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Copa Argentina marca estreia de Gallardo na Terra Arrasada chamada River Plate

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Até agora poucos entendem bem por que cargas d´águas Ramón Díaz se mandou de Bajo Belgrano. Fato é que após a saída do “Pelado” foram buscar Marcelo Gallardo, que estava sem clube, após sua saída em 2012 do Bolso. Oportuno para o “Muñeco” que possa ter sua quarta passagem pelo River e sua primeira como técnico de futebol. E desde então a confiança em seu sucesso no comando da equipe tem sido enorme, embora sua incipiente carreira como técnico deponha pouco acerca de tamanhas expectativas. Eis que chega o dia da estreia do Millo na Copa Argentina. Será também o debute do novo treinador. E ele já tem pepinos para descascar.

Desde que Ramón Díaz deixou o River que o clube se concentrou em buscar um técnico novamente identificado com as cores e a história do Millo. Marcelo Gallardo mandava no banco do Bolso e tinha prestígio, pois chegara no clube em 2010 e atuara como jogador até meados de 2011, quando então se transformou no comandante do banco. Esta foi a sua primeira e única passagem como técnico de futebol. Em 2012, deixou o Nacional e vivia sem clube. Contudo, bastou que os dirigentes do seu clube do coração cogitasse seu nome para que o “Muñeco” fizesse o possível para voltar. E voltou. Só que a situação é bem diferente daquela do ano de 1993, quando o pibe das canteiras estreava na formação titular do River Plate. Na ocasião, ele tinha os olhares de Almeyda, Berti, Astrada, Villareal, Medina Bello e Crespo. No banco, a mão protetora de Daniel Passarella.

Em sua quarta passagem pelo clube Gallardo não será apenas o técnico, mas também o pára-raios protetor de cartolas confusos e pouco atentos à necessidade de inserção do gigante de Núñez na nova realidade do futebol argentino. Assim como o Boca Juniors, o River parece não entender que clubes medianos aos poucos faturam a maioria das competições do futebol local. Fosse só isso e tudo bem.

Problema maior é que quando se fala em representar a Argentina em termos continentais as novas gerações se lembram do Lanús, Vélez, Arsenal de Sarandí e outros. Até mesmo o quase morto San Lorenzo retira o foco do River ao se aproximar de sua primeira conquista da Libertadores. E se esta situação é inquestionável, o que poucos sabem é que ela também se reflete no plano interno. O River é uma bagunça. E ao chegar ao clube, Gallardo retira aos dirigentes parte da responsabilidade por isso.

Um dos exemplos passa pelo retorno de Teo “el pistolero” Gutiérrez, que praticamente humilha o River ao obrigar seus dirigentes a fretarem um avião e buscá-lo na Colômbia como condição para retornar ao clube, após a Copa do Mundo. Além disso, Trezeguet, que não serviu nem para o banco do Newell´s, voltou, brigou com alguns e praticamente está de saída do clube. Cavenaghi tem uma lesão que o afasta dos gramados sem que a comissão médica consiga dar um parecer sobre o seu tempo de recuperação. O prazo pode ser de um a oito meses; só que ninguém sabe ao certo. Pior que isso: o “Torito” já insinua que o seu problema só aconteceu por ter feito esforços sobrenaturais pelo clube na temporada passada.

Leo Pisculichio volta após 14 anos e tudo indica que não foi a pedido de Gallardo. Assim como o ex-atacante do “Bicho”, Pablo Aimar, descartado até por um irrelevante clube da Malásia, e com um fim de carreira marcado por lesões e falta de continuidade na cancha, é mais um que configura aquela prática de todos os cartolas míopes e decantes: se apegar aos craques do passado, independente de suas situações no presente.

Além disso, o clube se envolve em contratações que não se efetivam porque, ao contrário de outros tempos, alguns atletas optam por equipes menores no país em detrimento do grande gigante de Núñez, casos de Nacho Scocco e agora de Lucas Pratto. Certo que este último ainda não fechou as portas para o Millo, porém a forma como a negociação se encaminha já mostra duas coisas: a primeira de que o clube mais uma vez arrasta e implode seu prestígio para ter alguns reforços; a segunda, de que até mesmo jogadores medianos ou fracos, em relação a quem colava no corpo a gloriosa camisa millonaria, no passado, se vê no direito de utilizar o River ou para fechar um contrato em condições anormais ou para pressionar outras equipes a contratá-lo. Ao mais genuíno hincha millonario vale a pergunta: “quem és tu, Lucas Pratto para negar o River dessa forma?”

O próprio Aimar insinua que está fechado com as fieis intenções de levar o River ao sucesso na Libertadores. Só que ele fala isso somente agora, após os cartolas do Bicho fecharem a porta para ele em La Paternal. E estamos falando do mesmo Aimar que em anos anteriores disse NÃO ao Millo porque ainda acreditava que poderia ganhar mais alguns dólares na Europa, nos EUA ou até mesmo em praças de futebol desprestigiadas da Ásia, como a longínqua e horrorosa Malásia. Fácil ter amor pelo Millo quando não se tem mais futebol para lhe oferecer. Fácil que dirigentes caíam nessa balela, pois eles adoram que nomes de peso mascarem suas péssimas administrações e assumam a bronca pelo péssimo momento da equipe.

E se não bastasse tudo isso e Muñeco Gallardo ainda tem problemas reais. Quem joga mesmo na equipe é Gabi Mercado. Só que o lateral não deve jogar tão cedo, pois se lesionou no músculo da perna esquerda e está fora por no mínimo três semanas. O técnico foi buscar o jovem Solari na base entrar no lugar de Mercado. Carlos Carbonero faz “mimimi” e não deve ir a campo, pois sua cabeça está voltada para a suposta chegada ao Palmeiras. Já Álvarez Balanta não apresenta a menor condição física, por ter participado do Mundial. Além disso, não parece ter a menor cabeça em Núñez, após uma proposta da Inter de Milão.

Neste cenário, Gallardo deve levar a campo uma formação 4-3-1-2, com Lanzini enganchando e gente séria como Maidana, Ponzio e Sánchez na equipe. Em termos de nomes, eis a formação: Marcelo Barovero; Augusto Solari, Jonatan Maidana, Ramiro Funes Mori, Leonel Vangioni; Carlos Sánchez, Leonardo Ponzio, Ariel Rojas; Manuel Lanzini; Rodrigo Mora e Leonardo Pisculichi. O cenário não poderia ser pior para o Muñeco. Ele vai precisar de sorte e terá de mostrar uma competência sobre-humana para se safar do precipício que se anuncia para ele em seu retorno a Bajo Belgrano e ao seu amado clube do coração.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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