Boca e River já tiveram uma boa quantidade de técnicos em comum. Mas somente Vladislao Wenceslao Cap saiu de um diretamente ao outro, sem escalas. Mais: somente El Polaco treinou em um mesmo ano a dupla principal do país. O que ofusca um feito dele pela dupla secundária, como raro campeão em comum entre Racing, jogando, e Independiente, treinando. Rara figura a trabalhar em quatro dos cinco grandes (só lhe faltou o San Lorenzo, mas esteve nos seus maiores rivais, Huracán e Vélez), e mais ainda nos dois lados do Superclásico e também do Clásico de Avellaneda, Cap deve ter atraído muitos maus olhados. Seja por isso ou não, o técnico da seleção na Copa de 1974 faleceu precocemente, poucos meses depois de sua última virada de casaca, em pleno cargo de técnico riverplatense. A história que merece ser contada hoje terminou há exatos 40 anos.
Cap tinha origens em uma curiosa mistura de Leste Europeu. Sua ficha no livro Quién es Quién en la Selección Argentina, publicado em 2010 por Julio Macías, explica que era filho de um ucraniano com uma romena. Já o perfil dedicado na página de ídolos no site oficial do Racing o qualifica como filho de um polonês com uma húngara. E é plenamente possível que ambas as versões se complementem, dada as áreas que mudaram de fronteiras entre Ucrânia e Polônia no século XX já terem feito as duas seleções sondarem naturalizações do mesmo argentino; e da conhecida minoria magiar habitante na Romênia, notadamente na Transilvânia – a exemplo, justamente, do mais famoso intérprete do Conde Drácula, o ator Béla Lugosi.
Segundo um visto brasileiro, seus pais se chamavam Teodoro Capp (talvez corruptela de Kapp, sobrenome de origem alemã) e Julia Zahorecz, dona de um sobrenome realmente húngaro. Fato é que El Polaco nasceu em 5 de julho de 1934 no interior da província do Chaco, na cidade de Roque Sáenz Peña, e se estabeleceu ainda criança com a família na Grande Buenos Aires. Seus inícios no futebol vieram justamente em um clube visto como filial do Boca, o extinto Arsenal de Llavallol, fundado em 1948 – e inicialmente voltado a competições informais. Uma das principais no país era a dos Torneios Evita, no qual Cap, como figura principal, e colegas venceram a edição de 1950 tanto na competição preliminar, para definir a melhor equipe da província de Buenos Aires, como na etapa nacional.
Ainda naquele Arsenal, que não deve ser confundido com o de Sarandí, aquele volante central pôde atuar com outras futuras figuras renomadas no futebol argentino: o meia Humberto Maschio, o atacante Antonio Angelillo e, em menor grau, o volante Natalio Sivo. Todos eles, exceto Angelillo, seriam reaproveitados pelo Quilmes a partir de 1953, na segunda divisão – e a ligação com Maschio (curiosamente, outro campeão no Racing como jogador e no Independiente como treinador) viraria até laço familiar, ao ter desposado uma das irmãs do colega. O Quilmes foi apenas 5º colocado na segundona, longe da briga pelo acesso, mas o trio oriundo do Arsenal foi ao Racing em 1954.
Cap até figurou entre os titulares racinguistas já na rodada inaugural de 1954, mas ficou limitado a cinco partidas no certame. Em 1955, foram dez no elenco vice-campeão e alguma moral para apadrinhar no clube a contratação de Angelillo, futuro jogador da dupla Milan e Internazionale. O volante enfim se firmou em 1956, quando, ao longo de suas 28 partidas, “corria, marcava, raspava e ordenava” – nas palavras utilizadas em seu perfil na edição especial em que a revista El Gráfico escolheu em 2011 os cem maiores ídolos da Academia. Embora terminasse em 4º, o time terminou a quatro pontos da taça e Cap mostrava-se um digno concorrente de Arnaldo Balay. Em 1957, o clube já não teve ilusões de título, embora terminasse em 3º. Mas a taça não escapou em 1958.
