Elementos em comum entre Santos e Estudiantes

Porte médio na maior parte da existência até um auge nos anos 60 marcados por inéditos sucessos internacionais, seguido por algum sucesso no início dos anos 80 antes de um marasmo só resolvido a partir do novo século. Santos e Estudiantes, que duelam nessa terça, têm uma boa dose de semelhanças, a incluir também vizinhos a suportar uma rivalidade descomunalmente desparelha em troféus, embora razoavelmente equilibrada até o início dos anos 60 (a Portuguesa Santista e o Gimnasia LP). 

Mais precisamente, a dupla foi campeã por torneios referentes aos anos de 1967 (Argentino; Estadual), 1968 (Libertadores e Mundial; Estadual, Brasileiro e Recopa dos Campeões Mundiais), 1969 (Libertadores; Estadual), 2006 (Argentino; Estadual) e 2010 (idem), tendo como adversários em comum Peñarol e Milan em decisões internacionais. Os pincharratas, após a sequência de títulos na Libertadores, viriam a emendar em 1983 um bicampeonato nacional, enquanto os praianos faturam um estadual em 1984. A partir dali, a dupla sofreu.

Os alvinegros até levantaram o Rio-São Paulo em 1997 e a Copa Conmebol em 1998, mas só sentiu-se bem resolvido quando reconquistou em 2002 o Brasil. Os alvirrubros sofreram mais, com rebaixamento incluso em 1994 até protagonizarem a maior reviravolta do campeonato argentino com o título do Apertura 2006, com direito à liderança de alguns remanescentes daquele rebaixamento (José Luis Calderón e, claro, Juan Sebastián Verón). Em três anos, lhes viriam a Libertadores, faturada dois anos mais tarde pelos santistas. Ambos terminaram sucumbindo ao Barcelona no Mundial.

Juan José Eufemio Negri

A dupla tem um cartel de glórias tal que angariaram uma boa quantidade de torcida nas capitais próximas. Mas fora além isso, compartilharam só um jogador, sobre quem já escrevemos há dois meses: o meia-direita Juan José Eufemio Negri, revelado em 1938 pela equipe de La Plata. Foi um dos pilares das melhores campanhas de um time longe do porte que viria a adquirir, alguns terceiros lugares no campeonato argentino ao longo dos anos 40 e dois títulos em prestigiadas copas nacionais da época: a Adrián Escobar, em 1943, e a da República, em 1944.

Nesse embalo, El Pichón Negri fez em 1943 seu único jogo pela seleção argentina. Ao fim da década, chegou inclusive a jogar pela dupla Boca e River.

Já em declínio, Negri foi importado pelo futebol paulista, inicialmente pelo Juventus mesmo. Da Mooca foi ao São Paulo. E teve algum êxito, com direito a marcar em janeiro de 1954 um dos gols do título do estadual ainda válido por 1953 – por sinal, justamente em duelo contra o Santos, a quem seria repassado no decorrer do novo ano.

O argentino não ficou tão lembrado na história santista, com só quatro gols em dezessete partidas pelo Peixe. Mas, tal como no tricolor, pôde saborear novo título estadual. Foi o segundo do clube, o primeiro em mais de vinte anos e o último antes da Era Pelé. Mídias argentinas inclusive juram que o Rei teria declarado algum aprendizado com Negri

Negri deixou a Baixada de forma conturbada, somando só três partidas em 1956, rumo ao futebol chileno. Onde não deixou de ser centro de polêmica: problemas com a sua inscrição fizeram com que o San Luis de Quillota, terceiro colocado em campo, terminasse rebaixado após perder treze pontos nos tribunais. El Pichón voltou à velha casa, pendurando as chuteiras em 1958 pelo Estudiantes.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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