Acima, o goleiro Fillol como rubro-negro e em sua segunda passagem racinguista. Nota originalmente publicada em 2019.
Não só as torcidas de River e Flamengo estarão envolvidas nessa semana de final de Libertadores. Sabendo disso, planejamos publicações diárias envolvendo cada finalista e os grandes rivais um do outro. Sobre o Flamengo e rivais do River, já dedicamos em 2017 dois Especiais do tipo, relacionando os cariocas com o San Lorenzo (Robert Piris da Motta é a única cara nova) e com o Independiente. Vale assim relacionar o Racing, reconhecidos também pela fama especialmente apaixonada de suas torcidas.
O que não é tão comum são os anos em que puderam festejar juntos, o que reflete em especial os largos jejuns impostos à torcida do time argentino. As comemorações puderam ocorrer em torneios alusivos aos anos de 1914, 1915, 1921, 1925, 2014, 2019 pelo Estadual e no Argentino; além de em 1961 (Rio-São Paulo e Argentino) e 2001 (Estadual e Copa dos Campeões; Apertura). E os encontros também são raros. As competições da Conmebol só guardam as semifinais da Supercopa 1992, favorável aos argentinos – foi ali, inclusive, que Mauro Cezar começou a se interessar pela Academia, sobretudo ao notar a animação exibida pela fiel hinchada blanquiceleste mesmo com a necessidade de, adiante, precisar reverter um 4-0 do Cruzeiro na decisão.
Considerando-se amistosos, os clubes tiveram dois duelos em meados de agosto de 1968, quando La Acadé ainda respirava seu então recente título mundial, o primeiro do futebol argentino. No Torneio Conde de Fenosa na Coruña, deu Racing por 2-0. O troco viria no Marrocos, na decisão do Torneio Mohamed V, ganha de virada por 2-1 pelos cariocas. Em tempos de bastante valorização desses torneios, a delegação rubro-negra foi bastante festejada ao desembarcar no Galeão, conforme contado pelo amigo Emmanuel do Valle no seu Flamengo Alternativo.
Vamos, enfim, a quem defendeu ambos – que chegaram a ser simultaneamente patrocinados pela Petrobras em meados da década passada:
Arturo Naón: maior artilheiro do Gimnasia LP e campeão com o San Lorenzo em 1936, Naón não conseguiu o mesmo êxito por Racing e Flamengo. Foi racinguista em 1938 e só logrou um gol. Já estava de volta ao Gimnasia quando foi adquirido em 1939 pelo Flamengo, que chegou a alinhar em alguns jogos um quinteto ofensivo onde só o ponta Sá não era argentino (Agustín Valido, Naón, Alfredo González e Raimundo Orsi completaram o setor em um 2-1 no Bangu). O Flamengo, que tinha de argentino também Carlos Volante, foi campeão pela primeira vez em doze anos, seu maior jejum, mas Naón fez só dois gols e voltou a seu país para defender o Argentino de Quilmes na segunda divisão.
Manuel Fleitas Solich: após anos de consagração no Boca, o volante paraguaio reforçou o Racing no decorrer campeonato de 1931, o primeiro oficial do profissionalismo argentino. Porém, El Brujo só pôde disputar três partidas; após fraturar a perna em 1930, já não era o mesmo. Viria à Gávea como treinador, na esteira de seu sucesso à frente de seu Paraguai natal, ao qual conduzira ao primeiro título guarani na Copa América – sobre o Brasil, em 1953. Logo comandou o segundo tri estadual rubro-negro, entre 1953 e 1955 (finalizando também um jejum pendente desde o tri anterior, encerrado em 1944), auge de um trabalho que lhe credenciou a ser sondado para dirigir a própria seleção brasileira de 1958. Não chegou lá, mas fechou com o Real Madrid de Di Stéfano.
Rogelio Domínguez: profissionalizado no Racing em 1951, firmou-se a partir de 1953. Embora não conseguisse títulos, chegou à seleção para ter uma das melhores estatísticas para sua posição, além de vencer a Copa América de 1957. O troféu o catapultou ao Real Madrid de Di Stéfano. Domínguez esteve nas três últimas Ligas dos Campeões do penta europeu madridista, mas ficou de fora da Copa de 1958, em tempos nos quais não se convocava quem atuasse fora. E em 1967 quase se tornou o primeiro a vencer tanto a Liga dos Campeões como a Libertadores, quando a decidiu naquele ano pelo Nacional, justamente diante do Racing. Insatisfeito ao perder a posição para Manga em 1968, acertou com o Flamengo, que viria a ser seu último clube. Começou com grandes atuações, mas saiu crucificado por uma expulsão no Fla-Flu decisivo de 1969. Ainda assim, houve quem votasse nele como melhor goleiro do clube em eleições promovidas pela Placar em 1994 e 2006. Dedicamos em julho este Especial sobre Domínguez, nos 15 anos de seu falecimento.
