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Dez anos do primeiro gol profissional de Messi

Pedindo licença para um texto mais pessoal, foi ali que conheci Lionel Messi. Lembro-me bem de ver aquele gol no Fantástico, com um garoto abobado erguido pelo melhor do mundo, Ronaldinho Gaúcho, após receber dele por elevação, deixar a bola dar um quique no gramado do Camp Nou para então também encobrir com um toque sutil o goleiro do Albacete. O nome me soou meigo demais para um jogador que se revelaria implacavelmente o maior da história do Barcelona, clube europeu preferido daquele espectador de 16 anos (por causa de Romário, Ronaldo e Giovanni, nos anos 90).

Messi, que eu imaginava ser espanhol, já era uma joia na Catalunha, mas semidesconhecido fora de lá. Os argentinos puderam ler em 2003 uma nota de sua principal revista esportiva, a El Gráfico, abordando um garoto que fazia gols maradonianos na base blaugrana, cujo técnico juvenil Carles Rexach assegurava que tornaria-se um dos maiores jogadores do mundo.

Mesmo assim, Messi não foi convocado ao mundial sub-17 daquele ano apesar de seu pai ter enviado vídeos de Lionel ao técnico Hugo Tocalli. A Espanha eliminou a Argentina nas semis com dois gols de Cesc Fàbregas e todos os jornalistas espanhóis foram para cima de Tocalli lhe indagar por que não levara Lionel. Foi justo a saída de Fàbregas para o Arsenal, na época, que fez o Barcelona amarrar em outubro de 2003 um contrato com Messi até 2012. E naquele mês ele jogou pela primeira vez no time adulto, contra o Porto, no amistoso de inauguração do Estádio do Dragão a poucos meses da Euro 2004.

Para que Lionel não se naturalizasse espanhol, Julio Grondona forçou seu uso em jogo da seleção sub-20 em 29 de junho de 2004 – ao contrário de hoje, naquela época a adesão a uma seleção juvenil era o suficiente para impedir que o jogador atuasse por um país diferente. Messi não havia sequer estreado profissionalmente no Barcelona – isso só viria em outubro de 2004, no clássico catalão contra o Espanyol (falamos neste outro Especial). Mas já era “para sempre” argentino, entrando no decorrer dos 8-0 no Paraguai. Naquele partida, substituiu Ezequiel Lavezzi para dar duas assistências e marcar o sétimo, no sugestivo Estádio Diego Armando Maradona: a partida ocorreu no campo do Argentinos Jrs.

Já após o clássico com o Espanyol, ele foi usado mais duas vezes em outubro de 2004, contra Osasuna e (pela Copa do Rei) Gramanet. Voltaria a entrar em campo em dezembro, por quatro vezes, contra o Málaga, Shakhtar Donetsk (este, pela Liga dos Campeões), o próprio Albacete e Levante. Mas foi só em abril que Frank Rijkaard voltou a usar Messi. Em 17 de abril, a reestreia foi contra o Getafe. E o jogo seguinte foi o de dez anos atrás. Em sua nona partida profissional, veio o primeiro gol.

O que é pouco recordado é que Messi entrou em campo aos 42 do segundo tempo e conseguiu ainda assim marcar na verdade dois gols: o primeiro, também de cobertura, foi anulado por impedimento inexistente (quem realmente estava irregular era Ludovic Giuly), sendo até consolado pelo goleiro. Mas ainda assim ele, além de quase dar uma assistência a Iniesta, pôde deixar sua marca, aos 45!

O argentino selou uma vitória complicada por 2-0 frente um adversário que lutava para não cair. Entrou no lugar de Samuel Eto’o, que havia marcado o primeiro. Eto’o era um dos grandes astros daquele Barcelona de Belletti, Oleguer e Giovanni von Bronckhorst e receberia todas as manchetes do dia seguinte, assim como o foco das câmeras foi nele e não no jovem que entrara. Pudera: o Barcelona, após longos seis anos (alguém imagina isso hoje?), com aquela vitória passou a enfim ter chances matemáticas de ser campeão de novo, com ainda quatro rodadas pela frente.

Foi o último jogo de Messi naquela temporada, mas pôde deixar sua contribuição: “vou sentir esse campeonato como meu”, afirmou naquela ocasião. O diário catalão Mundo Deportivo do dia seguinte também focou em Eto’o, mas foi atento: ninguém menos que o diretor do jornal, Santi Nolla, escreveu coluna naquela edição onde afirmou assim:

“Uma das melhores imagens do jogo de ontem foi a celebração dos jogadores após o gol de Messi. (…) Festejavam algo mais que um tento (…). O detalhe da celebração de ontem indica que é um grupo harmônico (…). Eto’o marcou um golaço de liga, daqueles que devem se guardar em DVD, uma vez se conquiste a glória. Mas junto desse grande gol também há que colocar a cobertura de Messi. Essa é a grandeza desse Barça. (…) Essa cobertura de Messi é o dado que a cantera existe, de que também há magia atrás dos craques. (…) Messi, o último a chegar que acabou ontem elevado nos ombros de Ronaldinho. O brasileiro, desde que entrou Messi, se empenhou em dar-lhe assistências para que marcasse, até repetiu e, na segunda, Messi marcou”. Clique aqui para ler na íntegra.

Dois meses depois daquele 1 de maio de 2005, Messi já ficava bem mais conhecido: Tocalli desta vez não titubeou e o levou ao mundial sub-20, onde Lionel foi a grande figura, artilheiro e campeão. Voltando ao lado pessoal, me recordo de frequentar na época um fórum sobre os Beatles que foi trollado por provocações entre argentinos e brasileiros (eu incluso) após os 4-1 na final da Copa das Confederações, também em julho. Na época, eu não levei a sério um desabafo hermano: “espero que Messi cresça”. Ele ainda não havia chegado na seleção principal, cujos atacantes, coitada, eram Luciano Figueroa, César Delgado e Luciano Galletti. Nenhum iria à Copa do Mundo dali a um ano.

Não me importei com a “profecia” pois embora adolescente já notava que novos Maradonas (Gallardo, Saviola, Aimar, D’Alessandro) tinham no máximo um tempo de hype e não vingavam perto de Dieguito. Messi não superou totalmente Maradona, claro, resta vencer a Copa. Mas também é claro o quanto me enganei, diferentemente do goleiro que sofreu aquele primeiro gol, Raúl Valbuena (produto da base do Real Madrid, aliás): matéria recente do mesmo Mundo Deportivo (clique aqui) revela que ele guardou para si a bola daquele jogo, embora admite doá-la um dia ao museu do Barcelona…

É justo que o dia do primeiro gol de Messi, vendo hoje, realmente vire feriado. Abaixo, vídeo daqueles três minutos em que ele jogou, incluindo seu gol anulado:

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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