O sorteio das oitavas-de-final Libertadores permitirá reviver um duelo que nos anos 90 teve ares de clássico, inclusive a nível internacional. Foi “a” década áurea do Vélez e uma das mais festeiras do River, concorrência que naturalmente germinou rixas entre as torcidas e boa histórias que merecem ser relembradas.
Para começar, as camisas, das mais icônicas do futebol e adotadas quase simultaneamente. La Banda Roja do River data dos anos 1900, mas foi deixada de lado após o clube estrear em 1909 na primeira divisão. Foi trocada por uma camisa tricolor em listras horizontais, com faixas grossas em vermelho e branca separadas por finas listras pretas. Em 1932, o manto do antigo acesso foi retomado e a tricolor tornou-se um habitual uniforme reserva com rara identidade própria no futebol argentino. Já a camisa velezana principal até a aparição em 1933 de La V Azulada também era tricolor, lembrando a do Fluminense, com a ideia de realçar a larga presença de descendente de italianos no clube. Adotada em 1916, virou outra camisa reserva das mais tradicionais no país.
Mesmo antes dos anos 90, houveram episódios de luta direta por títulos. A primeira vez foi em 1953. De um lado, o Vélez não tinha títulos na primeira divisão – apenas o da segundona de 1943, superando um momento em que chegou a beirar a extinção. Cartola velezano de longa data, José Amalfitani assumiu a presidência para impor uma gestão austera em prol do quadro social. Preferia mensalidades pagas a uma melhor colocação no ranking de torcidas. Outro fortinero de velhos carnavais era o ex-volante Victorio Spinetto: ele seguia continuamente como técnico de La V Azulada quando, dez anos depois do acesso, o clube foi vice-campeão a quatro pontos do River. Seus doze anos seguidos treinando um mesmo clube na elite ainda são um recorde.
Spinetto era um treinador ciente dos limites de suas equipes e foi um pioneiro na arte de jogar pelo resultado, satisfeito com entrega e obediência tática quanto às jogadas ensaiadas, identidade que não se restringiria ao bairro de Liniers; um de seus jogadores, Osvaldo Zubeldía, a levaria com sucesso ao Estudiantes como treinador do time tricampeão da América nos anos 60, o qual por sua vez pariu Carlos Bilardo, depois o espertalhão técnico da Argentina nos anos 80 – década na qual Spinetto ainda trabalhava no Vélez, agora nos juvenis, polindo a mente de muitos dos campeões noventistas.
O River, por sua vez, tinha uma filosofia bem contrastante: a do “ganhar, degustar e golear”, além de um gigantismo traduzido na construção do autodenominado estádio Monumental – que leva o nome de Antonio Vespucio Liberti, justamente o presidente riverplatense que exaltara que “esse clube é como o teatro Colón, não é para qualquer um”. De outro lado, a gestão pé-no-chão de José Amalfitani propiciou uma estrutura clubística das mais invejáveis na Argentina, além da construção do estádio velezano no bairro de Liniers. A cancha foi inaugurada durante o acesso em 1943. E seria uma das duas sedes em Buenos Aires para a Copa do Mundo de 1978, ao lado do próprio Monumental. Ambas, curiosamente, foram erguidas em terrenos que eram baldios na ocasião, em verdadeiras apostas das diretorias.
Amalfitani, desde os anos 10 nos quadros sociais velezanos, falecera ainda em 1969 (desde 1972, a data de sua morte é celebrada, com justiça, como “o dia do dirigente esportivo” na Argentina), a tempo de presenciar a primeira conquista do clube na primeira divisão. Foi pelo Torneio Nacional de 1968, precisamente a segunda vez em que Vélez e River lutaram pelo título. Curiosamente, na rodada final a disputa direta se dava entre River e Racing: quem vencesse seria campeão. Mas empataram e terminaram igualados pelo Fortín, o que forçou um triangular, em turno único. O River começou vencendo o Racing por 2-0 e em seguida ficou no 1-1 com o Vélez, em duelo marcado pelo que seria o gol do título millonario ser impedido pela mão do lateral fortinero Luis Gallo.
A irregularidade não foi observada pela arbitragem, aumentando uma agonia ao Millo, em jejum desde 1957 – e que duraria até 1975, em longos dezoito anos. Na rodada final, o Vélez venceu por 4-2 o Racing. Não haveria jogo-extra com o River: o critério de desempate já seria o número de gols marcados, que favorecia La V Azulada. O troco viria em 1979, no Torneio Metropolitano. River e Vélez já haviam sido líder e vice-líder de seu grupo, em detrimento do Argentinos Jrs maradoniano. E se reencontraram na decisão, um atropelo impiedoso de 7-1 no agregado: 2-0 do Millo em Liniers, 5-1 em Núñez. Adiante, o River venceu também o Torneio Nacional, abrindo uma brecha para que o Vélez pudesse disputar a Libertadores de 1980. Houve um tira-teima de vices do River e o Fortín superou o Unión do goleiro Nery Pumpido, por sinal um dos homens que defenderiam a dupla.
A Libertadores de 1980 foi justamente a primeira do Vélez: ainda vivo, Amalfitani optara pela ausência do clube na edição de 1969, temendo uma participação financeiramente deficitária em um torneio que ainda engatinhava. Se até 1975 o problema no Monumental era o jejum de dezoito anos, a nova década trouxa nova aflição: os títulos domésticos, agora em série, não bastavam mais, diante dos contínuos êxitos do Boca fora das fronteiras (o rival conquistara em paralelo suas duas primeiras Libertadores, eliminando o River em ambas, e seu primeiro Mundial). Na edição de 1980, River e Vélez se saíram com dois 0-0 no duelo direto, mas lideraram o Grupo 1. E assim travaram um jogo-extra, encerrado em 1-1 ao fim de prorrogação, gols de Osvaldo Damiano e Ramón Díaz. Não houve disputa por pênaltis. Tal como em 1968, o Vélez tinha melhor saldo e avançou.
O contínuo insucesso millonario em La Copa acarretaria dali a um ano (onde o time voltou a cair na primeira fase) em questionamentos severos ao poderoso elenco setentista, logo desmanchado. Mesmo em crise, o River ainda faturou em 1981 o Torneio Nacional, em final que poderia ter sido contra o Vélez – eliminado nas semis pelo seu próprio rival de bairro, o Ferro Carril Oeste. Mas foi preciso aguardar até 1986 para novo título argentino em Núñez. Ele veio de forma arrasadora, quando ainda faltavam mais cinco rodadas. O jogo que garantiu um título tão antecipado foi precisamente contra o Vélez, um 3-0 com assinaturas de Héctor Enrique, Américo Gallego e Enzo Francescoli. Adiante, o River enfim venceu sua primeira Libertadores e seu primeiro Mundial.
