Em dez álbuns anteriores de Copa do Mundo, a Panini só acertou uma vez em todas as figurinhas da Argentina
Nesse fim de semana já foi possível vislumbrar que Sergio Romero (goleiro), Gabriel Mercado, Federico Fazio, Javier Mascherano, Nicolás Otamendi, Marcos Rojo e Ramiro Funes Mori (defensores), Lucas Biglia, Enzo Pérez, Ángel Di María, Marcus Acuña e Éver Banega (meias), Eduardo Salvio, Mauro Icardi, Lionel Messi, Paulo Dybala, Sergio Agüero e Gonzalo Higuaín (atacantes) são as figurinhas que Panini aposta entre os 23 nomes finais de Jorge Sampaoli na convocação a ser entregue até 14 de maio. É um bom gatilho para relembrar os álbuns anteriores – especialmente, sob inspiração dessa sequência do Impedimento no twitter para a seleção brasileira, as “previsões” que se demonstram tiros n’água.
A Panini começou a publicar os álbuns oficiais da Copa a partir da edição de 1970, justamente a última na qual a Argentina não participou (e a única em que isso se deu por desclassificação em campo). Assim, precisaremos começar a partir de 1974. Maradona é o único a jogar quatro mundiais e estar quatro vezes no álbum – entre 1982 e 1994; Verón também teve quatro figurinhas, mas deixou de ir em uma Copa entre 1998 e 2010. Vamos à listas e menções às ausências:
1974: Daniel Carnevali, Miguel Ángel Santoro (goleiros), Francisco Sá, Enrique Wolff, Roberto Perfumo, Hugo Bargas (defensores), Enrique Chazarreta, Roberto Telch, Miguel Ángel Brindisi, Rubén Galván, Norberto Alonso (meias), Héctor Yazalde, Roque Avallay e Rubén Ayala (atacantes).
Ausências: Galván (na verdade a foto era de Ricardo Bochini, também ausente; a foto de Ayala na verdade é de Aldo Poy, ambos convocados), Alonso e Avallay. Os dois primeiros, curiosamente, venceriam a Copa seguinte – e, também curiosamente, ambos na condição de reservas. Galván, falecido na semana passada, tinha somente uma partida oficial, no 1-0 decisivo sobre a Bolívia em La Paz nas eliminatórias.
Alonso já tinha nove, incluindo um belo gol de falta sobre a futura campeã Alemanha Ocidental em Munique, sendo vitimado pela troca de treinador (era Omar Sívori, que topou a pressão somente até o fim das eliminatórias e foi substituído por uma junta formada por Vladislao Cap, José Varacka e Víctor Rodríguez). Melhor para René Houseman e Néstor Togneri, que jogou só uma vez pela seleção. Avallay foi para a lista final, mas contundiu-se no último amistoso e terminou cortado, substituído de última hora por Carlos Babington.
1978: Ubaldo Fillol, Héctor Baley (goleiros), Jorge Olguín, Daniel Killer, Daniel Passarella, Alberto Tarantini, Hugo Alves (defensores), Américo Gallego, Osvaldo Ardiles, Ricardo Villa, Omar Larrosa (meias), René Houseman, Mario Kempes, Leopoldo Luque, Daniel Bertoni e Oscar Ortiz (atacantes).
Ausência: Hugo Alves, que simplesmente nunca havia defendido a seleção oficialmente, em jogos contra outros países. Na figurinha da equipe é possível notar um goleiro de faixa na cabeça, o inconfundível Hugo Gatti, fora da seleção desde uma lesão ainda em 1977. Notem também a camisa diferente de Kempes, com gola em V e não circular – ele estava ausente havia dois anos e foi relembrado de última hora por César Menotti já no início de 1978. Aposta certeira da Panini.
1982: Ubaldo Fillol e Héctor Baley (goleiros), Jorge Olguín, Luis Galván, José van Tuyne, Daniel Passarella, Enzo Trossero e Alberto Tarantini (defensores), Américo Gallego, Juan Barbas, Osvaldo Ardiles, Diego Maradona e José Daniel Valencia (meias), Daniel Bertoni, Ramón Díaz e Mario Kempes (atacantes). Único álbum em que a Panini acertou todas.
1986: Ubaldo Fillol, Nery Pumpido (goleiros), Néstor Clausen, Daniel Passarella, Oscar Ruggeri, José Luis Brown, Oscar Garré (defensores), Miguel Ángel Russo, Ricardo Giusti, Juan Barbas, Ricardo Bochini, Diego Maradona, Jorge Burruchaga (meias), Claudio Borghi, Pedro Pasculli e Jorge Valdano (atacantes).
Ausências: Fillol, Russo e Barbas disputaram todas as eliminatórias, mas foram polemicamente esquecidos por Carlos Bilardo. O goleiro vinha de uma final continental pelo Atlético de Madrid, na Recopa Europeia, mas Bilardo preferiu alguém jamais utilizado – Héctor Zelada, jogador do América do México, clube que cedeu instalações para a hospedagem argentina.
