Dez anos atrás, em 12 de junho de 2002, a franca favorita ao título Argentina caía ainda na primeira fase da Copa do Mundo, eliminada pelo empate com a Suécia. O treinador da equipe era Marcelo Bielsa, que, no entanto, continuou por mais dois anos no comando técnico.
Ele mal havia chegado ao Espanyol (seis jogos apenas) quando recebeu o convite de Julio Grondona para suceder Daniel Passarella, após a Copa do Mundo de 1998. A primeira opção do presidente da Associação do Futebol Argentino era por Carlos Bianchi, por tudo o que El Virrey fizera no Vélez Sarsfield naquela década, mas este declinara, preferindo começar a trabalhar no Boca Juniors (e ganhando para sempre a inimizade do mandatário da AFA, que nunca mais lhe repetiria a oferta).
Antes de chegar ao primo pobre do Barcelona, Bielsa havia sido campeão argentino com o próprio Vélez, no Clausura 1998, impondo sua obsessão tática a um time acostumado ao pragmatismo combinado com espontaneidade permitidos por Bianchi. Mas consagração, mesmo, o atual técnico do Athletic de Bilbao tivera no Newell’s Old Boys, onde esteve à frente entre 1990 e 1992. Fora a sua primeira experiência treinando um clube profissional, o mesmo pelo qual torce e, nos anos 70, chegara a jogar brevemente como (um medíocre) zagueiro.
Levando jogadores oriundos da casa leprosa a dois títulos argentinos que, em anos seguidos, igualaram o número dos quatro já obtidos pelo arquirrival Rosario Central, e a um vice-campeonato na Libertadores bastaram-lhe para ser considerado o melhor técnico da história do NOB, que inclusive nomeou oficialmente o Coloso del Parque como Estádio Marcelo Bielsa.
Mesmo que os rubronegros já viessem de um título nacional em 1988 e, neste mesmo ano, de outro vice na Libertadores, foi sob ele que viraram candidatos fortes ao posto de sexto grande time argentino – Maradona não aceitou à toa a proposta de ir para a Lepra em 1993 (o que para meia Rosario é um título simbólico, mesmo com a passagem curta e desempenho aquém que Diego teve); ela ainda respirava seu auge, não se imaginando que uma nova conquista, ainda a última, só fosse vir no Apertura 2004.
Alguns dos jogadores lapidados por El Loco estariam presentes no elenco argentino de 2002: Mauricio Pochettino, Gabriel Batistuta (trabalhado ainda na base, tendo saído antes que Bielsa treinasse a equipe principal) e Walter Samuel (que, por sua vez, ainda estava na base quando o técnico deixou o Ñuls). Roberto Sensini poderia estar ali se fosse um pouco mais jovem – teria 36 anos à época do mundial, mas foi usado até 2000, ano em que outro ex-pupilo, Eduardo Berizzo, teve a última convocação.
Treinando a Argentina rumo à Copa, Bielsa deu grande consistência, chamando um grupo muito bom e reduzido. Foram apenas 28 jogadores utilizados em campo durante as eliminatórias. Além de Sensini e Berizzo, só não chamou à Ásia o zagueiro Nelson Vivas por este ter lesionado gravemente o joelho às vésperas da competição. Os atacantes Bernardo Romeo, Marcelo Delgado e Julio Cruz, vistos como reservas de reservas no setor mais badalado, tombaram pela duríssima concorrência.
Quanto a Javier Saviola, Bielsa já dera sinais nas próprias eliminatórias de que El Conejo não era necessariamente seu atacante preferido, só o utilizando em uma partida, em 2000. Embora tenha sido escalado em dois amistosos preparatórios em 2002, vindo de uma bela temporada de estreia no Barcelona e contando com apoio popular (destacou-se muito no título do mundial sub-20 de 2001, realizado na Argentina), foi sacado para a entrada de alguém que o técnico resolveu redescobrir justamente naqueles testes pré-Copa: o veteraníssimo Claudio Caniggia. Sebastián Saja, Juan Román Riquelme, Luciano Galletti, Santiago Solari e Facundo Quiroga foram outros avaliados apenas nos amistosos imediatamente prévios ao embarque para o Japão (três) e descartados.
