EspeciaisExterior

Nada de Pablo Escobar: campeã nacional e da Libertadores 2016, Medellín começou a ser forte graças a argentinos

Atlético Nacional campeão de 1976. Quatro argentinos: Miguel López, o quarto em pé; Olmedo, o último em pé; Bóveda, o terceiro agachado; e Navarro, o goleiro

Nenhuma cidade sul-americana vem festejando tanto em 2016 seu futebol como Medellín. Ontem, o Atlético Nacional honrou a melhor campanha da história da Libertadores: 33 pontos, só uma derrota, belo futebol e título em trajetória que deixou para trás brasileiros e argentinos. Meses antes, o rival Independiente Medellín foi campeão colombiano, também honrando a melhor campanha da fase inicial – na qual o Nacional havia sido, por um ponto, o segundo colocado. Se hoje os hermanos estão sumidos dos dois elencos, foram fundamentais para tornar os dois clubes grandes.

O primeiro auge de Medellín veio nos anos 50, na esteira do Eldorado Colombiano, quando a Colômbia tinha um dos campeonatos economicamente mais atrativos do mundo décadas antes do futebol virar sinônimo de negócio. Após o desmanche em 1953 do grande time do Eldorado, o Millonarios (dos astros argentinos Di Stéfano e Pedernera), Medellín concentrou a nova força.

O Nacional ganhou seu primeiro título nacional já em 1954, no embalo do argentino Carlos Gambina (ex-San Lorenzo e Gimnasia LP), artilheiro do campeonato. O técnico foi Fernando Paternoster, ex-zagueiro vice-campeão mundial em 1930. O Independiente foi o terceiro.

Em 1955, foi a vez do “DIM” ser campeão, também no embalo argentino: Felipe Marino (ex-Chacarita e Huracán) foi o artilheiro do campeonato. O segundo maior goleador do elenco vencedor também era hermano, Orlando Larraz. E o grande astro era o mais habilidoso jogador argentino da primeira metade do século XX: o meia-direita e capitão José Manuel Moreno, a quem portenhos mais velhos descreviam como superior a Maradona – falamos aqui.

Moreno tornou-se ali o primeiro jogador campeão em quatro países (argentino no River, mexicano no extinto Real España e presente no primeiro título chileno da Universidad Católica), a nível mundial, feito enorme em tempos menos globalizados e sem competições continentais entre clubes – e que só seria igualado nos anos 90. O técnico foi Delfín Benítez Cáceres, ex-atacante paraguaio que havia jogado pela seleção argentina. O vice foi justamente o vizinho Nacional.

Em 1957, o Independiente ganhou seu segundo título, tendo Juan José Ferraro, segundo maior artilheiro do Vélez. O técnico no fim foi o jogador-treinador René Seghini, ex-Boca e presente também na taça de 1955. Isso porque o técnico inicialmente era Moreno, que trocou de papéis com Seghini para jogar na reta final. Mas o grande nome foi José Vicente Grecco, ex-Unión de Santa Fe. Foi o argentino artilheiro da vez do campeonato e do clube campeão. Naquele ano, o Boca fez uma excursão à Colômbia e encarou as duas forças do Atanasio Girardot. Ganhou de 4-0 do Nacional (um dos gols, curiosamente, foi de Osvaldo Zubeldía, de quem logo falaremos).

Medellín02
Moreno recebendo o Boca em 1957, o goleador máximo Grecco e o recente Cano no DIM

Contra o Independiente, porém, o Boca levou de 5-2. Dois gols foram de Grecco, que ainda é o maior artilheiro da história do DIM, cujo Top 10 de maiores goleadores tem também de argentinos o já mencionado Felipe Marino e também Perfecto Rodríguez (ex-Boca e Estudiantes) e um nome mais recente, Germán Cano (artilheiro da liga colombiana nos Torneios Finalización de 2012 e de 2014), ex-Lanús, nenhum deles triunfante no próprio país natal. O clube só voltaria a ser campeão quase meio século depois, já no século XXI, em 2002. Na época do título de 1957, um dos fãs angariados foi o futuro traficante Pablo Escobar, então com 8 anos, ainda que nos anos 80 lavasse dinheiro e ordenasse mortes (como a de um árbitro) também em nome do Atlético Nacional.