Silva Batuta: chegou ao Flamengo em 1965 e cavou lugar pela seleção na Copa de 1966 – ano em que inclusive visitou Avellaneda para marcar o gol do empate rubro-negro em amistoso contra a própria seleção argentina. Em 1967, teve passagens frustradas por Barcelona (só pôde ser usado em amistosos após La Liga manter um veto a estrangeiros que os catalães esperavam terminar) e pelo Santos de Pelé, voltando à Gávea para 1968. Esteve nos duelos amistosos contra o Racing, que o contratou. Lá, Silva ficou mais conhecido pelos dois sobrenomes, “Machado da Silva”. E se tornou nada menos que o único brasileiro a obter a artilharia do campeonato argentino, em 1969. Sua média impressionante de gols renderam idolatria eterna mesmo com poucos jogos – foram cerca de trinta partidas, mas vinte bolas na rede pelo time eliminado no finzinho da semifinal contra o futuro campeão Chacarita. Já dedicamos ao Batuta (pai de outros dois ex-jogadores do Flamengo, Waltinho e Wallace) este Especial em 2015.
Luís Cláudio: a negociação do Racing com o Santos pelo empréstimo do astro Dorval em 1964 incluiu o repasse de dois juvenis santistas, o meia-direita Luís Cláudio e o ponta-esquerda Benedito Batista. Naquele ano, curiosamente, Academia e Peixe chegaram a jogar com cinco elementos em comum, que incluíam o goleiro Agustín Cejas e o então camisa 10 César Menotti. Cláudio não pôde se firmar, sendo repassado ao All Boys, onde logrou respeito na segunda divisão. Ele se desligou de vez do Racing ao fim da temporada 1967, e pôde ir à forra naqueles duelos amistosos de 1968: em sua breve passagem pelo Flamengo, fez o gol da virada por 2-1 a dar o título no Torneio Mohamed V. Também se destacou na famosa vitória contra o Botafogo na tarde da adoção do urubu como mascote pela massa rubro-negra.
Jorge Paolino: volante que calhou de pegar o início do desmanche do Racing campeão de tudo, permaneceu no clube de 1969 a 1974, período que compreendeu tanto as piores campanhas nacionais até então do clube (dois 11º lugares, em 1970 e 1971) como o vice de 1972 – ainda que o time não ameaçasse seriamente o título do San Lorenzo. Em 1975, reforçou o Huracán, em fase muito superior na época. Paolino foi vice-campeão também com o Globo e como jogador quemero fez sua única aparição pela seleção, naquele ano. Com esse chamariz, chegou badalado em 1976 ao Flamengo, mas terminaria saindo despercebido após poucos jogos.
Ubaldo Fillol: o goleirão campeão da Copa do Mundo de 1978 dispensa apresentações e já lhe dedicamos este Especial. Antes de ser campeão de quase tudo no River, teve um interessante ciclo por um Racing que já vivia certa decadência. Chegou a Avellaneda vindo do Quilmes, em 1972, ano em que o clube terminou como vice do Metropolitano após suas piores campanhas até então no torneio. Em 1973, já era chamado para a seleção argentina e em 1974 começou a escrever sua história no River, pressionado pelo técnico racinguista Ángel Labruna (talvez a maior lenda em Núñez) a aceitar a oferta de um time em jejum havia 17 anos. O próprio Labruna iria a seu encontro para o fim da seca millonaria, em 1975, e ambos trabalhariam juntos também no Argentinos Jrs, em 1983. Com a morte do mentor naquele mesmo ano, Fillol acertou com o Flamengo. O Fla vinha de título brasileiro no primeiro semestre, mas também acabara de perder Zico ao futebol italiano (e Raul, aposentado).
O argentino não deixou de ser querido e até manteve-se na seleção, mas sem títulos naqueles saudosos anos 80 à torcida – houve quem ao fim de sua passagem já pedisse pela volta de Cantarele, mas El Pato segue com o tempo cada vez mais prestigiado na Gávea, e não deixou de externar nas redes sociais sua torcida nas semifinais pelo River e seu “querido Flamengo”, nem felicitações pelo aniversário rubro-negro na última sexta-feira. Saíra da Gávea para o Atlético de Madrid e foi repatriado pelo Racing em 1987. Enfim, pôde ser campeão na Acadé, com a conquista da primeira edição da Supercopa, em 1988, único troféu oficial do clube entre 1967 e 2001. Após ser um dos ídolos que se levantaram em 1999 contra a extinção formal do clube, voltou rapidamente em 2004 como um técnico bombeiro em Avellaneda, sem os resultados necessários.
Darío Bottinelli: cria do San Lorenzo, o meia-esquerda nunca se firmou nos azulgranas como o irmão Jonathan Bottinelli, sendo repassado ao Racing para o Apertura 2007. Também não deu certo, com uma só partida registrada oficialmente pela Academia. Reconstruiu-se como rubro-negro, mas no Atlas mexicano, sendo então adquirido pelo Flamengo em 2011. Teve seus momentos, como os dois gols no fim de um Fla-Flu para render uma virada flamenguista no clássico, mas terminou marcado pela irregularidade de boas partidas. Em 2013, rumou ao Coritiba.
Alejandro Donatti: o Flamengo contratou em 2016 o zagueiro de um Rosario Central que no ano anterior ficara de vice na liga e na copa argentinas. Nunca pôde encontrar lugar e em 2017 partiu ao México, sendo repatriado em 2018 para ser titularíssimo do Racing campeão argentino da temporada 2018-19.
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