EspeciaisVélez

Elementos em comum entre Talleres e Vélez Sarsfield

A imagem acima, pela 13ª rodada do Clausura 1993, mostra dois conhecidos de quem acompanhava o futebol brasileiro nos anos 90: o atacante velezano Omar Asad foi um contumaz carrasco de clubes brasileiros em 1994; ao fundo, o jogador tallarin a observar El Turco Asad é o zagueiro paraguaio Catalino Rivarola, depois xerife no Grêmio campeão de tudo (ou quase) entre 1995 e 1997. Foi um duelo de muita discrepância e não apenas pela goleada de 4-0 do Vélez em seu lamaçal; naquele torneio, o Fortín não só foi campeão argentino pela segunda vez, como encerrou jejum de 25 anos e abriu sua era dourada. Por outro lado, La T terminaria pela primeira vez rebaixada. Mas ambos puderam terminar a década gargalhando, cada um à sua maneira, inclusive com troféus internacionais. Hora de mais elementos em comum no duelo argentino das quartas-de-final da Libertadores.

Para começar, os dois clubes devem sua origem as ferrovias. Dalmacio Vélez Sarsfield foi um proeminente jurista argentino do século XIX (hoje jaz no ilustre cemitério da Recoleta, a abrigar suntuosos túmulos do grosso das figuras mais famosas da história argentina, embora os brasileiros costumem visita-lo apenas para conferir o discreto jazigo da família de Eva Perón), sendo homenageado com o nome de uma estação do Ferrocarril Oeste. A ferrovia em si originaria o tradicional rival fortinero, o Ferro Carril Oeste (as grafias são diferentes mesmo), enquanto a estação – como reduto dos fundadores velezanos – acabou por sua vez homenageada por estes no nome da agremiação que desde os anos 40 se enraizou no bairro portenho de Liniers.

O Talleres, por sua vez, deve seu nome (que significa “Oficinas” em castelhano, e não “Talheres” – o cognato real mais próximo ao português seria “Ateliês”) ao departamento em que seus fundadores trabalhavam no Ferrocarril Central-Córdoba, ferrovia que germinaria outros clubes proeminentes pelo país: na própria Córdoba, o Instituto (cujo nome completo é Instituto Atlético Central Córdoba) foi outro oriundo dali, enquanto as cidades de Rosario e Santiago del Estero veriam na elite argentina clubes chamados Central Córdoba.

Na maior parte do tempo, a dupla de oponentes esteve bem afastada. O Vélez foi um dos 18 fundadores da liga profissional argentina, em 1931 – e ela, apesar do nome, manteve uma política datada desde os primórdios do campeonato argentino em restringir-se praticamente a times da Grande Buenos Aires e La Plata; a própria dupla rosarina Newell’s e Rosario Central só veio a ser admitida em 1939 e a dupla santafesina Colón e Unión, filiada nos anos 40, precisou começar na segunda divisão. O Talleres ficou restrito à liga municipal cordobesa, que só veio a ganhar relevo com o advento do Torneio Nacional. Ele, entre 1967 e 1985, agrupou os melhores times do interior com os clubes da elite “argentina”, renomeada naquele período de Torneio Metropolitano.

Até os anos 90, o Vélez era um clube marcado por espasmos de brigas pelo título, e pôde ser grato ao Nacional: a edição de 1968 rendeu o primeiro título argentino do Fortín, e único por um bom tempo, enquanto a de 1985 rendeu um dos cinco vice-campeonatos que o clube de Liniers teve entre 1931 e aquela conquista do Clausura 1993 (1953, 1971, 1979 e 1992 foram os outros). La T jamais venceu a elite argentina, mas brilhou tanto no Nacional nos anos 70 (sempre avançou da fase de grupos entre 1974 e 1979, sendo até vice em 1977 enquanto era hexa cordobês no mesmo período) que: foi o segundo clube mais presente na seleção vencedora da Copa do Mundo de 1978; seria admitida no próprio Torneio Metropolitano a partir de 1980; e houve quem visse o time na época como “o sexto grande da Argentina”, posto tão requisitado por La V Azulada desde os anos 90. Sobretudo no interior argentino, a torcida tallarin até hoje é bem mais numerosa que a velezana.

