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Craque, técnico e presidente do Huracán: 70 anos de Carlos Babington

Como jogador e técnico no seu lugar do mundo: o estádio do Huracán. Só não pôde triunfar como presidente

Ele não foi o primeiro a jogar, treinar e presidir um clube na Argentina – em seu próprio Huracán, houve antes o exemplo de José Laguna. Mas essa trajetória ainda segue de pouquíssimos, e Carlos Alberto Babington logrou outras coisas quase exclusivas – desde a ser um ídolo local apelidado de El Inglés a, principalmente, ser o único homem a servir de elo nos três últimos títulos quemeros no campeonato argentino, considerando-se aí conquistas na segunda divisão; é inclusive o único profissional campeão como jogador e técnico pelo Globo. Também um dos primeiros hermanos a desbravar o futebol alemão (após quase fazer isso na própria Inglaterra das origens), depois da boa participação na Copa de 1974, só não foi unanimidade como cartola, tal como o “sucessor” Daniel Passarella (no River). Mas merece ter as boas lembranças destacadas hoje, quando faz 70 anos um ex-meia cerebral dotado também de uma canhota talentosa e potente.

Se fosse para seguir o pai, Babington (sobrenome pronunciado “Bábinton” e não “Bêibinton” inclusive na Inglaterra, onde um parente, Anthony Babington, vivido por Eddie Redmayne no cinema, celebrizou-se como quase assassino da Rainha Elizabeth I) seria torcedor do Lanús. Mas nasceu e cresceu no próprio bairro de Parque de los Patricios, a cinco quadras tanto do estádio como da sede social do Huracán, participando ativamente desde a infância da vida do clube – não apenas nos infantis do futebol, mas “trabalhando” até para mexer os placares de pelota basca ou frequentando os bailes na adolescência.

Seu primeiro time de futebol (ainda de salão), porém, se chamava Carlos Gardel, onde chegou a conviver com os jovens Reinaldo Merlo e Jorge Ghiso, futuros jogadores de seleção que se destacaram no River. O próprio clube de Núñez o aliciou quando estava para inscrever-se no Huracán e El Inglés até tentou desenvolver-se no Millo, mas foi subutilizado, visto como muito magrinho. Preferiu passar um ano sem jogar, penalidade da época a quem abandonava o clube, para tentar a sorte na equipe do coração. 

Com o compadre Brindisi, chegou a ficar trinta anos rompido. Brincando com o apelido de “El Inglés”. E na seleção, pela qual foi à Copa de 1974 (e era pretendido para a de 1978)

Deu certo, ainda que não tão facilmente. Vivendo intensamente o Huracán a ponto de integrar a barrabrava (“era outra coisa. Nos juntávamos nos dias de jogo, eu tocava o bumbo. Desfrutava e por aí brigávamos com alguns aos socos. Não passava disso. Nem tínhamos contato com os jogadores. Não sei bem quando começou isso da barra se meter com os jogadores. Quando fui à Alemanha, em 1974, não existia; quando voltei, em 1978, sim”, frisou em 2006 em longa entrevista à El Gráfico, de onde tiraremos as outras aspas dessa nota) mesmo quando já estava no time sub-19 do Globito, estreou na equipe adulta em um amistoso na Europa contra o Tenerife.

Foi em 1968 e, de tão nervoso, não conseguiu alcançar os três primeiros passes, ouvindo do técnico Néstor Rossi – o outrora “Patrão da América” – a bronca de “neném, você calça 32?”. Assim, a estreia oficial no campeonato argentino tardou até 9 março de 1969, contra o Deportivo Morón, pela 3ª rodada do Torneio Metropolitano, uma derrota de 3-2 no estádio do Vélez, alugado pelo adversário.