O outro aprovado neles, além de Caniggia, foi o defensor José Antonio Chamot, até então sumido desde 1998. O jogador do Milan juntou-se aos goleiros Germán Burgos, Pablo Cavallero e Roberto Bonano, os defensores Roberto Ayala, Diego Placente e Javier Zanetti, os volantes Diego Simeone, Matías Almeyda, Kily González, Juan Pablo Sorín e Claudio Husaín, os meias Pablo Aimar, Gustavo López, Ariel Ortega, Juan Sebastián Verón e Marcelo Gallardo e os atacantes Claudio López e Hernán Crespo, fora os citados Pochettino, Samuel, Batistuta e Caniggia.
A grande polêmica foi a ausência do jovem Riquelme, deslumbrante na época por seu Boca Juniors (de… Carlos Bianchi) nas vitoriosas Libertadores de 2000 e 2001 e Intercontinental de 2000. Utilizado apenas na seleção caseira testada na Copa América de 1999 e no primeiro amistoso pré-Copa, Román não participou de um jogo sequer das eliminatórias, com Bielsa preferindo Aimar, Verón e Gallardo para o posto de meia armador (enganche). No jogo festivo que marcou a despedida de Maradona pela Argentina, em 2001, na Bombonera, Riquelme só esteve porque atuou na seleção internacional, e não na de Bielsa.
O único jogador daquele Boca (que, fora seu camisa 10, de fato tinha mais força pelo conjunto do que por verdadeiros talentos individuais) convocado para o mundial foi Samuel, que já estava na Roma desde depois da Libertadores de 2000. Além dele, só Delgado fora aproveitado na campanha. Já do River Plate, Husaín e Ortega viajaram como os únicos vindos do futebol argentino.
O desempenho arrasador nas eliminatórias ajudou a dar uma atenuada nas reclamações: apenas uma derrota, em 2000, para o Brasil. A classificação foi assegurada com rodadas e rodadas de antecedência, com treze vitórias e quatro empates nos demais compromissos e doze pontos de vantagem para o segundo classificado, o Equador, em jogos caracterizados pelo domínio da bola e pressão constante exercida nos rivais mesmo quando fora de casa.
E aquela seleção ostentava um desenho tático absolutamente revolucionário para a época, o 3-3-1-3. Os defensores (na Copa, Samuel, Pochettino e Placente) jogavam muito avançados, pois como a equipe marcava muito a frente, essa era a única forma de não deixar espaço entre as linhas. À frente, vinha outra linha de três, formada por dois alas (Zanetti e Sorín) e um volante mais centralizado (Simeone). Verón atuava como um típico enganche argentino, livre entre o meio de campo e o ataque.
À frente, uma novidade, que em parte apenas retomava um conceito então praticamente esquecido: os três atacantes. Mas era um trio ofensivo distinto dos tempos do 4-3-3 ou do 4-2-4. Os ponteiros (na Copa, Ortega e Claudio López foram utilizados, ainda que Aimar e Kily González tenham se alternado com eles) eram peças essenciais na marcação sufocante proposta por Bielsa, fortemente em cima da saída de bola do rival e, se necessário, voltando para marcar os laterais.
Aquela grande equipe da Argentina contava com uma de suas melhores safras e sem aparentes rachas naquele enxuto elenco, o que só ampliava o enorme favoritismo que dividiam com outra futura decepção de 2002, os franceses. Na estreia, o sistema funcionou perfeitamente. Os argentinos sufocaram os nigerianos com sua marcação avançada, mantiveram a bola no campo de ataque o tempo todo. O magro 1 a 0, com um gol de Batistuta, não fez justiça à superioridade da Albiceleste.
Mas, contra a Inglaterra, as coisas não ocorreram bem. Apesar do sistema funcionar, e a bola ficar mais tempo nos pés argentinos, que tiveram maior protagonismo ofensivo, os ingleses souberam explorar o grande defeito do bielsismo: o grande espaço nas costas dos defensores. Em um contra-ataque, foi marcado um pênalti, convertido por Beckham, que se vingava da expulsão provocada por Simeone (que ali defendia a Argentina pela última vez) na partida disputada no mundial anterior, quando a Argentina eliminou a Inglaterra nos pênaltis.