O Independiente ainda teria outros jogadores conhecidos: o ponta Omar Corbatta, grande ídolo do Racing nos anos 50 e espécie de Garrincha argentino pela inocência e diabruras com a bola e o álcool – saiba mais. José Manuel Touriño, que jogava pela Espanha, veio em 1977 diretamente do Real Madrid. Carlos Salinas, decisivo na primeira Intercontinental vencida pelo Boca, em 1977, apareceu em 1982. José Pekerman, técnico que renasceu a seleção colombiana, jogou no DIM nos anos 70.

Já o Nacional também esperou um bom tempo após o título inicial em 1954. Mas recuperou-se mais cedo, em 19 anos. Antes do boom recente e de ser apadrinhado por Pablo Escobar nos anos 80, conseguiu três títulos colombianos entre 1973 e 1981, etapa onde os argentinos ainda faziam mais diferença na equipe. O principal deles foi o goleiro Raúl Navarro, ex-Huracán. Passou quase todos os anos 70 nos verdolagas e ergueu as três taças. Passou a jogar pela seleção colombiana: saiba mais.

Lóndero brilhou nos dois
Lóndero brilhou nos dois

Ídolo histórico no San Lorenzo e participante da Copa de 1966, o defensor Oscar Calics esteve na primeira das três conquistas, em 1973. Ramón Bóveda, ponta do grande Rosario Central do início da década, e Miguel Ángel López, defensor do Independiente tetra seguido nas Libertadores 1972-75, estiveram na de 1976. Osvaldo Palavecino, de carreira no interior argentino, saiu do Rosario Central para ser o artilheiro em 1977 e 1978. É o quarto maior artilheiro histórico da liga.

O terceiro maior é Hugo Lóndero (quando parou, era o maior), ex-Gimnasia LP, campeão em 1973 e 1976 e que jogaria também no arquirrival DIM – pelo qual fez quatro gols em um 5-1 em 1979, maior goleada do clássico. Como Navarro, Lóndero também defendeu a Colômbia. Brilhou ainda no América de Cali e no Cúcuta.

Osvaldo Zubeldía, que treinou o Estudiantes tri na Libertadores de 1968-70, foi campeão colombiano em 1976 e 1981, falecendo em 1982 ainda como treinador do Nacional. “Nunca pude falar com Osvaldo, mas tenho a melhor imagem dele. Nem falar do Estudiantes. E quando fui jogar em Medellín, onde ele trabalhou, as pessoas têm um conceito impressionante do Osvaldo”, declarou em 2011 José Luis Brown, outro ex-Estudiantes do Atlético Nacional (foi o primeiro a jogar pela Argentina vindo do futebol colombiano, em 1985) e zagueiro titular da Albiceleste campeã da Copa de 1986.

A partir dos anos 90, o fluxo se inverteu. Colombianos é que passaram a mostrar categoria no futebol argentino. Nenhum foi tão ídolo como Albeiro Usuriaga. Defendeu o Atlético Nacional no título anterior dos verdolagas na Libertadores, em 1989 (marcando gol na final). E se consagrou também em outro Independiente, o original argentino, de Avellaneda: relembre El Palomo clicando aqui.

Clique aqui para saber mais do Eldorado Colombiano, que chegou a fazer um inglês deixar o Manchester United para jogar no Santa Fe.

Festejos de 2016 em Medellín
Festejos de 2016 em Medellín

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

2 thoughts on “Nada de Pablo Escobar: campeã nacional e da Libertadores 2016, Medellín começou a ser forte graças a argentinos

  • Elias Brito (@elias_fisico)

    Que História!

  • Gustavo

    Tem dois argentinos no Nacional atualmente o goleiro Armani Armani o atacante rescaldani.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

dezoito − nove =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.