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Elementos em comum entre Palmeiras e Rosario Central

Alviverdes e auriazuis fazem nesta quinta-feira o primeiro duelo Brasil x Argentina da Libertadores 2016. Dessa vez, o Palmeiras não terá pela frente o Boca, carrasco em 2000 e 2001, e sim o Rosario Central, com quem teve bem menos intercâmbio em sua história. Foram apenas quatro jogos contra os rosarinos e identificamos cinco pessoas que passaram por ambos.

Em comum, eles têm a adoção orgulhosa de um antigo xingamento como apelido. Porcos e canallas já se enfrentaram pela Libertadores, também pela primeira fase, há dez anos: 0-0 em São Paulo, 2-2 na Argentina. Um dos gols do Central foi, aliás, de um jovem Marco Rubén, atual homem-gol do clube e que, com 20 anos incompletos na época, já havia sido o artilheiro (três gols) da pobre campanha centralista, lanterna da chave. O lateral-esquerdo Cristian Villagra é outro do elenco atual que também estava naquele plantel. Os outros dois jogos foram um amistoso em 1946 e outro em 1957, ambos em São Paulo com os paulistas vencendo por 2-1 – como curiosidade, os gols palmeirenses no primeiro encontro haviam sido de dois brasileiros que haviam jogado na Argentina: Og Moreira, ex-Racing, e Waldemar de Brito, ex-San Lorenzo.

Em 1960, os jogadores brasileiros estavam bastante valorizados no mercado argentino. Além da vitoriosa Copa de 1958, o Brasil quase havia levado a Copa América de 1959, sediada na Argentina, e estava soberano na Copa Roca. Boca e River tiveram mais alarde na busca por tupiniquins, mas o Rosario Central (e também o Newell’s) não fugiram da nova regra. Naquele mesmo ano, os auriazuis trouxeram do Palmeiras o ponta Antônio Rodrigues e o meia Próspero Joel, e do Juventus da Mooca veio outro ponta ex-palmeirense, o ponta Francisco Rodrigues, irmão de Antônio. Ficaram um ano e meio e os irmãos Rodrigues fizeram relativo sucesso: Antônio marcou três gols nos clássicos que fez contra o Newell’s (rebaixado naquela temporada) e Francisco também deixou o seu, em goleada por 4-1.

No Brasil, só o Rodrigues mais velho ficou conhecido. Ex-jogador da seleção, tendo disputado as Copas de 1950 e 1954, no Palmeiras ele havia se consagrado como um ponta artilheiro: foram 128 gols em 227 partidas entre 1950 e 1957, sendo titularíssimo do vitorioso biênio 1950-51, marcado pelo título da Copa Rio que a FIFA equipararia a um mundial. O “Tatu” marcou um dos gols no jogo que garantiu a taça, contra a Juventus. No Central, a média foi satisfatória para um ponta veterano (10 em 35 jogos). Ele seria eleito para o time palmeirense dos sonhos em votação promovida pela Placar em 1994, com votos de Joelmir Beting, Cláudio Carsughi e Julinho Botelho, dentre outros.

Outro a passar pelos dois clubes era, curiosamente, um boxeador. Alejandro Galán adotou nos ringues o codinome Jim Lopes e fez sucesso como técnico em São Paulo, obtendo troféus por Palmeiras, São Paulo e Portuguesa. No Verdão, ganhou o Estadual e o Municipal de 1950, parte da série de títulos que culminaria com a Copa Rio de 1951. Também fez um grande trabalho no Central: foi 6º em 1962, até então a melhor colocação dos rosarinos no campeonato argentino. Enquanto treinava os canallas, também dirigiu a seleção argentina em algumas partidas – voltaria ao cargo em 1967, na Copa América.

Rodrigues
Rodrigues “Tatu” pelos dois. À direita, seu irmão Antônio no Central

O primeiro título argentino para os auriazuis viria só em 1971, com outro em 1973. No mesmo período, o Palmeiras somava os últimos títulos de sua Segunda Academia, incluindo também dois nacionais. Eles também estiveram juntos em desgraças recentes: ambos vivenciaram a segundona em 2013 e nutrem nostalgia pelos anos 90, quando conseguiram seus títulos continentais (a Copa Conmebol 1995 para os argentinos, a Libertadores de 1999 para os brasileiros).

O homem que jogou pelos dois foi o ponta Mário Sérgio. Em meio ao jejum palmeirense dos anos 80, ele teve uma passagem marcante, por sentidos bons e ruins: conseguiu tanto jogar pela seleção brasileira aos 34 anos, em 1985, como sofrer com um antidoping positivo. Sua passagem pelo Rosario Central, por sua vez, foi tudo menos marcante. Foi bem obscura, em 1979. Dentre seus colegas, estava o então zagueiro Edgardo Bauza, atual treinador são-paulino. O clube começava a formar um elenco apelidado de La Sinfónica que acabaria campeão argentino no ano seguinte. Bauza, mesmo zagueiro, foi justamente o artilheiro do elenco campeão: falamos aqui.

Já brasileiro, em baixa no Botafogo, saíra bem antes da conquista. Ficou menos de um semestre em Arroyito e de lá foi brilhar ainda em 1979 no Internacional campeão brasileiro invicto. Sobre sua passagem pelo futebol argentino, comentou que foi producente porque acrescentou a combatividade à seu repertório e porque realmente não tinha bom ambiente no Botafogo: “Fui para o sacrifício e não me perdoaram. O João Saldanha, por exemplo, dizia que eu estava no time porque era peixinho do presidente Borer. Implicava com o tamanho do meu calção, coisas que não tinham nada a ver. Por isso, foi até bom venderem meu passe para o Rosario Central”, declarou à Placar.

Por outro lado, também já amaldiçoou seu período rosarino. Sofreu com ritmo forte e dois turnos de treino. “Não adiantava reclamar. Eles não me entendiam mesmo. O jeito foi entrar no embalo deles”. O trauma parece ter sido grande, pois quando comenta jogos de argentinos no Fox Sports, Mário Sérgio costuma enxergar catimba em tudo. Quando ainda jogava, culpou a própria Placar pela “sacanagem”, palavra que usou para definir sua transferência ao Central, onde mal saiu do banco – não conseguimos encontrar uma imagem sua com o manto canalla. Já em outra entrevista à revista, o tom foi diferente. Entre culpar os colegas e a si próprio, explicou suas razões para não ter vingado:

“Minha mulher tinha entrado na faculdade de Engenharia e precisava cursar pelo menos um semestre para não perder a matrícula. Fui sozinho, sofri barbaridade. Era difícil me relacionar, a língua era uma barreira, e o argentino tem muita bronca de brasileiro. Nos treinos, era uma pancadaria brava. Como não sei bater, sempre levava a pior. À noite, chorava no meu quarto, sentindo muita saudade da mulher, da família. Então, comecei a aprontar, de caso pensado, pra sair de lá. Briguei com todo mundo, me recusava a jogar, dizia que ia passar dois dias no Rio e acabava ficando vinte. Eu estava desesperado e aprontei ainda mais quando soube que Falcão estava fazendo força para me levar para o Internacional, pois ele achava que o ponta-esquerda que aquele timaço estava precisando era eu. Os argentinos suportaram tudo o que eu fiz nos meus cinco meses em Rosario, me pagaram tudo. Eu é que fui desonesto com eles. Desonesto mesmo”.

Central Palmeiras
Jim Lopes e Mário Sérgio

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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