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Dez anos sem Cuciuffo, titular da vitoriosa Copa 1986

José Luis Cuciuffo é o único campeão mundial pela seleção já falecido, o que ocorreu há exatos dez anos. Ele é também o único campeão da Copa do Mundo como jogador do Vélez Sarsfield, clube onde esteve por meia década. Era um defensor com a virtude de saber jogar em várias posições no setor (por exemplo, era zagueiro central e atuou na Copa 1986 como lateral-direito) e sob variadas táticas de marcação também, seja individual ou zonal, ainda que seu forte fosse mais na antecipação (era mesmo rápido) do que no propriamente no desarme.

Cuciuffo nasceu em Córdoba e começou no modesto Huracán local (não confundir com o de Buenos Aires), estreando aos fins de 1978. Na época, as ligas do interior tinham bastante importância: seus melhores clubes ganhavam um lugar ao sol no Torneio Nacional. Mas a liga cordobesa costumava ser polarizada entre Talleres e Belgrano, e às vezes com o Instituto e o Racing local. Assim, tornou-se comum que alguns dos principais jogadores da liga fossem repassados entre os classificados ao Nacional.

Como exemplo, Carlos Guerini, do General Paz Juniors e que seria tricampeão no Real Madrid, atuou pelos arquirrivais Talleres e Belgrano. Dois campeões da Copa 1978 também viraram a casaca no período: Osvaldo Ardiles jogou por Instituto e Belgrano e Miguel Oviedo, por Instituto, Racing de Córdoba e Talleres. Com Cuciuffo se passou algo parecido: sua estreia na elite argentina deu-se sob empréstimo a outra equipe, ainda que de fora da província. Pelo Chaco For Ever, de Resistencia, atuou dez vezes no Nacional de 1980 e em 1981 esteve emprestado junto ao Talleres. O Vélez o comprou em 1982.

Eram os anos em que o Vélez, contrariando a filosofia do seu histórico presidente José Amalfitani (que não por acaso batiza o estádio do clube), procurava sair da seca de títulos investindo em astros em vez de valorizar as categorias de base e buscar reforços apenas no bom e barato, fórmula ressuscitada com sucesso a partir dos anos 90. Cuciuffo não chegava a ser uma estrela ainda, mas veio no mesmo ano em que foram contratados o meia Norberto Alonso, um dos maiores ídolos do River e campeão da Copa 1978, e Vicente Pernía, zagueiro bi nas Libertadores 77-78 pelo Boca.

As campanhas velezanas no período foram em maior parte apenas razoáveis. A exceção foi em 1985, quando o clube foi vice no Nacional em parte pela fórmula complicada: oito grupos de quadro equipes classificavam os dois melhores para oitavas-de-final que não eram mata-mata – seus perdedores seguiriam vivos, em jogos eliminatórios do que virou o “grupo dos perdedores”. O Vélez perdeu do Boca por 3-2 na Bombonera mas depois venceu-o por 2-0 em Liniers, seguindo no “grupo dos vencedores”, cada vez mais enxuto: em jogos únicos, venceu o Newell’s por 2-1 nas quartas (com Cuciuffo marcando o gol da classificação, na prorrogação) e o River por 3-0 na semifinal.

A final foi contra o fortíssimo Argentinos Jrs, que naquele mesmo ano venceria a Libertadores. Cada um venceu por 2-0 em casa e o adversário sobressaiu-se nos pênaltis. Assim, o Vélez entrou para o “grupo dos perdedores” diretamente na final dele, reencontrando o River e vencendo-o de novo, por 2-1, para um novo encontro com o Argentinos Jrs em uma “pré-final”: isso porque se o Argentinos Jrs vencesse, seria o campeão, mas, se não, teria direito a uma nova decisão, por ter vencido o grupo dos vencedores. A pré-final ficou no 1-1 em que o Vélez venceu nos pênaltis por 4-3. Mas, na nova final, o oponente venceu por 2-1 e assegurou o título.

Apesar da decepção, foi naquele ano de 1985 que Cuciuffo estreou pela seleção. Mesmo assim, sua convocação causou surpresa, pois só tinha jogado aquela estreia, por sinal contra o México, antes de embarcar ao mundial. Entrou a partir do segundo jogo, como lateral-direito contra a Itália, roubando a vaga de Néstor Clausen. Marcou bem Alessandro Altobelli e acabou se firmando na posição improvisada, não saindo mais dos titulares até o fim da Copa. Não marcou gols mas teve importância em um: foi ele quem sofreu uma falta de Lothar Matthäus, sequência que culminaria no primeiro gol argentino na final. Autor do gol, seu colega na defesa José Luis Brown lembrou do jogador em 2011: “tinha uma relação espetacular com esse cordobês. Como ríamos com esse filho da …! A faísca que tinha, as saídas…”

Em 1987, o defensor acabou contratado pelo Boca, onde passou dois anos até ser vendido em 1989 à segunda divisão francesa. Cuciuffo mantivera-se na seleção e jogou as Copas América 1987 e 1989, mas sem recuperar o nível de 1986. E não foi mais chamado após deixar o Boca. Parou de jogar no Belgrano, em 1994. Curiosamente, antes de ser levado a sério, ele chegara a ser pedido para a Copa 1982 pela Revista Humor, que por um tempo fez piadas com a sonoridade do seu sobrenome.

Entre 1994 e aquele 11 de dezembro de 2004, Cuciuffo se manteve como dono de um bar em sua cidade e às vezes como técnico de escolinhas de futebol. A morte veio em um trágico acidente: dirigia uma caminhonete no interior da província de Buenos Aires. Estava em uma caça com amigos. Sua espingarda estava com o cano levantado, ao lado do câmbio de marcha, e acabou surrealmente lhe desferindo um tiro após o gatilho ser acionado quando o carro tremeu ao rodar sobre uma poça de água. Chegou a ser levado a um hospital local, e faleceu quando estava sendo transportado a outro. Tinha 41 anos.

Vélez de 1985. Cuciuffo é o segundo em pé, ao lado do jovem goleiro Navarro Montoya. Sentado ao meio, sobre a bola, está o veterano Carlos Bianchi
Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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