Copa América: time dos craques amaldiçoados da Argentina
Já montamos o time dos sonhos da Argentina na história da Copa América: clique aqui. Agora com mata-mata pela frente (e contra a Colômbia, para o arrepio de Martín Palermo), é a vez de representar fielmente a zica vivida pela Albiceleste no último meio século, com apenas dois títulos em treze disputados. Em que pese a concorrência de peso com Uruguai e Brasil, é muito pouco para quem havia vencido doze vezes em 25 participações até 1967, ou praticamente metade – ressaltando que os argentinos se ausentaram das edições de 1939, 1949 e 1953, oportunizando raríssimos títulos respectivamente de Peru, Brasil (só duas vezes campeão até então) e Paraguai.
A seleção de 1967 foi poupada de nomes aqui. Embalada pelo artilheiro Luis Artime, que pela seleção fez incríveis 24 gols em 25 jogos, foi ganhando todos até o último, quando jogava pelo empate mas sofreu uma derrota “normal” de 1-0 para o anfitrião Uruguai. A de 1975 não era bem a seleção principal, e sim uma experimental bancada pelo técnico César Menotti, o primeiro a apostar largamente em jogadores do interior. A base foram jogadores das cidades de Rosario e Santa Fe.
Mesmo perdendo em casa para um Brasil também regionalizado (do futebol mineiro), aquela Argentina de 1975 teve o mérito de garimpar futuros campeões mundiais: Daniel Killer e Mario Kempes, ambos então no Rosario Central; Américo Gallego e Jorge Valdano, os dois do Newell’s; Leopoldo Luque, então no Unión; e Osvaldo Ardiles, do Huracán, raro representante de Buenos Aires. Só Killer não foi titular. Seriam mais se o goleiro Hugo Gatti, outro do Unión, não se lesionasse no fim de 1977 – era ele e não Ubaldo Fillol o titular na seleção às vésperas do mundial.
De 1979 em diante, a história muda, em que pese eventuais renovações naturais em torneios pós-Copa; ou outras ocasiões onde os técnicos pensaram em um time experimental, como 1997, com só dois do futebol europeu, Gustavo López (Real Zaragoza) e Rodolfo Cardoso (Hamburgo), com ambos a ficar de fora da Copa de 1998 como a maioria dos jogadores locais testados; e como 2004, com basicamente o time olímpico. O título da nota não é a toa: priorizamos jogadores de qualidade, importância e/ou reconhecimento praticamente inquestionáveis na seleção ou ao menos nos clubes.
GOLEIRO: Carlos Bossio levou três gols no vexaminoso 3-0 para o incipiente Estados Unidos em 1995. Por outro lado, teve o mérito (ou então a culpa foi do treinador Daniel Passarella mesmo) de aparecer naquela seleção vindo da segundona: acabara de subir dela com o Estudiantes. Ao passo que Nery Pumpido já havia participado de Copa do Mundo, em 1982, quando levou dois gols do fraco Equador em 1983. Era a estreia e foi em Quito, mas a Argentina havia aberto 2-0 já no segundo tempo. Carlos Bilardo, que buscava renovação, voltou imediatamente a usar o veterano Fillol nos jogos restantes. A eliminação veio exatamente por aquele ponto perdido – e a zica de Pumpido com o torneio não parou aí, pois foi em um treino na edição de 1987 que ele perdeu um dedo da mão.
LATERAL-DIREITO: Javier Zanetti, pelas estatísticas. El Pupi é o argentino recordista de participações sem títulos. Foram cinco, entre 1995 e 2011 – só não atuou na de 1997 pela preferência de Passarella em usar um time B e em 2001 pela desistência da Argentina em participar, temendo as condições de segurança em uma Colômbia assombrada pelas FARC. Até na “olímpica” de 2004 havia ido…
ZAGUEIROS: Daniel Passarella e demais argentinos ficaram na lanterna em grupo-triangular que, se tinha o Brasil, também tinha a Bolívia em 1979, mas se houve culpado foi César Menotti, que mesmo antes do torneio assumia que a prioridade era o mundial de juniores. No lugar do Kaiser no flanco esquerdo, escolhemos Eduardo Berizzo. Bom nome do Newell’s de Marcelo Bielsa, do belo River dos anos 90 e do “Eurocelta” de Vigo da virada do milênio (voltou ao clube este ano, como técnico), reclamou demais com o árbitro contra o Peru na edição 1997 quando já tinha amarelo. Foi a cereja de uma atuação desastrosa de toda a zaga argentina, passiva nas tabelas de um oponente que levaria de 7-0 do Brasil.
Gallardo já havia sido expulso e o vermelho de Berizzo complicou de vez tudo. Isso porque ele só jogou aquela partida justamente por suspensão do titular Pablo Rotchen por expulsão no jogo anterior. No outro flanco, fácil cravar Roberto Ayala. El Ratón só não foi colega de Zanetti na de 2011: se aposentara da seleção na final de 2007. Marcando gol contra. E numa final onde o campanhão da Argentina se reduziu aos 3-0 para o Brasil. Antes, em 1999, perdeu a treze minutos do fim o pênalti que empataria a partida com o Brasil nas quartas, permitindo Vanderlei Luxemburgo bater Marcelo Bielsa.
