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Elementos em comum entre River e Athletico PR

As cores e a origem através de fusões (Internacional e América geraram o Athletico em 1924, vinte anos após Santa Rosa e La Rosales se unirem para criar o River – sim, ele é de 1904 e não de 1901) são algumas das coisas em comum entre os grandes campeões continentais de 2018 na América do Sul. No dia em que o campeão da Libertadores encontrará o da Sul-Americana no tira-teima da Recopa, vale relembrar outros elementos do tipo entre os torcedores do River Plate, que até os anos 20 habitavam o humilde bairro de La Boca, e o Athletico PR que, não sem polêmica, vem procurando se gentrificar.

Athletico e River, primeiramente, foram campeões em torneios referentes aos anos de 1936, 1945, 1990 (no estadual e no campeonato argentino), 1999 (seletiva à Libertadores; Apertura), 2000 e 2002 (ambos no estadual e no argentino). Foram igualmente rebaixados em 2011 para então vencerem troféus em 2016 (estadual; Recopa Sul-Americana e Copa Argentina) e em 2018 – onde, além dos títulos continentais, levantaram também o estadual e a Supercopa Argentina. 

Sem mais delongas, vamos a quem defendeu os dois clubes:

Eduardo Dreyer: meia-direita proveniente do Corralense, clube da cidade cordobesa de Corral de Bustos, ingressou no River ainda nas categorias de base, sendo em 1967 campeão no campeonato sub-19. Uma vez promovido à equipe principal, porém, El Gringo Dreyer se queimou cedo. Em 1969, o clube padecia de doze anos de jejum, suficiente para ser o maior de sua história profissional, seca que parecia prestes a acabar: o Millo pôde superar o Boca nas semifinais do Metropolitano e teria pela frente o nanico Chacarita e não o forte Racing da época, eliminado nos minutos finais pelo Chaca. A classificação da Banda Roja teve um porém: a quatro minutos do fim da prorrogação, foi expulso Carlos Chamaco Rodríguez, então suspenso automaticamente da decisão em jogo único. Dreyer então foi escalado para seu posto e não se deu bem com a responsabilidade.

Aos 30 minutos do primeiro tempo do jogo único que decidiu o torneio, as equipes empatavam em 1-1 quando Dreyer comprometeu os millonarios, sendo expulso, ainda que em interpretação rigorosíssima do árbitro à primeira falta que cometia; sete minutos depois, os funebreros assinalaram o segundo gol de um categórico 4-1, gerando trauma tamanho que gerou relatos de que a expulsão teria vindo ainda com dez minutos de partida. Sem ir além de dez jogos pelo River, Dreyer chegou a Curitiba em 1971 para se tornar uma bandeira coxa-branca – curiosamente, um apelido advindo do “quase xará” Hans Breyer. Foi tetracampeão estadual pelo Coritiba, o que não impediu que em 1977 virasse a casaca. A falta de êxito pelo Athletico ajudou a manter-se como ídolo alviverde de quem defendeu ainda o Colorado (que daria origem ao Paraná Clube), o Londrina e o Centenário, radicando-se na capital paranaense.

Dreyer e o brasileiro Júlio César “Uri Geller”: quando a listra do Furacão era horizontal

Júlio César: a camisa rubro-negra e a camisa argentina mais associadas ao “Uri Geller” são a do Flamengo e a do Talleres, respectivamente. O ponta-esquerda já estava sob precoce declínio no Grêmio quando foi emprestado ao River para testes em amistosos em Mar del Plata no início de 1983, nos tradicionais torneios de pré-temporada no verão argentino. Foi usado basicamente no segundo tempo contra o Estudiantes (1-0) e no primeiro contra o San Lorenzo (derrota de 2-1) e teve sua compra definitiva vista como cara demais, seguindo o ano como jogador do Fortaleza e por fim do Vasco. Estava no Farense, em Portugal, quando o Athletico o repatriou no segundo semestre de 1985, em reação à recente conquista brasileira do arquirrival. Júlio César integrou o título estadual, na época transcorrido no segundo semestre e que marcou a despedida do antigo estádio da Baixada, mas não se firmou, voltando ao Ceará.

Família Matosas: zagueiro do Peñarol que venceu as duas primeiras Libertadores, Roberto Matosas foi comprado em 1964 pelo River como a mais cara contratação do futebol argentino até então, em cerca de 230 mil dólares – quinze anos antes das primeiras transferências literalmente milionárias nas moedas ianque e britânica. Em três anos de Núñez, após um início turbulento (não passou na revisão médica inicial e chegou a dizer que não serviria para o clube, o que lhe valeu suspensão de dez dias por danos materiais e morais), virou ídolo, embora calhasse de jogar nos agridoces anos 60 millonarios: o time estava sempre no páreo, mas não conseguia ser campeão. Foi vice argentino em 1964, 1965, ambos justo para o Boca; em 1966 (quando também perdeu a Libertadores, em uma das finais mais ganhas já perdidas); e em 1968, para um Vélez ainda modesto no futebol.