Inicialmente visto como franzino tal como no River, Babington jogou pouco, marcando um único gol oficial no ano inteiro – curiosamente, contra o San Lorenzo… de Mar del Plata, em 5-0 pela 5ª rodada do Torneio Nacional. No San Lorenzo “verdadeiro”, o rival, isso demoraria até 1972, mas viraria um hábito intenso: El Inglés, com oito gols no clássico, se tornaria o terceiro maior artilheiro huracanense no duelo, abaixo dos nove do velho compadre Miguel Brindisi (com quem rompeu pessoalmente em 1981) e dos dez de Herminio Masantonio, o maior goleador quemero. A falta de espaço viria inclusive anedota astrológica: ainda no final de 1969, um cartomante famoso chamado Horangel, que tinha até programa televisivo, convidou a promessa e, fora das câmeras, previu-lhe que os astros a seriam favoráveis no ano de 1970.

Registros do negócio com o Stoke City, travado pela burocracia da cidadania. À direita, com o técnico do clube, George Eastham, jogador da Inglaterra campeã de 1966

O ano veio e Babington não só continuava no banco como precisou alternar-se com o serviço militar obrigatório… foram só dois gols, embora um já fosse histórico, na maior goleada profissional do clube: o 9-0 no Colón, na última partida do ano. Foi César Menotti, que chegou em 1971, quem primeiro apostou no meia (exigindo-lhe em contrapartida que aprimorasse o físico), e mesmo assim o início foi pouco auspicioso: expulso com 25 minutos de jogo contra o Newell’s na primeira partida em que El Flaco pôs-lhe de titular, pegou dez rodadas de suspensão (pois agredira o árbitro). A pena depois foi diminuída para quatro e Menotti, surpreendendo o próprio Babington, manteve-o titular na partida seguinte ao fim da sanção.

O voto de confiança seria retribuído com um rápido desabrochar: mesmo sendo mais armador do que finalizador, Babington pôde anotar nove gols, curiosamente vitimando no processo o “xará” Huracán de Comodoro Rivadavia. Também foi um dos destaques da tarde mais inspirada do ano, quando o Globo surpreendeu a todos ao vencer de virada e fora de casa o líder Vélez na rodada final, permitindo que a taça terminasse com o Independiente. Era o bastante para despertar atenção europeia. No início de 1972, ele chegou mesmo a ser negociado por 40 mil libras com o Stoke City na janela de inverno britânico da temporada local de 1971-72 – em tempos expressivos do então clube de Gordon Banks; o time emendaria duas semifinais seguintes da Copa da Inglaterra e venceria a Copa da Liga Inglesa daquela mesma temporada.

De outro lado, o futebol inglês ainda estava fechado a forasteiros das Ilhas Britânicas que já não residissem nelas. Esperava-se que Babington, neto de um londrino, tivesse a brecha por uma possibilidade de dupla cidadania. O Stoke inclusive chegou a ponto de enviar telegrama pedindo que o potencial reforço fosse poupado de participar com a seleção (embora ele sequer houvesse estreado ainda pela Argentina) da Taça Independência, Minicopa organizada pelo Brasil para celebrar os 150 anos do grito do Ipiranga. Mas, no fim das constas, os documentos necessários ao novo passaporte não apareceram. Segundo ele, “fui lá, treinei, me queriam sim ou sim, mas nunca apareceram os papéis dos meus avós. Fomos ao famoso Foreign Office e nada. Ficava chutando em Gordon Banks, e como viu que pegava bem, me convidou várias vezes para comer em sua casa”.

Menotti, Brindisi, Houseman, Avallay e Basile rodeiam Babington no festeiro Huracán de 1973

Com o calendário argentino de 1972 iniciando-se apenas em março, ele voltou a tempo de reestrear pelo Huracán já na segunda rodada do Metropolitano. Naquele ano, deixou quatorze gols, incluindo dois em um 5-1 no Estudiantes e o seu primeiro no clássico com o San Lorenzo. O rival ganharia tanto o Metropolitano como o Nacional, o que ofuscou uma ótima temporada quemera, com o 3º lugar sendo a mais alta colocação que o time chegava em trinta anos. De fato, o campeão teve a cerveja aguada nos dérbis, com o 2-2 com gol do Inglés no primeiro turno sendo seguido por um 3-0 no returno, precisamente na partida seguinte ao título azulgrana – a ponto da imprensa sintetizar que “por 90 minutos, o campeão foi o Huracán”.

