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Boca e River se provocam. Algum deles está com a razão?

Reflexo da rivalidade entre os dois gigantes, e com a pólvora disseminada no terreno do Superclássico, Boca e River trocam provocações que vão do humor ferino à possível tentativa de tirar o foco sobre o momento das duas equipes. Como protagonistas, temos Ramón Díaz, representando “La Banda”, enquanto Riquelme e Caruzzo vestem a máscara xeneize. Como o melhor do enredo, temos os pirulitos que Díaz presenteou os “garotos” do Boca. Prova de que uma das protagonistas é pouco crítica está no fato de que, se fosse levado em consideração apenas o fator-idade, também para os atletas millonarios o presente serviria.

Um jogo qualquer? Jamais! Prova disso é o fato de que Ramón Díaz levou seu emocional ao extremo a ponto de ser expulso da peleja pelo árbitro Germán Delfino. Além disso, o clima bélico da partida e as declarações no antes, durante e pós-jogo testemunham a favor da rivalidade sempre acesa entre Boca e River. Aceitável dizer que o jogo tinha certa importância para o Millo, em razão de sua disposição em lutar pelo título até a última cabeça. Porém, ao assumir o comando do banco do Gigante de Núñez, Ramón projetava um trabalho a longo prazo em que a formação de uma equipe competitiva é anterior e mais importante do que a própria conquista de um título neste momento.

Para o Boca, o fato de estar inúmeras rodadas sem triunfar no cenário local pouco importa, após a convincente vitória sobre o Corinthians, pela partida de ida das oitavas de final da Libertadores de América. Num caso e noutro tudo fica suspenso diante do Superclássico. Trata-se de uma disputa à parte, um caneco que somente quem chegou a condição de gigante parece ter o direito a disputar. Desta forma, os eventos posteriores aos noventa minutos, na Bombonera trazem, de volta o significado de um encontro entre os dois maiores clubes do futebol argentino.

O primeiro evento ocorreu do lado xeneize, ao comemorar o resultado, embora estivesse atuando em seus domínios. Parece banal para nós considerar o teor das declarações como uma provocação. Mas, convém levarmos em consideração que o significado do superclássico talvez seja aprendido por nós somente de maneira parcial. Assim sendo, apenas os atores diretamente envolvidos é que conseguem captar o imperceptível para nós: aquilo que se disputa no olho a olho dentro da cancha, nas palavras, nas caras feias e até na maldade de algumas faltas intencionais.

Para Díaz, o fato de o Boca comemorar o resultado foi sim uma provocação. De certa forma, o técnico do River poderia estar com a razão, se pensarmos que o Boca estaria desvalorizando os seus garotos e tendo-os como incapazes de igualar um jogo com o rival. Como não estamos na cabeça de Díaz, poderíamos perder de vista que ele tenha compreendido o contrário: que o Boca estaria justamente valorizando os seus garotos, ao deixar claro que até eles são geniais ao não deixarem o River vencer.

Por uma razão ou por outra Ramón se irritou e não deixou por menos. Ao terminar a entrevista pós-jogo, o técnico millonario pegou um saco de pirulitos e ofereceu para a garotada do Boca. Esta simples atitude já seria cáustica por si só. O problema é que a disposição de Díaz em ferir ainda mais o rival talvez tenha dado margem para uma resposta mais consistente do rival. Díaz encerrou a entrevista pedindo que se analisasse a equipe do Boca.

Neste caso, o técnico do River não se ateve ao fato de que a sua equipe apresentou uma média de idade ainda inferior ao do Boca, na Bombonera. Enquanto a média de idade dos xeneizes estava em 26, 4 anos, a do River era de 25, 4 meses, se considerarmos apenas os titulares de ambas as equipes que iniciaram o cotejo. Porém, como prova de que a subjetividade é fator preponderante quando se trata de analisar o rival, os atletas do Boca sequer perceberam isso. O que é uma penas, pois deixaria Ramón desconcertado.

De início, os atletas xeneizes resolveram se calar, seguindo o exemplo de “Dom Bianchi”, que preferiu o silêncio. Só que depois, Caruzzo veio a público e devolveu a provocação. “Criança eu não sou para ficar chupando pirulitos; mas não vi o que ele disse; o que posso afirmar é que os nossos garotos sempre respondem quando são chamados”, disse o zagueiro, sem saber bem como formular uma resposta mais adequada.

Foi então que Riquelme apareceu para dizer que “não me incomodou o que disse Ramón. Estamos contentes com os garotos da base e com o elenco que temos. Eu respeito jogadores de todos os clubes, independentemente de suas idades. Se os jovens da base estão na primeira equipe é porque merecem, e o mesmo ocorre com o River”, finalizou o enganche do conjunto da Ribera.

O que todo mundo se esquece é que as duas equipes estão na mira da crítica esportiva e dos próprios torcedores. Contra elas pairam uma enorme desconfiança. O Boca não consegue vencer em casa e ainda parece emocionalmente “borracho” com a goleada de 6×1 para o San Martín. Já o River não convence sobretudo pelo fato de possivelmente está perdendo a oportunidade de conquistar um título local, quando os seus principais rivais ou estão envolvidos com a Libertadores ou com a eminência do rebaixamento. Até por isso o Superclássico e a sua repercussão tem uma importância desmedida.

Veja no vídeo abaixo o presente de Díaz à garotada do Boca:

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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