Como o San Lorenzo quase perdeu a Libertadores

Caio Brandão 15 de agosto de 201415 de agosto de 2014 2 Comments

O San Lorenzo está em estado de graça. Até parece que os maias estavam certos em falar em “nova era” a partir de 2012, vide Corinthians, Atlético Mineiro e agora CASLA como campeões da Libertadores, onde este enfim deixou de ser o único grande argentino sem o título. E, como tudo pode ficar melhor, o rival Huracán segue padecendo na segundona após ter perdido a última vaga de acesso da temporada 2013-14; o rival deverá subir na transição que premiará os times da segundona com dez acessos no fim deste ano, mas, por melhor que tenha seu elenco hoje, ficará essa mancha pela enorme ajuda da AFA. Mas para chegar até a esse estado de espírito, o San Lorenzo passou por trancos e barrancos antes mesmo de disputar a Libertadores 2014.

Natural a um marinheiro de poucas viagens, foi aos trancos e barrancos que o San Lorenzo conseguiu chegar à decisão. Na Libertadores, os azulgranas abusaram de flertar com a eliminação precoce, só se impondo sem maiores contestações a partir das quartas-de-final, contra o Cruzeiro. Mas o clube do Papa poderia nem ter mesmo chegado ao torneio, de tantos detalhes decisivos. Parte deles já foram comentados no Especial que dedicamos ao meia Leandro Romagnoli, um dos que atravessaram todo o período e que se tornou de um ano para cá o maior campeão profissional no clube: veja.

O campeão da Libertadores só chegou à segunda fase com um gol no último minuto sobre o Botafogo, na única vez que venceu por mais de um gol de diferença na fase de grupos. Estreou perdendo para o próprio Fogão, venceu o subestimado Independiente del Valle só por 1-0 em casa, deixou o Unión Espãnola empatar a sete minutos do fim em Buenos Aires no terceiro jogo, conseguia vencer no Equador o Del Valle até o último minuto… na última rodada, estava na lanterna do grupo e precisava de uma combinação de resultados. A vitória sobre os cariocas não bastaria se os equatorianos não soubessem vencer dentro do Chile o Unión Española, e após estarem perdendo por 4-3.

Contra o Grêmio, dono da melhor campanha da primeira fase, o Sanloré venceu só por 1-0 em casa e cedeu o mesmo resultado em Porto Alegre nos minutos finais, correndo o risco de cair nos pênaltis. Passou e começou a dar mais tranquilidade à torcida cuerva: após vencer novamente só por 1-0 outro brasileiro, o Cruzeiro, abriu o placar no jogo de volta, no Mineirão, e soube cozinhá-lo. Sapecou um 5-0 no Bolívar nas semis. Na ida da final, até levou o empate no último minuto, mas o fato de ter sido no Paraguai e por ter dominado o jogo ajudou a encarar a reviravolta mais como um grito de alerta em vez de ver a confiança ruir. Confira a seguir a série “Elementos em comum” com alguns oponentes:

Elementos em comum entre Botafogo e San Lorenzo

Elementos em comum entre Grêmio e San Lorenzo

Elementos em comum entre Cruzeiro e San Lorenzo

San Lorenzo teve poucos bolivianos. Mas de história no Bolívar e seleção

Nacional-PAR, um clube especial ao futebol argentino

Esse vaivém na Libertadores já foi descrito com mais detalhes nesta outra nota. Mas como o San Lorenzo chegou à Libertadores? Só com o título do Torneo Inicial da temporada 2013-14, pois o clube vinha fazendo campanhas sofríveis. E ainda está bem fresco na memória que a taça seria perdida se o goleiro Sebastián Torrico não evitasse no reflexo o gol da vitória do Vélez, que jogava em casa e teria sido o campeão se a bola entrasse. O título escorreria pelos dedos se houvesse vitória e não emapte em Newell’s x Lanús, outros concorrentes que também se confrontavam diretamente.

52169739386e5_657x0 — Romagnoli, Francisco, Tinelli e Aragorn no renascimento descrito em 2013

Vale lembrar que um mês antes de ser campeão, o clube teve uma grande decepção: perdeu a final da Copa Argentina, que também premia com vaga na Libertadores, após levar um sacode de 3-0 do Arsenal, justamente após a principal revista esportiva do país, a El Gráfico, celebrar na capa o renascimento dos cuervos, o que o tempo provou não ser uma medida pé-fria (pois a revista vem criando essa fama). O título do Torneo Inicial 2013 também não viria se o time tivesse sido rebaixado anteriormente, luta que precisou encarar nas duas temporadas anteriores; a queda em 2012, evitada só na repescagem (a Promoción), chegou a ser dada como sacramentada.

O episódio mais simbólico foi a vitória por 3-2 sobre o belo Newell’s do técnico Tata Martino após estar perdendo por 2-0. Na época, o torcedor azulgrana mais célebre era o ator Viggo “Aragorn” Mortensen (que passou a infância na Argentina), que vibrou tanto em um aeroporto que precisou prestar esclarecimentos às autoridades policiais.

Mas, mesmo depois dessa enorme superação, o fio da navalha continuou como trajetória básica por meses. Até a revolução (coincidência ou não?) pós-Papa, era comum que jogadores cogitados fugissem do clube do bairro de Boedo, de onde foi despejado nos anos 70 e para onde justamente nesses últimos anos acertou a volta. O temor de rebaixamento já evaporava exatamente poucos dias após a eleição de Francisco, com o Independiente sendo o gigante rebaixado em 2013, mas a crise seguira forte no Ciclón mesmo após a queda em 2012 ser impedida.

Clique nos links abaixo para acompanhar cronologicamente, desde o primeiro semestre de 2012 ao fim de 2013, a evolução do campeão da Libertadores 2014 – os títulos das matérias, na verdade, já são bem autoexplicativos, desde a crise com o técnico Leonardo Madelón (o San Lorenzo se tornaria o primeiro grande bi-rebaixado na Argentina, e Madelón já havia caído como jogador do clube em 1982) às desventuras com seu sucessor Ricardo Caruso Lombardi e os desmandos com Marcelo Tinelli, apresentador de televisão (espécie de Ratinho argentino), empresário e quase-mecenas dos azulgranas até nossa percepção de que um time promissor estava sendo gerado em meados de 2013:

Caio Brandão

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