Nesse embalo, Babington estreou pela seleção em 18 de outubro daquele ano, atuando nos 90 minutos de um 3-0 não-oficial contra a seleção tucumana, junto dos colegas huracanenses Brindisi e Roque Avallay. A estreia oficial ficou para 6 de fevereiro já de 1973, em derrota de 2-0 para o México na capital asteca, seguindo de um 3-2 sobre a Alemanha Ocidental em Munique nove dias depois – tudo antes do ápice do Huracán de Menotti. O Globo não era campeão desde o torneio de 1928, ainda nos tempos de Guillermo Stábile. O jejum enfim foi finalizado, e em altíssimo estilo, no Metropolitano de 1973. Foram oito gols de Babington, dois deles já na estreia acachapante de 6-1 no Argentinos Jrs. Também fez dois no 5-2 no Ferro Carril Oeste, além de guardar outro no San Lorenzo (2-2).

Já na terceira rodada, o time somava treze gols e a El Gráfico registrou que “por algo sua torcida cantou tão alegremente durante toda a partida de domingo e produz essas arrecadações que tranquilizam o tesoureiro huracanense. (…) O único medo lógico (…) é que [o técnico argentino] Sívori pense um momento e leve El Inglés à Seleção. E a verdade é que tinha que estar, não?”. A seleção seria justamente o irônico grande concorrente daquele timaço, que começou a ser seguidamente desfalcado a partir de maio, quando a Albiceleste foi retomada para dois amistosos contra o Uruguai (El Inglés anotou seu primeiro gol pela seleção neles, no 1-1 dentro do Centenário). Em julho e agosto, viriam outros jogos não-oficiais país adentro, contra clubes e combinados, preparativos para as eliminatórias à Copa do Mundo que seriam disputadas a partir de setembro.

Antes de converter pênalti em 1974 para assinar um seus oito gols no clássico com o San Lorenzo. Marcou em outros dois duelos só naquele ano

No próprio dia em que o Huracán sagrou-se campeão, Babington (que comemoraria 24 anos quatro dias depois), Brindisi e Avallay precisaram comemorar em Assunção, pois enfrentariam na mesma data o Paraguai. Ao contrário dos colegas, porém, Babington era reserva na Argentina, usado por poucos minutos. Tanto que terminou inicialmente não convocado ao Mundial. Só terminou embarcando à Alemanha devido ao corte justamente de Avallay. Babington juntou-se a Brindisi, o lateral Omar Larrosa e o ponta René Houseman, outros quemeros convocados. A desorganização da AFA pareceu escancarada quando o convocado de última hora foi anunciado como titular tão logo desembarcou, mas não era tão absurdo.

Afinal, Babington estava apuradíssimo em 1974. Foi o ano mais artilheiro do meia: somou 22 gols entre o Metropolitano (onde o Globo chegou ao quadrangular final) e o Nacional, distribuindo tentos em três clássicos diferentes com o San Lorenzo (contra um rival que terminaria campeão, foram uma vitória e um empate fora de casa e outra vitória dentro…), além de somar outros quatro na campanha semifinalista da Libertadores. Também marcou quatro em uma única noite, em 7-0 sobre o Atlanta – na casa adversária. Isso e o bom desempenho exibido no Mundial, incluindo um gol na forte equipe da Polônia, em meio à campanha decepcionante dos hermanos, despertou nova atenção europeia. Despediu-se do Huracán com 164 jogos e 66 gols na conta; depois esses números viriam respectivamente 312 e 130.

