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Demissão de Cagna diz muito sobre cartolas do clube

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Após derrota em casa para o Racing, por 1×0, Diego Cagna se foi do comando do Estudiantes de La Plata. De concreto está uma campanha pífia no Torneio Final, sem nenhuma vitória alcançada. De assustador, o fato de que o treinador pediu demissão ainda nos vestiários do Estádio Único, após a derrota para a Academia de Avellaneda. O que não surpreende é o fato de que os cartolas aceitaram a renúncia sem nenhuma oposição. O que não tem nada de novo é o fato de que tais cartolas não tinham um plano B para a saída de Cagna: o que revela o mesmo fato de sempre: o despreparo dos dirigentes do futebol.

Nem sequer o elenco do Racing havia terminado de comemorar a vitória sobre o Pincha e o treinador local já pedia demissão. Isto mesmo: nos vestiários. No local em que provavelmente ele tinha tanto apoio do elenco quanto aquele que recebia da cartolagem pincharrata. O treinador sequer precisou pegar no seu aparelho celular para noticiar a renúncia aos dirigentes; como de costume alguns deles já estavam por lá, participando de um momento que deveria ser apenas de jogadores com a sua comissão técnica.

Isto à parte, convém salientar que a campanha da equipe sob o comando de Cagna foi das piores. Foram 26 jogos no total, dos quais o Estudiantes venceu oito, empatou sete e perdeu 11. Desses números, três derrotas e quatro empates ocorreram nas sete rodadas do Torneio Final, o que praticamente elimina da equipe quaisquer chances de título.

O efeito disso todo mundo viu: uma equipe sem confiança dentro da cancha e alvo certeiro de críticas generalizadas e de todas as partes. Certo é que Diego Cagna tem sua parcela de responsabilidade no caso. Porém, o agora ex-treinador pincharrata não pode ser o único responsável pela já longa e péssima fase da equipe.

Desde que Alejandro Sabella saiu do banco de reservas do Estudiantes a equipe da capital bonarense não conseguiu se reencontrar. Neste processo é preciso reconhecer que os dirigentes também deixaram a desejar. Eduardo Berizzo até que foi um nome bem pensado para substituir o Pachorra. O mesmo se pode dizer de Miguel Ángel Russo, que substituiu o ex-ídolo do Newell’s e atual treinador do O’Higgins, de Roncágua. Só que depois a coisa descambou para o improviso amador e irresponsável.

Com a saída de Russo, o interino Manuel Azconzábal assumiu o comando da equipe e se fez treinador. Após fracassar e ser demitido, Azconzábal foi substituído pelo seu interino, Martín Zucarelli. Este último ficou no cargo por um bom tempo, sem que ninguém definisse o caráter de sua interinidade. Durante este tempo, vários nomes eram ventilados na imprensa como os prováveis candidatos. Isso mesmo, enquanto o desacreditado Zucarelli comandava a equipe, nomes como os de Pellegrino, Sampaoli, Pelusso, Nelson Vivas, Palermo, Alfaro, Arruabarrena e Edgardo Bauza atormentavam a interinidade de Zucarelli e impediam a sua possível e benéfica efetividade como técnico do clube.

Agora, o discurso é o mesmo: Falcioni, Almeyda, Gabi Milito, Gallardo e, de novo, Mauricio Pellegrino estão na ordem do dia. Porém, há algo de inédito e pior na situação atual. Ao perceberem o vazio de poder deixado pelos cartolas, os jogadores começaram a se manifestar. Isto é o que há de pior para o trabalho de um novo treinador: ele chega no clube aprovado por alguns e repudiados por outros. E se esta campanha fosse a portas fechadas vai lá. O problema é que ela é pública. E para piorar, quem a protagoniza é o agora dirigente Sebástian Verón.

“La Brujita” já fez ressalvas ao trabalho de Falcioni, já disse um “não” a qualquer nome sem experiência e já fez até propaganda por Milito na Europa, ao dizer que sua chegada ao Pincha é difícil, pois ele tem tudo para ser o assistente de Guardiola no Bayern Münich. O novo dirigente disse tudo isto mesmo antes de procurar algum desses treinadores. Se pensarmos nas duas interinidades que antecederam Cagna fácil é concluirmos que o clube não está na condição de queimar possibilidades a priori.

Verón fez questão de valorizar o nome de Mauricio Pellegrino. O ex-técnico do Valencia esteve a ponto de assinar com o clube de La Plata, antes de Cagna. Não deu certo. Sua chegada a La Plata não é impossível, mas é difícil, pois seu nome ainda é apreciado no mercado europeu. Pelas declarações dos dirigentes pincharratas, mais uma vez não há um plano B no Estudiantes: se não for Pellegrino não será ninguém. Ou será mais um interino, o que para o clube de La Plata tem o mesmo valor de um zé-ninguém.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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