Elementos em comum entre Grêmio e Rosario Central
Rosario Central e Grêmio fazem um duelo de times marcados pelo jogo aguerrido e com grandes histórias de redenção. As listras auriazuis e tricolores foram ambas campeãs continentais em 1995 – os rosarinos na Copa Conmebol (saiba mais), os gaúchos na Libertadores. Ainda assim, o intercâmbio entre ambos não foi tão grande quanto poderia.
A dupla foi formada e por um tempo restrita a germânicos (britânicos na equipe argentina, alemães na brasileira). Em comum, celebraram títulos não só em 1995 como também em 1980 e em 1987, anos de títulos estaduais gremistas e taças nacionais canallas – as últimas conquistas argentinas da equipe de Arroyito, desconsiderando-se o título da segunda divisão em 2013. É que o auge auriazul, os anos 70, se misturou ao glorioso período do Internacional octacampeão estadual.
O octacampeonato colorado havia superado um heptacampeonato gremista, que por sua vez ultrapassara o hexacampeonato do rival nos anos 40, quando o Inter teve seu chamado “Rolo Compressor”. Essa série de seis títulos foi finalizada em 1946. O Grêmio vivia jejum muito maior, de quatorze anos, e teve no elenco campeão o meia-atacante Moisés Beresi. Ele fez um dos gols do título, nos 6-1 na final com o Rio-Grandense, mas também ficou recordado como muito individualista.
Ele fora formado no Rosario Central, de onde saíra em 1935 para o Independiente. Estava no futebol brasileiro desde 1940, quando veio junto de Armando Renganeschi (depois ídolo de Fluminense e São Paulo) ao time carioca do Bonsucesso. Ainda na Argentina, Beresi curiosamente defendeu o Almagro, clube com quem os gremistas criariam uma amizade pela semelhança do uniforme (saiba mais). E, assim como havia sido rojo na Argentina, foi colorado no Brasil: jogou pelo Internacional em 1948, quando participou do 7-0, a maior goleada do Inter nos Grenais. Mas não teve maior brilho no rival.
Outro jogador a passar pela dupla gaúcha e pelo Central foi o ponta Mário Sérgio. Desentendido no Botafogo com o técnico João Saldanha em 1979, aceitou sua venda aos auriazuis, que vinham formando o belo time campeão argentino no ano seguinte (o atual técnico são-paulino Edgardo Bauza seria o artilheiro, mesmo zagueiro). Mas não se ambientou e forçou sua saída ainda em 1979 quando soube do interesse colorado, integrando os campeões brasileiros invictos naquele ano.
No Grêmio, foi fugaz, mas histórico: foi contratado especialmente para o mundial de 1983, sendo apontado como o melhor em campo embora as estatísticas digam que Renato Gaúcho é quem tenha feito os dois gols do título. Sobre seu passo também breve na Argentina, já havíamos detalhado no especial sobre Rosario Central x Palmeiras (veja aqui), outro clube onde Mário Sérgio também atuaria. Ele declararia o seguinte à Placar, em 1985:
“Minha mulher tinha entrado na faculdade de Engenharia e precisava cursar pelo menos um semestre para não perder a matrícula. Fui sozinho, sofri barbaridade. Era difícil me relacionar, a língua era uma barreira, e o argentino tem muita bronca de brasileiro. Nos treinos, era uma pancadaria brava. Como não sei bater, sempre levava a pior. À noite, chorava no meu quarto, sentindo muita saudade da mulher, da família. Então, comecei a aprontar, de caso pensado, pra sair de lá. Briguei com todo mundo, me recusava a jogar, dizia que ia passar dois dias no Rio e acabava ficando vinte. Eu estava desesperado e aprontei ainda mais quando soube que Falcão estava fazendo força para me levar para o Internacional, pois ele achava que o ponta-esquerda que aquele timaço estava precisando era eu. Os argentinos suportaram tudo o que eu fiz nos meus cinco meses em Rosario, me pagaram tudo. Eu é que fui desonesto com eles. Desonesto mesmo”.
Atualização em 01/12/2016: após a tragédia de Chapecoense a vitimar também Mário Sérgio, detalhamos mais aqui sobre sua estadia no Central
Como Mário Sérgio, outros dois nomes em comum passaram também pelo Botafogo: Germán Herrera e o uruguaio Sebastián “Loco” Abreu, que surgira como promessa no Defensor, passara ao San Lorenzo em 1997 e desembestara a fazer gols. Faltaram-lhe taças, mas transferiu-se ao na época Super Deportivo La Coruña. O clube galego o emprestou ao Grêmio em 1998. Não repetiu os gols e chegou até a fraturar o pé treinando cobranças de pênalti. No fim da carreira, passou pelo Central como reforço do time recém-ascendido à elite, na temporada 2013-14. Veterano, ficou mais no banco.
Herrera está de volta ao Rosario Central em 2016. Se profissionalizou lá, em 2002, jogando o mundial sub-20 no ano seguinte. Não foi um matador, mas era visto como promessa e interessou ao San Lorenzo, que o levou em 2004. Não decolou e foi emprestado ao Grêmio em 2006, onde teve bom momento. Foi campeão estadual e saiu-se bem na campanha 3ª colocada no Brasileirão, com o clube rescém-ascendido da segundona. Após boa passagem pelo Corinthians na segundona em 2008, voltou ao sul em 2009. Não repetiu a boa fase, mas a característica raça o deixou benquisto.
Outro que passou pelos dois foi Leonardo Astrada. Jogador mais vezes campeão no River, ele desentendera-se com o verborrágico técnico Ramón Díaz e veio junto com Gabriel Amato ao Grêmio em 2000, comprado pela ISL. Perdeu a posição para Anderson Polga, viu do banco o clube perder o Estadual para o Caxias do técnico Tite e no fim do ano foi revendido ao River. Foi breve também no Rosario Central, como técnico entre 2006 e 2007, saindo por desentendimentos com o gerente Horacio Carbonari (defensor daquele título na Copa Conmebol em 1995, com dois gols na final contra o Atlético Mineiro) sobre novas contratações.
Clique aqui para relembrar os argentinos que passaram pelo Grêmio entre 1903 e 2013.