Integrante da seleção sub-21 em 2001, Urbano foi carrasco do Vélez na Copa Mercosul daquele ano: único antecedente internacional do duelo

Ironicamente, deixar a liga cordobesa para se sobrecarregar em compromissos em Buenos Aires pareceu cansar o representante cordobês do bairro Jardín, gradualmente convertido em um time de meio de tabela conforme a geração setentista envelhecia e se desmanchava. Um primeiro rebaixamento veio em 1993 e, embora o Talleres voltasse imediatamente em 1994 (treinado por um ícone velezano, de quem logo falaremos) como dono da segunda vaga de uma segundona vencida pelo Gimnasia de Jujuy, o time logo caiu de novo em 1995 – além de amargar até 1996 um incrível jejum de quinze anos sem derrotar seu principal rival municipal, o Belgrano.

Em paralelo à rotina tallarin de ioiô, era a vez do Vélez engatar sua fase mais brilhante, com taças anuais até 1998: em 1994, enquanto o Talleres se contentava em ganhar a segunda vaga de acesso em pleno dérbi com o Instituto, o Fortín ganhava a Libertadores e o Mundial. Se 1994 foi festivo aos dois, em 1995 viu La T cair ao fim da temporada 1994-95 enquanto La V erguia o Apertura. Em 1996, o Fortín venceu o Clausura e a Supercopa; já os cordobeses até sorriram com o Clausura da segunda divisão, mas a liderança do turno não bastou para o acesso direto e ao fim a subida não se concretizou. Eles também não subiram ao fim da temporada 1996-97, enquanto o bairro de Liniers faturava a Recopa Sul-Americana.

Assim, pode-se dizer que a temporada 1997-98 foi apenas a segunda em que a dupla realmente riu junta: sob Marcelo Bielsa, o Vélez faturou o Clausura (seu último troféu noventista, catapultando El Loco à seleção) enquanto o Talleres simplesmente ganhou a segunda divisão em pleno Clásico Cordobés com o Belgrano – aperitivo para a conquista tallarin na edição final da Copa Conmebol, em 1999. Enquanto em Liniers se vivia uma entressafra só encerrada em 2005, o bairro Jardín não deixava a peteca cair: ainda brigou seriamente pelo título argentino no Apertura da temporada 2000-01. A taça não veio, mas rendeu uma inédita vaga na Libertadores, na edição 2002, e, antes, uma participação na edição final da Copa Mercosul, em 2001. Boa parte das alegrias de La T entre 1996 e 2001, inclusive, vieram sob outro treinador de história em La V.

A Mercosul 2001, justamente, serviu de único antecedente continental do duelo de hoje. Somente líderes tinham vaga assegurada nos mata-matas e os cordobeses conseguiram o feito em um grupo que tinha ainda Peñarol e São Paulo. Nos duelos caseiros, um inapelável 4-1 em pleno bairro de Liniers viu Pablo Cuba colocar em 2 de agosto os visitantes na frente logo no primeiro minuto. Patricio Camps arrancou rapidamente o empate cinco minutos depois, de pênalti. Mas logo aos 11 veio o desempate – curiosamente, com outro zagueiro a ter Talleres e Grêmio no currículo, Julián Maidana. A goleada terminou de se desenhar no segundo tempo, em dois gols de Matías Urbano (então promessa da seleção sub-20), aos 21 e aos 45.

Os atentados de 11 de setembro não foram óbice para o velho Chateau Carreras (atual estádio Mario Kempes) receber naquela mesma data a revanche, um 2-2 que soou melhor aos donos da casa: Federico Domínguez e Leandro Gracián abriram um 2-0 aos fortineros, aos 26 e aos 36 minutos de jogo. No segundo tempo, Pablo Cuba descontou aos 20 e José Albornoz buscou a igualdade já aos 44. Em estado de graça, a equipe do técnico Ricardo Gareca – falaremos muito dele – ainda impôs um 3-1 em pleno Centenário sobre o Peñarol e foi a única sobrevivente do Grupo 4, embora não terminasse párea para o Grêmio nas quartas-de-final.

