Boca e San Lorenzo fazem um confronto de disparidades entre os cinco grandes. Os auriazuis têm mais que o dobro de títulos argentinos (30 contra 14) e, sobretudo, seis Libertadores da América, torneio que ainda falta aos azulgranas. O CASLA é justamente o único grande argentino (River, Independiente e Racing são os outros) que ainda não venceu essa competição. A sigla de Club Atlético San Lorenzo de Almagro costuma ser satirizada como Club Atlético Sin (“Sem”) Libertadores de América… As glórias do Ciclón são menores se comparadas às dos xeneizes: internacionalmente, venceram só a Mercosul 2001 e, em 2002, a Sul-Americana – vencida pelo Boca em 2004 e 2005.
Atualizações em 2014: hoje o San Lorenzo tem 15 títulos argentinos. E, enfim, a Libertadores.
Por outro lado, o time do Papa Francisco sabe bater de frente com os bosteros: em confrontos oficias, é o único na Argentina que tem mais vitórias que o Boca em confrontos diretos, vencendo 76 e perdendo 73, vantagem que só é boquense se considerados amistosos. Com eles, fica Boca 92-90. Ocorre que a visão argentina não costuma considerar amistosos, daí esse ideia de que o azulgranas têm os auriazuis de hijos (na Argentina, não se usa exatamente o termo “freguês”, e sim “filho” para quem tem desvantagem. Na mesma linha, “freguesia” é paternidad).
Atualizações em 2015: o San Lorenzo passou no geral, 95-94. Sem considerar amistosos, está 79-73.
Dentre os elementos em comum, os bairros de origem: La Boca e Boedo são próximos e ambos ligados a trabalhadores de baixa qualificação; e a superioridade que cada um tem no seu clássico, em quantidade de títulos e vitórias sobre o rival: o Boca contra o River, e o San Lorenzo contra o Huracán – que, por sinal, considera o Boca como seu segundo rival, conforme explicamos aqui. Vamos aos outros:
José Sanfilippo
Nada menos que o maior artilheiro do San Lorenzo. 204 gols em 265 jogos mostram bem o matador que foi. Assim como as quatro artilharias seguidas no campeonato argentino, entre 1958-61; só Maradona conseguiu (uma a) mais. A mais saborosa, em 1959, quando conduziu o time ao título que não vinha havia 13 anos. Teve duas passagens: de 1953-62 e em 1972, voltando depois de dez anos para parar de jogar como bicampeão anual (veja). É também o maior goleador do clássico contra o Huracán. “Sempre queria mais e mais. Se íamos ganhando por 6-0 com seis gols meus, queria chegar a 10-0 e, se possível, com dez gols meus”. Nos dez anos longe de Boedo, passou até por Bahia e Bangu.
No exílio (brigara com diretores do San Lorenzo), foi melhor no Boca. Se o Santos ganhou a Libertadores, Sanfilippo teve o melhor desempenho das finais, marcando três vezes. Também ficou lembrado por ter feito o gol da vitória no River no Monumental na penúltima rodada do campeonato argentino de 1963. O Boca já estava fora do páreo do nacional, mas complicou a vida do rival, que disputava a taça com o Independiente, e vingou-se 30 anos depois de perder um título para o San Lorenzo muito por conta de uma inoportuna derrota no Superclásico. El Nene poderia ter se destacado muito mais, mas durou pouco nos auriazuis: insatisfeito em ser meia-armador, saiu em 1964 para o Nacional-URU.
Carlos Veglio
Do nanico Deportivo Español chegou ao San Lorenzo em 1968 e logo este atacante foi protagonista quando o time tornou-se o primeiro campeão argentino profissional invicto (ver aqui). Foi importante também no bi anual de 1972 (aqui), já sob o técnico Juan Carlos Lorenzo, e, mais irregular, venceu ainda o Nacional 1974. Foi ao Boca já com 30 anos, retomando a habilidade dos bons tempos cuervos e indo até mais longe: bi anual de 1976, venceu as primeiras Libertadores – 1977, marcando no Cruzeiro na final, e 1978 – e Intercontinental (1977) do clube. Jogou nas celebradas equipes de Toto Lorenzo na dupla. Hoje, é assistente de Carlos Bianchi.
Juan Carlos Lorenzo
Técnico da Argentina nas Copas 1962 e 1966 e até das rivais Lazio e Roma, ele teve sete passagens pelo San Lorenzo. Se o clube o chamou para tentar inutilmente salvá-lo do rebaixamento em 1981 (veja), foi porque menos de dez anos antes tivera sob ele seu melhor momento: o bi anual de 1972 e as semis da Libertadores 1973. O êxito esportivo não foi bem administrado pela diretoria: “San Lorenzo é Sacachispas na hora de pagar”, chegou a dizer, em alusão a um clube da 4ª divisão.