El Inglés permaneceu na Alemanha Ocidental (onde nasceria um de seus filhos, Marcelo) para defender o Wattenscheid na segunda divisão, onde o time conviveu com Borussia Dortmund, Wolfsburg e Bayer Leverkusen. O acesso à Bundesliga esteve perto especialmente na primeira temporada, onde a equipe ficou a cinco pontos da vaga. Embora nunca tenha subido à elite, o bom desempenho do argentino fazia-o ser cogitado para a Copa de 1978 desde que voltasse ao país, pois Menotti (que chegara à seleção catapultado exatamente pelos feitos no Huracán) lhe antecipara que só convocaria Mario Kempes do futebol estrangeiro. O meia tentou de tudo, mas os alemães “se portaram como os alemães que são: o que se assina, se cumpre. Me faltava um ano de contrato e não quiseram me emprestar”. Sua despedida involuntária da seleção deu-se exatamente no primeiro jogo da Era Menotti, no 1-1 com a Espanha em outubro de 1974.

A seleção da cidade de Buenos Aires, em 1980: Passarella, Pernía, Merlo, Pena, o brasileiro Rodrigues Neto (!) e Fillol; Houseman, Brindisi, Alonso, Maradona e Babington

Babington só voltou à Argentina pouco após a Copa, a tempo de registrar dez gols no Torneio Nacional de 1978, parando nas quartas-de-final contra um Talleres recheado com três campeões mundiais. Em 1979, foram quatorze gols, voltando inclusive a vitimar o San Lorenzo. Por um ponto, porém, o time, que voltava a contar também com Brindisi (que estava na Espanha desde 1975) e Avallay (que vinha de passagens por Atlanta, Chacarita e Racing), perdeu a vaga no mata-mata para o futuro campeão River. Em 1980, foram 16 gols, incluindo dois em um 5-1 no Vélez e o único de novo triunfo contra o San Lorenzo (em bela falta no ângulo). Babington, Brindisi e Houseman, inclusive, foram escalados para a seleção da cidade de Buenos Aires para municiarem Maradona no amistoso com a seleção da província de mesmo nome. Esse duelo havia sido tradicional nos anos 20 e foi pontualmente retomado para comemorar os 400 anos da capital federal

Mas o Huracán, no geral, não foi tão bem em 1980. A ponto de, para o Metropolitano de 1981, o técnico Carlos Griguol, do Ferro Carril Oeste, chegar a opinar que o Globo era candidato ao rebaixamento. A ameaça até existiu ligeiramente, mas quem caiu foi o rival San Lorenzo, que fez cinco pontos a menos. Babington contribuiu com onze gols no ano e a liderança técnica na grande desforra: na penúltima rodada, aquele Ferro abriu 3-0 em casa, resultado que o igualaria na liderança ao Boca de Maradona. Na meia hora final, a honra quemera foi lavada com o empate em 3-3, e o adversário teria de se contentar com o vice um ponto abaixo de DieguitoEl Inglés jogou por mais uma temporada em Parque de los Patricios, somando doze gols ao longo de 1982, quando o Globo fez sua última boa campanha na década – ficou em 6º no Metropolitano.

Babington ainda foi ganhar dólares por doze jogos pelo Tampa Bay Rowdies na NASL e também no narcofútbol colombiano, pendurando as chuteiras em 1983 no Junior de Barranquilla, uma entre tantas colônias argentinas na liga cafetera. Em 1984, já começava trajetória em comissões técnicas, inicialmente como auxiliar de Alfio Basile (ex-compadre de Huracán) no Vélez, integrando o elenco finalista do Torneio Nacional de 1985 para, ao fim do ano, acompanhar Basile na campanha que tirou o Racing da segunda divisão após dois anos. A “carreira solo” começou no ano seguinte no Platense, mas revoltou-se com o apoio de dirigente a uma emboscada da barrabrava e renunciou. Em paralelo, seu Huracán sofrera em 1986 o primeiro rebaixamento de sua história e não vinha conseguindo voltar. Babington foi assim o “reforço” oferecido pelos cartolas quemeros para a temporada 1989-90.

