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Elementos em comum entre Botafogo e Estudiantes

Um saudosismo grande pelos anos 60 une Estudiantes e Botafogo mais do que os calções negros e camisas listradas. O confronto de hoje na Libertadores poderia ter oposto os dois times em 1969, edição que contou com o Pincha como campeão da edição anterior, mas que não recebeu clubes brasileiros – o Fogão havia vencido a Taça Brasil de 1968, que só acabaria já em 1969 mesmo. Uma pena: o histórico comum se resumiu ao tumultuado mata-mata da Sul-Americana de 2008, lembrado pelo cartão amarelo que André Luís “deu” pela enésima vez a um árbitro e a um 1-1 (gols de Juan José Negri, que brilharia no São Paulo, e Carvalho Leite) amistoso ocorrido em 1941 no México.

Já os jogos de 2008 foram assim: primeiro, um 2-0 para os argentinos em La Plata, gols de Mauro Boselli e do eterno Juan Sebastián Verón (que, suspenso, não atuará hoje). Os alvirrubros repetiriam o placar no Rio de Janeiro, com Marcos Angeleri e o uruguaio Juan Manuel Salgueiro, mas Lúcio Flávio e o próprio André Luís, antes do papelão, empataram. O Estudiantes iria à final, perdendo-a para o Internacional, mas levantaria no ano seguinte a Libertadores. O meia-atacante Salgueiro esteve no elenco campeão, sendo pincharrata de 2007 a 2011, mas sem se firmar.

Salgueiro voltaria a vitimar cariocas na Libertadores de 2013, fazendo os dois gols da classificação do Olimpia sobre o Fluminense nas quartas-de-final. Agora titular, triscou o título pelos alvinegros paraguaios. Revelado no alvinegro uruguaio, o Danubio, buscou repetir a boa fase nesses dois clubes em congênere carioca. Esteve no “Glorioso” no ano passado, onde talvez tenha tido o pior desempenho da carreira. Voltou ao Paraguai em 2017, agora para defender o Nacional local.

O goleiro titular do Botafogo atualmente é o paraguaio Roberto Gatito Fernández, o outro a ter passado pelos dois clubes e vital na classificação nos pênaltis contra os compatriotas do Olimpia ainda que não chegue a despertar tanta segurança com bola rolando. Formado no rival Cerro Porteño, Fernández esteve no time de La Plata no biênio 2009-10, mas sem chegar a jogar oficialmente – afinal, a equipe contava nesse tempo com dois goleiros que estariam na seleção argentina na Copa de 2014, Mariano Andújar e depois Sebastián Orión.

Fora eles dois, não foram encontrados outros nomes. Vale a curiosidade de que o Botafogo, na verdade, importou mais ex-jogadores do arquirrival alvirrubro, o Gimnasia LP. O xerife xodó Joel Carli é o ex-tripero mais recente de uma lista que abrange desde Héctor Papetti nos anos 40 a Germán Herrera, Juan Carlos Ferreyra e o uruguaio Álvaro Navarro.

Os dois Paulinho de Almeida: o do Estudiantes é o primeiro agachado

Há também a curiosidade sobre os Paulinho de Almeida que cada clube teve. No Brasil, o mais conhecido é o ex-lateral direito de Internacional e Vasco, que chegou a jogar pela seleção na Copa América de 1959. Como técnico, esteve duas vezes no Botafogo, em 1971 e em 1981. Na primeira, os alvinegros seguiam nas cabeças, chegando ao triangular final do Brasileirão. Dez anos depois, Paulinho e comandados chegaram nas semifinais do Brasileirão (eliminados de forma tumultuada pelo São Paulo), mas também recolhiam os cacos da demolição da sede de General Severiano e dos 6-0 devolvidos pelo Flamengo.

Já na Argentina jogou outro Paulinho de Almeida. Também jogou nos anos 50 e 60, como o xará, mas inicialmente no rival Flamengo. Era ponta-direita e fez o gol no 2-1 sobre o Vasco que deu o título carioca de 1954, sendo artilheiro da edição seguinte. Igualmente esteve na seleção, até marcando gol na Inglaterra em Wembley em 1956. Negociado com o Palmeiras em 1957, apareceu na Argentina em 1960, inicialmente no River. Os hermanos, seduzidos pelo título canarinho na Copa de 1958, importaram uma enxurrada de brasileiros no início dos anos 60.

O Paulinho dos argentinos até marcou gol no Superclásico com o Boca (1-1). Apesar disso e do título ter escapado por apenas dois pontos para o Independiente, o brasileiro não convenceu em Núñez e foi repassado a La Plata. Jogou metade das partidas de uma campanha sofrível do Estudiantes (que também importara seus brasileiros, trazendo por exemplo o ponta-esquerda Adamastor Sahiuro diretamente do XV de Piracicaba, além do defensor Amaral Silveira e depois o atacante Nilton da Silva): os pincharratas ficaram apenas um ponto acima dos dois últimos.

Os clubes também contabilizam dois rebaixamentos na história, com os argentinos caindo em 1953 e em 1994, enquanto os cariocas desceram em 2002 e em 2014. Já alguns anos de títulos coincidem: ambos conseguiram dois troféus em 1968, com os liderados por Juan Ramón Verón (pai da estrela e também craque de bola) assegurando sua primeira Libertadores (sobre o Palmeiras) e seu único Mundial (sobre o Manchester United, em Old Trafford) e os brasileiros garantindo o Estadual e a Taça Brasil, as últimas conquistas antes do longo jejum ruído só em 1989.

O ano de 1995 também foi festivo: o Botafogo venceu o Brasileirão enquanto o time de La Plata, revelando Verón, venceu a segundona e ainda viu o arquirrival Gimnasia perder de forma inacreditável o título da elite (entenda). No ano de 2006, o Estudiantes, que na elite argentina experimentou jejum semelhante ao sofrido de modo geral pelos botafoguenses entre 1968-89, voltou a ser campeão após 23 anos, enquanto o adversário de hoje reconquistou o Estadual após nove anos. Por fim, o ano de 2010 reservou os últimos troféus de ambos (desconsiderando-se a Série B alvinegra em 2015): Apertura para o Pincha, Estadual para o Fogão.

Com agradecimentos aos historiadores Esteban Bekerman e Emmanuel Do Valle.

Saiba mais:

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Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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