Para fechar Boca-River e esta série de especiais, vamos aos outros que passaram pela dupla e que não foram abordados nas três partes anteriores. Dentre eles, estão alguns dos mais célebres jogadores do país e do exterior. Ainda que não exatamente pelo que fizeram nos rivais. Há muitos casos de quem pouco produziu neles e se destacou bem mais em outro lugar.
Tiveram alto número de vira-casacas já como recém-fundados. O primeiro foi Pedro Moltedo, que atuou nas primeiras partidas de ambos, como goleiro no River e atacante no Boca. Mais do que isso, estava presente nos times que deram origem aos rivais: jogava no La Rosales, que formou o River ao fundir-se com o Santa Rosa. Depois, foi presidente do Independencia Sud, que chegou a enfrentar o River antes de extinguir-se e alguns remanescentes fundarem o Boca, Moltedo dentre os quais – foi o primeiro pró-tesoureiro xeneize.
Outro a jogar a primeira partida do Millo e depois ir ao rival foi Artemio Carrega, enquanto Vicente Oñate jogou a primeira bostera para passar em 1907 ao “co-irmão”. Anempodisto García, Ramón Ferreiro e Ramón Lamique também são daqueles primórdios. Arturo Chiappe, um dos primeiros símbolos do River (só ele ganhou a 2ª divisão em 1908 e o primeiro título do Millo na elite, em 1920), foi antes do Boca. Donato Abbatángelo, primeiro capitão auriazul na elite e seu segundo jogador na seleção, passou depois ao rival. Antonio Ameal Pereyra, autor de um dos gols da vitória do River no primeiro dérbi na elite (falamos aqui), fez o inverso.
O mais célebre abordado aqui é o maior artilheiro da seleção, Gabriel Batistuta. Há 25 anos, ele surgiu no Newell’s, na campanha que levou a Lepra a seu primeiro vice na Libertadores. Ainda não era Batigol, mas o River o comprou em 1989. Até começou bem, classificando-o à Libertadores de 1990, mas perdeu espaço neste mesmo ano com a chegada de Daniel Passarella a técnico. Terminou a temporada 1989-90 campeão, mas reserva, e acabou indo ao Boca sem maiores obstáculos. Ali, foi o inverso: primeira metade de temporada ruim, para enfim triunfar na seguinte. Falamos tudo aqui.
No Clausura 1991, fez grande dupla com Diego Latorre e foi artilheiro do torneio. O Boca não era campeão nacional havia dez anos, desde o maradoniano Metropolitano 1981. Vencer o Clausura não bastou, porém: aquela temporada teria só um campeão, decidido em uma finalíssima entre vencedores do Apertura e Clausura. Ironias: foi contra o Newell’s; Batistuta não enfrentou o ex-time, com sua boa fase se voltando contra o Boca – foi chamado pela primeira vez à seleção, para disputar a Copa América, realizada na mesma época da finalíssima; o Newell’s venceu e a partir da temporada seguinte, 1991-92, cada turno enfim valeria como campeonato próprio.
Bati não voltou ao Boca: artilheiro e campeão da Copa América 1991, dali foi ser semideus na Fiorentina. Antes, foi constante carrasco do River, mas há nele quem o absolva: “o River teve em seu poder um tesouro de ouro coberto de barro, e não soube descobri-lo a tempo. Sua explosão dói mais pelo que o River perdeu, e não pelo que tenha feito no Boca”, escreveu-se aqui.
Batistuta só subiu ao time principal do Newell’s e depois foi ao River para suprir em ambos a vaga de Abel Balbo, outro grande artilheiro do futebol italiano e com quem jogaria na seleção (Copas 1994 e 1998), na Fiorentina e na Roma. Após ser protagonista no título argentino de 1987-88, o primeiro da era dourada do Newell’s (veja), Balbo foi negociado com o River. Não chegou a triunfar em Núñez, mas dali chegou à seleção e, após uma temporada, à Itália. Era torcedor do Boca e ao fim da carreira o reforçou para a Libertadores 2002, em que os auriazuis buscavam um tri seguido. Só fez 4 jogos.