Os anos 90 então viram River x Vélez ser um duelo frequente pelo título argentino. Um prólogo se deu no Apertura 1990, quando o torneio semestral ainda não era um título autônomo (a temporada 1990-91 ainda teria um único campeão, em final entre líderes de Apertura e Clausura caso fossem equipes diferentes). Na rodada final, graças à exibição primorosa onde o antigo ídolo riverplatense Ubaldo Fillol (agora velezano) pendurou as luvas com direito a pênalti defendido, um Vélez sem chances surpreendeu e venceu em pleno Monumental – permitindo volta olímpica do Newell’s de um iniciante Marcelo Bielsa.
Um primeiro ano que permitiu sorrisos comuns à dupla seria o de 1993. O Vélez venceu o Clausura, encerrando jejum de 25 anos (desde aquele Nacional de 1968). E o River garantiu o Apertura, encerrado na realidade já em março de 1994 – em um torneio dos mais embolados no qual o vice terminaria sendo o próprio Vélez. O Fortín logo tratou de focar na Libertadores, a ponto de ficar em antepenúltimo no Clausura 1994. O River, de ressaca, também não levou a sério esse torneio. A dupla retomou seriedade para o segundo semestre. O Vélez foi campeão mundial e o River, pela única vez, foi campeão argentino de modo invicto. Façanha garantida exatamente em um 1-1 na rodada final com os reservas velezanos, recebidos com um cavalheiro corredor de aplausos pela recente conquista mundial dos titulares em folga.
O Apertura da temporada 1993-94 garantiu o River na Libertadores 1995, e nela o Vélez, como campeão da edição 1994, entrou já na fase de mata-matas. E eles se toparam nas quartas-de-final. No Monumental, Gabriel Amato e Flavio Zandoná assinaram o 1-1. Em Liniers, foi 0-0 e o regulamento da época forçou pênaltis. E o próprio Zandoná seria o único a errar, acertando em 2 de julho o travessão na quarta cobrança velezana. Os cacos se juntaram no Fortín e o time venceu dali a uns meses o Apertura. O ícone José Luis Chilavert sentiu que já não havia o que oferecer ao Vélez e permitiu-se negociar com o Millo, com quem quase fechara em 1988 – quando o River acertou um troca-troca com o San Lorenzo, na época o clube do paraguaio.
Tanto em 1988 como no início de 1996, Chilavert apareceu em capas da revista El Gráfico como reforço riverplatense. Mas se em 1988 a recusa sanlorencista por um Sergio Goycochea sob boatos de portador da AIDS (sim!!) foi o que truncara o negócio, em 1996 (ano em que o River também passou a exibir patrocínio da cerveja Quilmes, que já estampava a camisa velezana desde 1995) houve um impasse financeiro final. Chila tratou de responder em campo. Em fevereiro, seu Vélez venceu a Copa Interamericana ainda válida por 1994 no esquecido tira-teima entre os vencedores da Libertadores e da Concacaf. E em março foi a vez de encarar o River logo pela 3ª rodada do Clausura, eternizada por um gol de falta que o goleirão acertou desde antes do meio-campo.
O River logo se desleixou naquele Clausura para focar na reconquista da Libertadores, em junho. O Vélez sorriu em agosto, garantindo aquele Clausura, no único bicampeonato argentino seguido do Fortín. E os festejos em 1996 foram renovados no fim do ano: com 100% de aproveitamento, o Vélez ganhou a Supercopa. Seus reservas, na penúltima rodada do Apertura, levaram de 3-0 para um River que ali garantiu de modo antecipado o Apertura. Um resultado enganosos, pois La V Azulada soube segurar o River na defesa e apenas nos 20 minutos finais é que a torneira abriu, manobrada por Salas: o chileno entrou aos 19 minutos do segundo tempo, no lugar de Francescoli, e aos 23 abriu o marcador – Santiago Solari roubou uma bola e repassou ao atacante, que tabelou com Sergio Berti e, ao receber de volta, driblou com categoria o goleiro Pablo Cavallero antes de concluir com sua canhota implacável.
Salas logo driblou novamente Cavallero antes de concluir por entre as pernas do volante Christian Bassedas nos 2-0. Roberto Monserrat, com um chute cruzado, fechou os 3-0 a dois minutos do fim. A conquista da Libertadores pelo River e da Supercopa pelo Vélez naquele 1996 rendeu então um duelo pela Recopa Sul-Americana, na época travada em jogo único e no Japão. A cidade de Kobe viu em março de 1997 um jogo marcado pelos pênaltis: no tempo normal, Chilavert converteu para cima de Germán Burgos. No fim do jogo, Francescoli converteu o do River. Na decisão, o paraguaio quase virou vilão, ao errar a primeira cobrança, mas logo se redimiu: salvou os tiros de Marcelo Gallardo e do desafeto Roberto Trotta, seu antigo concorrente nas bolas paradas do Vélez até 1996. Aquela Recopa ainda é o último título internacional em Liniers.
Em agosto, então, o encontro serviu novamente para assegurar o título argentino do River ainda na penúltima rodada, dessa vez no Clausura. Mesmo dentro de Liniers, Francescoli cabeceou com precisão um cruzamento milimétrico de Gallardo para abrir o placar e não se descontrolou quando Chilavert defendeu-lhe um pênalti aos 44 minutos: aos 20 do segundo tempo, recebeu outra vez de Gallardo, correu pela esquerda deixando Víctor Sotomayor para trás, entrou na área, livrou-se novamente de Sotomayor, perfilou-se e concluiu sem chances para Chila. Em tempos em que o amadorismo era totalmente ignorado, foi uma conquista especial em Núñez: o 26º troféu argentino, “dez a mais que o Boca”. O River ainda foi por mais em 1997: ganhou sua própria Supercopa, na edição final daquele torneio, e quatro dias depois deu volta olímpica no Apertura, concluindo o último tricampeonato seguido visto na liga argentina.
A rivalidade não se resumia à disputa por títulos, ecoando na seleção. Daniel Passarella, então técnico, não tinha pudor em enche-la de jogadores ou ex-jogadores millonarios, rendendo o mote de “Riverção”. Ele até dava chances esporádicas a velezanos para logo os descartar. Talismã das conquistas internacionais fortineras em 1994, Omar Asad declararia em 2010 à revista El Gráfico que acreditava ter sido convocado propositalmente quando já não vivia seu melhor momento. Apenas o reserva de Chilavert, Cavallero, iria à França; a teoria da conspiração ganharia contornos fortes quando Passarella deixou de fora do Mundial da França o volante Bassedas (à direita na colagem de imagens acima), presente em todo o ciclo do treinador. Especialmente porque o campeão argentino naquele primeiro semestre de 1998 foi o Vélez – agora treinado por Bielsa, no Clausura que encerrou o ciclo noventista.