Russo foi ignorado mesmo sendo um velho conhecido do técnico, que o treinara no Estudiantes, já Barbas havia sido rebaixado na Serie A italiana pelo Lecce (o que, por outro lado, não impedira a convocação do colega Pasculli, também no álbum). Melhor para Sergio Batista e Héctor Enrique, estreantes na seleção já após as eliminatórias; Enrique sequer havia sido convocado antes da lista final.
1990: Nery Pumpido, Luis Islas (goleiros), Néstor Clausen, Juan Simón, Oscar Ruggeri, Néstor Fabbri, Julio Olarticoechea (defensores), Ricardo Giusti, Sergio Batista, Pedro Troglio, José Basualdo, Jorge Burruchaga, Diego Maradona (meias), Claudio Caniggia, Abel Balbo, Gustavo Dezotti e Jorge Valdano (atacantes).
Ausências: Islas, por vontade própria, abriu mão, desgostoso com a reserva, abrindo vaga para Fabián Cancelarich. Por ironia do destino, o titular Pumpido lesionou-se na segunda partida e foi cortado, e para seu lugar a FIFA permitiu a convocação de Ángel Comizzo. Foi assim que o terceiro goleiro original, Sergio Goycochea, repentinamente virou titular. Clausen, por sua vez, perdeu para o novato José Serrizuela – Bilardo ainda “ressuscitou” Edgardo Bauza, que não era chamado desde 1981.
A outra previsão que não se acertou foi a de Valdano. Aos 35 anos, ele já havia parado de jogar, pendurando as chuteiras no Real Madrid ainda em 1987 e àquela altura trabalhava como técnico dos juvenis do time espanhol. Mas Bilardo, desesperado com a péssima safra, o convencera a entrar em forma especialmente para jogar a Copa. El Filósofo até defendeu mais uma vez a Argentina, em amistoso com a Escócia em março, mas lesionou-se no fim da preparação, o que renderia sua célebre metáfora “nadei, nadei e me afoguei na margem”. Repare que sua figurinha é de foto com a camisa de 1986 (com a listra central sendo branca e não celeste, por exemplo), ao contrário dos demais.
1994: Sergio Goycochea, Luis Islas (goleiros), José Chamot, Sergio Vázquez, Oscar Ruggeri, Carlos Mac Allister, Jorge Borelli (defensores), Fernando Redondo, Diego Simeone, Hugo Pérez, Leonardo Rodríguez, Gustavo Zapata, Diego Maradona (meias), Abel Balbo, Gabriel Batistuta, Claudio Caniggia e Ramón Medina Bello (atacantes).
Ausências: atual ministro dos esportes da Argentina, El Colorado Mac Allister jogara três vezes pelo país, todas no fim de 1993, duas pela repescagem contra a Austrália. O desempenho invicto não lhe garantiu nos EUA, especialmente após o lateral do Boca levar um baile de Ariel Ortega em um Superclásico já em 1994 – Ortega, estreante na seleção já após as eliminatórias, terminaria convocado. Já El Chapa Zapata colheu as consequências de ir jogar na liga japonesa; Medina Bello também havia ido para lá, no mesmo clube (Yokohama Marinos), mas tinha a moral de ter sido o artilheiro argentino nas eliminatórias (no álbum, ele ainda aparecia como jogador do River).
No lugar de Zapata, Alfio Basile preferiu Alejandro Mancuso. O infeliz Zapata ainda perderia a Copa de 1998, por lesão. Vale reparar as camisas diferentes de Caniggia e Balbo, novidades de última hora – no caso de Cani, pela suspensão por cocaína entre 1992-93; já Balbo não foi usado entre 1990 e o fim de 1993. Ressuscitaram-lhe outra versão da figurinha de 1990, quando ele ainda era cabeludo.
1998: Germán Burgos, Pablo Cavallero (goleiros), Roberto Ayala, Néstor Sensini, José Chamot, Hernán Díaz (defensores), Diego Simeone, Matías Almeyda, Juan Sebastián Verón, Leonardo Astrada, Juan Román Riquelme, Marcelo Gallardo (meias), Ariel Ortega, Claudio López, Hernán Crespo e Gabriel Batistuta (atacantes).
Ausências: Díaz e Riquelme. O jogador do River esteve em quase todo o ciclo, mas jogou somente dois amistosos em 1998 após ausência longa após expulsão em julho de 1997 na derrota para o Paraguai nas eliminatórias. O cartaz de estrela do título mundial sub-20 em 1997 não bastou ao jogador do Boca. Daniel Passarella, tão criticado por encher a seleção de jogadores e ex-jogadores do River, preferiu o millonario Sergio Berti, exatamente o penúltimo nome definido pelo Kaiser (Berti vinha recuperando-se de uma lesão nos meniscos a dois meses da estreia), que de antemão divulgara 20 dos 22 convocados da “Riverção”.
Riquelme teria de esperar oito anos para enfim jogar o torneio. O contrário, curiosamente, se aplicava a Sensini, que ia à sua terceira Copa mas só agora aparecia no álbum.
