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Como joga o Belgrano, adversário do River na promoción

Após duas tentativas frustradas de ascender pela promoción, quando perdeu do Racing, em 2008 e do Rosário Central, em 2009, o Belgrano de Córdoba volta aos playoffs contra o River nesta quarta-feira para buscar seu retorno à elite do futebol argentino. Sua expectativa para o confronto está refletida na preferência demonstrada por todos no clube, quando o Millionário ficou perto da promocíon: “Queremos o River”, expressava as vozes dos torcedores e dirigentes do Pirata.

Antes de considerar as virtudes mais claras do Pirata, convém assinalar que o clube não teve um bom início de temporada. Sua instabilidade era clara e de forma alguma sinalizava que chegaria ao final da B Nacional com chances de ir à promoción. Então, por que há nisto uma virtude? Porque a partir do momento em que assumiu Ricardo Zielinski a mudança do time foi notável, sobretudo por aquilo que no campo emocional parece ser uma de suas armas contra o River, sua confiança. E esta característica afeta em especial os seus atacantes, que fizeram do clube o segundo mais goleador da temporada, atrás apenas do campeão Atlético de Rafaela.

Para isso, Zielinski fez do Gigante de Alberdi um reduto de massacre aos adversários; das 19 partidas como local a equipe perdeu apenas duas. Poucas das seis vezes em que o clube disputou a promoción sua confiança esteve tão em alta como agora. E uma das razões de tamanha confiança está na associação de seu bom momento com o fato de que cabe ao seu adversário, como em nenhuma outra promoción, a responsabilidade, boa ou ruim, do resultado no confronto. E era principalmente por isso que todo mundo por lá queria o River Plate. Mas, se o Millionario levar apenas este aspecto em consideração, estará deixando de lado o fato de que terá como adversário uma boa equipe de futebol.

Engana-se quem acha que Zielinski joga com um 4-4-2 ou que pelo menos fará isso no confronto com o River. Em geral, ele usa tanto esse esquema quanto o 4-4-1-1, dependendo do adversário. Para confrontos mais difíceis, como o dos playoffs, ele usa o segundo, com um enganche, que dependendo da situação volta para recompor o meio campo ou avança, tornando-se um segundo atacante.

Essa função será exercida na partida de amanhã por Franco Vázquez, um jogador tão cerebral a ponto de muitas vezes ser vaiado por parte de seus hinchas por não compreenderem o seu raciocínio. Raciocínio que de fato é algumas vezes demorado, mas que foi um dos responsáveis pela equipe chegar aonde chegou. Para as más línguas, em Córdoba, a vitória do Pirata vai depender do estado de sono desse jogador na partida. Seu apelido é el Mudo: não fala, não gesticula, não olha; parece ter toda a leitura da partida em sua cabeça, todos os segredos para chegar ou fazer chegar ao gol e não foram poucas as vezes em que enquanto alguns torcedores começavam a se irritar, ele simplesmente colocava um ou outro na cara do gol. Um dos poucos que parecem compreender as artimanhas de el Mudo é justamente o único jogador que ficará avançado no confronto, César Pereyra. El Picante é um lutador típico, dificilmente desiste de uma jogada, aterroriza as defesas adversárias com sua disposição, velocidade e seu poder de definição; se deixá-lo concluir dentro da área dificilmente não fará o gol. Ambos formam a referência ofensiva do compacto time do Belgrano. Mais que isso, são uma espécie de alma do time.

Para o confronto, o time entrará em campo fechado e guarnecendo sua defesa. Os dois laterais pouco se apresentarão ao campo de ataque e serão defensores reais. Algo que chamou a atenção durante a temporada foi como o time não oferece espaços no campo de defesa. Como o esquema tático favorece a compactação, fica mais fácil para cada jogador da defesa cumprir bem a sua função. Para compensar o fato, o time conta com dois volantes que sabem sair para o jogo: Maldonado e principalmente Juan Carlos Mansanelli. Este último é um dos jogadores com que o Millionario terá de se preocupar, ele tem habilidade e faz muitos gols, aparecendo na frente como elemento-surpresa.

Se não bastassem essas qualidades, há uma outra, a união da equipe. Este aspecto faz parte de um conjunto de coisas que era negativo antes da chegada de Zielinski, no meio da temporada. Os gols de Pereyra não saíam, os atos de rebeldia eram constantes, a insegurança do plantel era marcante e o time vivia no limite. Tudo isso virou qualidade do elenco com a chegada do novo treinador. Se tivéssemos de eleger apenas uma dessas qualdades, seria justamente a união dos jogadores. Portanto, o centenário clube de Núñez tem de fato razões para se preocupar. Porém, o seu adversário tem pontos frágeis para serem explorados.

Embora jogue compactado, os defensores são tecnicamente fracos. Não sabem sair jogando e a bola parece queimar nos seus pés. Também pelo alto não conseguem bloquear as jogadas adversárias. Para este fato concorre a deficiência do bom arqueiro Juan Carlos Olave, que em geral se atrapalha quando precisa sair do gol nas jogadas aéreas. Tanto o goleiro quanto a sua zaga são tão ótimos no bloqueio das jogadas feitas pelo toque e pelo passe rasteiro; mas são péssimos nas jogadas aéreas em que precisam bloquear o seu adversário. Este fato é comprovado pela maioria dos gols sofridos pela equipe na temporada. Outro aspecto da zaga é a incapacidade de seus homens de lidar com o imprevisível, o que deverá favorecer o River, caso jogadores como Lamela estejam numa boa jornada.

Apesar de o time ter feito muitos gols a partir de jogadas pensadas no meio de campo, o time de Córdoba é configurado para sair rápido nos contra-ataques. Sem essa jogada perde muito, pois grande parte de seus jogadores não dispõe de habilidade técnica. Há um setor no campo que o time gosta de ocupar quando detém o domínio do jogo. Trata-se do espaço que fica entre o balão do meio campo de ataque e a meia-lua da grande área. Esse setor é ocupado por el Mudo e convém ao time Millionario evitar que a pelota chegue a esse jogador. Se conseguir estará anulando quase toda a força ofensiva do Belgrano, já que também César Pereyra perderá sua efetividade.

Por fim, o risco para o local na partida de ida tem a ver justamente com Franco Vázquez. Se o jogador não estiver em uma boa jornada dificilmente o seu companheiro de ataque também estará. Quando isto ocorreu na temporada, os comandados de Zielinski dificilmente se deram bem. Em Córdoba, todos sabem das deficiências do local; contudo, apostam que a instabilidade do River Plate não o ajudará a explorar essas fragilidades do Pirata rumo à sua manutenção na Categoria.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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