Ainda haveria epílogos para a rivalidade. Como campeões da temporada 1997-98, River e Vélez se classificaram à Libertadores 1999, a última em que representantes de um mesmo país dividiam o mesmo grupo. Avançaram juntos, mesmo se dando ao luxo de empatarem em 1-1 nos dois confrontos: Raúl Cardozo e Javier Saviola marcaram em Liniers, Juan Antonio Pizzi e Guillermo Morigi em Núñez. Adiante, se reencontraram nas quartas-de-final. Juan Pablo Sorín e Saviola construíram um seguro 2-0 em casa, que o gol solitário de Bassedas na revanche mostrou-se insuficiente. Naquele 1999, os dois clubes ainda chegaram a concorrer pelo Apertura, embora nas rodadas decisivas o campeão River viesse a concorrer com Rosario Central, Boca e San Lorenzo. O estádio José Amalfitani ainda seria palco do jogo que garantiu o Clausura 2000 para o River, quando foi alugado pelo Ferro Carril Oeste.
O outro duelo internacional se deu pela Copa Mercosul de 2000, na fase de grupos. O jogo no Monumental ficou marcado pela espinha Chilavert ser desentalada na garganta millonaria: é que o paraguaio marcou de pênalti, empatando momentaneamente o placar aberto por Leonel Gancedo. Logo houve pênalti para os donos da casa e o goleiro Roberto Bonano, a pedidos da torcida, ofereceu o troco, convertendo o gol da vitória – o primeiro de um goleiro na história profissional do River. Em Liniers, novamente Chilavert deixou seu gol, mas o de Eduardo Coudet evitou a derrota. O Vélez cairia na primeira fase e o River pôde avançar até as semifinais.
Desde então, em somente dois anos River e Vélez sorriram juntos, o que denota a decadência aos dois lados. Em 2012, La Banda Roja venceu a segunda divisão (fora rebaixado precisamente em um Clausura vencido pelo Vélez, em 2011) e La V Azulada comemorou o Torneio Inicial da temporada 2012-13. Adiante, o Vélez venceu a superfinal contra o outro campeão semestral, o Newell’s, em jogo único que o regulamento da AFA previu como um título argentino autônomo – o último até hoje do clube, e que classificou-o para a Supercopa Argentina de 2014, contra o vencedor em 2013 da Copa Argentina. O Vélez então venceu o Arsenal no início de um ano em que o River reconquistou o país, como campeão do Torneio Final, e o continente, ao erguer a Sul-Americana.
Hora de listar quem de mais destacado passou pela dupla!
Ídolos em comum
Juan Gilberto Funes: quase um Lucas Pratto dos anos 80. Foi o talismã do River campeão pela primeira vez da Libertadores, reforçando a equipe já na fase semifinal para então marcar gols nas duas finais contra o América de Cali – ele já havia brilhado na Colômbia a serviço do Millonarios e o técnico Héctor Veira bancava esse fator psicológico. El Búfalo não precisava fazer mais nada, e os números frios contradizem a imagem que deixou no inconsciente millonario: foram só cinco gols em 29 jogos, embora até conseguisse testes na seleção já em 1987. Após passagem pela Grécia, soube ter números mais artilheiros no Vélez quinto colocado (e a quatro pontos do vice) da temporada 1989-90, doze gols em 25 partidas. Interessou ao Nice, mas os franceses detectaram a anomalia cardíaca que levaria Funes cedo demais, em 1992. Lhe dedicamos este Especial.
Marcelo Barovero: veio em 2008 do Huracán e dali a um ano comemorou o dramático Clausura 2009 sobre o próprio ex-clube, embora ainda na reserva para Germán Montoya. Em 2011, já era o titular em novo título no Clausura (garantido, curiosamente, em novo encontro com o Huracán) e na campanha semifinalista da Libertadores enquanto o River era rebaixado. O Millo logo voltou e, sem confiar plenamente no goleiro do acesso (Leandro Chichizola), foi atrás de El Trapito. Que não se arrependeu: Barovero foi um dos pilares do marcante despertar do clube, deixando-o para um pé de meia no México em 2016 após ser as seguras mãos que guardaram o primeiro título argentino (desde 2008, no Torneio Final de 2014), o primeiro internacional (desde 1997, na Sul-Americana 2014) e a primeira Libertadores (desde 1996, em 2015) que vieram após a queda – além da primeira Recopa millonaria, também em 2015.
Lucas Pratto: sem firmar-se no Boca em que se formara e no Genoa que detinha seu passe, tinha uma carreira pontuada por sucessivos empréstimos; o mais interessante era pela Universidad Católica (2010-11) até ele explodir de vez no Vélez: foi o goleador dos últimos títulos argentinos do Fortín, em 2012 e 2013. Pratto seguiu em Liniers até 2015, e embora o clube já decaísse o atacante cavou transferência ao Atlético Mineiro. O resto é a história conhecida dos brasileiros: o atacante destacou-se no Galo a ponto de enfim passar a receber oportunidades na seleção, sendo o primeiro atleticano e depois o primeiro são-paulino na Albiceleste adulta.
Sem render tanto assim pelo São Paulo, acertou em janeiro de 2018 com o River visando recolocar-se no radar por uma vaga na Copa do Mundo. Chegou como a contratação mais cara da história millonaria e inicialmente não rendeu o investimento pago, não sendo cogitado para a Rússia. Mas teve revanche no momento mais importante, participando ativamente dos três gols que igualaram o placar aberto e ampliado pelo Boca nos Superclásicos que decidiram a Libertadores – anotando o primeiro na Bombonera e o primeiro no Bernabéu, além de forçar o gol-contra que empatou na casa rival, permitindo-se sair comemorando como “autor moral” do lance. Não foi mais o mesmo depois, mas El Oso ganhou carinho eterno em Núñez e regressou em 2021 ao Vélez sem maiores polêmicas. Aplicará a lei do ex?
Em comum na seleção
Norberto Alonso: espécie de Zico do River, como um brilhante camisa 10 (inclusive, “roubou” uma das vagas de Maradona na seleção de 1978) nos anos 70 e 80 a reger os primeiros títulos do Millo na Libertadores e no Mundial, em 1986. Nem tudo foi mar de rosas: viveu diversas decepções nos anos finais do jejum de 18 anos, finalizado em 1975 muito graças a ele. Seu santo não bateu com o do técnico Di Stéfano na turbulenta conquista do Nacional de 1981 e a diretoria bancou o treinador, ainda que isso significasse demitir Beto Alonso a dois dias da final. Assim, ele se exilou no Vélez por duas temporadas. Foram 73 jogos e 16 gols. Se não virou ídolo histórico em Liniers, pôde como velezano voltar à seleção após cinco anos. Em 1984, então, ele foi “repatriado” pela antiga casa. Pendurou as chuteiras exatamente no jogo do título mundial, sem precisar oferecer mais nada, mas ainda foi técnico da metade inicial do título argentino de 1989-90. Já dedicamos este Especial ao Beto.
