Na noite desta quinta-feira, o Lanús entra em campo pela primeira fase da Copa Libertadores. O cotejo vai ser na Venezuela e o rival não é nenhuma ‘galinha-morta’ como muitos podem pensar. Trata-se do Caracas, um dos clubes que mais tem se estruturado no já endinheirado futebol vinotinto. Porém, o Granate não é apenas o campeão atual da Copa Sul-Americana. É também a equipe mais competitiva do futebol argentino atual; equipe confiante, brigadora, experiente e cruel feito cobra, já que ataca os seus rivais no tornozelo e de maneira impiedosa. Em campo, hoje, em Caracas, o Granate, talvez a equipe argentina com a qual todos deveriam se preocupar.
A casa arrumada
Não é de hoje que o Lanús vem se arrumando. Faz tempo. Ninguém no continente se planejou tanto e a tão longo prazo para crescer. Neste período, foram vários caminhos que o clube percorreu rumo à sua invejável organização institucional. Todas as fórmulas equivocadas foram deixadas para trás sem nenhum pudor. A principal delas foi a de fazer o próprio técnico dentro de casa, assim como se faz com a base. O último deles foi Gabriel Schürrer, competente, mas incapaz de transformar o Granate em uma equipe vencedora. Descartar Schürrer foi jogar no lixo um trabalho de longo prazo e que havia feito o antigo treinador passar por todas as categorias de base e conhecer cada jogador como se fosse seus pais.
Se esta proposta não deu certo, outras têm funcionado bem. É prática no clube emprestar apoio técnico e administrativo para as equipes pequenas do ascenso. Vários clubes nanicos foram salvos da falência por causa disso. Alguns até voltaram à ribalta, como o Atlanta. O resultado disso tem sido positivo para equipes até das ligas regionais. Porém, quem ganha mesmo é o Lanús. Os melhores quadros são chamados para comporem o corpo administrativo da equipe principal. Política parecida é a de emprestar jovens da base para as equipes parceiras e menores. Assim, os dirigentes granates selecionam os melhores garotos e os trazem para La Fortaleza. Isto é tão eficiente que ainda que uma dessas equipes vá à falência qualquer jogador ou dirigente ligados ao Lanús jamais ficam desamparados ou sem salários. Absurdo pensar que exista este tipo de postura em um clube do Continente, mas ela está no Sul da Grande Buenos Aires.
Semestre dos sonhos – ou de pesadelos
Tanto nos clubes brasileiros quanto em quase todos que disputarão a Libertadores não vemos um planejamento para lidar com o primeiro semestre de 2014. Isto não é qualquer coisa. Caso passe pelo Caracas, o Granate vai fazer 20 partidas em 60 dias. Ou seja, mais do que nunca a quantidade vai valer tanto, em alguns casos, quanto a qualidade. Se ambas estiverem equilibradas a garantia de sucesso é bem grande. Atualmente, o Lanús tem 27 jogadores no elenco principal. Mais três devem chegar, um deles, o volante uruguaio Alejandro Silva. ex-Olímpia, que já está quase confirmado. Se confirmada, a contratação var ser certeira, pois se casa bem com a proposta de Schelotto de comandar jogadores polivalentes.
Alguns atletas de clubes do ascenso podem chegar para compor elenco. Além disso, a direção do clube já dispõe de dois substitutos para o caso de perder os dois zagueiros, Goltz e Izquerdoz. Ambos estão na lista de reforços de várias equipes brasileiras.
O esquema falso
No papel, o esquema tático do Lanús é um 4-3-3. Porém, na prática isto diz muito pouco sobre a forma de atuar da equipe comandada pelos Mellizos. A equipe tem o hábito de se adaptar à forma de jogar do adversário. Estuda caso por caso e sempre vai para o confronto sabendo muito bem não apenas da maneira como o rival atua, mas também de todas as possíveis variações táticas que ele pode apresentar. Desta forma, a preocupação é a de fechar os espaços do campo conhecidos pelos rivais. Então, se o oponente patica o jogo pelos lados do campo, ele não terá esses espaços para fazer o seu jogo. Se costuma atuar com um 9 fixo, este jogador será anulado completamente durante os 90 minutos da partida.
O efeito disso é que com poucos minutos de bola rolando e já é possível que até os torcedores não reconheçam a sua equipe diante do Granate. A confusão se faz nas arquibancadas; se faz ainda mais dentro de campo. Contudo, isto é apenas uma parte da história. Ao contrário do que a postura granate supõe, a equipe do Sul jamais abandona a sua disposição de ser ofensivo. Em resumo, o 4-3-3 apresenta três volantes na segunda linha. González é o melhor deles, mas Somoza e Ayala combatem forte, mas sabem sair para o jogo. Na frente, Melano não é um atacante fixo, assim como Acosta, São quase meias de lado de campo, jogadores versáteis e eficientes na marcação, recuperação da pelota, condução e chegada veloz no ataque. Hoje, Melano não joga; no seu lugar vai a Óscar Benítez, maio-campo de ofício e jovem promessa das canteiras de La Fortaleza.
Tanque Silva é o mais adiantado dos três, mas dificilmente fica parado na frente, pelo contrário. Na Sul-Americana, Silva só perdeu para Goltz em afastar a pelota da área de Marchesín. Porém, leva vantagens quanto aos zagueiros no sentido de que oferece combate em todos os setores do campo. Para muitos desavisados, quando o atacante uruguaio conclui mal uma jogada, seria conveniente considerar a absurda exaustão que este jogador costuma apresentar.
Outra falsa impressão tem a ver com a densidade da marcação no meio e o quanto isto recai sobre a conta do ataque. Longe disso. Ao contrário de treinadores brucutus, que praticam o 4-3-2-1 reversível ao “7-0-2-1”, Schelotto costuma soltar Araújo ou, sobretudo, o polivalente Maxi Velázquez, que por vezes cai para o meio-campo, enquanto Somoza vai ao ataque. Nestas situações, Ayala recua para a posição de lateral, confundindo a cabeça de todo mundo. Complicado o esquema do Lanús. Só que cada jogador sabe desempenhar suas funções de olhos fechados.
Treinador linha-dura
Por fim, vale um destaque para a comissão técnica. Schelotto não admite erros provenientes da má execução dos treinamentos. Mas esqueçam daquelas figuras que esculacham seus jogadores na frente de todos. Ele reúne todo o elenco e mostra a jogada errada em comparação com as ensaiadas nos treinamentos. Acerta os erros, equilibrando a dose de força em cada jogada, a maneira de cercar e aprisionar o ataque dos rivais e sua forma de jogar. Faz com que o infeliz que errou assista ao vídeo até o momento em que ele demonstre compreensão do que fez. Não é fácil de viver uma situação como essa.
Porém, nenhum jogador reclama. Desde os descontentes do Boca que chegaram a La Fortaleza até atletas que negam várias propostas do exterior, a satisfação de atuar no Lanús é grande, assim como a de serem treinados pelos irmãos Schelotto. Aliás, hoje a dupla celebra os 20 anos do título que deu a seu querido e sofrido Gimnasia LP: clique aqui.
Elenco principal: Agustín Machesín; Carlos Araujo, Paolo Goltz, Carlos Izquierdoz, Maximiliano Velázquez; Diego González, Leandro Somoza, Víctor Ayala; Lautaro Acosta, Santiago Silva e Lucas Melano. Técnico: Guillermo Barros Schelotto.
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