Para piorar, Verón atuou muito mal (tanto que começaria no banco no jogo seguinte), e Batistuta também não rendeu muito, sendo substituído por Crespo no início do segundo tempo (contra a Nigéria, isso só ocorrera nos últimos dez minutos) – uma das outras grandes críticas feitas a Bielsa era a de não ter tentado usá-los juntos, algo que já não ocorria também sob a direção de Passarella.
Os resultados paralelos obrigavam a Argentina a vencer a Suécia, do contrário estaria fora antes do pensado. A falta de nervos ficou exposta na esdrúxula expulsão de Caniggia no início do segundo tempo, com a partida ainda sem gols – sem sequer ter entrado em campo no Japão, recebeu o vermelho em pleno banco de reservas por insultar o árbitro (“o que Caniggia foi fazer na Copa?” foi outra reclamação, pois, além da idade elevada, vinha lesionado; outro mistério foi como Bielsa poderia usar integralmente as 7 mil fitas de vídeo que levou para o Oriente). Anders Svensson piorou ao abrir o placar em cobrança de falta aos 15 minutos, um minuto após nova substituição de um apagadíssimo Batistuta por Crespo.
Um insuficiente empate só viria aos 43, na base de duas malandragens: Ortega se jogou, mas convenceu e o árbitro marcou o pênalti. Magnus Hedman espalmou a cobrança do próprio Burrito, mas Crespo completou para as redes, em um lance que deveria ter sido invalidado – ele invadira a área irregularmente, antes da bola ser tocada na cobrança. Os quatro pontos não bastaram ante os cinco obtidos pelos escandinavos e pelos britânicos.
Era de se esperar que Bielsa saísse, mas a falta de um grande culpado e a eliminação na mais dura chave da Copa permitiram que seguisse. Mais do que uma grande falha individual (que não chegou a haver), a Argentina chegara à Copa sem o fôlego das eliminatórias, com alguns dos principais jogadores sem as melhores condições físicas: Ayala sequer pôde jogar, após machucar-se no aquecimento para a estreia. Verón já vinha de uma temporada decepcionante no Manchester United por conta do tendão.
Os próprios Batistuta e Crespo haviam balançado as redes por, respectivamente, Roma e Lazio com menos frequência do que antigamente. Simeone não estava com o melhor de seus joelhos, tendo entrado em uma recuperação recorde para ser convocado, ainda assim em estado aquém das exigências do torneio. Além de El Cholo, outros que tiveram encerrado o ciclo na seleção ali foram Batistuta (fato que deu gatilho para este especial lançado mais cedo neste dia) e os não-utilizados Bonano, Burgos, Husaín e Caniggia.
No próprio Japão, Bielsa dirigiu a primeira partida da Albiceleste pós-Copa, contra a seleção local, pela amistosa Copa Kirin (vitória por 2 a 0). Nos vinte jogos até o início da Copa América de 2004 (sete deles, já valendo pelas eliminatórias para a Copa de 2006), foram doze vitórias, cinco empates e três derrotas. Na competição, vitórias por 6 a 1 (Equador), 4 a 2 (Uruguai) e 3 a 0 (semifinal, contra a Colômbia) iam cicatrizando o orgulho ferido, até a dramática perda do título para uma seleção B do Brasil, ao final de julho.
As Olimpíadas começariam em apenas duas semanas aproximadamente, permitindo-lhe o salvo-conduto para tentar obter uma conquista ainda inédita para os argentinos. Com jogadores juvenis já bem conhecidos do grande público – Carlos Tévez, Andrés D’Alessandro e Javier Mascherano inclusive receberam a medalha de prata em Lima em 25 de julho, assim como César Delgado (autor do gol quase decisivo sobre os brasileiros), Lucho e Mariano González e Luciano Figueroa – acompanhados pelos mais experientes Kily González, Gabriel Heinze e Roberto Ayala, Atenas foi vencida em um passeio.