Willington no Vélez campeão de 1968 e veterano na volta ao Talleres: talvez o maior ídolo tallarin 

O enfoque naquela Mercosul e na estreia na Libertadores dali a um semestre fez La T se desleixar na liga argentina, recuperando-se tarde demais: embora lutasse pelo título do Clausura 2004 e fizesse campanha de classificação para nova Sul-Americana, o clube terminou novamente rebaixado (perdendo por consequência a vaga continental). E dessa vez demorou bem mais para voltar, chegando a descer à terceira divisão. Ganhou-a em 2013, ano do último título argentino do Vélez, o clube da vez treinado por Gareca. Já a volta à elite demoraria até 2016.

Além dessas alegrias em 1994, 1998 e 2013, os dois times tiveram muita gente em comum. Listamos abaixo quem soube ter estrela em ao menos um dos dois lados:

Benito Albarracín: brilhou no fim da era amadora da liga cordobesa como dono de uma respeitável média de gols para um meia-direita (31 em 43 jogos), incluindo no primeiro jogo competitivo realizado em La Boutique, empatando antes da virada por 3-2 sobre o Instituto em 1931. Tradicional rival velezano, o Ferro Carril Oeste lhe trouxe em 1932 para o campeonato argentino, iniciando curiosa trajetória de Albarracín como vira-casaca – descontente com seu desempenho, o FCO o emprestou de volta à liga cordobesa em 1934, quando o atacante defendeu o Belgrano. Encerrou seu contrato com os verdolagas ao fim de 1936, registrando 15 golzinhos em 57 jogos. Em 1937, apareceu em três partidas a serviço do Vélez na primeira divisão antes de seguir carreira na segundona com o Estudiantes de Buenos Aires (1937-39) e All Boys (1940).

Daniel Willington: embora nascido em Santa Fe, criou-se em Córdoba justamente porque seu pai, Atilio, fora contratado para jogar no Talleres. Daniel conseguiu chegar com apenas 14 anos à equipe B do clube, em 1957, embora ainda esperasse até 1960 para aparecer na principal – anotando então uma tripleta em sua estreia, contra o Lavalle pela liga cordobesa, logo vencida naquele ano. O jovem rapidamente despertou atenção de times portenhos, embora ainda seguisse em La T até o fim de 1961. Foi negociado diretamente com o Vélez, onde teve uma estreia para esquecer: expulso por reclamar a anulação de um gol. Mas em 1996 o Diccionario Velezano já ressalvava que apenas Carlos Bianchi, em opinião de muitos, conseguia supera-lo em idolatria no Vélez, e que mesmo naquele 1962 ele já conseguia estrear pela seleção – ali, com direito a gol, embora já depois da Copa do Mundo.

Bisneto de um inglês, embora a mestiçagem já lhe desse feições mais indígenas, Willington permaneceu em Liniers até 1970. Era daqueles meias talentosos para o drible, armação, assistências e cadência por um lado – e, por outro, volta e meia criticados por irregularidades, rebeldia, lentidão, apatia, excessiva frieza e pouco esmero com a carreira profissional. Se de fato não se firmou na seleção, viraria o maestro do primeiro título argentino do Fortín, em 1968, superando inclusive uma “geladeira” promovida pelo treinador Manuel Giúdice em meados daquele ano. Também até 1970, teve esparsos jogos pela Argentina: foram onze, o último em outubro daquele ano, contra o Paraguai.

Buscou um pé de meia mexicano com o Veracruz em 1971 e em 1972 esteve no Huracán. Em 1973, voltou ao Talleres e à liga cordobesa; o representante da cidade no Nacional foi o estreante Instituto de três futuros campeões da Copa de 1978 ainda anônimos (o artilheiro Mario Kempes, Osvaldo Ardiles e Miguel Ángel Oviedo), o que fez de Willington ser na época a figura mais chamativa dos alvirrubros, que tiveram seu empréstimo naquela ocasião especial. Nada comparado à idolatria reforçada com La T nas campanhas de 1974, 1975 e 1976, ainda que mais regularmente como arma de segundo tempo nos Nacionais – enquanto as ligas cordobesas eram seguidamente enfileiradas, em meio ao hexa de 1974-79.