Fernando Gamboa, zagueiro vice-campeão da Libertadores 1992, é outro que após o Newell’s passou por River e depois Boca sem se destacar em ambos, sendo ídolo só no rubronegro rosarino mesmo. Curiosamente, também como Batistuta e Balbo, é torcedor boquense. Rosario também tem outros que se destacaram mais na cidade do que nos rivais, mas no Rosario Central: Jesús Méndez, Luciano Figueroa e Rubén da Silva.
Formado no River em 2004, Méndez ficou até 2006 sem se firmar e ganhar taças. O Boca o comprou em 2010 do Rosario Central, mas mais o emprestou a ele do que o usou. Ausente do rebaixamento em 2010, esteve na campanha que recolocou o Central na elite em 2013. Já Figueroa é conhecido dos flamenguistas: marcou 2 na vitória de virada do Emelec sobre os cariocas na Libertadores 2012, na penúltima rodada de fase de grupos, que teria os equatorianos classificados no lugar dos rubronegros.
Em 2001, Lucho disputou as semifinais da Liberta com seu Rosario Central, o mais longe que os canallas chegaram da taça. A eliminação veio para a Cruz Azul, que o contratou junto com a dupla César Delgado. Vice para o Brasil na Copa América 2004 e Copa das Confederações 2005, acertou com o River em 2006 para ter mais visibilidade por um lugar na Copa 2006. Até vinha bem, mas uma lesão já no sétimo jogo tirou suas chances de ir à Copa. Ainda em 2006, foi ao Genoa, que em 2008 o emprestou ao Boca. Fez seus gols (7 em 17 jogos), mas não chegou a agradar os xeneizes; perdia muitos outros.
O uruguaio Da Silva foi tirado em 1989 do Danubio, após tê-lo ajudado a ser campeão nacional, coisa rara na liga de Peñarol e Nacional. No River, já jogava seu irmão Jorge da Silva, El Polilla (“A Mariposa”). Rubén virou El Polillita e foi goleador em Núñez até 1993. Mas, logo após ser artilheiro do Clausura 1993, foi ao Boca. Em 1995, triunfou no Central: artilheiro e campeão da Copa Conmebol em épica final contra o Atlético Mineiro. Falando em Atlético e em estrangeiros, o paraguaio Julio César Cáceres, ídolo do Galo (e por sinal revelado no Olimpia, campeão da Libertadores 2002), também foi da dupla.
O Nantes o comprou e o emprestou ao River em 2006. Cáceres até foi o capitão do Millo que eliminou o Corinthians em noite de muito tumulto no Pacaembu na Libertadores, mas o time caiu logo depois, quebrando a escrita de sempre chegar a finais em anos terminados em 6. Foi colega de Figueroa ali e no Boca em 2008, sendo campeão do Apertura. Ficou até 2010. O Futebol Portenho já o entrevistou: veja aqui, aqui e aqui. O mais recente também é paraguaio (naturalizado, pois nasceu na Argentina): Jonathan Fabbro, que pouco jogou no Boca em 2002 e acaba de reforçar o rival.
Atualização em 2015: Nicolás Bertolo se tornou neste ano o mais recente vira-casaca.
Outros estrangeiros sul-americanos: Luis Solans, Gabriel Cedrés, Miguel Loayza, José Melgar e Zoilo Canavery. O uruguaio Cedrés foi membro ativo da segunda Libertadores do Millo, em 1996, mas rumou ao Boca logo depois. Ficou uma temporada, marcando gols em todos os clássicos que jogou, mas o tempo breve e a falta de taças o impediram de ficar ídolo auriazul. Também uruguaio, Solans jogou nos anos 10. Outro charrua, Canavery só não jogou no San Lorenzo dentre os 5 grandes. Um senhor vira-casaca: jogou pela Argentina (duas vezes, e contra o Uruguai). Campeão argentino por Boca em 1919, é mais bem lembrado na dupla de Avellaneda, onde triunfou mais. Foi do River de 1913-14.