Já na estreia, um 6 a 0 sobre a Sérvia e Montenegro – curiosamente, o mesmo placar que as duas seleções teriam em dois anos, na Copa da Alemanha – seguidos de vitórias tranquilas sobre Tunísia e Austrália. Outro adversário de mais prestígio, a Itália, levou de 0 a 3 na semifinal, depois de a Costa Rica sair do caminho com um 0 a 4. Na final, o magro 1 a 0 decretado por Tévez (a grande estrela da campanha olímpica) aos 16 do primeiro tempo não expôs a ausência de perigo proporcionada pelos paraguaios.
Com a forra, El Loco já podia despedir-se em paz. Comandou a Argentina por mais um jogo, um 3 a 1 sobre o Peru em Lima pelas eliminatórias. Dizendo-se esgotado – e, segundo outras versões, a pedido de uma família cansada de ser ricochetada pelas críticas que Bielsa nunca deixara de receber desde 2002 -, mas podendo sair por cima e não como um perdedor, entregou o cargo.
Ele tiraria três anos sabáticos até aceitar voltar a treinar uma equipe (diz-se que, inclusive, recusando oferta do Boca Juniors): o Chile, que, no mundial da África do Sul, voltou a uma Copa depois de doze anos e onde houve quem o quisesse para presidente da nação – mesmo com toda a rivalidade entre os vizinhos, repleta de conflitos fronteiriços que estiveram perto de resultar em guerra em 1978.
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O Bielsa foi incrível nesse trabalho da seleção argentina, é claro que a safra ajudava bastante, mas uma das coisas que eu jamais consegui (e acho que jamais conseguirei) entender foi a ida do Caniggia para aquele Mundial, me lembro que ele fez uma temporada inócua pelo Rangers, enquanto o Saviola voava baixo no Barça... Duvidas que eu terei até o final da minha existência...
Sete mil fitas??????????????????
Na época ainda não torcia 100% pra Argentina. Lembro de ter ficado triste, e ao mesmo tempo ter comemorado, coisas da adolescência.
Douglas: Caniggia até ia bem no Rangers, mas para a idade dele. Deixei isso claro no especial que fiz meses atrás para o Pájaro, nos moldes ao recém-lançado do Batistuta. Obviamente, nada comparável ao que Saviola vinha fazendo em um clube e liga muitíssimo mais exigentes -> https://www.futebolportenho.com.br/2012/03/27/caniggia-o-passaro-do-povo/
Willian: sim, sete mil fitas, haha. Eu confesso que na época adorei a eliminação (dela e da do Uruguai), como um bom inocente garoto de 13 anos educado pelo Galvão Bueno, hehehehe. Na realidade, faz muito pouco tempo que fui rever meus conceitos. Foi em 2010, conhecendo o país e suas pessoas em duas viagens das mais memoráveis e lá fazendo amigos (ficam essas dicas para o Luan). Descobrir posteriormente este site, um mês e meio depois de chegar da última, só fez reforçar ;)
Meu lado provocador me faz torcer pela Argentina aqui e pelo Brasil quando estive (e estiver novamente) lá, haha. Abraços aos dois e obrigado pelo prestígio de sempre!
Thiago, você já sabe que sou torcedor férreo da Seleção Brasileira, mas achei esta postagem muito interessante porque me traz lembranças: aquela seleção argentina ficou na memória e entrou pra história, mesmo que tenha caído na primeira fase.
Deixando de lado quaisquer parcialidades e analisando aquele time somente futebolisticamente, não há como negar que tratava-se de um time implacável. Eu estava no Brasil quando as Eliminatórias de 2002 começaram, e assisti aquele 4-1 da Argentina sobre o Chile. O Chile levou um banho. Comecei a me preocupar porque o Brasil vinha da vitória na Copa América e do 4 a 2 em cima da Argentina no Beira-Rio em 1999 – mas nas Eliminatórias, o Brasil só sofrendo, a Argentina só ganhando.