Outras imagens de Willington: carregado com Carlos Bianchi no Vélez campeão em 1993 e pela torcida do Talleres como técnico no acesso à elite em 1994

Ironicamente, Willington não chegou a participar da trajetória vice-campeã argentina em 1977, mas seu papel ainda ativo na liga cordobesa o incluiu na seleção municipal que perdeu honrosamente de 3-1 para a própria Argentina em amistoso pré-Copa já em 16 de maio de 1978 – vitrine para ele voltar rapidamente ao Vélez para três partidas no Torneio Nacional. Totalizou 212 partidas e 65 gols como pela equipe de Liniers, a qual voltou como técnico na temporada 1987-88 (6º lugar). Também treinou o Talleres, na temporada que recolocou o bairro Jardín imediatamente na primeira divisão, em 1993-94, após o rebaixamento um ano antes.

Não são poucos os que o consideram o maior ídolo tallarin e um dado corrobora isso: se o estádio municipal homenageia um ídolo de todos feito Mario Kempes, as arquibancadas têm o nome de um representante de cada dos quatro grandes locais – a cota do Instituto, com Kempes de hors concours, ficou com Ardiles, por sinal aniversariante de hoje; a do Belgrano é de seu maior artilheiro na primeira divisão (Luifa Artime, filho de um ex-Palmeiras e Fluminense); a tribuna alusiva ao Racing de Córdoba é chamada de Roberto Gasparini (maestro do elenco vice argentino de 1980); e é Willington quem é relembrado nos lugares atrelados ao Talleres. Também deu nome a um troféu amistoso que os dois oponentes de hoje travaram em 2011.

Miguel Ángel Patire: no Talleres, esse atacante ficou recordado em especial em duas estatísticas; dois gols dele saíram em um 3-2 sobre o San Lorenzo no Torneio Nacional de 1970. Os azulgranas vinham de uma vitoriosa excursão à Europa e ainda conservavam a equipe-base apelidada de Los Matadores por ter sido o primeiro time campeão invicto na liga profissional, em 1968. Mas, naquele dia, “El Matador foi o Talleres”, nas manchetes cordobesas, gerando assim outro apelido além de La T à equipe do bairro Jardín. Patire acabou emprestado ao Vélez em 1971, mas só jogou duas vezes na campanha quase campeã do Metropolitano e outras quatro no Nacional. Logo voltou ao ex-clube e foi dele o primeiro gol de um Clásico Cordobés válido pelo campeonato argentino, no 1-1 com o Belgrano pelo celebrado Nacional de 1974.

Juan Cabrera: formado no futebol da província de Salta, onde defendeu os rivais Juventud Antoniana e Gimnasia y Tiro, precisou daquele Talleres dourado para alçar fama – serviu o clube nos Nacionais 1976, 1977 e 1978, vitrine para cavar transferência ao Bordaux. Foi repatriado inicialmente pelo San Lorenzo em 1980, mas já estava no Vélez em 1981. Esse volante registrou 81 partidas e dois golzinhos como velezano antes de voltar a Córdoba; inicialmente, no Talleres em 1984 e depois pelo Racing local na temporada 1985-86.

Héctor Ártico: zagueiro formado no futebol de sua cidade natal de Colonia Caroya, foi modelado no Talleres, embora chegasse a ser emprestado ao próprio rival Belgrano para a disputa do Nacional 1971. A grande campanha tallarin de 1974 fez-o seguir ao River, acompanhando o técnico daquele elenco alviazul, a velha lenda millonaria Ángel Labruna. Participou ativamente dos títulos que encerraram o pior jejum riverplatense (dezoito anos) já naquele 1975. Campeão argentino também em 1977, Ártico reforçou o Vélez em 1978 para ter certo destaque naquele contexto do clube: 44 gols e chamativos seis gols. Em 1979, já estava no Estudiantes e ainda teria um regresso ao Talleres em 1982. Novamente treinado por Labruna, o time foi semifinalista nacional.