O Vélez vice-campeão nacional de 1985, com Babington (primeiro na fila inferior) como assistente técnico de Alfio Basile, o segundo homem da fila do meio

Invicto em casa, o time pôde festejar o título e o acesso (só dado diretamente ao campeão na época) ainda na penúltima rodada, mesclando a juventude de um novo ídolo como Antonio Mohamed à experiência de um cascudo feito Héctor Cúper. Comparando a alegria dali e a de 1973, Babington explicou que “como técnico, há pressões maiores, outros sofrimentos. E nesta ocasião estava toda a ansiedade das pessoas que queriam voltar à primeira, depois de quatro anos. O título era uma necessidade para o Huracán”. O bom trabalho (“desde que assumi há dois anos, minha intenção foi devolver ao Huracán seu estilo de jogo. Consegui, em parte”, declararia também) rendeu uma oferta de trabalho nas seleções juvenis da Argentina, cuja equipe principal passara ao comando do amigo Basile. Negou por sentir-se comprometido com seu clube e deu-se ao gosto até de vencer o primeiro clássico com o San Lorenzo após o acesso.

O Globo, porém, não alçou o voo esperado e Babington recomeçou na segundona no Banfield. Foi novamente campeão, na temporada 1992-93, trabalho que o levou ao Racing no semestre seguinte. O time de Avellaneda não era campeão desde 1966 e ficou muitíssimo perto de quebrar a escrita naquele Apertura. A Academia liderava, mas perdeu embalo com uma pausa entre dezembro de 1993 e fevereiro de 1994, intervalo suficiente para expirar o contrato de peças-chave (em especial, a do saudoso Néstor de Vicente, emprestado). O time só venceu um dos últimos quatro jogos e ainda assim só perdeu a taça por um ponto, chegando a deixar escapar vitória certa de 2-0 contra o Ferro Carril Oeste de modo insólito: autor do segundo gol, Mariano Dalla Líbera recebeu o segundo amarelo ao tirar a camisa para festejar e o desfalque energizou o oponente para empatar…

El Inglés, apesar da decepção, seguiria no cargo não fosse sua paixão. Foi acompanhar um jogo do Huracán e, sempre temperamental, não fugiu de uma briga após ser insultado e terminou detido, enfurecendo por tabela a torcida do clube que o empregava. “Por isso digo que o Huracán me deu mais dores de cabeça do que satisfações”, declararia já em 2006. Ainda assim, cavou lugar no River no início de 1995, com a missão de substituir à altura Américo Gallego, que se juntara ao amigo Passarella na comissão técnica da seleção após levar o Millo a seu único título argentino invicto (no Apertura 1994).

Outro pôster de 1985, no Racing que voltou à elite: Babington é primeiro entre os sentados, novamente como assistente técnico de Basile (atrás dele). Como treinador do clube, triscou o Apertura 1993

Justamente por ser tão desfalcado pela seleção, Babington pactuou com os cartolas que priorizaria não o Clausura 1995 e sim a Libertadores, onde estava nas quartas-de-final quando, segundo ele, decidiu sair – não gostou de ser cobrado pelos dirigentes por uma derrota caseira no Superclásico. Foi a gota d’água a quem também desaprovava a impressão de que Gallego, entediado com as atividades bissextas da seleção, estava à espreita para voltar. Assim começaria o exitoso passo do sucessor Ramón Díaz, inicialmente sondado pelo próprio Babington para ser mais um jogador no elenco… El Inglés reapareceu no seu Huracán ao 1997, ao fim de uma temporada 1996-97 terrível onde era o quarto técnico. Logo apareceu de volta ao Racing, algo que custou seu prestígio unânime na torcida quemera por algum tempo.

Com o time de Avellaneda afundando, voltou como bombeiro a Parque de los Patricios ao fim da temporada 1998-99. Não evitou uma queda assegurada com seis rodadas de antecedência, naturalizada pela catástrofe gerencial em um clube que destituíra em 1998 seu presidente após 48 dias de cargo devido a 16 faltas graves. O mandatário agora era Jorge Cassini, que assegurou: “Babington seguirá no Huracán. Confiamos nele e sabemos que levará o clube à primeira”. O velho ídolo curou quem ainda sentia feridas pela “traição” de 1997, recolocando de imediato na elite o time do jovem Lucho González, do matador Gastón Casas e dos veteranos (e ex-San Lorenzo) Fernando Moner e Fabián Carrizo. “Nesse equipe há mais hombres do que o que subiu em 1990. Aquele jogava melhor”, comparou.