LATERAL-ESQUERDO: Carlos Enrique, apropriadamente apelidado de El Loco – não confundir com Héctor Enrique, El Negro, seu irmão e campeão na Copa de 1986. Era experiente em um time jovem; pelo Independiente, havia anulado bem Renato Gaúcho na final da Libertadores de 1984, por exemplo. Mas perdeu a cabeça ao sofrer um carrinho frontal de Márcio Bittencourt em 1991, pisando no corintiano enquanto escapava. Foi expulso e nunca mais voltou a jogar pela seleção. “Fui com a ideia de estourar-lhe a cabeça, para quê negar? Nem me lembro o nome, mas sim que atirou em mim com as duas pernas e se eu não saltasse rompia os dois joelhos, então quando baixei do salto lhe agarrei com todas as travas ao longo da costa”, descreveu em 2013.
VOLANTE: sua seleção vai ganhando por 2-1, é o fim do primeiro tempo, você já tem cartão amarelo e entra forte em Sávio. Leonardo Astrada, jogador com mais títulos do River, era outro nome já experiente (colega de Enrique no título de 1991 na Copa América) expulso infantilmente contra o Brasil. Que, ao contrário de 1991, onde perdeu por 3-2, avançaria: teve um homem a mais em todo o segundo tempo, empatou com o célebre gol com mão de Túlio e levou a melhor nos pênaltis.
MEIAS: pela esquerda, Diego Armando Maradona. Dieguito ainda era um garoto em 1979 mas estava no auge nas de 1987 e 1989 (não participou da de 1983, que não contou com “europeus”) e não repetiu as deslumbrantes atuações do mundial de 1986. Vale lembrar ainda que a edição de 1987 foi a primeira em que a Argentina sediou e não levou. E sem seu principal astro, suspenso por doping, a Argentina se virou muito bem, ganhando o torneio pelas últimas vezes, em 1991 e 1993.
Pela direita, Marcelo Gallardo. Era o melhor argentino em campo contra o Peru em 1997, mas foi amaldiçoado do mesmo jeito até ali: perdeu pênalti e foi expulso justamente após converter outro, ao chocar-se com o goleiro na pressa para repor a bola no meio-campo. Antes, na de 1995, conseguira ser o camisa 10 e reserva. Contra a Bolívia, foi substituído no intervalo por Ariel Ortega. Seu outro jogo foi no desastre dos reservas nos 3-0 sofridos para os EUA, onde atuou o jogo inteiro…
ATACANTES: Lionel Messi fica na ponta-esquerda. Já era uma estrela global em 2007, marcando dois gols na boa campanha mas não conseguindo vazar Doni na final. E em 2011 não fez nenhum gol, devendo bastante ao monstro que acabara de ganhar a Liga dos Campeões, seguindo opaco em 2015. Centralizado, Martín Palermo, cujos três pênaltis perdidos contra a Colômbia em 1999 (o último foi tentado só pela honra, pois já eram os 45 do segundo tempo e os cafeteros venciam por 3-0) deixaram seu volta por cima na seleção, em 2009-10 ainda mais bonita: entenda. Mas ainda são um recorde e fizeram El Titán virar piada mundial por um bom tempo. No outro flanco, José Percudani (1987), Carlos Alfaro Moreno (1989) e Guillermo Barros Schelotto (1999) tiveram zero gol; embora fossem mais talismãs que goleadores mesmo nos seus clubes, não deixa de ser decepcionante.
Só que Carlos Tévez já está em sua quarta Copa América. A melhor foi justo a primeira, ainda garoto, com dois gols. Em 2007, só um. Em 2011, além de não fazer nenhum, longe de justificar a enorme pressão popular no técnico Sergio Batista para tolerar o ambiente ruim que Carlitos teria no vestiário. Ainda por cima foi o único a perder pênalti na eliminação precoce contra o Uruguai (que tiraria o emprego de Batista), outro fator que reverberaria na convocação à Copa de 2014. Na de 2015, apesar dos poucos minutos até o momento, dava para exibir mais que o mostrado.
TÉCNICO: Carlos Bilardo foi o único com três Copas América a perder as três pela Argentina e seria a opção mais óbvia à primeira vista. Alfio Basile escapa pelo brilhante bi de 1991 e 1993 mesmo sem Maradona: os 3-0 na final contra o Brasil em 2007 foram fruto bem mais de um dia tremendamente ruim dos jogadores do que pelo dedo do técnico, que havia levado os melhores jogadores e fazia bela campanha. Sergio Batista ficou entre a cruz e a espada por Tévez em 2011. Não dá para criticar Marcelo Bielsa por buscar renovação em 1999 e em 2004, embora nesta tenha pecado em substituir Tévez – a provocação de Carlitos era ótima para gastar tempo e cavar expulsões brasileiras.
Se Menotti pecou em 1979, colheu bem as sementes de 1975. Sobra para Daniel Passarella. Não por ter poupado os titulares contra os EUA em 1995, sofrendo os 3-0 que deixou os hermanos na segunda colocação, forçando um cedo encontro com o Brasil nas quartas. Mas sim por ter tirado o artilheiro Batistuta (que havia marcado) a meia hora do fim naquela partida. A decisão de um time caseiro em 1997 seria compreensível se o Kaiser realmente estivesse interessado em garimpar alguém. Mas não: as eliminatórias à Copa 1998 não tinham o Brasil, pré-classificado pelo título em 1994, mas Passarella tinha um exagerado foco nelas. A ponto dos primeiros treinos na Bolívia terem sido conduzidos pelo assistente Alejandro Sabella enquanto o técnico não chegava…