Quando 2002 chegou, todo mundo falava só da Argentina e da França. E com razão. Mas mesmo em 2002, a Argentina começou a mostrar problemas. Um empate com Gales (1-1), outro com Camarões (2-2), e uma vitória por 1 a 0 contra a Alemanha em Stuttgart. Vencer a Alemanha é sempre animador, mas eu esperava ver a Argentina atropelar os galeses e os africanos.
Admito prontamente que eu torci ferozmente pela Inglaterra naquele jogo; inclusive estava com um grupo de ingleses e eu vibrei tanto quanto eles quando Beckham marcou aquele gol. Mas reconheço também que eu considerava uma vitória da Argentina mais provável, e foi naquele jogo que vi um defeito no estilo tático de Bielsa: a não-adaptação aos rivais. (Interessantemente, Alejandro Sabella abertamente admitiu fazer isso, inclusive antes do jogo de alguns dias atrás, contra o Brasil. Bielsa “repetiu” este erro contra o mesmo Brasil em 2010, quando em vez de armar um sistema mais defensivo, preparou um Chile ofensivo contra o Brasil de Dunga, que com uma forte zaga e excelente contra-ataque, fazia presas fáceis de times que se lançavam ao ataque. Resultado: Brasil 3, Chile 0. Quem imaginaria que Dunga venceria um duelo tático contra Bielsa, ainda mais numa Copa do Mundo…)
Em termos de talento, aquela seleção argentina era muito melhor que a seleção inglesa, mas Sven Goran Eriksson demonstrou melhor senso tático. Ex-técnico da Lazio, Eriksson conhecia Verón muito bem, uma vez que Verón vinha de jogar no time italiano. E ciente do esquema 3-3-1-3 de Bielsa, Eriksson sabia que se o “enganche” fosse neutralizado, os três atacantes argentinos não teriam munição nenhuma. O meio-campo inglês pressionou Verón o jogo inteiro, e Verón teve um desempenho para esquecer. Foi aqui a Argentina começou a afundar naquele jogo. Além disso, Bielsa errou defensivamente também: carente do toque de bola que da Argentina, a Inglaterra tinha uma tática simples: passar a bola com longos passes para Michael Owen. Bastava Bielsa ordenar os seus três homens no meio-campo (Simeone, Zanetti, e Sorín) marcar em zona para impedir que aqueles passes conduzissem a bola à Owen. E se fossem passes à frente de Owen, Bielsa tinha zagueiros que facilmente impediriam que Owen a tomasse: Samuel, Pochettino, e Placente. Owen nunca foi um grande atacante; era rápido, e só. Não cabeceava bem, mas dispunha de arranque e aceleração, e com passes precisos, era perigoso. Resultado: a Inglaterra ameaçou a Argentina várias vezes com Owen; Bielsa nunca se adaptou ao esquema inglês; e, num lance perigoso, Pochettino cometeu a falta e a Inglaterra conseguiu um pênalti e o gol.
Bielsa não fez muito para mudar a situação no segundo tempo. Saiu Verón, e entrou Aimar – não era um “enganche.” Eriksson botou Sheringham, que logo no primeiro lance deu um chutaço ao gol. E enquanto Bielsa não conseguiu montar a Argentina para parar Owen, Eriksson fez a Inglaterra neutralizar Batistuta o jogo inteiro: Rio Ferdinand não desgrudou dele durante um lance sequer. E além de tudo isso, Bielsa fez escolhas estranhas na escalação do seu time: colocou Kily González como atacante, apesar do Kily pertencer ao meio-campo. Cláudio Lopez jogou na ponta-esquerda – naquela Copa inteira, Lopez fez cruzamentos imprecisos e não deu um único chute a gol que fosse “on target.” Isso considerando-se que Lopez era um atacante cujo ponto forte era o contra-ataque, mas Bielsa pediu que ele ajudasse seu time a segurar a bola e manter a posse da mesma.