Babington seguiu comandando o Huracán em uma razoável temporada 2000-01, onde o Globo, com uma vitória e um empate nos clássicos com o San Lorenzo, triscou uma inédita vaga na Copa Mercosul (justamente a que seria ganha pelo rival), faltando um ponto. O treinador teve duas revanches pessoais: tanto no Apertura 2000 como no Clausura 2001, seus comandados brecaram na penúltima rodada um River que aspirava ao título, igualando em 1-1 em Núñez faltando doze minutos e ganhando de 3-2 no Ducó, resultados que impediram que o desafeto Américo Gallego fosse campeão – ainda que a vitória no Clausura 2001, em contrapartida, beneficiasse justo o San Lorenzo, cuja torcida pela única vez gritou como próprios os gols dos vizinhos.

No outro clube expressivo onde trabalhou: treinou o River em 1995, sem êxito

Assim, El Inglés esteve próximo de virar técnico na Europa, na fase áurea do Real Mallorca iniciada pelo ex-pupilo Héctor Cúper, cujo empresário levou Babington às Baleares para negociar. Não houve acordo e ele teve de se contentar com o León na liga mexicana até acertar um último retorno como técnico na sua casa. Era 2002 e nem ele livrou o Huracán da lanterna do Clausura, rendimento que pesaria para novo rebaixamento quemero via promedios, em 2003. A sinuosa carreira de técnico, que parecia engatar na primeira passagem pelo Racing, na chegada ao River e no quase acerto com o Mallorca, foi encerrada em 2003 no Chacarita (“me disseram que tinha que colocar um jogador. Renunciei, claro”).

O filho pródigo do Huracán reapareceu em 2006 como novo presidente de um clube deteriorado (“isto era terra de ninguém”, lamentava em 2006, mencionando que a instituição, devido às dívidas, frequentemente não conseguia ver a cor do dinheiro de vendas milionárias). Tal como em 1989 e 1999, a chegada do Inglés surtiu efeito imediato e o time pôde ascender ao fim da temporada 2006-07. Gradualmente, porém, a imagem de Messias foi se manchando, com outro ícone da casa, Osvaldo Ardiles, vociferando em 2008 que “Babington é o pior presidente que o Huracán pode ter, vive escondido”, explicando anos depois que “me decepcionou muito como pessoa, sobretudo porque ele foi jogador e técnico. Simplesmente não ocorreram coisas que falamos. Babington nem sequer vinha assistir aos jogos do Huracán, estávamos jogando coisas muito importantes e não vinha a campo”.

De fato, ainda sob a presidência do Inglés o time tanto triscou o título do Clausura 2009 como também terminou – pela quarta vez – rebaixado, ao fim da temporada 2010-11, levando à renúncia do ídolo (recorrentemente acusado pela torcida até como gestor ladrão) e a eleições antecipadas, fazendo sua última reposta naquela entrevista de 2006 permanecer atual: “o único cara que está imune de tudo no Huracán é [René] Houseman, porque nunca participou de nada. Na entrada do campo, há quatro fotos: Brindisi, Babington, [Fernando] Quiroz e Mohamed, como quatro símbolos de garotos do clube que chegaram a ser campeões com ele. Dois na elite e dois no acesso. E nós quatro fomos xingados. Talvez por estarmos tão expostos”.

Festejando o título da segunda divisão em 2000, dez anos após ganhar a de 1990. Babington também tirou o Huracán da segundona como presidente, mas depois foi rebaixado
https://www.youtube.com/watch?v=lV_dS6MsR2M
https://www.youtube.com/watch?v=mnP5JDAsMGw

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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