El Polaco foi uma das grandes figuras do título argentino de 1958, seja por participar de todas as trinta rodadas, mas, sobretudo, pela partida que garantiu a taça. Era a antepenúltima rodada e o líder visitava o Lanús, que vencia por 3-1 até os 18 minutos do segundo tempo. O volante, então com zero gols na carreira, acreditou e arriscou em um chute de fora da área – o modo como mais vezes conseguiu marcar seus poucos gols na carreira – em que a bola bateu na trave e contou com a sorte de resvalar nas costas do goleiro grená Miguel Celadilla e então morrer nas redes. O desconto heroico reoxigenou os colegas e dali a quinze minutos o artilheiro Pedro Manfredini achou o empate.
Em paralelo, o Racing também ia bem na Copa Suécia, torneio que a AFA organizou ao longo da Copa do Mundo para manter os clubes ativo física e financeiramente enquanto o campeonato se paralisava para não prejudicar os times desfalcados para a seleção. La Acadé foi líder no seu grupo, classificando-se à final; já o outro se embolou para definir um finalista (seria o sumido Atlanta, em sua fase áurea) e empurraria a decisão para dali a uns anos. A boa temporada terminou tarde para que Cap fosse considerado ao próprio Mundial da Suécia, mas o credenciou a estrear na seleção em março de 1959 – inicialmente, em um jogo-treino no dia 1º contra aquele forte Atlanta da época, a de fato segurar um 2-2. A estreia oficial veio seis dias depois, já em plena Copa América, no 6-1 sobre o Chile.
Cap foi titularíssimo em toda aquela Copa América, que serviu para reestabelecer na época um orgulho feriado: a Argentina, eliminada precocemente na Copa de 1958, foi campeã justamente em cima de um Brasil cheio de jogadores recém-campeões mundiais, na única vez em que Pelé disputou a Copa América. O volante deu-se até ao gosto de marcar um gol, no 3-1 sobre o Paraguai. Mas não teria um resto de temporada tão promissor: seu Racing até foi vice-campeão, mas com apenas 17 partidas do Polaco. Deixou um golzinho, cabeceando a cinco minutos do fim um tiro livre contra o Estudiantes, sem evitar a derrota de 2-1.
Em abril de 1960, aquele Racing sem embalo acabou vice do Atlanta na tardia definição da Copa Suécia. O troco na liga argentina, já em maio, foi sonoro: 5-0, com Cap anotando o quarto a partir de um chutão a 30 metros do gol. Voltando à titularidade absoluta (foram 26 partidas), contribuiu para o time terminar a quatro pontos da taça. O problema é que o campeão foi precisamente um Independiente que encerrava doze anos de seca. Os ecos da Copa do Mundo de 1958 ainda ressoavam no futebol argentino, com a dupla Boca e River causando furor com contratações estrangeiras pelo “futebol-espetáculo”, uma tônica que os demais clubes, em menor grau, também seguiam.
O Huracán não quis ficar para trás e buscou dois jogadores de seleção – Norberto Menéndez, ele mesmo presente na Suécia, e o próprio Cap. Mais: o papel de técnico, então entregue ao veterano xerife Néstor Rossi (outro da seleção de 1958) como jogador-treinador, passaria a ser de um jornalista. So que José Gabriel González Peña, o Pepe Peña, ou PP, não se deu bem no papel de vidraça. Suas ideias arrojadas faziam o Globo até saber fazer a bola rolar e atrair multidões, mas careciam em saber vencer partidas, sobretudo longe de seu reduto em Parque de los Patricios. Em 60 pontos em disputa, o Huracán só obteve 25 e um insosso 10º lugar na tabela.