Olhando para trás é fácil “julgar” o que Bielsa fez. Se redimiu com o ouro olímpico em 2004. E mesmo com Carlos Bianchi, José Pekerman, Carlos Bilardo, Alfio Basile, ou César Menotti, não haviam garantias que a Argentina teria ganhado a Copa (ou pelo menos chegado ao mata-mata) com aquele mesmo elenco. Mas futebolisticamente, foi uma surpresa que um time com a qualidade daquela geração tenha caído tão cedo. Convenhamos que Inglaterra e Suécia no mesmo grupo dificultaram a vida da Argentina. Mas Bielsa tinha a matéria-prima para passar de fase. E vendo o que o Boca Juniors conseguiu desde 2000, não há como não perguntar: e se Riquelme, não Verón, tivesse sido o “enganche” contra a Inglaterra?
"E vendo o que o Boca Juniors conseguiu desde 2000, não há como não perguntar: e se Riquelme, não Verón, tivesse sido o “enganche” contra a Inglaterra?"
Carlos, em 2002 Román não vinha bem. Renovação sempre complicada com o sátrapa do Macri, intriguinhas com a 12 plantadas pelos mesmos jornalistas vendidos de sempre, sequestro do irmão... Palpite meu: não daria certo.
Me lembro de quando saiu o sorteio dos grupos da Copa. Só faltaram fogos de artifício para comemorar o Brasil no grupo da vida - e a Argentina no da morte. Os mesmos otários que se revoltariam caso Maradona fosse pau-mandado da Fifa e participasse do sorteio. Mas como foi o Edson, digo, o Pelé, ops, o filho do Dondinho...
Ah, claro, se os piratas tivessem jogado contra o Brasil com a mesma gana que enfrentaram a Argentina, não sei se haveria penta naquele ano. E borracha na roubalheira da CPI da CBF, claro.
De resto, claro, tua análise tática está impecável :)
Diogo, Riquelme já havia provado seu talento nas Libertadores de 2000 e 2001, e mesmo que 2002 não tenha sido um dos seus melhores anos, ele deveria ter, no mínimo, ido ao Mundial como o reserva imediato de Verón. Enquanto Verón tinha um toque de bola invejável, Riquelme combinava um bom commando de bola, com passes igualmente bons, com uma visão de campo melhor do que a de Verón (e certamente, Riquelme é um bom driblador.). Riquelme já havia enfrentado potências (Real Madrid e Bayern de Munique). Com três atacantes praticamentes acampados na grande área, seus passes provavelmente teriam feito a diferença.
Além disso, ele havia “falhado” na última vez que havia enfrentado os melhores da Europa (Mundial Interclubes de 2001) e provavelmente estaria motivado para conseguir uma revanche. Nada melhor do que consegui-lo contra a Inglaterra, arquirrival da Argentina.
Mas Marcelo Bielsa levou Pablo Aimar que na época tinha apenas 22 anos. Aimar era um grande jogador, mas era muita responsabilidade para um jovem daquela idade. Com 22 anos, Maradona perdeu a cabeça, deu um coice em Batista, e foi expulso. Com 22 anos, Ortega cometeu uma burrada contra a Holanda em 1998 e contribuiu para a eliminação do seu time. Com 22 anos, Beckham caiu na armadilha de Simeone e foi expulso. Aimar não foi expulso, mas tampouco supriu contra a Inglaterra o que Verón não conseguiu dar.
Quanto à Inglaterra contra o Brasil: bom, os ingleses vieram mordidos contra a Argentina por causa daquele jogo memorável em 1998. Eles estavam ganhando até o finalzinho do primeiro tempo. E ainda ficaram com um homem a mais. Não foi culpa do Brasil que depois do gol do Ronaldinho Gaúcho, que a Inglaterra praticamente parou de jogar. Mas mesmo que você não queira admitir, no segundo tempo, o Brasil jogou um jogo quase perfeito. Futebol maduro e sólido, neutralizando as jogadas inglesas, posse de bola, paciência. O Edílson (EDÍLSON!), numa arrancada, quase marcou um gol. Assim como a Argentina, o Brasil tinha um time superior – mas diferentemente da Argentina, o Brasil soube mostrar isso em campo.
Eu não duvido desse triunfo brasileiro, nesse jogo em especial. Eu duvido da atitude inglesa. Apenas isso.