Oscar Ruggeri: já dedicamos esse outro Especial a El Cabezón. O zagueiro formou-se no Boca e viveu tanto o maradoniano Metropolitano de 1981 e ascensão precoce à seleção como a quase extinção do clube em 1984. Em meio à crise, Ruggeri forçou uma transferência ao River. Não tardou a ser protagonista na histórica tríplice coroa lograda em Núñez em 1986, ano em que ganhou também a Copa do Mundo com a seleção. Em 1988, ele transferiu-se ao futebol espanhol, com uma lesão tirando-lhe espaço do Real Madrid em 1990. Ruggeri dali seguiu carreira no Vélez. Como fortinero, foi o capitão da seleção argentina na ausência de Maradona, suspenso por cocaína e depois por opção técnica entre 1991 e 1993. Mas o estrelismo fez Ruggeri ser afastado em 1993 por Carlos Bianchi logo antes do vitorioso Clausura, acertando então com o San Lorenzo.
Nery Pumpido: já um goleiro de seleção desde os tempos de Unión, pelo qual fora vice para o próprio River no Nacional 1979, Pumpido foi contratado pelo Vélez no início de 1982. Mas não se juntou de imediato: embora fosse à Copa do Mundo como velezano, ocupou-se exclusivamente com a seleção junto com os demais convocados ao longo do primeiro semestre (a ideia de uma longa concentração havia funcionado em 1978 e foi reaproveitada). Fez somente em julho o primeiro de seus 78 jogos oficiais com o Fortín. Em uma década de seca em Liniers, participou de algumas das campanhas mais razoáveis do clube – um 5º lugar no Metropolitano 1982 e um 4º no de 1983. O River, em paralelo, fora vice-lanterna desse torneio, salvando-se pelo promedio. E contratou Pumpido imediatamente. Saltou para o vice no Nacional 1984 e, sobretudo, para a tríplice coroa de 1986, ano em que Pumpido também foi titular da seleção na Copa do Mundo. Com missão cumprida, se permitiu ir à Europa em 1987. Já lhe dedicamos este Especial.
Claudio Husaín: como Federico Domínguez, não saiu do banco no Clausura 1993 e em Tóquio, mas foi uma peça à disposição no banco para a retaguarda do time de Bianchi – no caso dele, como um combativo (por vezes excessivamente) volante central. Firmou-se em 1996, com direito a 100% de participação na conquista da Supercopa. Em 1997, El Turco Husaín já chegava à seleção, na equipe experimental testada por Daniel Passarella na Copa América. Firmou-se como um esteio no Vélez no ciclo pós-Bianchi, seguindo nas convocações da seleção e cavando em agosto de 2000 uma transferência ao River.
Sua passagem por Núñez chegou a ter ares de relâmpago: usado pela seleção em jogos de setembro e outubro pelas eliminatórias como jogador millonario, no mesmo outubro ele foi adquirido pelo Napoli. Mas nunca emplacou no calcio, tornando-se um dos mais pródigos filhos do River, mesmo que não virasse exatamente um ídolo histórico. Foi emprestado no primeiro semestre de 2002, participando de 12 jogos no vitorioso Clausura 2002 e cavando sua vaga na Copa do Mundo como um dos dois únicos chamados do futebol argentino (o outro foi Ortega, também do River). Voltou ao Napoli. E então o River lhe adquiriu em definitivo no início de 2003. Husaín ganhou naquele ano o Clausura com outros 12 jogos e também levantou, com 11 jogos, o Clausura 2004 – ali, com direito a lei do ex sobre o Vélez. Primeiro parcelo de Mascherano na meia-cancha.
Víctor Zapata: chegou do Argentinos Jrs ao River para a temporada 1999-2000. Reserva na conquista do Apertura (4 jogos), ganhou assiduidade na do Clausura (15). E só deixaria Núñez em 2007. Participante de todos os 19 jogos do vitorioso Clausura 2002, na conquista do Clausura 2003 ele até abriu o placar no jogo do título (contra o Olimpo) e cavou um empréstimo europeu, para o Real Valladolid. Na volta a Núñez, já não foi campeão, embora a campanha semifinalista da Libertadores em 2005 propiciasse um jogo pela seleção naquele ano. Chegou ao Vélez para a temporada 2007-08 para meia década em Liniers; titular nas conquistas dos Clausuras 2009 e 2011, Zapata conseguiu até uma segunda partida pela Albiceleste seis anos depois da estreia – na seleção obrigatoriamente caseira para o Superclássico das Américas. No desespero para não cair, o Independiente lhe contratou para a temporada fatal de 2012-13.
Em comum em títulos
Além de Barovero, Pratto, Husaín e Zapata, os seguintes nomes puderam levantar taças pela dupla:
Manuel Giúdice: formado em pequenos clubes cordobeses e polido no Huracán sempre candidato a títulos na virada dos anos 30 para os 40, era um volante batalhador e criterioso na distribuição de bola. Mesmo desfrutando de La Máquina, o River foi bi seguido do Boca em 1943 e 1944 e reagiu contratando El Colorado Giúdice. A coroa foi recuperada logo, com o título argentino de 1945, mas Giúdice não tardou a perder sua vaga para o juvenil Néstor Rossi – logo um dos nomes mais marcantes do Millo e da seleção. Como treinador, venceu as duas primeiras Libertadores do Independiente e do futebol argentino, no bi de 1964 e 1965, e assim credenciou-se para chegar ao Vélez. Foi com ele de técnico que o Fortín foi campeão argentino pela primeira vez, em 1968. Dedicamos e Giúdice este outro Especial.
Roberto Trotta: profissionalizado no fim de 1986 no Estudiantes, o temperamental defensor (ele detém o recorde de cartões vermelhos na primeira divisão argentina) rumou em 1991 ao Vélez. Na lateral-direita ou principalmente na zaga, Trotta era justamente o capitão e cobrador de faltas e pênaltis do clube (inclusive, ele também é um dos defensores com mais gols na liga argentina) até deixa-lo ao lado do mestre Bianchi rumo à Roma em 1996, deixando então livre de vez a bola parada para Chilavert. Abriu de pênalti o placar no Mundial de 1994, mas declarações posteriores minimizando a ex-equipe quando estava no River lhe queimaram para sempre com alguns fortineros.
Sem emplacar na Itália, chegou a Núñez emprestado logo no início de 1997. E participou de 11 jogos na campanha campeã do Clausura 1997; chutou um pênalti ridículo na Recopa contra o ex-clube, mas recuperou-se em alto estilo – com uma meia-bicicleta no minuto final em duelo de líderes com o Newell’s na antepenúltima rodada. Seu empréstimo foi rodado a outros clubes até ele voltar para a temporada 1999-2000, com 13 jogos no Apertura 1999 e 17 no Clausura 2000. O River ganhou os dois torneios e Trotta se deu ao gostinho de converter de cavadinha um pênalti sobre o desafeto Chilavert.
Marcelo Gómez: promovido ainda em 1991 pelo Vélez, firmou-se como volante central após a venda de Mancuso ao Boca no início de 1993. Mancuso era mais habilidoso, mas El Negro Gómez é quem se sobressaiu com o negócio. Logo ali, o Fortín reconquistou a Argentina, no Clausura. Caracterizado pela entrega e piques, “foi uma das colunas sobre as quais o Vélez estruturou a sensacional campanha que lhe permitiu obter sete títulos entre 1993 e 1996”. Outrora colecionador de expulsões tolas, Gómez inclusive foi reconhecido como um dos mais corretos marcadores daquele plantel. No River, El Negro não se encaixou. Integrou o elenco campeão do Apertura 1999, mas sem jogar, sendo repassado ao Gimnasia no início de 2000. Em 2001, o empréstimo foi direcionado ao futebol saudita e, no primeiro semestre de 2002, ao Huracán. Somou alguns minutos no irregular Apertura 2002 antes de ser vendido em definitivo em 2003, ao futebol da Costa Rica.