Cuciuffo venceu a Copa do Mundo de 1986 como velezano

Ángel Bocanelli: ponta-direita rápido, incisivo e perigoso revelado pelo ignoto Falucho da cidade cordobesa de Jesús María, seu trampolim ao Talleres, onde ganhou vitrine nacional entre 1975 e 1980 – embora logo convivesse com a impressão de alguém pouco profissional. Com cinco gols em nove jogos pelas seleções juvenis, chegou a registrar duas partidas oficiais pela adulta já em 1975. Após rápida estadia mexicana pelo León, teve um passo sem muita glória no Vélez em 1982: doze jogos e nem um golzinho, embora voltasse ao Talleres em 1983. Ali, foram 161 jogos, 37 gols e muito mais assistências.

José Luis Cuciuffo: principal revelação do nanico Huracán de Córdoba, o zagueiro foi logo contratado pelo Talleres, embora inicialmente precisasse ser emprestado ao Chaco For Ever (em 1980) para jogar continuamente. Embora assumido torcedor do rival Belgrano (a ponto de fazer questão de pendurar as chuteiras como belgranense, na temporada 1993-94), foi um dos raros destaques da pobre campanha tallarin de 1981, a ponto de terminar vendido ao Vélez após ter brigado contra o rebaixamento. Acabou chegando à seleção e virou o único a vencer uma Copa do Mundo como jogador velezano, gabaritado pelo vice-campeonato argentino em 1985. De Liniers saltou para o Boca na temporada 1986-87. El Cuchu foi o primeiro vencedor de Copa do Mundo pela Argentina a falecer, em um tolo acidente com arma em 2004. Já lhe dedicamos este outro Especial.

Alfio Basile e Pedro Marchetta: dois por um, pois têm trajetórias muito ligadas na dupla. Antigos colegas no plantel no Racing (de Avellaneda) nos anos 60, retomaram a parceria em comissões técnicas na virada dos anos 70 para os 80. Coco Basile era o técnico e El Negro Marchetta, seu assistente no Instituto em 1979 e 1981 e no rival Racing de Córdoba vice em 1980. Marchetta começou carreira solo em 1983, ano em que Basile treinou sem muito êxito um Talleres de metade de tabela (cinco vitórias, seis derrotas e oito empates). Ele se relançou no Vélez vice-campeão argentino em 1985, em julho, e ao fim do ano voltou ao Racing para desatolar a equipe de Avellaneda da segunda divisão – arranjando para que o amigo Marchetta, já campeão daquela mesma segundona com o Rosario Central, o substituísse no Vélez.

Marchetta não manteve os mesmos resultados de Basile em Liniers e assumiu o Talleres na temporada 1986-87, mas só permaneceu na primeira metade: sem escalas, foi contratado pelo rival Belgrano após o vizinho surpreendê-lo ao aceitar sua alta proposta financeira para tira-lo da segunda divisão. Basile, por sua vez, voltaria ao Vélez na temporada 1989-90, ficando a quatro pontos do segundo lugar. Isso e seu papel prévio em bons momentos do Racing (bronze na temporada 1987-88, campeão da Supercopa 1988 e líder do primeiro turno da temporada 1988-89) o gabaritaram para assumir a seleção argentina após a Copa de 1990.

Osvaldo Coloccini: pai de Fabricio, também era zagueiro. Ficou mais associado a rivais da dupla – projetou-se nacionalmente no Racing de Córdoba vice-campeão argentino em 1980 e seria um dos ícones do carismático elenco apelidado de Camboyanos que o San Lorenzo teve na campanha semifinalista da Libertadores em 1988. Mas teve estatísticas dignas de nota nos vizinhos: saiu do Racing cordobês para integrar o Vélez vice-campeão argentino de 1985. Permaneceu ainda a temporada 1985-86 em Liniers, cavando transferência ao lucrativo narcofútbol colombiano. Voltou ao Fortín na temporada 1989-90, em que o clube ficou a quatro pontos do segundo lugar. No Talleres, foi um reforço do hierarquia para a temporada 1991-92, na qual um time recém-lanterna no Clausura 1991 chegou a brigar pela liderança no início do Apertura (curiosamente, terminaria a quatro pontos do vice também).