Após recolocar o Unión na elite, em 1975, escolheu ir ao Boca em 1976, levando Hugo Gatti e Ernesto Mastrángelo (que eram do Unión) e, dentre outros, o ex-sanlorencista Veglio. O resto foi história: bi anual também ali, incluindo vencer a primeira final argentina travada por Boca e River, e as primeiras Libertadores (bi 1976-77) e Intercontinental xeneizes. Era o maior técnico do clube antes de Bianchi.
Claudio Marangoni
Maranga surgiu como centroavante no Chacarita, chegando em 1976 ao San Lorenzo. Mesmo passando a meia – é recordado como um dos mais técnicos em sua posição na história do clube -, foi artilheiro cuervo naquele ano. Se salvava em meio à decadência da instituição, até que, em 1979, ano em que ela precisou vender o estádio Gasómetro, ele foi ao Sunderland. Foi um dos primeiros argentinos no futebol inglês, mas voltou em um ano. Queria regressar ao CASLA, mas lhe negaram e parou justo no Huracán. Do rival, passou ao Independiente, onde teve seus melhores momentos (falamos aqui e aqui). Ao fim da carreira, teve dois bons anos no Boca: líder do campeão da Supercopa 1989.
Blas Giunta
Volante marcado pela raça: foi cantado pelas torcidas da dupla com “Giunta, Giunta, Giunta, Huevo, Huevo, Huevo…”. Huevo significa “ovo”, também com sentido de colhões. Estreou no CASLA em 1983 e se firmou três anos depois, após empréstimos pelos carniceiros campos do interior. Foi dono do meio-de-campo dos semifinalistas da Libertadores 1988, o mais longe que os cuervos chegaram do título. Caiu como uma luva ao gosto da torcida boquense, que o recebeu em 1989. Logo venceu a Supercopa 1989, batendo o penal decisivo. Venceu ainda a Copa Master 1992, a Copa Oro 1993 e o Apertura 1992, quando a equipe finalizou jejum nacional de onze anos (veja). Desde “Maradona 1981”, não era campeã.
Em comum na seleção…
Ricardo Alarcón foi um dos primeiros goleadores do profissionalismo. Ficou no San Lorenzo de 1933-39. Campeão em 1933 e 1936, foi neste ano artilheiro e chegou à seleção. Em 1940, foi ao Boca e foi o primeiro a marcar por ele diante do ex-clube na recém-inaugurada Bombonera. Fez 20 gols na campanha do título daquele ano e seguiu na seleção. Ficou até 1942 e depois foi ao Genoa e Olympique Marselha, algo raro naqueles tempos a sul-americanos sem sangue italiano ou francês.
Alberto Acosta teve idas e vindas no San Lorenzo. Tosco e sem virtuosismo, mas raçudo e carismático: uma espécie de Martín Palermo cuervo. Foram quatro passagens pelo CASLA, entre 1988 e 2003, com 123 gols em 276 jogos, muitos vindos da dupla com Néstor Gorosito, transportada também para a seleção (venceram a Copa América 1993), Unviersidad Católica e Yokohoma Marinos. Era torcedor do River, mas passara ao Boca em 1993, venda que irritou os azulgranas por um tempo, mas que ajudou a concluir o Nuevo Gasómetro, terminando os 14 anos em que o ex-clube não teve casa própria.
Marcou seis gols no próprio River, mas saiu após a queda na primeira fase da Libertadores 1994. Após se consagrar com 33 anos no Sporting Lisboa – ajudou a encerrar em 2000 um jejum de 18 anos deste -, voltou uma última vez ao Ciclón para enfim ser campeão: Mercosul 2001 e Sul-Americana 2002; falamos aqui e aqui. É justo ele o maior artilheiro internacional do San Lorenzo, 21 gols. Também esteve na seleção vindo do futebol chileno (pela Católica), algo raro – veja.
Oscar Ruggeri veio das inferiores do Boca para ser um dos protagonistas do maradoniano título do Metro 1981. Raçudo zagueiro, chegou à seleção e era ídolo, imagem que ruiu ao pedir para ir diretamente ao River em 1985, levando consigo outro apreciado nos auriazuis, o atacante Ricardo Gareca. E acabou se destacando muito mais no arquirrival: campeão argentino, da Libertadores e da Intercontinental (as primeiras do River) em 1986, em que venceu também a Copa do Mundo. No fim da carreira, veio ao San Lorenzo. Como cuervo, foi à Copa 1994 e foi pilar no título do Clausura 1995, que finalizou jejum de 21 anos do time. É o único que foi campeão e jogou pela seleção nos três grandes de Buenos Aires.