O peruano Loayza, nos anos 60, e o boliviano Melgar, nos 80, fizeram o inverso: primeiro no Boca, depois no River, sem êxito. Loayza se destacou mais no Huracán. Outro estrangeiro foi Francisco Priano, genovês como muitos de La Boca, onde Boca e River nasceram: é daí que vem o apelido boquense de xeneize (derivado de zeneise, “genovês” em lígure) e as cores do River, as mesmas da bandeira de Gênova. Integrou o elenco do River que subiu à elite, em 1908, ano em que chegou a jogar 1 vez pelo Boca. Na volta à Gênova, jogou pelo Andrea Doria, clube que deu origem à Sampdoria.
A dupla opôs famílias, como os Da Silva e o próprio Priano: seu irmão Juan Priano foi membro ativo dos inícios do Boca. Outros irmãos foram Alberto e Arturo Penney, Alfredo e Francisco Taggino, Rodolfo e Alberto Dezorzi (sobre os seis, aqui) e Juan e Federico Vairo. Arturo Penney, também dos primórdios, Alfredo Taggino e Rodolfo Dezorzi foram do Boca e Federico Vairo, do River (foi ídolo). Seus irmãos, dos dois. Francisco Taggino já foi abordado na 1ª e na 3ª partes. O obscuro bostero Luis Más foi irmão de um dos maiores ídolos do River, Oscar Más. O uruguaio Luis Ernesto Castro, ídolo do Nacional, esteve no River em 1950, seis anos após passo rápido de Enrique Castro no Boca. Héctor, ex-Boca, e Néstor Scotta, ex-River e Grêmio, se destacaram mais no San Lorenzo e no Racing.
Gonzalo Higuaín, que despontou no River antes de ir ao Real Madrid, e seu irmão Federico Higuaín, também ex-millonario, são filhos de Jorge Higuaín, que jogou nos dois nos anos 80. Mas a família mais afetada talvez seja a do ex-corintiano Juan Manuel Martínez, hoje no Boca. Seu pai, Carlos, e o tio, Joaquín, jogaram no River, ao passo que um tio-avô, também chamado Joaquín, esteve em ambos. Há ainda a de Alfredo Di Stéfano, ex-ídolo do River que treinou ele e o Boca (veja-o na 1ª parte). Um tio seu, Dante Pertini, jogou pelos dois, com mais sucesso nos xeneizes.
Como alguns mencionados, a dupla teve outros que se destacaram mais fora. É o caso de Juan José Pizzuti, símbolo do Racing como jogador e técnico, embora torcesse pelo Independiente; no próprio Independiente, Miguel Ángel Rodríguez (também foi técnico no Boca), do grande time rojo tetra da Libertadores nos anos 70, e Sebastián Rambert, artilheiro dos bons momentos dos diablos nos anos 90; no San Lorenzo, o ex-volante Victorio Cocco, tetra argentino pelo clube, e Jorge Rinaldi, protagonista da vitoriosa segundona de 1982; no Estudiantes, Rubén Galletti; no Colón, Hugo Coscia e no rival Unión, Oscar Trossero, que começou no Boca em 1972 e faleceu após jogar pelo River em 1983, nos vestiários. Eduardo Bargas e Osvaldo Pérez jogaram neles e em Racing e Independiente, com El Japonés Pérez tendo relativo destaque em Avellaneda. Julio César Toresani e Daniel Silguero, por sua vez, defenderam também Colón e no Unión, a dupla de Santa Fe.
Há os casos dos que se tornaram ídolos em um e foram apagados no outro. Como Batistuta, Alfredo Rojas, Ernesto Mastrángelo e Francisco Sá apareceram antes no River para depois brilharem no Boca. El Tanque Rojas foi campeão argentino em 1965 sobre o ex-clube e esteve na Copa 1966. Os outros dois venceram as primeiras Libertadores e Intercontinental xeneizes, entre 1977-78. Heber Mastrángelo, curiosamente, só defendeu a seleção enquanto estava no River. Pancho Sá é quem mais venceu a Libertadores: ganhou também o tetra seguido do Independiente.