Naquela bagunça, Cap soube sobressair-se como quemero: sua regularidade ao longo dos 27 jogos em que participou o fizeram voltar após três anos à seleção (não a defendia desde aquela vitoriosa Copa América de 1959) no início de 1962, além de cavar-lhe uma transferência ao River, figurando já em fevereiro em um celebrado 2-1 amistoso (em tempos em que amistosos eram valorizadíssimos, diga-se) sobre o Santos pelo amistoso Triangular de Buenos Aires. O jogo encerrou uma invencibilidade internacional de oito partidas de Pelé e colegas, logo campeões da Libertadores e do Mundo no decorrer do ano. Foi já como recém-riverplatense que El Polaco efetivamente reestreou pela Argentina, em 13 de março de 1962, em 1-1 amistoso dentro de Montevidéu contra o Uruguai.
Em 28 de março, outro amistoso, em Buenos Aires: 1-0 no México, seguido de uma penca de partidas não-oficiais – 2-1 no clube alemão Preussen Münster em 22 de abril, 4-2 no Internacional em 25 de abril, 1-0 no Real Zaragoza em 29 de abril, 2-0 nesse mesmo clube em 3 de maio e então um 0-0 em 6 de maio contra um curioso combinado Boca-River. Chamado à Copa do Mundo no Chile, viu no banco o triunfo pouco convincente de 1-0 sobre a Bulgária na estreia. O treinador Juan Carlos Lorenzo, insatisfeito, alterou meio time para o duelo contra a prestigiada Inglaterra. O volante Cap ali foi improvisado como lateral na marcação ao astro Bobby Charlton, e assumidamente não foi bem.
Mesmo assim, Cap preservado para o duelo final. Ele e o resto da defesa fizeram sua parte, sem sofrer gols contra os “primos” da Hungria, mas o ataque não fez a dele: o 0-0 bastava ao adversário, mas eliminou cedo a Albiceleste. O volante teve ali involuntária despedida na seleção, por mais que, segundo o livro Quién es Quién en la Selección Argentina, viesse a ter no River suas melhores exibições. Que incluíram até lei do ex em 1962: seu único gol no ano veio em um violento chute a 35 metros do gol para iniciar uma virada de 6-2 sobre o Racing. Em uma edição vista na época como de pouco brilho técnico no campeonato argentino, a emoção compensou essa corneta.
O River chegou à liderança na 26ª rodada, junto a um Boca sob jejum fazia oito anos e um surpreendente Gimnasia, que chegara a vencer nove jogos seguidos e começou ali a ser apelidado de Lobo. Mas logo os platenses perderam fôlego e a disputa se resumiu à dupla principal, que chegou em pontuação igualada para um duelo direto na penúltima rodada. Brasileiros foram os protagonistas de um Superclásico histórico, definido por pênaltis: Paulinho Valentim abriu assim o placar aos 15 minutos para o Boca, mas, a cinco minutos do fim, Delém perdeu a chance do empate. De nada adiantou a enérgica reclamação de Cap com a inércia do árbitro Carlos Nai Fono em assinalar a gritante infração do goleiro Antonio Roma, que inegavelmente se adiantou três passos.
Havia chances matemáticas de reverter o estrago na rodada final, mas moralmente ele foi definido ali e em favor de um Boca que encerrava oito anos de jejum. O River, na seca fazia cinco, teria ali o primeiro de uma incrível série de títulos que deixava escapar nas retas finais. Em 1963, Cap e o Millo ganharam os seis primeiros jogos e terminaram como líderes do primeiro turno. Veio o declínio no segundo, quando foram líderes até a antepenúltima rodada: nela, a derrota em duelo direto com o Independiente fez o Rojo iguala-lo na pontuação. Na penúltima, um Boca sem chances de título por ter focado na Libertadores chegou ao Monumental cheio de desejo de atrapalhar o rival… e conseguiu, por 1-0, enquanto o Independiente vencia e praticamente assegurava a taça.
A reação em Núñez foi contratar um pacote de gente renomada em 1964: o uruguaio Roberto Matosas por um recorde no país até então (33 milhões de pesos), a promessa Hugo Gatti, Jorge Solari, o endiabrado ponta Luis Cubilla… mas, apesar do surgimento oportuno do ponta Oscar Más e de vencer por 5-1 o Barcelona em amistoso em julho, daquela vez o time sequer aspirou com o título, longe da campanha campeã do Boca – que, como se não bastasse, sagrou-se campeão em outro Superclásico na penúltima rodada. Em 1965, então, o Millo superou um começo pobre (duas derrotas nas três rodadas iniciais) para já na 9ª rodada virar líder e terminar o primeiro turno com uma vantagem de quatro pontos na liderança.