2002: Roberto Bonano (goleiro), Nelson Vivas, Roberto Ayala, Walter Samuel, Juan Pablo Sorín, Javier Zanetti (defensores), Diego Simeone, Matías Almeyda, Juan Sebastián Verón, Pablo Aimar, Gustavo López, Kily González, Ariel Ortega (meias), Javier Saviola, Claudio López e Hernán Crespo (atacantes).
Ausências: Vivas era um desfalque quase certo desde fevereiro de 2002, após lesão no joelho. A outra ausência foi do jovem Saviola, que antes de ser visto como flop estava gastando a bola em um Barcelona em crise, mas foi preterido inexplicavelmente por Marcelo Bielsa em prol de Claudio Caniggia, aos 35 anos e sumido no futebol escocês.
2006: Roberto Abbondanzieri (goleiro), Roberto Ayala, Fabricio Coloccini, Gabriel Heinze, Walter Samuel, Javier Zanetti (defensores), Pablo Aimar, Esteban Cambiasso, Andrés D’Alessandro, Javier Mascherano, Juan Román Riquelme, Juan Pablo Sorín, Juan Sebastián Verón (meias), Hernán Crespo, Lionel Messi, Javier Saviola e Carlos Tévez (atacantes).
Ausências: Samuel, Verón e Zanetti, todos da Internazionale recém-campeã da dobradinha italiana (ainda que o título na Serie A só se confirmasse depois, nos tribunais; o que puderam levantar em campo foi a Copa da Itália), foram ignorados por José Pekerman sem maiores explicações – ainda que Samuel não houvesse defendido a Argentina em todo o ano de 2005, voltando no início de 2006, e Verón estivesse de fora desde 2003.
O outro ausente foi D’Alessandro, apesar da sua importância na milagrosa salvação de rebaixamento do Portsmouth, após ir sob empréstimo de emergência ao time inglês em janeiro. A defesa foi reposta com Lionel Scaloni e Leandro Cufré; e o meio, com Lucho González e Maxi Rodríguez.
2010: Sergio Romero (goleiro), Martín Demichelis, Gabriel Heinze, Walter Samuel, Nicolás Otamendi, Javier Zanetti (defensores), Esteban Cambiasso, Fernando Gago, Javier Mascherano, Maxi Rodríguez, Juan Sebastián Verón, Ángel Di María (meias), Gonzalo Higuaín, Sergio Agüero, Lionel Messi, Diego Milito e Carlos Tévez (atacantes).
Ausências: Zanetti defendeu a Argentina de 1994 a 2011, mas, após outra temporada histórica da Inter (da inédita tríplice coroa no futebol italiano), voltou a se ausentar de uma Copa por pura opção do treinador, agora Maradona. Dieguito, sem maior justificativa, também abriu mão de outro interista, Cambiasso; além de Gago, já em declínio na carreira.
A vaga na defesa ficou surpreendentemente com Ariel Garcé, a convocação mais gracejada (“Garcé, traga alfajores”). E as duas na volância ficaram com Mario Bolatti, talismã da classificação nas eliminatórias, e o folclórico Jonás Gutiérrez no esquema “Jonás e mais 10”.
2014: Sergio Romero (goleiro), Pablo Zabaleta, Ezequiel Garay, Federico Fernández, Hugo Campagnaro, Marcos Rojo (defensores), Lucas Biglia, Javier Mascherano, Fernando Gago, Éver Banega, Maxi Rodríguez, Ángel Di María (meias), Ezequiel Lavezzi, Rodrigo Palacio, Sergio Agüero, Gonzalo Higuaín e Lionel Messi (atacantes).
Ausências: o erro da Panini voltou a ser mínimo, o que só havia ocorrido em 1978. Pior para Banega, em corte que emocionou os mais próximos, como Messi. Melhor para Augusto Fernández, que, embora já defendesse desde 2011 a seleção, foi o único jogador argentino além dos goleiros reservas que não entrou nenhum minuto em campo no mundial do Brasil.
Atualização em 21 de maio de 2018: nessa data foi definida a lista final dos 23 nomes eleitos por Jorge Sampaoli.
Ausências: o zagueiro Ramiro Funes Mori, o volante Enzo Pérez e o atacante Mauro Icardi. Na defesa, pesou a polivalência de Cristian Ansaldi nas duas laterais; no meio, a boa fase recente de Maximiliano Meza no Independiente campeão empolgante na Sul-Americana 2017, a despeito de uma única convocação até então; e no ataque provavelmente as polêmicas extra-campo ruíram novamente com Icardi (que, a bem da verdade, nunca demonstrou maior serviço nas suas chances pela seleção), tal como em 2014 – Sampaoli preferiu apenas quatro opções nessa parte e rechear as convocações ao meio. Melhor para Manuel Lanzini.
Atualização em 9 de junho de 2018: por via torta, a Panini acertou mais um nome. Enzo Pérez foi convocado de última hora ao Mundial, no lugar do cortado Lanzini. Porém, o goleiro Romero terminou cortado também, dando lugar a Nahuel Guzmán – na primeira vez em que a seleção corta dois jogadores de uma vez após a lista final. Assim, as baixas para a Rússia ficaram em Romero, Funes Mori e Icardi.
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