Alfredo Garasini jogou por doze anos no Boca, de 1916-28 em todas as posições, inclusive goleiro, passando rápido pelo River em 1921. Ganhou os quatro primeiros campeonatos argentinos vencidos pelo clube, sendo artilheiro na primeira conquista, de 1919, junto de Alfredo Martín (visto na 2ª parte). Faleceu trabalhando no corpo técnico do time, em 1950. O defensor Francisco Lombardo passou quase todos os anos 50 no Boca, jogando só 9 vezes pelo River após ter passe livre.
Pablo Comelles e Juan José López apareceram antes no River e nele ficaram mais marcados. Comelles e López jogaram nos vitoriosos anos 70 e passaram ao Boca nos 80. López, que era ídolo riverplatense (jogou em outros rivais ainda, Belgrano e Talleres), foi reabilitado pelo tempo, mas ainda há quem o crucifique pela traição, como o célebre vídeo do Tano Pasman. Outro mais benquisto em Núñez é o atacante Ramón Centurión. Sem sucesso no Boca em 1985, foi o artilheiro da conquista da primeira Libertadores do Millo, em 1986. Mas um caso de doping brecou sua trajetória no Millo.
Por fim, técnicos. Como Di Stéfano, Renato Cesarini, Néstor Rossi, José Varacka e Vladislao Cap foram técnicos da dupla após se destacarem jogando no River – Cap até morreu treinando-o. Rossi, Aristóbulo Deambrossi e Adolfo Pedernera foram ídolos em Núñez que treinaram Bocas campeões. José Manuel Moreno, que jogou nos dois (veja-o na parte anterior), foi outro grande ídolo millonario que treinou o Boca. Outros em ambos foram José D’Amico e Juan Carlos Lorenzo, estes de mais sucesso nos auriazuis: foi Lorenzo o técnico do bi na Libertadores de 1977-78.
O primeiro na função a trabalhar em ambos foi o húngaro Ferenc Plattkó, nos anos 40. Teve quem jogou em um e treinou o rival sem sucesso nas duas tarefas, casos de Rogelio Domínguez e Claudio Borghi, ambos ex-jogadores do River e do Flamengo. César Luis Menotti, o técnico campeão pela Argentina em 1978, não se saiu bem também; no Boca, esteve ainda como jogador.
Por fim, Héctor Veira, quem mais chegou perto de se igualar a Di Stéfano como único técnico campeão nos dois. Veira foi o comandante do dourado 1986 do Millo, com títulos nacional, na Libertadores e na Intercontinental. Dez anos depois, esteve no Boca. Sua equipe do Apertura 1997 fez a melhor campanha de um vice-campeão nos torneios curtos, mas perdeu a taça por 1 ponto para o rival, embora tenha vencido-o no clássico (no último jogo de Maradona, veja) e só sofrido uma derrota na campanha. El Bambino é mais querido no San Lorenzo e passou também pelo rival deste, o Huracán.
A seguir, outros vira-casacas do Superclásico não-mencionados nas partes anteriores:, Severiano Álvarez, Agustín Angotti, Juan Barberis, Carlos Barisio, Claudio Cabrera, Eugenio Cacopardo, Aníbal Cibeyra, Mario Ditro, Jorge Diz, Pablo Erbín, Casildo Fallatti, Jorge Fernández, Demóstenes Gaete, Antonio Ganduglia, Rubén Gómez, Rafael Hernández, Néstor Isella, Agustín Lanata, Carlos López, José Luna, Jorge Martínez, Juan Negri, Carlos Randazzo, Gerardo Reinoso, Iseo Rosello, Juan Sánchez, Cataldo Spitale, Ricardo Staggi, Fabio Talarico e Marcos Zarich.
Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-Racing, River-Independiente, Independiente-San Lorenzo, Racing-San Lorenzo, Racing-Independiente, River-Racing, Boca-Independiente, Boca-San Lorenzo, River-San Lorenzo, Boca-River I, Boca-River II e Boca-River III. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.
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