Ainda em 1967, nasceu em Buenos Aires seu filho, Gustavo Matosas. Em 1969, o zagueiro voltou ao Peñarol e foi um raro aurinegro titular do Uruguai semifinalista da Copa de 1970, onde a escalação era dominada por um Nacional que em breve venceria sua primeira Libertadores. Já o filho Gustavo formou-se como volante no mesmo Peñarol, estando presente em 1987 no último título aurinegro na Libertadores (sendo ainda um dos jogadores em campo até o fim no célebre triunfo dos “sete contra onze” sobre o Nacional) e da Copa América pelo Uruguai, embora não prolongasse sua estadia no clube e na Celeste. Nos anos 90, rodou Argentina, defendendo San Lorenzo e Racing; e o Brasil, com breve passagem pelo São Paulo em 1993 precedendo sua participação ativa no título do Athletico na segunda divisão brasileira em 1995 – ainda iria ao Goiás em 1996. Chegou a ser sondado recentemente para voltar aos rubro-negros como treinador, pisando na Arena da Baixada na despedida do ex-colega Paulo Rink.

Juan Ramón Carrasco: o uruguaio chegou do Nacional a Núñez em 1979, junto com o colega tricolor Alfredo de los Santos, em operação de troca por Víctor Marchetti. Sua potência no chute, apesar do físico mirrado, e técnica nos tiros livres, elegância e raça impressionaram em meio ao tricampeonato do River com o Metropolitano de 1979, o Nacional de 1979 (onde marcou duas vezes em 4-0 na semifinal contra o Rosario Central) e o Metropolitano de 1980 (em que anotou duas vezes em um 5-2 sobre o Boca na Bombonera, ainda o maior triunfo do Millo em Superclásicos na casa rival). Porém, Carrasco também era temperamental e não tardou a se indispor com o técnico Ángel Labruna por não ser titular absoluto, em meio à concorrência com Norberto Alonso e Juan José López na armação – foi usado respectivamente treze vezes, nove e quinze naqueles torneios, rumando ao Racing após o tri. Já como treinador, ficou marcado pela ideia superofensiva de jogo, embora isso por vezes custe reveses inoportunos. Assim, trabalhou no Athletico em 2012. Embora eleito o melhor técnico do estadual, perdeu-o para o Coritiba e foi desligado ainda no início da Série B. 

Uruguaios e listras verticais: os dois Matosas e Carrasco, que jogou pelos argentinos e treinou os brasileiros

Luis González: revelado no Huracán campeão da segunda divisão de 2000, o meia chegou ao River em 2002 e não tardou a virar jogador titular da seleção principal como um dos únicos provenientes do futebol argentino. O Porto o levou em meados de 2005 após o armador ter faturado os Clausuras de 2003 e 2004 e um ouro olímpico, embora estivesse no páreo por muito mais, em campanhas que pararam no vice (Sul-Americana de 2003, Copa América de 2004) e nas semifinais (Libertadores de 2004, onde fez um dos gols daquele Superclásico dos mais cardíacos da história, e 2005).

Após uma carreira vitoriosa em Portugal e no Olympique de Marselha, Lucho voltou veterano a Núñez para fornecer experiência ao elenco que reconquistou a Libertadores em 2015. Lucho González saldou a dívida do passado, mas não a ponto de ficar intocável. Assim, aportou em 2016 no Athletico para ser ainda mais protagonista. Foi o capitão do elenco campeão da Sul-Americana de 2018.

Marco Ruben: a grande identificação do atacante com o Rosario Central na Argentina esconde seu ano como millonario em 2007. Proveniente dos canallas, na capital federal ele não chegou a exatamente triunfar ao meio de concorrência com Ariel Ortega, Radamel Falcao García, Alexis Sánchez, Diego Bunanotte e Fernando Belluschi, mas cavou transferência ao Villarreal. Voltou ao Central em 2016, inicialmente sob empréstimo do Dínamo Kiev e depois em definitivo, participando ativamente das seguidas decepções rosarinas na Copa Argentina até enfim chegar ao desafogo na edição de 2018. Em 2019, foi emprestado ao Athletico e sai-se bem, fazendo história com o hat trick sobre o Boca na fase de grupos da Libertadores.

Tomás Andrade: armador promovido da base aos 20 anos em 2016, teve bons lampejos de quem era comparado a um “novo D’Alessandro”, sem que se firmasse totalmente. Assim, foi emprestado ano passado ao futebol brasileiro, inicialmente ao Atlético Mineiro antes de ser repassado pelo Millo nesse ano ao Paranaense – sem o êxito instantâneo de Ruben, por enquanto.

Abaixo, outros especiais athleticanos no Futebol Portenho:

Elementos em comum entre Vélez e Atlético Paranaense

Elementos em comum entre Atlético Paranaense e San Lorenzo

Elementos em comum entre Boca e Athletico Parananese

A dupla argentina Ruben e Andrade chegou sob empréstimo, já na era “diagonal” do Athletico

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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