Gareca: ex-jogador do Vélez, lançou-se como técnico no Talleres que subiu em 1998 para então consagrar-se de verdade como velezano já na nova carreira

Eduardo Luján Manera: seu nome ficou muito mais associado ao Estudiantes, seja como jogador do elenco tricampeão da Libertadores nos anos 60, seja como técnico campeão argentino em 1983 (último título dos platenses na elite até 2006) ou ainda como treinador que tirou os alvirrubros da segundona em 1995, por sinal com alguns reservas velezanos emprestados. Mas soube trabalhar bem nos dois clubes nos torneios de 1991-92: era ele o técnico do Talleres naquele exitoso Apertura 1991. A campanha levou-o ao Vélez, seu time do coração, onde brigou até a rodada final pelo título no Clausura 1992 – polindo a equipe-base que faria história com seu sucessor, Carlos Bianchi.

Norberto Ortega Sánchez: com passagens prévias e relevantes pelos gigantes San Lorenzo (onde fora outro ícone dos Camboyanos) e Racing, esse volante armador formado no Tigre atuou no Vélez na temporada 1991-92, registrando três gols em trinta partidas e o vice-campeonato no Clausura. No resto do ano, esteve na Colômbia a serviço do Millonarios e em 1993 foi um dos medalhões que não puderam evitar o primeiro rebaixamento do Talleres, no Clausura. Logo se refez no Argentinos Jrs da temporada 1993-94 e, sobretudo, em uma consagradora volta ao San Lorenzo que em 1995 encerrou 21 anos de jejum.

Ricardo Gareca: raríssimo atacante que serviu a seleção vindo da dupla Boca e River e três vezes finalista da Libertadores com o América de Cali, El Tigre deu-se ao gosto de no fim da carreira defender seu Vélez do coração, entre 1990 e 1992. Para o contexto de jejum, o time teve resultados satisfatórios: 3º lugar no Apertura 1990, em 1991 ficou a dois pontos do pódio no Clausura 1991, foi finalista da liguilla e ficou a um ponto do pódio no Apertura – para em 1992 ser vice do Clausura, ser novamente finalista da liguilla e classificar-se à Copa Conmebol. Ascensão ofuscada pelo sucesso incomparável que chegou justo quando Gareca saiu, em 1993, para o Independiente. Penduraria as chuteiras no Rojo e seria como um jovem técnico, já em 1996,que iniciou sua relação com o Talleres.

Gareca é quem mais consegue rivalizar com Willington como grande ídolo em comum. Sob ele, La T encerrou ainda em 1996 nada menos que quinze anos sem vencer o Clásico Cordobés. Após breve retorno ao Independiente em 1997, voltou ao bairro Jardín para a marcante temporada 1997-98, com o título da segunda divisão vindo em outro dérbi histórico para cima do Belgrano. E em 1999 foi a vez de levar os alviazuis ao título da Copa Conmebol, a taça mais proeminente de algum clube de Córdoba até hoje. Saiu em 2000 e ainda teria mais duas outras passagens: treinou a equipe que soube ir aos mata-matas da Copa Mercosul 2001 e teve um esquecido retorno em 2007 mais recordado por promover um jovem Javier Pastore ao futebol adulto.

Ao Gareca jogador, já dedicamos este Especial. No “seu” Vélez, foi a nova carreira que o imortalizou: chegou em 2009 e foi imediatamente campeão do Clausura, em ares de vingança pessoal por quem, como torcedor, sofrera contra o Huracán pelo vice em 1971. Virou o principal técnico pós-Bianchi em Liniers, com novos títulos argentinos em 2011, 2012 e 2013, além de um vice em 2010 e da campanha semifinalista da Libertadores em 2011.

