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Conheça o Instituto de Córdoba, próximo adversário do River

Sensação da B Nacional/2011/12 o Instituto Atlético Central Córdoba se apresenta como o grande rival do River Plate até aqui na competição. E não se trata de qualquer rival, mas de um grupo que tem chances reais de quebrar a invencibilidade do Millionario no próximo fim de semana. O que não será surpresa pelo que vem jogando o jovem time de La Glória.

O clube de Alta Córdoba está demorando para ascender à elite do futebol argentino pelo que vem apresentando nos últimos anos. Não que os resultados fossem somente os melhores. Nem sempre isso ocorreu. Mas pela atitude. Pela procura de uma forma eficiente, além dos testes de algumas delas de maneira bastante consciente. Nesta temporada, o que ocorre é apenas mais uma tentativa. Só que esta parece muito significativa até aqui. Depois de amargar mais um ano na B Nacional, na temporada anterior, se radicalizou em Alta Córdoba o pensamento de que valeria a pena investir na garotada e na busca do bom futebol. Por isso, quando vemos uma partida de La Glória percebemos não somente um monte de garotos manejando a pelota como a tentativa de fazê-lo da melhor maneira possível.

Esqueçam os chutões na saída de jogo. Também vale deixar de lado a lembrança de zagueiros tentando chutar a bola para qualquer lado do campo. Vale ainda descartar aquelas cenas em que os meio-campistas dão as costas para os zagueiros e os obrigam a armar o jogo (algo como o mediano Chicão, tentando fazer os lançamentos no Corinthians). Nada disso vamos encontrar na equipe cordobesa. O grupo de jogadores segue à risca a determinação de Darío Franco de que deve sair jogando com a bola no chão, rodando-a pelo campo no sentido vertical. “Este risco eu estou disposto a correr”, manifestou o treinador, após vencer o Huracán na primeira rodada. Mas para quem imagina apenas o improviso de garotos habilidosos e encantados com o atual momento de La Glória se engana. O que há é um misto disso com um treinamento exacerbado que lapida essa habilidade e oferece vários caminhos para que ela circule livremente.

A equipe atua em um 4-3-3 e raramente muda o esquema para um 3-4-1-2 (com López Macri como enganche) ou 4-4-2 (com Fileppi fazendo a ligação e isolando Dybala na frente). A manutenção do esquema favorece o treinamento. Favorece também a autoconfiança dos jogadores, que, por serem jovens, colocam sua habilidade a serviço do esquema e ficam seguros de que podem acertar ou errar sem problema algum com o exigente treinador. E este é um dos pontos fortes da equipe: os atletas fazem o que pedem o técnico e este se coloca como uma enorme barreira entre o grupo e os exigentes e impacientes hinchas de La Glória. O resultado é que a bola flui leve por todo o campo de jogo, principalmente do meio-de-campo para o ataque. Ainda quanto às jogadas ensaiadas elas têm seu ponto alto nas cobranças de falta e de córner, com incrível variação. Nem sempre a bola vai para a cabeça de Dybala ou para um dos zagueiros que se apresentam á área para o cabeceio. Como são muitas as jogadas fica difícil de marcá-las.

Contudo, apesar do bom meio-de-campo e da rigorosa obediência tática o ponto forte da equipe é mesmo o ataque. Geralmente ele é formado por López Macri, Fileppi (em grande fase) e Paulo Dybala. Na verdade, Fileppi é um meia de origem, mas foi adiantado pelo treinador pela sua capacidade de articulação com os dois outros atacantes e pelo bom arremate. A pressão para que o ataque funcione é severa, pois na reserva estão Eduardo Lagos, Javier Correa, Martín Fernández e, sobretudo, Pablo Burzio. Creiam: qualquer um poderia estar no ataque titular de qualquer equipe do Apertura. Burzio disputava com Dybala o posto de grande revelação de La Glória. Então apareceu Correa, que não deixa nenhum dos dois em paz. Tanto Burzio quanto Correa têm 18 anos, um a mais que Dybala. Além de habilidosos, são bem municiados tanto pelos habilidosos Coronel e Videla quanto pelos alas Damiani e Barsottini.