Darío Husaín: irmão caçula de Claudio, com ele jogou nos dois clubes. Começou com participações esporádicas nos títulos velezanos entre 1996-98, firmando-se mais justamente na entressafra atravessada na virada do século. Assim, o River juntou os irmãos no Clausura 2003, onde Darío participou de 11 jogos. Mas, ao contrário de Claudio, não firmou-se e foi dispensado no início de 2004.
Gastón Sessa: reserva no Estudiantes campeão da segundona em 1995, venceu novamente a Primera B em 1996, no Huracán Corrientes. Galgou ao Rosario Central, onde um bom momento lhe colocou a candidato a goleiro na seleção. Isso nunca se cumpriu, mas ele pôde cavar uma transferência ao River para a temporada 1999-2000. Mas quase não saiu da reserva de Roberto Bonano: El Gato jogou uma única vez tanto no Apertura como no Clausura conquistados naquela temporada e preferiu ter continuidade em um Racing à deriva. Após ter bastante importância na sobrevivência racinguista contra a degola no Clausura, mudou-se a Liniers para viver muita coisa: crucificado por falhar no gol decisivo para a perda do Apertura 2004, redimiu-se com o título velezano no campeonato seguinte. Só que então inventou de chutar o rosto de Rodrigo Palacio na eliminação para o Boca na Libertadores 2007, lance grotesco que lhe provocou uma justa causa. Hoje já é lembrado com mais saudosismo, algo sentido logo em 2008, quando sua volta chegou a ser sondada. Preferiu na época enfim defender o Gimnasia do coração. Dedicamos a El Gato esse outro Especial.
Ricardo Gareca: já dedicamos este Especial à carreira de jogador de El Tigre. O atual técnico do Peru chegou ao River em 1985, sob muita polêmica: era um ídolo no Boca, mas juntou-se a Ricardo Gareca naquela saída forçada para o grande rival. O parceiro seguiu por anos em Núñez, enquanto Gareca foi breve demais; após participar de dois jogos do início da campanha campeã de argentina de 1985-86, foi ganhar dinheiro no narcofútbol colombiano como artilheiro do América de Cali trivice da Libertadores. No fim da carreira, acertou em 1989 com o clube do coração: o Vélez, deixando seus gols em campanhas boas que germinavam o elenco cascudo que venceria tudo a partir de 1993. O atacante não ficou para participar dos louros, saindo logo antes da primeira conquista da série, o Clausura de 1993, para integrar o Independiente. Em Liniers, o maior destaque viria como o técnico que devolveu a sequência de títulos só semelhante à da Era Bianchi: chegou em 2009 e de imediato levantou o Clausura. Vieram novos títulos nacionais em 2011 (junto com uma semifinal de Libertadores), 2012 e 2013. O resto é a história conhecida de quem fracassou no Palmeiras antes de reconhecimento total em retornar a seleção peruana à Copa do Mundo.
Augusto Fernández: profissionalizado pelo River no primeiro semestre de 2006, o volante foi peça regular no time vencedor do Clausura 2008, único título do Millo na primeira divisão entre 2004 e 2014. Mesmo após a vergonhosa lanterna no torneio seguinte, El Negro Fernández conseguiu cavar uma transferência à Ligue 1. Mas pouco durou no Saint-Étienne: no segundo semestre de 2010, o Vélez repatriou Fernández. Titularíssimo no Clausura 2011, estreou pela Argentina inicialmente naquela obrigatória seleção caseira para o Superclássico das Américas. Seria um dos raríssimos argentinos dali a cavarem vaga para a Copa do Mundo de 2014 (já como jogador do Celta, que adquirira Fernández ainda em 2012).
Destaques do River no Vélez
Juan Gianetta: foi dele o gol do primeiro título internacional do River, a Copa Competencia de 1914 – um embrião da Libertadores, a reunir times portenhos, rosarinos e uruguaios, muito embora o oponente na decisão não fosse o classificado em campo (o Nacional) e sim o modesto Bristol, que por sinal solicitara afiliação à própria liga argentina. Gianetto passaria por um Vélez de segunda divisão em 1917.
Bernabé Ferreyra: um dos mais implacáveis artilheiros do futebol, Bernabé é o único a ter média superior a um gol por jogo na primeira divisão argentina. Ele vestiu primeiro a camisa do Vélez, e somente em amistosos, inviabilizando que seja considerado exatamente um ídolo histórico ali. Mas que desempenho: 38 gols em 25 partidas na primeira excursão internacional do clube, pelas três Américas, em 1931. Estava emprestado pelo Tigre, que o vendeu em 1932 ao River por uma quantia recorde que valeu cada peso. O Millo tinha até então somente o título de 1920 na primeira divisão e viu o reforço protagonizar a conquista daquele ano – e, sobretudo, alavancar o número de torcedores. Isso propiciou inclusive a construção do Monumental, inaugurado em 1938. El Mortero de Rufino ganhou ainda os títulos argentinos de 1936 e 1937 e pendurou as chuteiras com 187 gols e 185 jogos pela Banda Roja. Lhe dedicamos este Especial.
Joaquín Martínez: tinha a concorrência descomunal no ataque da lendária La Máquina do River nos anos 40. Assim, só apareceu esporadicamente no time principal, que defendeu de 1943 a 1947, integrando o elenco campeão em 1945 e 1947. Em 1952, após passar por Gimnasia e Boca, desembarcou no Vélez. Foi muito bem inicialmente, com dez gols em 1952 por um time que ficou a três pontos do pódio – uma enormidade para o contexto velezano na época. Mas murchou, com um só gol na grande campanha do vice-campeonato de 1953, a melhor do time até então. Ainda esteve em 1954 em Liniers antes de voltar ao River para defender o time B do Millo. Sua família é um raro exemplo de três gerações de integrantes da elite do futebol argentino: dois sobrinhos dele, Carlos Martínez e outro também chamado Joaquín Martínez, defenderam o River no início dos anos 70; o sobrinho-neto Juan Manuel Martínez, filho de Carlos, formou-se no Vélez e ali viveu seu curto auge, participando de três títulos entre 2005 e 2012 antes de murchar por Corinthians, Boca e Independiente.
Jorge Solari: formado no Newell’s rebaixado em 1960 e líder da segundona em 1961, El Indio Solari defendeu como volante o Vélez em 1962 e 1963 como um oásis na equipe vice-lanterna naqueles dois torneios – 14 gols em 34 jogos, mesmo com uma grave lesão interrompendo uma sequência maior. De fato, dali saltou ao River e à seleção para a Copa de 1966, embora fosse uma entre tantas figuras castigadas pelo incrível jejum que acometia o Millo naquele anos. Tio de Santiago Solari, lateral com melhor sorte no clube nos anos 90.