Mas o filme conhecido se repetiu: novos altos e baixos, nova derrota para o Boca na reta final (agora, na antepenúltima rodada, na qual a virada por 2-1 permitiu ao arquirrival que ultrapassasse na liderança) e adiante um novo título azul y oro, por um pontinho de diferença. Cap calhou de ser um dos rostos do penoso jejum que seria de dezoito anos, só não sendo recorrente na escalação riverplatense na temporada 1964. Após participar de 31 partidas em 1965, El Polaco foi negociado com o Vélez em 1966. O time foi bem, em 5º, mas com o veterano limitado a quatorze jogos, e alguns outros pela equipe B no campeonato da categoria. Deixou um último gol: foi em chute de 28 metros no rebote de uma falta para abrir o 3-1 no Argentinos Jrs.
Cap estendeu a carreira no futebol peruano, inicialmente no Porvenir Miraflores e depois no Sporting Cristal treinado pela lenda brasileira Didi. E já em 1968 se lançava como treinador, embora a primeira experiência fosse pouco auspiciosa. Curiosamente, foi também uma primeira virada de casaca, por ser no tradicional rival velezano no Clásico del Oeste. Até fez sua parte: chamado pelos verdolagas como bombeiro na reta final, só perdeu uma vez em suas seis partidas – mas era tarde para evitar que o FCO escapasse do rebaixamento, como 7º colocado de dez equipes em um grupo-repescagem onde somente os quatro primeiros se salvavam do descenso.
Dando um passo abaixo, El Polaco regressou ao River para treinar seus juvenis, sendo descrito como uma referência na base por muitos dos futuros pilares que encerrariam em 1975 aquele jejum de dezoito anos, casos do goleador Carlos Morete, (em entrevista dada em 2008) do classudo volante Juan José López (segundo essa nota de 2004) ou ainda do maestro Norberto Alonso (que já o reconhecia em 1972). Pontualmente, foi técnico do time principal pela primeira vez, em um comando interino contra o Racing naquele ano, em vitória por 1-0. Mas foi no Chacarita que Cap começou a ser reconhecido: seus funebreros foram líderes do Grupo A do Torneio Nacional de 1970, embora caíssem nas semifinais para o campeão Boca.
O bom trabalho no Chaca foi credencial para o antigo símbolo racinguista virar a casaca em Avellaneda. Para além do passado, Cap não encontrou no Independiente de 1971 um panorama animador ao chegar, diante das saídas de referências feitas Raúl Bernao (o malabarista ponta foi buscar pé de meia no Deportivo Cali), Héctor Yazalde (o centroavante foi fazer história no Sporting Lisboa) e Aníbal Tarabini (Monaco) e das chegadas sem alardes dos zagueiros Miguel Ángel López e Francisco Sá e do ponta Agustín Balbuena – então reforços mais baratos do que bons, mas que não tardariam a se imortalizar em Avellaneda.
Outra cara nova na Doble Visera, que Cap teve o mérito de promover dos juvenis, seria o defensor Rubén Galván, futuro reserva da seleção campeã mundial em 1978. O time foi mais regular do que brilhante no Torneio Metropolitano, mas soube seguir no encalço de um arrasador Vélez e dar um bote na hora certa para ultrapassa-lo em plena rodada final. Quase veio um bicampeonato com o Torneio Nacional, mas o Rojo caiu diante do San Lorenzo na primeira decisão por pênaltis da elite argentina, nas semifinais, em 18 de dezembro. Mas El Polaco conseguiu unir o grupo, com todo o plantel se reunindo na casa dele para passar a véspera de natal. Isso foi premiado de modo esquecido, mas decisivo, em 29 de dezembro.