Os caras tomaram 4x1 da Alemanha na Copa de 2010, com aquele gol do Lampard não marcado - e não houve choradeira nem briga. Alemanha que, sabe-se, quase colocou a Inglaterra de joelhos em duas guerras MUNDIAIS.
E a Argentina? Matou 250 militares ingleses num conflito por duas ILHOTAS repletas de pinguins e ovelhas.
Mas os ataques da mídia inglesa, sempre virulentos, foram mais fortes contra os argentinos. Mesmo que o conflito das Malvinas seja mais recente, isso não tem explicação. Falta de coerência absoluta dos súditos daquela velha escrota e esnobe.
Eu estive em Londres duas vezes e sei do que falo. Perguntei a nativos das circunstâncias de ambos os confrontos. Nesse sentido, eles parecem a classe média brasileira: não toleram quando o pobre faz o que o rico faz.
A Alemanha é rica e próspera - mesmo tendo cometido os crimes mais hediondos que a humanidade tenha memória. Mas ela pode. A Argentina, cujos jovens fazem arruaça nas praias catarinenses, não. Por algo será...
Diogo, você está misturando política com esporte. Você menciona briga. O que resolve partir pra briga? Muitos argentinos saíram achando-se “machos” por terem iniciado uma confusão contra a Alemanha após a decisão por pênaltis em 2006, mas mancharam a imagem do seu país. Sair a pau por causa de futebol é bobo. Foi o mesmo que o Estudiantes fez com o Internacional em 2010, o Argentinos Juniors contra o Fluminense no mesmo ano. “Pseudo-hombridade” para cobrir o orgulho ferido. E em 2010, a Argentina levou 4 a 0 da Alemanha. Por que não partiram pro pau como em 2006? Será que aprenderam que o que aconteceu em 2006 foi vergonhoso?
Quanto à Segunda Guerra, lembre-se que a Inglaterra agüentou os ataque impiedosos da Luftwaffe durante semanas, quando aviões alemães jogaram bombas em casas e mais casas. A Inglaterra se recusou a render, e a resistência da Inglaterra fez com que Adolf Hitler mudasse seus planos de invadir o arquipélago britânico. A Argentina por sua vez matou esses soldados porque foi uma guerra. Lógico! Tinham armas, bombas, e mísseis. E perderam mais de 600 homens e jogaram no lixo para SEMPRE quaisquer chances que tinham de recuperar as ilhas. A Grã-Bretanha (não a Inglaterra) endureceu sua posição e agora nem sequer aceita conversar sobre a soberania das ilhas, que têm, a propósito, mais do que apenas pinguins e ovelhas – têm gente de origem britânica que mora lá faz 10 gerações (antes mesmo da Argentina sequer conseguir sua independência da Espanha.). E no final, a Argentina foi a agressora; a Argentina iniciou a guerra. Leopoldo Galtieri e seu bando de militares, que já haviam derramado muito sangue (argentino) desde os anos 70, quiseram desviar a atenção do povo argentino da super-inflação e desemprego. É o mesmo em qualquer país: enrolar-se na bandeira e vamos lá.
Quanto à Alemanha, lembremo-nos que o partido nazista foi uma clique política. A Alemanha nos deu Lutero, Beethoven, Mozart, Wagner, Bach, Richard Strauss, Justus Boehmer, Kant, Hegel, Leibniz, Goethe, van der Rohe, entre outros (sem falar de Beckenbauer, Rummeniggue, Bierhoff, e outros grandes do futebol alemão). O nazismo do Século 20 NÃO É a cultura alemã do mesmo jeito que bife de chorizo, choripán, Gardel, Maradona, etc., não representam a carnificina da ditadura argentina dos anos 70.
Clique política? Meu Deus, os caras apoiaram de corpo e alma os nazistas...
O que eu quero dizer é que eles têm salvo-conduto por serem ricos. Os argentinos, independente do que fizerem, não.
Agora se tu prefere alemão, já deixou isso bem claro. Bate na porta daquela primeira-ministra gorda p*t* pra ver se ela te recebe.