Vladislao Cap: de origem romena e polonesa, o defensor chegou ao River em 1962 já como um jogador de seleção, após dois títulos argentinos com o Racing. Foi à Copa do Mundo do Chile, mas também foi uma entre tantas figuras destacadas marcadas pelos anos de jejum – sobretudo, pelos três vices para o Boca até sair. Seu clube seguinte, em 1966, foi o Vélez. Disputou as últimas quatorze partidas da carreira, terminando a dois pontos do pódio. Um dos três técnicos da Argentina na Copa de 1974, El Polaco exercia esse cargo no River em 14 de setembro de 1982 (curiosamente, vinha do Boca, em caso único de transferência direta de treinadores entre os rivais), quando um infarto o fulminou precocemente.
Ermindo Onega: um dos símbolos do jejum do River, Onega até participou do título argentino de 1957, mas já após a taça estar garantida por antecipação. Nem as numerosas decepções pelos títulos que seguidamente escapavam do clube ao longo dos anos 60 impediram que se consagrasse na seleção; mesmo sendo um meia, passou dos cem gols em Núñez e era um dos ídolos juvenis de Maradona. Também calhou de não conseguir ser campeão no Peñarol (mudou-se para lá em 1970, sendo vice da Libertadores…), de onde chegou ao Vélez em 1972 para pendurar as chuteiras (ao menos na primeira divisão) de uma carreira de qualidade elogiada, ainda que com poucos troféus. Em Liniers, foram 29 jogos e cinco gols. Dedicamos a Onega este outro Especial.
Delém: maior brasileiro da história do River, foi outro ídolo dos tempos de jejum; ficou marcado sobretudo pelo pênalti perdido em Superclásico decisivo na penúltima rodada de 1962. Viera do Vasco para uma passagem de 1961 a 1966 e acabaria radicando-se em Buenos Aires. Como treinador, havia sido vice com o Huracán no Metropolitano de 1975 (justamente no torneio que encerrou o jejum do River), credencial para assumir o Vélez já no Nacional 1976. O Fortín havia brigado para não cair no Metro e o brasileiro não fez milagre; foi 6º de nove equipes no grupo C. Curiosamente, ele brigaria contra River e Vélez treinando o Argentinos Jrs maradoniano no Metropolitano 1979, quando o trio brigou acirradamente pelas duas vagas de classificação no grupo A. Mas seu maior relevo como treinador viria nos juvenis do Millo, polindo diversas revelações do River nos anos 80 aos 2000 – e até assumindo ocasionalmente o time principal como interino, como na rodada inicial do vitorioso Clausura 2000. Já dedicamos a ele este outro Especial.
Héctor Ártico: despontou nacionalmente na primeira grande campanha nacional do Talleres, o 4º lugar no Nacional 1974. O técnico tallarin era a lenda riverplatense Ángel Labruna, credenciado a voltar a Núñez – e que levou o zagueiro Ártico consigo para a campanha do desjejum em 1975. Ártico ganhou outros dois títulos argentinos até rumar em 1978 ao Vélez, participando da campanha que avançou aos mata-matas do Nacional 1978 – com direito até a seis golzinhos como elemento surpresa.
Luis Landaburu: uma espécie de Cantarele do River, como ilustre reserva de Fillol nos anos 70. Mas o técnico Labruna não aceitava negocia-lo, ciente de sua qualidade quando o titular não estava disponível – como na final da Libertadores 1976. Sua maior continuidade se deu no Metropolitano 1978, a se desenrolar enquanto a seleção desfalcava os clubes ao longo de todo o semestre. Campeão em 1975, 1977, 1979 e 1980 sem mal sair do banco, chegou ao Vélez em 1981 para repor a lacuna da venda de Julio César Falcioni ao América de Cali. Landaburu esteve em 29 dos 34 jogos do Fortín no Metropolitano e então ele próprio também foi à Colômbia, contratado pelo Bucamaranga.
Claudio Morresi: talentoso volante figura do Huracán no início dos anos 80, com alto número de gols para a posição: 46 em 158 jogos. Com ele o Globo ainda deu espasmos de grandeza e Morresi pôde cavar transferência ao River na temporada 1985-86. Sem seu craque, o Huracán foi ali rebaixado pela primeira vez enquanto o volante era vice-artilheiro com 16 gols do título millonario. Não ficou mais marcado em Núñez pois caiu muito de nível depois e perdeu a vaga para o veterano ídolo Beto Alonso (reserva naquela conquista argentina) para a Libertadores e Mundial. Ainda assim, durou no Millo até 1988, quando foi negociado com o Vélez. Foram 42 jogos e 10 gols com La V Azulada entre 1988 e 1990, ano em que o time pôde ser 5º colocado. Morresi enveredou para a política após pendurar as chuteiras, chegando a ser secretário nacional de esportes nos anos 2000.
Ubaldo Fillol: nome que dispensa apresentações, Fillol viveu de quase tudo no River. Estreou levando quatro gols do Boca em 1973, mas conseguiu ir como reserva à Copa do Mundo de 1974. Começou a se imortalizar com o fim em dose dupla do jejum de dezoito anos, quando o time venceu em 1975 o Metropolitano e o Nacional. El Pato logo virou ícone de uma vitoriosa metade final de década, com o vice na Libertadores 1976 sendo seguido pelas conquistas do Metropolitano 1977, Metropolitano 1979, Nacional 1979, Metropolitano 1980 e Nacional 1981 – e, claro, da primeira Copa do Mundo ganha pela Argentina, em 1978. Mas saiu pelos fundos, no início do Metropolitano 1983, ao liderar greve contra atrasos salariais de uma instituição sob severa crise financeira. Sem ele, o Millo seria vice-lanterna. Fillol chegou ao Vélez para pendurar as luvas, em 1989. Estava em curva descendente na qualidade de outrora, mas despediu-se em altíssimo estilo, como carrasco do próprio River naquela rodada final do Apertura 1990. Lhe dedicamos este Especial.
Héctor Veira: após treinar em 1983 com um San Lorenzo vice da elite mesmo como equipe recém-regressada da segunda divisão, interessou ao River. Curiosamente, seu primeiro jogo no Millo foi contra o Vélez, e perdendo. Mas El Bambino fez história: era o jovem treinador da primeira tríplice coroa do futebol argentino, com os títulos em 1986 na liga nacional, que encerrava jejum millonario de cinco anos, na primeira Libertadores e do único Mundial do time de Núñez. Apesar da história, ele foi desligado em 1987 e voltou ao San Lorenzo para leva-lo às semifinais da Libertadores de 1988. Veira chegou ao Vélez no início de 1991. Seu mérito maior foi começar a integrar o novato Omar Asad ao time adulto, ainda que não chegasse a estrea-lo. Com nove vitórias em dezessete jogos ao todo, foi interrompido por fatores extracampo, ao ter prisão decretada no início de outubro de 1991 sob acusação de estupro (sempre negado) de um menor, pouco após golear o Huracán por 5-0.
