huracán (técnico em 1971-74).
José Albornoz: San Lorenzo 1991, River 1993-94, Racing 1994-95 e Independiente 1996-97. Dedicamos este Especial ao volante.
Oscar López: Independiente 1957-59 e Boca 1965 como jogador; San Lorenzo 1985 e Racing 2000 como treinador.
Oscar Ruggeri: Boca 1980-84, River 1985-88 e San Lorenzo 1993-97 como jogador; San Lorenzo 1998-2000, Independiente 2003 e San Lorenzo 2006 como treinador. Dedicamos este Especial ao líbero da seleção campeã de 1986.
Sebastián Rambert: Independiente 1991-95, Boca 1996-97, River 1997-2000 e Independiente 2000-2001 como jogador; San Lorenzo 2007 e San Lorenzo 2010 como assistente técnico. Curiosamente, um tio seu defendeu o Racing, tornando a família um raríssimo caso de ligação com todos os cinco grandes. Dedicamos este Especial aos Rambert.
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