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Elementos em comum entre River e Barcelona

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Mascherano enfrentará o ex-clube

River e Barcelona tentarão amanhã coroar temporada das mais douradas de clubes já tão vitoriosos. Como se não pudesse se aprimorar ainda mais, o Barça dos anos recentes se embalou com o trio MSN e ganhou, pela segunda vez na história, tudo ao alcance de uma equipe espanhola (como já havia feito em 2008-09). Enquanto isso, o River se reergueu do vexame de 2011. Fechou em alto estilo um jejum internacional de 17 anos, emendando todos os títulos continentais possíveis entre o fim de 2014 e o início de 2015 (Sul-Americana, Recopa e Libertadores). Treinados por velhos ídolos dos gramados, têm muitas outras coisas em comum. E Messi, Guardiola e Di Stéfano poderiam estar entre elas!

Para começar, símbolos das duas equipes têm a bênção de São Jorge, padroeiro da Catalunha e da cidade italiana de Gênova. Sua cruz vermelha em fundo branco está presente no distintivo do Barcelona e não por acaso as mesmas cores são usadas pelo River, fundado no seio da numerosa comunidade genovesa radicada no bairro de La Boca – a colônia também rendeu o apelido xeneizes (derivação de zeneise, “genovês” na língua da região italiana da Ligúria) ao rival Boca Juniors, que permaneceu no bairro enquanto o Millo mudou-se para a fina zona norte portenha.

A dupla finalista, embora tenha rivais ainda mais vencedores internacionalmente, tem o recorde de ser quem mais cedeu jogadores às seleções de seus países. Afinal, produziram elencos que marcaram o futebol e foram/são famosos pela excelência nas categorias de base. Pep Guardiola confessou em sua biografia que buscou aprender sobre a célebre La Máquina do River dos anos 40, onde Adolfo Pedernera – considerado por Alfredo Di Stéfano como o maior jogador que já vira – funcionava como um falso 9. Mesma função consagrada por Lionel Messi.

Vamos a quem passou pelos dois, que poderiam ter se enfrentado bem antes em Tóquio, em 1986, caso os espanhóis não perdessem traumaticamente a Liga dos Campeões para o Steaua Bucareste:

Florencio Caffaratti não foi o primeiro argentino no Barcelona, mas foi o primeiro que o clube importou. Veio do futebol mexicano após ter passado por Vélez, River e Banfield na terra natal. Nos millonarios, foi discreto. Já na Europa, entrou para as estatística do grande clássico espanhol: foi dele o primeiro gol do Barça sobre o Real Madrid no Santiago Bernabéu. Integrou o elenco bicampeão em 1947 e 1948, época em que o Barcelona era o clube mais vezes campeão espanhol. Uberto Giménez foi o primeiro importado diretamente da Argentina e foi um discreto zagueiro na temporada 1949-50.

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Caffaratti, o uruguaio Cubilla e Heredia, naturalizado espanhol

O nome seguinte foi um uruguaio: Luis Cubilla, um vencedor incrível em seu país. É o único a vencer a Libertadores por Peñarol e Nacional, e o único campeão uruguaio por eles e por uma outra equipe, o Defensor (que quebrou jejum de mais de 40 anos de duopólio da dupla principal, em 1976). Foi ao Barcelona após a Copa de 1962, mas não vingou. Veio ao River em 1964, sendo vice da Libertadores de 1966. Eram os duros anos do longo jejum de títulos millonario, entre 1957 e 1975.

Juan Carlos Heredia foi talvez o primeiro argentino a se tornar grande ídolo no Barça. Veio do Belgrano e passou cinco anos na Catalunha, vencendo uma Recopa Europeia e naturalizando-se espanhol. Só não veio à Copa de 1978 pela Furia por decisão própria: soubera que militares haviam invadido a casa de sua família na Argentina, sem inibir truculência com seu pai, confundindo-o com outra pessoa de mesmo nome ligada aos “subversivos” ao regime. O mal-entendido só não terminou de forma mais trágica porque um dos soldados reconheceu o jogador em diversas fotos espalhadas pela casa. Heredia filho já disse que através desse relato é que seu colega Johan Cruijff tomou ciência do que se passava na Argentina. O holandês também preferiu não vir ao mundial.

Heredia veio ao River em 1981 como uma das respostas do clube à contratação de Maradona pelo Boca. Não vingou. Maradona, após um ano e meio nos auriazuis, foi comprado pelo Barcelona, que para mima-lo contratou o técnico César Luis Menotti. A dupla só conseguiu uma Copa do Rei. Ex-jogador do Boca, Menotti assumiu o River em 1988, passando uma temporada também sem êxitos em Núñez.

O argentino seguinte teve trajetória similar a de Heredia: primeiro esteve no Barcelona, naturalizando-se espanhol, para depois vir ao River. Foi Juan Alberto Pizzi, prestigiado na Catalunha antes mesmo de virar blaugrana – ele era do grande Tenerife que, em dois anos seguidos, venceu o então líder Real Madrid na última rodada, permitindo que os catalães ultrapassassem os rivais e terminassem campeões. Não chegou a se firmar na titularidade, concorrendo com Ronaldo, Giovanni, Rivaldo e Figo, mas ficou querido em Les Corts. Foi à Copa de 1998 e saiu dela como jogador do River. Mas foi incapaz de tirar do Boca os dois campeonatos da temporada 1998-99.