Sergio Goycochea: o talismã da seleção de 1990 custou a engrenar no River. Estreou em 1982, mas precisou observar do banco Fillol e depois Pumpido até começar a ter a qualidade reconhecida em 1987. Mesmo ainda na reserva de Pumpido (foram só 11 jogos no título argentino de 1985-86 e nenhum nos títulos internacionais que concluíram o dourado 1986), pôde estrear na seleção. O Millo se dispôs a troca-lo com o San Lorenzo por um José Luis Chilavert mais talhado em 1988, mas o negócio fechado foi com a equipe colombiana do Millonarios. Não foi um entrave para Goyco ir à Copa de 1990, inicialmente para a reserva. O grande brilho na Itália o manteve como nome regular na seleção por mais que a carreira clubística não decolasse; estava no futebol paraguaio quando sua ótima forma na Copa América de 1993 convenceu o River a recontrata-lo. Pôde ser ganhar como titular no clube, faturando o embolado troféu do Apertura.
Goycochea chegou ao Vélez no segundo semestre 1996, vindo de uma passagem decepcionante no Internacional. Havia uma expectativa de que o Fortín iria enfim vender Chilavert, ensejando uma reposição ainda midiática. Mas isso não aconteceu e Goyco virou talvez o maior terceiro goleiro de luxo do futebol, pois, abaixo também de Pablo Cavallero na hierarquia, só jogou duas partidas. Engordou enganosamente o currículo com a Supercopa 1996 e a Recopa 1997 e então rumou ao Newell’s para pendurar as luvas.
Destaques do Vélez no River
Vicente Ruscitti: lateral nas duas faixas, formou-se no Gimnasia, onde foi lançado em 1927 e campeão pelo torneio de 1929. Chegou ao Vélez em 1932 e foi bem individualmente no 8º lugar, abaixo dos cinco grandes e da dupla de La Plata – que vinha em alta, com um recente bivice seguido do Estudiantes (1930 e 1931) e a exitosa excursão gimnasista pela Europa. Em tempos de bairro de Villa Luro (a mudança velezana a Liniers viria nos anos 40), Ruscitti somou 48 jogos como titularíssimo até ser contratado em 1933 por um River recém-campeão. O Millo, por sua vez, não estava ainda nas redondezas de Núñez/Belgrano, e sim nas de Palermo/Recoleta. Não vingou tanto e em 1934 virou a casaca em La Plata, mas em passagem de poucos jogos no Estudiantes.
Omar Dedovitis: formando no extinto La Paternal, onde ganhou a segunda divisão de 1930, dali foi incorporado pelo Vélez juntamente com o histórico Victorio Spinetto. Dedovitis virou figurinha carimbada em Liniers nos anos 30: foram 115 jogos em 30 gols desse volante entre 1931 e 1939, descontado um rápido e curioso exílio dele e de outros velezanos no America-RJ em 1934 (contamos aqui!) e outro em 1938; naquele ano, jogou cinco partidas pelo River, que logo o usou como moeda de troca com o Rosario Central para trazer o atacante Roberto D’Alessandro – sem parentesco com Andrés. Ainda voltaria brevemente ao Vélez em 1939 antes de nova passagem pelo Brasil.
Florencio Caffaratti: goleador velezano no final dos anos 30. Foram 41 gols em 49 jogos entre 1937 e 1939, ano em que transferiu-se no decorrer do campeonato ao River. Não emplacou e, sem ele, o Vélez sofreu em 1940 seu único rebaixamento. Naquele ano, Caffaratti já estava no Banfield. Em 1943, rumou ao México, trampolim para ir ao Barcelona e registrar seu nome em uma estatística – foi dele o primeiro gol do clube catalão sobre o Real Madrid em jogos no Santiago Bernabéu, inaugurado em 1947.
Rogelio Domínguez: inicialmente juvenil do River, o goleirão completou sua formação no Racing. Após vencer como titular a Copa América de 1957, foi contratado pelo Real Madrid de Di Stéfano. Esteve na sequência de conquistas na Liga dos Campeões, mas na época jogar fora do país privava os jogadores da seleção e acabou de fora da Copa de 1958. Ele voltou à Argentina em 1962 para defender o River, sob a expectativa de que o clube se desfalcaria da lenda Amadeo Carrizo para a Copa do Mundo. Mas Carrizo, traumatizado como bode expiatório de 1958, negou a convocação e em seu lugar foi o próprio reserva. Assim, Domínguez jogou pouquíssimo no River, onde permaneceu até o fim de 1963. Dali seguiu ao Vélez, onde o veterano “cumpriu alguns desempenhos muito destacados, embora tanto em seu primeiro ano como no segundo teve que alternar-se com [Miguel] Marín”, segundo o diagnóstico do Diccionario Velezano. Foram 33 jogos e o Fortín, vice-lanterna em 1963, saltou para um 8º e um 3º lugares.
José Luis Luna: ponta-direita que também defendeu o Racing, mas brilhou bem mais sob a pouca pressão de times não grandes. Luna estava nos Bichos Colorados do Argentinos Jrs que brigou pela primeira vez pelo título argentino, em 1960, na campanha mais próxima da taça até consegui-la pela primeira vez (já em 1984). Embora a equipe do bairro de La Paternal tenha ficado em terceiro, esteve mais perto do campeão do que no vice logrado com Maradona em 1980. Foi então contratado pelo River, sem vingar: em 1962 já estava no Atlanta, que vivia sua fase mais forte, seguidamente se intrometendo entre os cinco primeiros. Como jogador do time do bairro de Villa Crespo, inclusive defendeu a seleção nas eliminatórias à Copa de 1966.
Em 1965, trocou o Atlanta pelo Boca e até foi campeão, mas não transcendeu como xeneize, rumando em 1968 ao Vélez. O time do bairro de Liniers não tinha ainda títulos na elite, pendência resolvida já no Nacional de 1968, com Luna titularíssimo e com cinco gols fundamentais: o do 1-1 com o River no triangular final, impedindo um provável título por antecipação do Millo, e os quatro nos 11-0 sobre o Huracán de Bahía Blanca, uma goleada a princípio exagerada que foi vital para adiante o Fortín ser campeão pelo melhor saldo de gols. Ele faleceu nesse 2022.
Jorge Troncoso: zagueiro de 110 jogos (e 3 gols) pelo Vélez entre 1969 e 1973, embora só nesse último ano alcançasse continuidade – e um nível que lhe rendeu convocações à seleção nas eliminatórias da Copa e ao próprio Mundial, ainda que fosse reserva na Alemanha Ocidental. Uma grave lesão brecou uma carreira mais elevada; chegou ao River em 1977, vindo do futebol chileno, e até adicionou a conquista do Metropolitano ao currículo, mas com apenas três participações. Estendeu a carreira por Chacarita, Excursionistas e San Telmo.
