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Em jogo brilhante, Newell´s e Lanús ficam no empate e ajudam o Ciclón

Em Rosário, duas equipes jogavam pela vitória e por uma forcinha do inusitado. Newell´s e Lanús não apenas precisavam vencer, mas torcerem para que Vélez e San Lorenzo ficassem no empate. De tudo aconteceu em Liniers, mas prevaleceu a igualdade. Contudo, no Coloso, o jogo foi gigante; jogo de duas das melhores equipes do futebol argentino; jogo de valentes; jogo de gladiadores romanos, mas que não apontou um vencedor. Quem não viu a peleja não consegue dimensionar o que aconteceu em Rosário; quem o assistiu, chega a creditar ao Papa Francisco o fato de o cotejo ter ficado na igualdade. Porém, se o Newell´s surpreendeu pelo coração, o Granate foi um assombro de time. Tal como o mostraram os aplausos da torcida da Lepra também para o rival do Sul da Grande Buenos Aires.

O jogo

Mostrando sua personalidade de time renovado em sua história recente, o Newell´s tratou logo de pressionar o Granate, reduzindo o campo de jogo do rival e forçando-o a um recuo exagerado. A pressão era forte, mas disfarçava um ponto importante: este tipo de jogo faz bem para o Granate, equipe que aprendeu a lidar com a pressão e a armar o bote na hora certa. Assim, enquanto a Lepra trocava passes rápidos e verticalizava o jogo, o conjunto dos Mellizos se agrupava do meio-campo para trás e sequer dava a impressão de que se assustava com o jogo. Pouco a pouco, o time do Sul colocava suas mangas de fora.

De maneira sutil, o domínio do jogo passou da Lepra para as mãos do Granate. Com um meio-campo vibrante, e tendo Tanque Silva como referência no ataque, o Lanús se apossou da partida, embora o rival local não jogasse mal e também fizesse jogo duro no meio. Porém, as chances de gol não foram em grande número. De destaque o fato de que um leve predomínio do Granate era um sinal do que a equipe dos Mellizos poderia fazer nos 45 minutos finais.

Contudo, o segundo tempo começou esquisito. Assim como no primeiro tempo, o Newell´s tentou forçar o Granate a se esconder em seu campo de defesa. O Lanús voltou a campo aparentemente refém de um plano de jogo para os minutos iniciais. A marcação parecia relaxada e o campo foi dado em excesso para a Lepra. Aos 7 minutos, após bate-rebate na área, Pablo Pérez pôs toda a força do mundo no pé e guardou: 1×0 Newell´s. O gol pareceu na medida. Só que para tirar o visitante de sua modorra. Dois minutos depois, falta e bola levantada para a área de Guzmán. Todo mundo de olho em Tanque Silva e a pelota encontrou a cabeça de Izquierdóz: 1×1

A partir disso, só deu Lanús. Granate teve a chance de virar o placar por uma, duas, três vezes. Foi como se a Lepra desaparecesse de campo de uma hora a outra. Contudo, aos 22 minutos, num ataque isolado, bola chutada pra lá, bola chutada pra cá e, de repente, a pelota encontra o corpo do zagueiro Izquierdóz. Ela foi parar no arco de Marchesín para o assombro de todos: 2×1 para a Lepra. Pareceu um golpe de sorte para o conjunto de Rosário. A história final da partida, porém, sinalizaria que se a Deusa Fortuna apareceu no Coloso não foi para premiar ao rojinegro, mas a outra equipe: a formação cuerva que desfilava seu futebol na cancha velezina, em Liniers.

O Lanús demorou sete minutos para se recuperar. Então, aos 28, Velázquez teve a bola do empate. Demorou para arrematar e a zaga leprosa desviou pra córner. Na cobrança, a pelota foi desviada para fora da área. Somoza teve dois méritos: se apresentou no ataque e ficou com a pelota. Além disso, soube fazer um cruzamento certeiro na cabeça de Pereyra Díaz: 2×2. O Granate estava de volta à partida. E o pesadelo leproso começaria a partir daí.

Só dava Lanús. Schelotto colocou todo mundo no ataque. Tirou muita gente de campo, mas deixou Santiago Silva, seu homem de confiança e seu principal zagueiro para cortar os escanteios dos rivais. Para equilibrar a pouca técnica – e até grosseria do Tanque charrúa – o jovem Benítez foi a campo para fortalecer o ataque granate. Só que a juventude da jovem promessa granate, com sua técnica refinada, destoou da praticidade de Silva. Até aí tudo bem, se a pelota não fosse parar nos pés errados. Muito mal na partida, Benítez teve três pelotas certas para guardar. Falhou em todas.

Longe de estar morto em campo, o bravo Newell´s Old Boys explorava o jogo de velocidade e de deslocamento pelos flancos. Só que dois problemas apareciam para a Lepra: a fortaleza de Goltz e Somoza e a má sorte de La Fiera Rodríguez em receber uma pelota certeira ou de fazer péssimas escolhas na hora do arremate. Se não era o dia de um dos mitos leprosos tudo indicava que a noite era do visitante. A medida que o tempo passava, o Lanús ampliava seu domínio sobre o Newell´s. A intensidade era tamanha que dava a falsa impressão que a equipe dos Mellizos estava há uma semana descansando.

Porém, a sorte não estava em Rosário. Se a Deusa Fortuna apareceu no Coloso foi apenas para frear o ímpeto granate. Era como se forças obscuras agissem em prol do empate. E foi o que aconteceu. Em Liniers, também o porteiro cuervo pareceu visitado pela mesma Deusa. As más línguas disseram que o Papa Francisco estava acordado e foi visto comemorando o caneco do seu time do coração. Verdade ou não, o que pareceu indiscutível é que se a Fortuna apareceu em Rosário, e no Amalfitani, por certo que ela estava sob as ordens do Papa. Aplausos da hinchada leprosa para o Newell´s e, acreditem, também para o Lanús. Pouco importante, contudo. San Lorenzo campeão.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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