Desde a implantação dos Torneios Metropolitano e Nacional, em 1967, as vagas argentinas na Libertadores vinham sendo dadas ao campeão e ao vice do Nacional – foi como vice desse torneio em 1967 e não como campeão do Metro daquele ano que o Estudiantes se classificara a La Copa de 1968. Calhou que em 1971 a AFA estabeleceu um tira-teima entre o campeão do Metro, o Independiente, e o vice do Nacional, que seria o San Lorenzo. Onze dias depois da queda nas semifinais, o Rojo conseguiu o troco, vencendo o Sanloré por 1-0. A curta era Cap foi o trampolim para que o Independiente, adiantasse, enfileirasse as quatro Libertadores entre 1972 e 1975, embora ele não ficasse para aquela série: em tempos deficitários do torneio e do futebol argentino, e diante da recusa do Rojo ao aumento salarial que pedira à direção, Cap aceitou proposta do Deportivo Cali.
Na Colômbia, foi no máximo vice-campeão nacional em 1972. Mas ainda tinha renome na terra natal. Estava em um cinema em Mar del Plata em janeiro de 1974 quando, em plena bilheteria, cruzou com cartolas da AFA, que ali mesmo o contratou para ser um dos técnicos da seleção na Copa do Mundo: o treinador nas eliminatórias, Omar Sívori, comunicara de antemão que não interessava-o seguir no cargo após a classificação, tamanha a desorganização institucional da AFA. E era mesmo tanta que seu presidente, Baldomero Gigán, na verdade não conhecia Cap… e contratou ainda outros dois técnicos: El Polaco era a cabeça de um triunvirato com José Varacka e Víctor Rodríguez. O grande mérito do trabalho deles acabou sendo promover a estreia de Ubaldo Fillol na Albiceleste.
Os dois anos longe das atualidades argentinas fizeram Cap se escorar no apoio do jornalismo para elaborar o projeto rumo à Alemanha Ocidental. De pouco adiantou: os resultados foram pífios em vitórias, o que incluiu derrota até para a seleção rosarina, a ponto do ex-volante ter a pior média entre os técnicos que trabalharam ao menos dez partidas na seleção no século XX – um triste destaque naquele seu perfil no livro Quién es Quién en la Selección Argentina. Sintomaticamente, ele chegou a ponto de escalar de titular na estreia quem havia chegado emergencialmente para o corte do atacante Roque Avallay, o volante Carlos Babington, ausente da lista original da convocação final. Seguiu confundindo a todos mesmo após o fim do curto ciclo: “o balanço não é bom, nem regular, nem mau”.
O desempenho abaixo da crítica no Mundial causou um ostracismo ao Polaco nas vitrines argentinas. Foi trabalhar no México (Gallos de Jalisco, em 1975-76), no Equador (vice-campeão com a LDU em 1977) e Colômbia (Junior de Barranquilla em 1978) até reaparecer, mas no modesto Platense. E ali fez o trabalho digno que lhe daria cartaz para a dupla Boca e River: primeiramente, por salvar com sucesso o clube marrom da queda à segundona em 1979, onde somente o líder do “quadrangular da morte” se salvava. Era uma miniliga entre os lanternas e vice-lanternas dos dois grupos do Metropolitano e, mesmo apostando folcloricamente em um goleiro de 18 anos e 1,69 metros de altura feio Aldo Varise, o Tense prevaleceu sobre o Gimnasia e a dupla Atlanta e Chacarita.
Em 1980, então, o mesmo elenco que se livrara do rebaixamento saltara no Metropolitano para o 4º lugar, a um pontinho do vice, o Argentinos Jrs maradoniano – datando exatamente daquele ano o início da rivalidade entre os dois clubes. No Nacional, a classificação foi perdida somente nos critérios de desempate para o River. Em 1981, a briga voltou a ser para não cair, dessa vez com a equipe de Vicente López a salvo ainda antes da rodada final. Naquele ano, os campeões foram a dupla Boca e River, justamente, respectivamente no Metropolitano e no Nacional. Mas, quando Cap os assumiu, o cenário já era bem diferente mesmo sob curtíssimo prazo.