O destaque atual é o jovem Paulo Dybala de 17 anos e com muito futebol e personalidade. Já disse que é hincha do Boca e que será um prazer enfrentar o River. O atacante é bom no cabeceio, arranque, velocidade, drible e no deslocamento dentro da área. Joga com a cabeça levantada e manifesta frieza de veterano no momento de dar o passe ou de definir as jogadas. Cai bem pelos dois lados do campo e poderia ser um enganche ou meia-atacante ( por vezes, Franco o tem colocado nessas posições). Usa tanto pé esquerdo quanto o direito para driblar e arrematar. O que dificulta muito as coisas para o goleiro, pois é comum o jogador trocar o pé na hora de colocar a bola nas redes (como ocorreu no primeiro e no quarto gols contra o Atlanta). Além disso, chuta forte, colocado, à meia-altura, de dentro da área e de fora. É o vice-artilheiro da competição com 7 gols. Uma das grandes revelações do futebol argentino.

O técnico Darío Franco já disse que quer a equipe se divertindo na partida contra o River. O que apenas dispara a disposição da garotada em fazer uma partida em que a criatividade deverá ser um ponto alto. O River Plate corre riscos seríssimos de perder seu primeiro jogo na B Nacional. Terá pela frente talvez o maior adversário de toda a competição. Porém, pode vencer o encontro até com tranquilidade se saber lidar com duas situações. A primeira é a atenção que os garotos de La Glória costumam ter para os vacilos dos seus rivais. Então aquela história de ir para o ataque e pouco se importar com a defesa (problema que melhorou nas duas últimas partidas; diga-se) precisa ser corrigido. Além disso os comandados de Núñez precisam ter a humildade de preencher melhor o meio-de-campo, tirando dos jogadores do setor a impressão de que todos são atacantes. A segunda situação com que o River precisa lidar é em saber explorar os problemas que La Glória possui.

Se uma das vantagens de La Glória é o cabeceio de seus zagueiros no ataque, essa vantagem não existe na defesa. Por mais que Darío Franco tente não consegue dar jeito no setor. Aquelas mesmas discussões da mídia sobre o fato de o Santos oferecer pouca proteção à zaga também ocorrem em Córdoba. Aqui, como lá, muitos alegam que se o ataque resolve não há problemas em se levar alguns gols. Porém, La Glória não é o Santos: calma lá! E os erros são muitos. O bloqueio das bolas aéreas é frágil e não mostra a evolução que faz da B Nacional uma competição superior à B Metro ou à Primeira D. As jogadas pelos flancos do campo é portanto o segredo para o Millionario chegar às redes do bom arqueiro Chiarini. Como os alas oferecem muito apoio ao ataque deixam o setor bem desguarnecido para os avanços de Ocampos, por exemplo. Mas esse não é o único problema.

A equipe joga bem com a bola e em geral fica muito tempo com ela. Contudo, quando a perde, manifesta dificuldades para recuperá-la quando o passe adversário sai rápido e com eficiência. Nessas situações, os atacantes costumam correr atrás da pelota e não dos jogadores rivais, o que favorece a construção das ações ofensivas adversárias. Além disso, os atletas costumam manifestar uma paradoxal desatenção no início e fim do primeiro, e também no início do segundo. Se o Mathias Almeyda percebeu isso seus comandados tentarão surpreender nesses momentos.

Outra vantagem para o River é saber jogar com a própria hinchada local. É incrível como a torcida do Instituto ainda joga contra o seu time. Não falamos de todos hinchas, claro! Mas também não são somente os barras que costumam manifestar enorme impaciência com o elenco. Então, quando o gol demora para sair, o jovem elenco precisa lidar com o adversário e com a impaciência de seus torcedores. Problema que não poucas vezes foi o responsável pelos resultados maus de La Glória em sua cancha.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

One thought on “Conheça o Instituto de Córdoba, próximo adversário do River

  • Lucas Castro de Oliveira

    Ilustrativo esse texto. Esse time do Istituto poderia ser comparado com aquele do Santos da Libertadores?

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