Uma das grandes questões que ficaram no ar após a morte de Julio Grondona diz respeito ao futuro da AFA e do futebol argentino em um cenário em que não há mais a presença física do maior protagonista da cartolagem do país nos últimos 35 anos. Nesse período, o todo poderoso da federação argentina acumulou poder e comandou com mão de ferro o futebol do país. Como será o futuro sem Grondona?
Para começar a entender o assunto é essencial lembrar que o cenário argentino tem muito em comum com o brasileiro nesse quesito. A AFA é dominada por um grupo que controla o futebol do país segundo suas próprias prioridades, e a maioria dos clubes também é dirigida por pessoas que tem estilo muito semelhante ao que vemos por aqui. Manter-se no poder e abocanhar fatias maiores de verbas é a grande prioridade. Uma realidade que conhecemos.
Institucionalmente, a situação é a seguinte. Grondona faleceu no exercício de um mandato que terminaria em outubro de 2015. Provisoriamente a presidência da AFA está nas mãos do vice-presidente, Luís Segura, do Argentinos Juniors, que deve convocar eleições para outubro, visando definir quem exercerá o poder até uma nova eleição, um ano depois, que escolherá o mandatário supremo do futebol argentino no mandato seguinte.
No momento tudo aponta para a continuidade no poder do círculo de colaboradores mais próximos a Grondona. Afinal, no momento o grupo detém todos os postos chave da AFA. O presidente em exercício é Luís Segura, a primeira vice-presidência é de Juan Carlos Crespi (Boca Juniors), a secretaria geral é de Miguel Angel Silva (Arsenal) e a tesouraria está com José Lemme (Defensa y Justicia), todos muito ligados ao antigo presidente. Além disso, o grupo tem aliados poderosos no interior e nas ligas regionais. Assim, a menos que surja algo novo, é improvável que o mandato atual não termine com aliados de Grondona no poder. Muito provavelmente Luís Segura será escolhido para presidir a AFA até 2015.
Mas nas eleições de 2015 o cenário deverá ser outro. Grondona será uma lembrança mais distante, e muitos dirigentes que não concordavam com o antigo chefe se sentirão livres para expressar seu descontentamento. A menos que Segura consiga manter com os demais dirigentes os mesmos laços de submissão exercidos pelo antigo presidente, é muito provável que haja uma disputa realmente aberta para a presidência da AFA pela primeira vez desde a década de 1970.
Provavelmente surgirão cisões em torno de questões decididas por Grondona e acatadas a contragosto por outros cartolas. Como a pretensa interiorização do futebol argentino através do nacional com 30 clubes. E a insatisfação dos grandes clubes em relação à distribuição de verbas da TV: os grandes acreditam fazer por merecer uma fatia bem maior que a que tem recebido, por considerar que atraem mais audiência. Grondona preferiu fazer a distribuição de receita de forma a não acentuar a desigualdade entre grandes e pequenos. Mas os presidentes de River Plate (Rodolfo D’Onofrio) e Boca Juniors (Daniel Angelici) já deixaram claro que querem que o modelo grondonista seja revisto. As eleições de 2015, bem como o futuro da AFA e do futebol argentino, deverão passar por questões como essas.
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