O cenário de sempre não faltou: estádio cheio de gente, todo apoio possível e irrestrito. Paciência e abnegação. Mas dentro de campo o contexto foi o mesmo da temporada passada: um time sem pegada no meio; com linhas mal formadas e com um ataque inconsistente. Além disso, no banco, o treinador também era o da temporada passada: um Bianchi escravo de seus conceitos fixos e imutáveis e com dificuldades para promover o novo. Quem se aproveitou foi o Newell´s, que soube fazer o mínimo necessário para levar o triunfo. E levou.
“Tudo indica que Bianchi está gagá”. A frase circula na boca de vários hinchas xeneizes e embora pareça ofensiva ela dispõe de certa legitimidade. Isto porque o treinador jamais abandona o esquema 4-4-2, quase sempre fixo. Pior ainda é que quando apresenta um mínimo de variação é sempre para pior. Foi o caso de ontem, na Bombonera. Quatro homens no meio-campo, mas três volantes de contenção: Erbes, Bravo e Gago (ontem, foi este o papel de Gago). Sobrou para Carrizo o trabalho de Hércules: armar uma equipe desequilibrada e com medo. Preocupados com a marcação, os homens do meio não ajudavam Carrizo e ainda se davam ao luxo de serem irregulares na proteção à zaga. Parece absurdo, mas deixavam Hernán Grana abandonado e sem luz; situação que otimizava ainda mais as lacunas defensivas do ex-lateral do All Boys.
Fosse só isso e tava bom. Mas foi ainda pior. Cata Díaz também pedia socorro, numa atuação lenta que é uma clara manifestação de que sua pré-temporada não serviu absolutamente para nada. Então, o jeito é o batalhão de volantes colar na zaga para salvá-la. Contudo, Erbes e Bravo não sabiam se recuavam para fazer a saída de jogo, se ficavam fixos ou se tratavam de cobrir as subidas de Grana e Zárate. Não sabiam também se atacavam. Não sabiam de nada. Gago era peso-morto, que não marcava ninguém e tampouco acertava um passe. Era também quem se permitia ao luxo de não se movimentar, de ficar paradinho, se escondendo do jogo.
Desnecessário dizer que a força da camisa estava presente. Só que ela se manifestava somente na postura de atacar o rival de forma a mostrar quem de fato mandava no pedaço. Efeito disso é que o ataque se materializava na falta de profundidade e na incompreensão acerca de quem era o camisa 9 da formação. Gigliotti se mostrava estático como sempre. Atuou de maneira péssima e distante daquilo que se espera dele. Porém, sua performance horrorosa foi também de responsabilidade do comandante do banco.
Se Gigliotti se mostra incapaz de se movimentar no ataque, há duas formas de lidar com o assunto. Ou o técnico o retira da equipe ou monta uma formação para privilegiar a presença estática de um camisa 9 que jamais deixou de ser um bom pivô e um finalizador de jogadas. Mas tem um detalhe: a equipe não pode entrar em campo com três volantes. Porém, se for assim, que ao menos eles sejam orientados a liberar de fato os flancos para a passagem dos alas. Em vez disso, no jogo de ontem, quando iam ao ataque, esses volantes se embolavam com Carrizo, numa centralização que apenas facilitava o trabalho defensivo do rival. Se é para ter Gigliotti, o trabalho no meio há de ser mais criativo e, para isso, o medo de perder precisa ser extirpado, já que ele atua no sentido de coibir e intimidar a criatividade no setor. Apenas assim a pelota chegaria mais facilmente ao camisa 9. Nada disso aconteceu porque mesmo o óbvio parece distante de ser compreendido por Bianchi.
Já o Newell´s tampouco jogou bem. Mas tinha suas razões. Mesmo no banco de reservas havia desfalques. Tanto foi assim que Raggio teve de levar a campo o jovem Maurício Tevez, de 17 anos. Bom dizer que o jogo do Newell´s era parecido com o do Boca. Melhor ainda é a lembrança de que alguns de seus jogadores são infinitamente mais inteligentes do que quase todos que ontem vestiam a camisa xeneize. Maxi Rodríguez, Bernardi, Mateo, Scocco e López são exemplos. E o cotejo foi tão fraco que apenas isto pareceu ser decisivo para o triunfo da Lepra de Rosário. Após Grana salvar um gol certo de Maxi, aos 44, o jovem Tevez se valeu da ausência de marcação para, aos 48 minutos, arrematar de fora da área e guardar a pelota no arco de Orión.
Na segunda etapa, a equipe de Bianchi voltou da mesma maneira, enquanto o Newell´s modificou sua forma de jogar. Resolver se plantar do meio para trás e esperar pelo “amedrontador” ataque xeneize. Raggio apostava que sua equipe poderia ceder campo e pelota ao rival que nada aconteceria. O fracasso criativo ficou claro no Boca, pois ninguém sabia o que fazer com a redonda. Pior que isso: seu técnico demorou 21 minutos para perceber o que estava acontecendo. Então, ele decidiu que o problema não era do esquema, mas de Carrizo. Colocou “Chapita” Fuenzalida para jogar.
Foi então que alguém no banco avisou que um volante poderia deixar a equipe em prol de uma ofensividade mais racional. Sendo assim, Bianchi tirou Erbes e colocou “Negro” Chávez na peleja. A movimentação melhorou, mas o time seguiu estranho. Afinal, o desenho ficou com dois volantes, três atacantes, mas com apenas um meia para armar as jogadas. Do ponto de vista da criação, a coisa seguia da mesma forma, mas, no ataque, a tendência era um bate-cabeça ainda maior.
Demorou mais 11 minutos para o técnico perceber a besteira e colocar mais um meia na equipe. Gonzalo Castellani pode não ter o brilho de Riquelme, mas tem bola para ser titular do conjunto “bostero”. Chega a ser incompreensível que o ex-jogador do Godoy Cruz seja a última opção do treinador, mesmo quando a equipe atua em casa e vai sendo derrotada. Bastou sua entrada para o Boca melhorar. Mas aí já havia fraturas demais, pouco tempo para uma reação e um visitante que havia se acomodado bem aos erros de seu anfitrião.
O Newell´s levou a vitória e deixou a impressão de que não precisou se esforçar muito para isso. Já o Boca, embora tenha atuado de forma deplorável, mais do que nunca deixou a mensagem de que a solução realmente pode está no banco de reservas. No seu comando. Em Carlos Bianchi, o Virrey que para muitos já faz horas-extra no gigante da Ribera.
Formações
Boca: Agustín Orion; Hernán Grana, Daniel Díaz, Lisandro Magallán, Nahuel Zárate; Cristian Erbes (Chávez), Fernando Gago, Federico Bravo (Castellani), Federico Carrizo (Fuenzalida); Juan Manuel Martínez e Emmanuel Gigliotti. Técnico: Carlos Bianchi.
Newell’s: Oscar Ustari; Marcos Cáceres (Corvalán), Leandro Fernández, Víctor López, Cristian Díaz; Hernán Villalba, Diego Mateo, Lucas Bernardi; Mauricio Tevez (Figueroa), Ignacio Scocco (Orzán) e Maximiliano Rodríguez. Técnico: Gustavo Raggio.
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