O técnico do maradoniano Boca em 1981 havia sido um velho ídolo da casa, o ex-lateral Silvio Marzolini, que saíra apenas por desacerto financeiro na renovação contratual. Cap chegou a tempo de ainda aproveitar as migalhas da Era Maradona: era o treinador na excursão asiática que serviu de despedida a Dieguito entre janeiro e fevereiro de 1982. Mas, tal como em 1978, a seleção argentina iria impor uma longa concentração desde fevereiro com os pré-convocados e assim a Casa Amarilla já sabia de antemão que estaria desfalcada de seu grande astro ao longo de todo o semestre – muito antes de perdê-lo para o Barcelona em junho, mês em que El Polaco já treinava o rival.
Apesar do desfalque irreparável, Cap começou bem, muito bem. Logo na estreia dita “oficial”, um 4-2 no Huracán. E seu grande resultado viria exatamente no Superclásico. É verdade, numericamente o River estava muito mais desfalcado para a seleção: nada menos que sete millonarios estavam concentrados com Maradona (o único jogador do Boca chamado ao Mundial da Espanha), casos deUbaldo Fillol, Alberto Tarantini, Daniel Passarella, Julio Olarticoechea, Américo Gallego, Mario Kempes e Ramón Díaz. Ainda assim, um 5-1 azul y oro em pleno Monumental não é algo que se vê sempre. Esta é, até hoje, a humilhação mais elástica que os xeneizes já aplicaram sobre o arquirrival (logo eliminado) na casa dele.
Até a 10ª rodada, a fase era tão boa que Cap entrou nas estatísticas boquenses por outras razões: ao aproveitar a visita do ignoto Mariano Moreno de Junín à Bombonera, utilizou o adolescente Denny Ramírez, um atacante que tinha então simplesmente 15 anos de idade, tornando-se até hoje o mais jovem atleta utilizado oficialmente pelo time adulto do Boca. A equipe venceu por um conservador 2-0, mas começou a decair exatamente a partir de então, ao ser derrotado na rodada seguinte por 2-1 pelo Central Norte em Salta. Perdeu-se a liderança de um grupo embolado. E na penúltima rodada uma impiedosa goleada diante de um Talleres cheio de ex-jogadores do River (incluindo os citados Morete e Juan José López, além do treinador Ángel Labruna) selou uma eliminação precoce.
Cap não ficou para a rodada final: eliminação consumada, ele não teve o pudor de acertar sua ida ao River antes mesmo de demitir-se da Casa Amarilla, o que o fez ser juridicamente técnico de ambos por algumas horas. Revirou a casaca em 26 de maio e viu terra arrasada: os desmandos econômicos da ditadura, agravados pela derrota nas Malvinas, haviam feito o dólar se valorizar rapidamente em 240% e forçou um desmanche dos astros que haviam ido à Copa do Mundo. El Polaco, por sua vez, padecia de um câncer no pulmão. Só pôde estar à beira do gramado na seis rodadas iniciais do Metropolitano e em quatro jogos da Libertadores. Sua última aparição foi na derrota de 2-1 para o Racing de Córdoba em 29 de agosto, sendo então substituído interinamente pelo assistente José Vázquez.
Faleceu doze dias depois, em 10 de setembro, sem que a AFA se sensibilizasse para adiar precisamente o River x Platense previsto para dali a três dias. Trabalhou o suficiente para semear frutos: foi sob El Polaco que o River contratou do Defensores de Zárate o garoto Sergio Goycochea. Cap, que falava em contratar Carlos Bianchi ou Roberto Dinamite como novo centroavante do River (!), também garantiu a chegada de Antonio Alzamendi. O uruguaio detalharia em 2016 como se apalavrara com Cap – e faria em 1986 o único gol do único título mundial da Banda Roja.
Clique aqui para conhecer o seleto grupo dos que trabalharam no quarteto Boca, River, Racing e Independiente. Até hoje, ninguém esteve em todos os cinco grandes.
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