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Blog: Seleção tem que jogar no ‘interior’

Já faz algum tempo que não faço, presencialmente, a cobertura dos jogos da Seleção, seja ela argentina ou brasileira. Os motivos não vêm ao caso. Mas, pela experiência que tive durante as últimas coberturas, durante a Copa América e alguns jogos das Eliminatórias 2010, e aos relatos de colegas de profissão que tiveram está oportunidade, cheguei a uma conclusão sobre tais jogos.

Tive a oportunidade de acompanhar jogos da Seleção Argentina tanto em Buenos Aires quanto no interior*. E a impressão que tive sobre os locais da partida foi quanto à receptividade do público. Nas cidades fora do eixo, para adequar o comparativo ao Brasil, o clamor foi totalmente distinto. Enquanto no interior existia a paixão, o sentimento de torcer pelo país, na capital a sensação era de um jogo qualquer. Os que foram ao Monumental foram para ver um espetáculo. Aos que foram no Gigante de Arroyito, dentre outros, foram para torcer pela seleção.

Desta forma, cheguei a conclusão de que não vale a pena fazer jogos nas capitais, em que não há qualquer apoio ao mandante. Nestes locais, os ‘torcedores’ exigem uma excelente atuação, sem levar em conta que o futebol é um esporte e que há um adversário disposto a vencer (quem não quer vencer uma seleção de peso?). Muitos destes sequer vão ao estádio de futebol no dia a dia ou sabem das regras. São indivíduos que exigem a vitória custe o que custar. Se ela não vier, entooam vaias mesmo em caso de vitória. Foi assim na partida contra o Peru (eliminatórias 2010) e foi assim nos jogos em que o Brasil jogou no Rio ou São Paulo e até mesmo em Belo Horizonte (quem não se lembra dos gritos de Messi no 0 x 0 em 2008?)

Quer prova maior do que os jogos no interior são melhores para as Seleções?: Veja os jogos em Córdoba, pela Seleção Argentina. Quem leu os relatos do Leonardo Lepri e do Matías Izaguirre aqui no Futebol Portenho após a partida da última sexta-feira sabe bem do que eu estou falando. Se você não leu, faça-o. Você perceberá que nestes locais, mesmo que o time não vença, haverá o apoio. As poucas vaias foram abafadas pelos cânticos de apoio.

Claro que há exceções, como aconteceu em Santa Fé durante o duelo contra a Colômbia, pela Copa América. Mas, em sua grande maioria, até mesmo na referida cidade durante o jogo contra o Uruguai, o apoio do público foi do início ao fim. Em Buenos Aires, pelo menos nas partidas em que estive presente, não existe tal apoio. Todos só querem ver o Messi dar show, ver a seleção fazer a obrigação. Mas, como já disse, não é assim que as coisas funcionam. Leve para o seu dia a dia. Você rende mais quando o seu chefe ficasse no seu ouvido lhe criticando o tempo todo, ou lhe incentivando, lhe dando apoio? Simples assim. Isso também vale para o futebol, amigo.

 

*Obs: Na Argentina, o termo ‘interior’ é usado pelos portenhos para todas as cidades que não são da Grande Buenos Aires. Mesmo as cidades de Córdoba, Mendoza, Rosário serem importantes para o País, seja para a cultura, política e o turismo, elas são consideradas como ‘interior’. Trazendo para o Brasil, seria como se o Rio e São Paulo fossem as capitas e o restante do Brasil o ‘interior’. Por aqui, usamos o termo ‘eixo’ para tais cidades e as demais como ‘fora do eixo Rio-São Paulo’.

Thiago Henrique de Morais

Fundador do site Futebol Portenho em 2009, se formou em jornalismo em 2007, mas trabalha na área desde 2004. Cobriu pelo Futebol Portenho as Eliminatórias 2010 e 2014, a Copa América 2011 e foi o responsável pela cobertura da Copa do Mundo de 2014

2 thoughts on “Blog: Seleção tem que jogar no ‘interior’

  • Thiago dos Santos

    Ou seja, o Brasil tem que jogar em BH e em Porto Alegre pois aí não vai ser vaiado?!?!?!

  • Thiago Henrique de Morais

    Mais um que gosta de generalizar as coisas…
    A Seleção tem que jogar em locais que o apoiem. BH, em 2008, já mostrou que não tem mais paciência (Brasil 0x0 Argentina). Não me lembro a última vez de POA.
    O fato é que no Rio e SP, quando passados 5 minutos já há vaia, não deve jogar mesmo.

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