Agustín Orión foi o goleiro titular do vitorioso Clausura 2007, última taça do San Lorenzo (veja), mas foi crucificado pela eliminação na Libertadores 2008. Era o ano do centenário sanlorencista e a LDU marcou em Buenos Aires após roubar a bola do goleiro, que fazia embaixadas. Havia ido à Copa América 2007, embora só viesse a estrear pela Argentina em 2011, já pelo Boca, no Superclássico das Américas. Campeão no último título do Estudiantes, o Apertura 2010, no Boca venceu o Apertura 2011 e a Copa Argentina de 2012, quando foi vice também da Libertadores. Curiosamente, foi chamado ao Superclássico das Américas de 2012 junto com Oscar Ustari, seu reserva nos auriazuis.
…e em comum em títulos
Além de Alarcón, Lorenzo, Ruggeri e Orión, outros também foram campeões na dupla. Antonio Martínez foi bicampeão pelo Boca em 1934-35, sendo titular no primeiro. Perdeu lugar e saiu em 1938. Ficou de 1944-52 no San Lorenzo, se sobressaindo mais pelo sacrifício do que por ser um lateral-direito reluzente. Foi reserva de José Vanzini na taça de 1946. Hugo Paulino Sánchez foi um dos reforços do San Lorenzo na 2ª divisão de 1982. Começou titular, a ponto de ter feito o primeiro gol cuervo na campanha. Foi perdendo espaço, marcando só outras 4 vezes em outros 26 jogos e saiu. No Boca, jogara 6 vezes no vitorioso Metro 1976, já não sendo o mesmo insinuante atacante do ano anterior.
Fabricio Coloccini jogou só quatro vezes pelo Boca (uma, no vitorioso Clausura 1999, marcando gol), que o comprara junto com Riquelme do Argentinos Jrs. O Milan o comprou como promessa e resolveu emprestá-lo ao San Lorenzo para que ganhasse experiência. Torcedor e filho de ex-jogador do CASLA, ele aproveitou bem os seis meses de empréstimo: antes de voltar à Europa, foi o único campeão do Clausura 2001 a estar em todos os jogos. Daniel Fagiani foi outro presente no Clausura 2001, emprestado pelo Atlético de Madrid. Mas chegou mal fisicamente e só jogou seis vezes pelo San Lorenzo. No Boca, fora titular do Apertura 2000, sem encantar na vaga de Arruabarrena.
Walter Erviti recém-saiu do Boca, onde venceu o Apertura 2011 e foi vice da Libertadores 2012, saindo mais por desavenças com Riquelme e Bianchi do que por outra razão. Entre 1999-2002, fora um insinuante lateral ou volante no San Lorenzo. Venceu com Coloccini e Fagiani o Clausura 2001 e, já sem eles, a Mercosul 2001. O atacante Raúl Estévez (ex-Botafogo) foi colega deles no CASLA, onde viveu no amor e ódio. Foi dele o gol salvador no Flamengo que levou aos pênaltis. El Pipa passou ao Boca em 2003, vencendo naquele ano a Libertadores, o Apertura e a Intercontinental, mas na reserva.
Claudio Morel Rodríguez surgiu no San Lorenzo, onde seu pai, Eugenio Morel, venceu a 2ª divisão de 1982 (ver aqui). O filho ficou por lá de 1998-2004, sendo outro a vencer o Clausura 2001. E, também, a Mercosul 2001 e a Sul-Americana 2002, quando foi, enfim, titular. O Boca o comprou em 2004 e nele este paraguaio também jogou seis anos, até 2010. No currículo, Sul-Americanas 2004 e 2005, Apertura 2005, Clausura 2006, Libertadores 2007, Recopas 2005, 2006 e 2008 e Apertura 2008 e muita entrega e senso de colocação como lateral ou zagueiro.
O volante Diego Rivero foi um dos pilares do vitorioso Clausura 2007, ainda o último título do San Lorenzo, onde foi ainda vice do Apertura 2008. Ficou lá de 2006-10 e desde então está no Boca, onde venceu o Apertura 2011 e a Copa Argentina 2012, ano em que e foi vice na Libertadores.
Atualizações após a matéria: o San Lorenzo, enfim, venceu a Libertadores, em 2014. No elenco, o atacante Nicolás Blandi (reserva), que pelo Boca ganhara o Apertura 2011 e a Copa Argentina 2012, ano em que fora vice na mesma Libertadores pelos auriazuis.
Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-Racing, River-Independiente, Independiente-San Lorenzo, Racing-San Lorenzo, Racing-Independiente, River-Racing, Boca-Independiente, River-San Lorenzo, Boca-River I, Boca-River II, Boca-River III e Boca-River IV. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.
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