Único sem camisa do Milan na festa mundial do Vélez em 1994, Sotomayor é o único campeão internacional na dupla: venceu a Copa Conmebol 1999

Víctor Hugo Sotomayor: formado no Racing de Córdoba, saiu do bairro de cordobês de Nueva Italia no momento certo, após a última temporada em que o clube soube permanecer na elite argentina (1988-89, seu terceiro ano por lá). Sua qualidade naquela tormenta, sobretudo no jogo aéreo e na força que compensava uma relativa lentidão, lhe permitiu transferir-se a um Verona ainda relevante no auge da Serie A. Já tinha também experiência na Suíça quando chegou em 1992 ao Vélez. Foi um dos pilares defensivos do timaço campeão de tudo entre 1993 e 1994 para então ver lesões frequentes minarem sua frequência nos títulos da temporada 1995-96: somou só três jogos entre Apertura e Clausura.

Mas ainda em 1996 ele soube retomar a titularidade na conquista da Supercopa, no segundo semestre – e conseguir seu único teste na seleção em dezembro daquele ano. Com lugar garantido também nos troféus de 1997 e 1998, Sotomayor chegou já em 1999 ao bairro Jardín e de cara faturou a Copa Conmebol. Permaneceu em La T até 2002, com novas campanhas marcantes: a luta até a rodada final pelo título no Apertura 2000, a trajetória aos mata-matas da Copa Mercosul 2001 e a estreia tallarin na Libertadores, naquele 2002, quando pendurou as chuteiras. Terminou eleito para os reservas do Talleres dos sonhos pelo perfil CulturAlbiazul, como opção imediata a um jogador vencedor da Copa do Mundo de 1978, Miguel Ángel Oviedo.

Santiago Silva: sempre lembrado no Brasil como um bonde corintiano no bom 2002 do Timão, rodou o uruguaio rodou o futebol argentino a partir de 2005. Chegou ao Vélez em 2007, mas foi preciso brilhar emprestado ao Banfield campeão pela única vez, em 2009 (ofuscando um jovem James Rodríguez, então sua dupla de ataque) para ser levado a sério. Logo requisitado de volta, consolidou-se em um trio com Maxi Moralez e Juan Manuel Martínez nas boas campanhas velezanas entre 2010 e 2011, ainda que também seja lembrado pelo pênalti perdido na semifinal da Libertadores 2011. Dali cavou uma transferência efêmera à Fiorentina e então novos clubes argentinos, notadamente o Boca vice da Libertadores 2012 e no Lanús campeão da Copa Sul-Americana 2013. O carequinha chegou já veterano ao Talleres, deixando razoáveis quatro golzinhos em 13 jogos em 2018.

Ezequiel Rescaldani: vale mais pelo currículo do que por real importância histórica. Curiosamente, passou pelos juvenis de Instituto e Belgrano antes de passar às categorias de base do Vélez, que o profissionalizou em 2010. Rescaldani integrou o elenco campeão em 2011 e e 2012, embora sempre saindo do banco – e pouco (dois jogos em 2011 e seis em 2012, praticamente sempre nos vinte minutos finais). Mas pôde cavar uma transferência ao Málaga e ser campeão da Libertadores com o Atlético Nacional, em 2016. Foi emprestado pelos colombianos que esse atacante apareceu rapidamente no Talleres, com dois míseros gols em 2017.

Alexander Medina: se no Internacional o Cacique saiu há pouco como piada de mal gosto, na Argentina seu renome segue intacto. Chegou ao Talleres em 2019 para substituir Juan Pablo Vojvoda e classificou La T à Copa Sul-Americana em sua primeira temporada para então levar os cordobeses ao pódio da liga e à final da copa na segunda – o que o gabaritou para chegar ao Beira-Rio nese 2022. Nem a decepção rotunda como colorado impediu que o Vélez apostasse nele para os mata-matas da Libertadores. O uruguaio, ao menos, já conseguiu uma surpreendente e segura classificação sobre o River nas oitavas.

Vilões no Brasil, os uruguaios Silva e Medina fizeram nome na Argentina em pelo menos um lado entre Vélez e Talleres

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

dois + 20 =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.