Primeira Divisão

Com grande atuação de Riquelme, Boca vence Godoy Cruz

Uma atuação de craque Riquelme. Como há muito não se via
Uma atuação de craque Riquelme. Como há muito não se via

Bombonera lotada e com gente saindo pelo ladrão. Novidade? Nenhuma. Contudo circulava certa atmosfera de agouro. Time vai mal. Lista dos que vão; lista dos que devem chegar. Lista suposta de possíveis técnicos para ocupar o prestigiado lugar de Bianchi. E no time principal, Hernán Grana, o dispensável; Martínez, o burrito encrenqueiro; Orión, o briguento; Gago, o confuso; Riquelme, o papudo. No banco, Ledesma, o revoltado. Tudo para dar errado. Mas deu certo. Coisas de Boca Juniors, coisas do craque Riquelme. Coisas do futebol. Foi 3×0 na sacola do abusadinho Godoy Cruz Antonio Tomba. E ficou barato.

Jogo começou com cara de jogo do Boca. Riquelme pegou na pelota em meio a quatro marcadores rivais. Fez um lançamento absurdo para Martínez. Carranza chegou chegando e mandou o Burrito para o chão e a pelota para a cão. Cobrança clássica de Román: porteiro prum lado e a redonda pro outro: 1×0 aos oito minutos de partida.

Plano de jogo do Tomba? Foi pro espaço. Time rodava para lá e para cá feito barata tonta, vitimada por borrifadas de inseticida da marca DIA. Não sabia onde estava. E o Boca girava o jogo na precisão do passe curto. Só Gago que não entrava na onda. Errava passe aqui; errava passe acolá. E a marcação entendeu que a roubada de bola tinha endereço. Bastava pressionar o Gago e pressionar Burrito Martínez, quando ele fazia as vezes de defensor.

E foi assim que o Tomba igualou nas ações. Avançou sua primeira linha para atuar quase no meio-campo. A segunda linha se confundia com o meio-campo do Boca e confundia todo mundo. Isto só ajudava o Godoy: quando a pelota chegava por lá – no meio – ela logo era virada para José Luíz Fernández, no flanco. Pareceu excessivo para a defesa do Boca este simples exercício do conjunto mendocino.

Mesmo sem conseguir finalizar, a pelota ficava muito tempo com a equipe de Almirón. Após igualar as ações, o Godoy Cruz foi se tornando o dono do jogo. Todo mundo rezava por um descanso. Porém, até nisso ficava a dúvida: o que viria do vestiário xeneize? As últimas partidas não tinham sinalizado boa coisa.

Verdade que a Fortuna baixou na Bombonera. Tanto foi assim que mal se iniciou o cotejo e Carranza foi pegar a pelota no arco. O Tomba se meteu a besta e foi todo para o ataque. Sofreu um contragolpe clássico com a pelota passeando do meio para o lado esquerdo; do esquerdo para o meio. E os marcadores? Tavam todos lá atrás, dando uma de atacantes. Fato é que Gigliotti não precisou sequer de velocidade para faturar Carranza num drible muito elegante para sua condição de matador cabeçudo. Tocou para o arco sem dono e saiu pro abraço; 2×0 Boca, aos três minutos do recomeço.

Tadinho do Tomba. Tadinho nada, quem mandou dá uma de besta! Voltou “encantado” demais para o segundo tempo. Todo afoito. todo maluco. E o Boca, como voltou? Todo certinho.

A conversa foi boa. Daquelas. Bianchi deve ter encontrado as palavras certas. E todo o time entendeu. A marcação tirou os espaços oferecidos em excesso sobretudo a José Luíz Fernández, Nico Sánchez e Grimi. Hernán Grana fechou a porta para Fernández e com isso desocupou um pouco mais o setor de meio-campo. Os espaços ficaram sobrando para Riquelme, que matou a pau. “El Diez” já havia sido o destaque da equipe na primeira etapa. Na segunda, foi o gênio que a torcida conhece. Com maestria, Riquelme recuava quase até a defesa e ficava pedindo: “passa pra mim, meu fio, passa que eu resolvo”.

E todas as bolas caíam nos pés de Riquelme. Nada da velocidade dos tempos passados. Nada disso. Para quê se precisa de tanta velocidade quando se tem uma cabeça que pensa? Os espaços eram encurtados no plano mental. E os passes tinham a cara de lançamentos precisos, que poupavam o craque da doação física que sua atual condição não pode mais oferecer. Mas, e o Tomba, como ficava nessa história? Só pensava em atacar. Não entendia, portanto, o que acontecia na Bombonera.

Fato é que de um jogo difícil a peleja se tornou um claro confronto de um time grande contra um pequeno. E vejam que o “pequeno” era doido. Jogando na cancha do gigante, perdendo por dois gols e, ainda assim, só pensava em atacar. Útil dizer que atitudes assim são de uma coragem apreciável, de quando em quando. Inútil dizer que há momentos, contudo, para essa postura se impor. No caso específico, a atitude do Tomba era estúpida e infeliz.

E Riquelme virava bola pra cá. E virava bola prá lá. E mesmo com a entrada de Ledesma o cenário foi o mesmo. Certo é que o Burrito saiu de campo fazendo beicinho e é desnecessário dizer que seu pai já afiou a língua para a segunda-feira. Que se dane o Burrito e que se dane seu pai, já que o Boca é maior que os dois. E é gigante porque a mística foi construída em cima de atuações dos grandes craques históricos. Fale o que quiser, mas Riquelme é um deles.

E a atuação de gala teve muito a ver com a própria atuação da equipe. Tanto foi assim que todo mundo voltou a acreditar que pode tabelar pelo centro do campo e chegar na cara do gol. Em ótima articulação pelo meio, Colazo saiu na cara do gol. Carranza – coitado – foi lá e novamente mandou um jogador do Boca para o chão. E a bola para a cal. Só que dessa vez, Ceballos o mandou para o chuveiro. Gigliotti correu para a pelota e a colocou no canto de Moyano: 3×0, aos 36 do segundo tempo.

A partir daí foi só controlar a fúria irracional do rival. Já que o Tomba seguia na sua proposta de ataque, era só se posicionar na defesa e esperar pelos contras. Quase fez mais. Não fez, todavia, mas não precisou. Fim de jogo, Boca 3×0 Godoy Cruz. Um jogo em que um time grande mostrou para o pequeno qual é o seu devido lugar. Jogo em que um grande de Buenos Aires, mostrou – como há muito não se via – que um time do interior precisa se comportar na Capital Federal, sob o risco de levar uma sacola de gols para casa. Vitória de Bianchi, da união de uma equipe e de Riquelme. Vitória sobretudo do Boca. E de sua orgulhosa massa torcedora.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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