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O técnico Menotti, o naturalizado espanhol Pizzi e Saviola, que está de volta ao River

River voltou a ser campeão no Apertura 1999 e três nomes daquele elenco iriam ao Barça: o goleiro Roberto Bonano, em 2000; o atacante Javier Saviola, em 2001; e o lateral Juan Pablo Sorín, em 2003. Dessa vez, era a equipe espanhola quem vivia estiagem de taças, até brigando para não cair na temporada 2002-03 (Sorín veio nesse contexto como um salvador da pátria, algo demais para ele). Só Saviola conseguiria ser campeão, quando já não tinha titularidade. El Conejo reencontrará o ex-clube neste ano, em que voltou a Núñez. Não vai ser a primeira vez, pois simplesmente fora ao Real Madrid em 2007, passando ainda pelo Málaga.

Enquanto o Barcelona se reerguia a partir de 2004, o River decaía. No espaço de dez anos entre aquele e 2014, só ganhou um outro título e foi rebaixado. Maxi López era uma promessa daquele River campeão do Clausura 2004, mas ficou marcado por ser o único a perder pênalti na dolorosa semifinal da Libertadores contra o Boca, em casa. Isso não impediu que os catalães o comprassem, mas, excetuando a classificação contra o Chelsea nas quartas-de-final da vitoriosa Liga dos Campeões de 2006 (fez um gol e deu passe para o outro), fracassou totalmente por lá.

Javier Mascherano era colega de López naquele River. Sua fama de caudilho era grande ainda nas categorias de base, a ponto de ter estreado pela seleção argentina principal antes mesmo de estrear na equipe adulta do clube. Deixou o Millo em 2005 e apareceu no Barcelona em 2010. Transformado em zagueiro, foi irregular, só angariando unanimidade ao brilhar na sua posição original de volante na Copa do Mundo de 2014. Assim como Saviola, estará diante do ex-clube, algo que também não lhe será inédito: enfrentou-o nas oitavas-de-final da Libertadores de 2006, pelo Corinthians.

O último a vestir as duas camisas foi o chileno Alexis Sánchez. No River, esteve no único título levantado entre 2004 e 2014 (desconsiderando-se a segunda divisão de 2012): o Clausura 2008. Mas era reserva em um ataque bem munido por Loco Abreu, Ariel Ortega, Falcao García e o iluminado Diego Buonanotte. No Barcelona, foi bem mais usado e teve boa média de gols. Mas nunca superou totalmente a dura concorrência interna e saiu ano passado para o Arsenal.

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Sorín, Maxi López e o chileno Alexis Sánchez

Além desses nomes, outros tiveram a possibilidade de estar nos dois clubes, mas a permanência oficial não se concretizou. O primeiro teria sido um espanhol: o zagueiro Serafín Aedo foi um dos numerosos jogadores bascos que deixaram a Espanha com a Guerra Civil em 1936, justamente quando havia acertado com o Barcelona – havia integrado a única campanha campeã do Real Betis, em 1935. Realizou só alguns amistosos no Barça antes de realizar uma excursão com a seleção basca para arrecadar fundos na luta contra o General Franco. Alguns desses jogadores ficaram pelo futebol argentino, com Isidro Lángara sendo o mais brilhante deles, sendo um superartilheiro no San Lorenzo (falamos aqui). Aedo apareceu no River em 1940, mas só jogou duas vezes no campeonato.

A história de Alfredo Di Stéfano é famosa: teve um brilho meteórico no River e rumou ao Eldorado Colombiano após uma greve geral de jogadores argentinos não ser atendida. No Millonarios de Bogotá, estragou a festa de 50 anos do Real Madrid e disputado pelos merengues e catalães. Ambos o compraram: um, falando com o Millonarios, o outro com o River. A liga decidiu que o argentino se alternaria entre os dois clubes, algo que o Barça, então preocupado com lesão do astro László Kubala, declinou ao notar a recuperação do húngaro. Di Stéfano só realizou alguns amistosos pelos blaugranas.

Alberto Tarantini foi lateral titular da Argentina campeã da Copa de 1978. Acertou com o Barcelona depois do torneio, mas a transferência não se efetivou por conta do limite de estrangeiros vigente na época e por sua recusa em realizar um casamento de fachada com uma espanhola para adquirir a cidadania e assim burlar o limite. O River o contrataria em 1980, brilhando como zagueiro. Detalhamos no início do mês sua carreira, quando ele fez 65 anos: clique aqui.

Por fim, os ícones da revolução blaugrana: o pai de Lionel Messi ofereceu-o ao Millo em 2000, ante a recusa do Newell’s em custear o tratamento hormonal contra o nanismo de La Pulga. Messi apavorou na peneira do River, mas, por razões ainda não esclarecidas, o clube deixou o garoto livre. Já Josep Guardiola, ainda como jogador em fim de carreira, teve sua contratação sondada pelo River em 2005 para repor a saída de Mascherano, por sinal. As conversas foram descritas como avançadas, mas o negócio não foi fechado e Pep, que já havia atuado no futebol mexicano, parou de jogar no Qatar mesmo, onde estava.

Clique aqui para acessar o especial sobre todos os argentinos da história do Barcelona. E aqui para relembrar a da final passada, também hispano-argentina, com os elementos em comum entre San Lorenzo e Real Madrid.

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Di Stéfano, Tarantini, Messi e Guardiola: os dois primeiros não ficaram no Barcelona. Os dois últimos, no River

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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