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Disputa de poder da La 12 pode afastar turistas e torcedores comuns da Bombonera

No último domingo (30/10/11), Di Zeo e Martin se provocaram durante toda partida na Bombonera.

De Buenos Aires – Hoje, como acontece a cada 10 ou 15 anos, a principal torcida organizada do Boca passa por um período de disputa interna pelo poder. O clube é o pano de fundo, o álibi de Rafa Di Zeo, líder deposto e que tentar recuperar o comando e Mauro Martín, quem o sucedeu e tenta manter-se como chefe da “12”. No meio desse fogo cruzado, estão os torcedores comuns que não se simpatizam nem com um lado e nem com o outro, mas sentem-se ameaçados por ambos.

“Com certeza todo esse problema irá afastar alguns torcedores do estádio”, afirma Matías Izaguirre, jornalista argentino. “Nesta questão toda, não estão brigando para saber quem e aonde irão pendurar as bandeiras, mas por poder. Não estão fazendo isso pelo clube, estão fazendo isso por si próprio. E muita gente deixará de ir aos jogos com medo da violência”, acrescentou.

Isso acontece justo no momento que o time é o líder do campeonato, com nove pontos a frente do segundo colocado e faltando apenas seis rodadas para o final, as chances de o Boca comemorar outro triunfo nacional são grandes. Mas talvez sua torcida seja privada de acompanhar os momentos decisivos desta campanha. Algumas vezes por determinação judicial, outras simplesmente por medo do que possa acontecer nos próximos jogos quando Di Zeo e Mauro se encontrarem na Bombonera.

O reflexo desta disputa de poder na liderança da barra brava poderia afetar até o turismo. Muitas agências especializadas em promover passeios até os estádios nos dias de jogos, também poderiam sentir as consequências disso. Um gerente de um hostel, que pediu sigilo, admitiu não vê problema para o setor. “Trabalhamos com empresas terceirizadas que garantem total segurança dos clientes. Sempre fazemos os jogos com o Boca de local e nunca tivemos problemas. Não acredito que isso seja um impeditivo para os turistas irem ao estádio”.

Já Matías, a debandada de turistas em jogos na Bombonera aconteceria apenas se a situação perdurar por mais algum tempo. “Acredito que o turismo não será afetado de imediato, não por agora. Se essa situação se mantiver ou se agravar aí sim o turismo vai sentir o reflexo. Esses tours que organizam empresas de turismo levam os clientes da porta do hotel até o estádio. Vão em vans com toda segurança e no estádio, ficam nas platéias, não na popular”.

Mas também é de conhecimento geral em Buenos Aires, de um outro tipo de tour promovido pela própria “12”. Por uma determinada quantia acertada em dólares, levam turistas estrangeiros no que seria uma espécie de “um dia de barra brava”; entrando com as bandeiras, tocando os bumbos e dependurando-se nos paravalanchas como se fossem legítimos integrantes da “12”.

Sistemas políticos nos clubes argentinos
Diferente do Brasil, na Argentina as Barras Bravas exercem maior influência nos clubes os quais “supostamente apoiam”. A única semelhança com nossas “torcidas organizadas”, é a violência desmedida e irremediável, ao menos é o que parece. A própria organização das entidades de futebol do país, inconscientemente ajudam a promover o poder destes grupos de “torcedores”.

Enquanto no Brasil apenas alguns conselheiros e diretores fazem parte do processo eleitoral nos clubes, na Argentina o torcedor comum, aquele que vai aos jogos na arquibancada e é sócio em dia, possui certo peso nas decisões da entidade. Durante os períodos eleitorais, todos os sócios têm o direito ao voto e a escolher o futuro presidente da entidade.

Dessa forma a associação entre dirigentes e líderes de barras é estreita e repleta de troca de favores, como favorecimento na distribuição de ingressos, viagens pagas ao exterior e parte da renda das bilheterias. E quem controla as arquibancadas, controla a maiorias dos votos e assim consegue ser eleito.

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

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