Juan Carlos Lorenzo: o treinador é associado muito mais ao San Lorenzo, com seus dois títulos argentinos no ano de 1972, e ao Boca, onde ergueu as duas primeiras Libertadores e o primeiro Mundial. Técnico da seleção nas Copas de 1962 e 1966, El Toto Lorenzo foi uma aposta do River para 1967. Teve em Núñez uma passagem esquecível. A do Vélez pode não ser tão lembrada atualmente, mas teve peso na época: ficou de 1981 a 1983, com 28 vitórias em 60 jogos e a presença nas semifinais de 1981 e no quinto lugar de 1982 e nas oitavas de 1983.
Carlos López: meia revelado pelo Excursionistas, apareceu no River em 1972. Teve continuidade no elenco vice-campeão, mas não firmou-se em Núñez e já em 1973 seguia carreira no Argentinos Jrs. Veio a deslanchar no Estudiantes vice nacional de 1975, quando os platenses acariciariam pela primeira vez algum título desde a Libertadores de 1970. Foi pincharrata até 1978, quando chegou ao Racing. Não virou ídolo, mas como racinguista recebeu oportunidades na seleção, incluindo na Copa América de 1979, concorrendo covardemente com Diego Maradona e Ricardo Bochini. Após vencer a segunda divisão com o Sarmiento em 1981, foi contratado pelo Vélez, jogando pelo Fortín os Nacionais de 1981 (semifinalista) e 1982.
Claudio Cabrera: formado no River em 1982, não emplacou em Núñez. Após só 24 jogos, um gol e campanha digna de rebaixamento em 1983, floresceu no Huracán como um oásis de talento na temporada que rendeu o primeiro rebaixamento desse clube, em 1986. Assim, El Chacho foi contratado pelo Vélez, pelo qual chegou à seleção olímpica em tempos de mais proeminência desse significado – os Jogos de 1988 só barravam quem já houvesse entrado em campo em uma Copa do Mundo. Porém, naquele mesmo ano, uma infeliz ruptura nos joelhos brecou uma ascensão maior. Ainda defenderia Argentinos Jrs e Boca antes de sua promissora carreira, permeada por 15 cirurgias, se estender logo às divisões inferiores.
Leonardo Ramos: reserva no histórico Vélez de 1994, foi emprestado ainda antes do fim da Libertadores (não chegou a entrar em campo na campanha) para o Estudiantes reconstruir-se na segunda divisão, como parceiro de Verón na cabeça de área. O uruguaio Ramos seguiu em La Plata até o River adquiri-lo para o Clausura 1999. Foi uma regular opção de banco no bicampeonato do Apertura 1999 (11 jogos) com o Clausura 2000 (8 partidas).
Federico Domínguez: testemunha de luxo do esplendor do Vélez noventista, pois só veio a se firmar na titularidade com a entressafra vivida em Liniers após a conquista final – a do Clausura 1998, no qual foi titular em quatro jogos e utilizado desde o banco em outros dez (normalmente para os instantes finais); Raúl Cardozo era o dono absoluto da lateral-esquerda desde os anos 80. Ele até integrou o plantel campeão do Clausura 1993, da Libertadores 1994 e do Mundial 1994, mas sem jogar assim como na Interamericana em 1996 e na Recopa em 1997 – ainda assim, esteve na seleção campeã mundial sub-20 em 1995. No Apertura 1995, foram duas partidas e no Clausura 1996, uma, seguida de duas aparições nos minutos finais na Supercopa 1996. Foi preciso brilhar no Independiente campeão do Apertura 2002 para ganhar sua única chance na seleção principal, já em 2003. Domínguez depois integrou o River entre 2005-07, justamente em meio ao jejum sentido entre 2004 e 2008.
Rolando Zárate: ponta-esquerda certeiro e rápido na área em seu auge, e com força e precisão em chutes de longa distância, conseguiu integrar o título do Clausura 1998, ainda como reserva – foram quatro participações nos minutos finais e uma titularidade somente na rodada final. Não foi um empecilho para cavar em curto prazo um empréstimo ao Real Madrid, mesmo que praticamente limitado à equipe B, e a pequenos clubes europeus. Entre idas e vindas por Liniers até ser vendido ao Tigres em 2006, Roly era um dos raríssimos remanescente dos anos dourados a participar da conquista velezana seguinte, a do Clausura 2005 – dessa vez, como protagonista (já havia sido o artilheiro do torneio anterior, onde o Fortín fora vice do Newell’s) e até breve jogador de seleção. Sua estadia no River durou somente o Apertura 2007, com a rivalidade mais relaxada, sem os ares de traição que rodearam a ida do irmão caçula Mauro ao Boca. Ainda teria um retorno infrutífero na temporada 2009-10.
Diego Simeone: seguramente o nome mais famoso dessa lista. El Cholo foi formado no Vélez, tendo uma ascensão meteórica: profissionalizado ainda adolescente em 1987, já em 1988 estreava pela seleção principal, ainda que não a ponto de ir à Copa do Mundo de 1990. Mesmo assim, foi negociado em 1990 com o Pisa, iniciando uma longa carreira europeia. Como técnico iniciante Simeone chegou ao River na virada de 2007 para 2008, gabaritado por ter encerrado em 2006 um jejum de 23 anos do Estudiantes – no campo do Vélez, usado como palco neutro contra o Boca. Imprimiu um bom futebol no título do Clausura 2008, único troféu de primeira divisão do Millo entre 2004 e 2014. O problema é que em seguida o mesmo elenco foi lanterna do Apertura, campanha que pesaria no rebaixamento em 2011. Simeone, naturalmente, saiu pelos fundos com aquele torneio.
Mariano Pavone: fora da Argentina, é lembrado exatamente como o atacante que calhou de perder um pênalti na repescagem que decretou o rebaixamento do River em 2011, encerrando do pior jeito sua única temporada por lá, sob empréstimo do Real Betis. Injustiça: Pavone não era craque, mas sabia ser um atacante esforçado digno do apelido Tanque. Despontara no Estudiantes campeão com o técnico Simeone, encerrando jejum de 23 anos em 2006; até chegou rapidamente à seleção ao ano seguinte. Esteve no Vélez em dois momentos, em 2015 e na temporada 2016-17, com faro de gol ainda mais apurado (beirou o meio por jogo) e importante para afastar um risco real de rebaixamento que permeava o Fortín.
"Porque isto é algo mais do que uma simples partida, bastante maior do que uma…
As apostas no futebol estão em franco crescimento no Brasil, impulsionadas pelo aumento das casas…
A seleção de 1978 teve como principal celeiro o River Plate: foram cinco convocados e…
Originalmente publicada pelo aniversário de 60 anos, em 15-07-2014 Segundo diversos sites estrangeiros sobre origens…
Originalmente publicado em 12 de julho de 2021, focado na inédita artilharia de Messi em…
A Copa do Mundo de Futebol é um dos eventos esportivos mais aguardados e assistidos…
This website uses cookies.