É uma lástima para o futebol argentino que o River Plate tenha ido à B Nacional. Porém foi merecido e é preciso que ele fique por lá até aprender a se reconfigurar como um dos maiores clubes de futebol do mundo, assim como reza a sua nobre história. Aqui não tem torcida contra ou a favor, mas apenas uma constatação, a partir de tudo de errado que o Millionário continua fazendo, depois de tomar um baile do Pirata e ter ido à segunda divisão.O River Plate não sobe ao fim da temporada 2011/2012. Se ficar no meio da tabela, para mim vai ser uma surpresa. Vamos aos fatos.
Inicio com o fator “grandes distâncias”, animado por uma questão que o leitor Marcio de Azevedo Pinheiro colocou no seu comentário ao post “Radiografia da B Nacional: para o River e outros”. Nosso nobre leitor pontuou que se as distâncias argentinas são um adversário para o River, imaginemos então se o clube de Núñez disputasse o Brasileirão. As distâncias são um problema, antes de tudo, por uma questão de tradição e de adaptação. Como visitante, o clube da Capital Federal disputou quase todas as suas partidas, na primeira divisão, no entorno de sua cidade ou em outras muito próximas, na província de Buenos Aires. Quando foi para longe, visitou o Godoy Cruz, em Mendoza (pouco mais de 1.000 km de distância), o Olimpo, em Bahía Blanca (634 km), o Colon, na cidade do mesmo nome (320 km) e o Newell´s, em Rosário (300 km). No total, o clube viajou cerca de 5.000 km/ano e agora terá de percorrer algo em torno de 24.600 km. E isto por uma questão de sorte, já que a cidade de Buenos Aires está localizada no meio do mapa da Argentina.
Contudo, assim como no “Radiografia da B Nacional”, vou associar as grandes distâncias aos estádios. E aí a coisa fica pior para los Gallinas, pois até os clubes próximos ganham peso. O estádio do Merlo (um dos mais fracos times da Categoria) fica a 25 km do Monumental e, apesar de sua capacidade ser para 7.500 torcedores, apenas 5.000 deverão ser autorizados a entrar na cancha do Charro. As dimensões do campo são as menores possíveis; sua grama, assim como a da maioria das canchas da B Nacional, é diferente da grama autorizada e cara que a FIFA recomenda para a prática do futebol. Em algumas partes, encontramos somente terra batida; se estiver chovendo, barro. Mas, não um barro profundo em que a bola se recusa a circular. Até por ser uma terra batida, o que temos é aquela fina camada de barro, que o se rompe fácil e o torna extremamente escorregadio e perigoso para a prática do futebol. Quem no River, hoje, está adaptado a esse tipo de gramado? Ninguém, por isso, se estiver chovendo ou não, o Merlo é favorito no confronto.
Quanto às grandes distâncias, a situação se não é diferente é ainda pior. Sabemos como sofriam os clubes do Sul e Sudeste do Brasil, quando enfrentavam o Paissandu, lá em Belém ou mesmo o Fortaleza, no Ceará. Porém, imaginemos se esses grandes da Série A, tivessem de enfrentar o Papão no seu acanhado estádio da Curuzu? Ficou complicado? Então considere ainda que, diferentemente do que ocorre no Brasil, o River Plate não terá nesses estádios o chamado “torcedor duplo”, aquele que tem um clube local e outro grande como o Corinthians, Flamengo ou São Paulo. Isso, tanto no interior quanto na capital. Quem torce para o Chaca, torce para o Chaca e pronto. E é fanático. E odeia o River. O sonho de um desses hinchas hoje em dia? O de tirar uma casquinha e afundar ainda mais los Gallinas, no mar de lama em que eles mesmos se colocaram. Já basta? Pois é preciso considerar ainda que em todas essas partidas como visitante o Millionario não terá direito à presença de sua hinchada. Então voltemos às grandes distâncias e considere ainda o cenário de um River Plate jogando em Chubut, em um estádio para 12 mil torcedores a quase 1.200 km de distância e com todos os torcedores xingando os onze visitantes. Imaginemos o Lanzini (que deverá herdar a camisa do Lamela) olhando para esses torcedores e vendo-os babando de raiva e de vontade de pegá-lo, de um jeito ou de outro?
Podemos considerar que se por um lado o Millionario enfrentará essas dificuldades como visitante, os seus adversários provavelmente viverão a mesma situação em Núñez ou em outro estádio grande e tradicional dos arredores da Capital. Quem conhece o futebol argentino sabe que essa hipótese está descartada. São dois os motivos. O primeiro é que principalmente os times da Grande Buenos Aires não têm o perfil de quem têm medo do Monumental, do Cilindro ou do Amalfitani. O Ferro, Central, Chacarita ou Atlanta (assim como o próprio Huracán ou o Lobo) são clubes com identidades forjadas por cem anos de futebol e de enfrentamentos com os “seis grandes” (incluo o Fortín) da Argentina. O segundo motivo é que esses clubes sabem o quanto farão história, se vencerem o Millionario, como visitantes.
Agora vamos falar um pouco sobre o próprio River, já que ele é um de seus maiores adversários. Em Núñez, as pessoas se recusam a acordar. A prepotência e arrogância continuam em alta, encabeçadas pelo dirigente máximo, Danel Passarella. Ele mesmo, aquele em quem, algum dia, alguém viu um prestigiado treinador e em quem, se não bastasse, um outro gênio viu um dirigente de futebol. Na reunião que determinava como seria o regulamento da Categoria, o clube não mandou nenhum representante (empatou com o Globo, que é outro que também não acordou). Não precisava ser o presidente, o vice, o diretor de futebol. Mas precisava enviar um representante. Por que não enviou? Porque está pouco se lixando para a B Nacional, afinal o River era time de Primeira e, na cabeça de todos eles, ainda é.
Vários especialistas já comentaram que o clube deveria contratar alguns jogadores com o perfil da B Nacional. Não precisa saturar o elenco apenas com jogadores dessa Categoria, mas uns três ou quatro (e há excelentes jogadores na B Nacional) com experiência no Ascenso são imprescindíveis. Com perfil de jogadores de Primeira, “Chori” Dominguez e Alayes são os únicos que chegaram. Um bom jogador que poderia permanecer, el Tanque Pavone está quase indo embora e, quem diria, para o Lanús. Embora também viva um difícil momento financeiro, não seria difícil para o Millionario buscar o bom volante Gabriel Bustos, do descendido CAI, ou o Manuel Berra, do Cipolleti. Para a mesma posição, um volante marcador e com uma categoria rara para sair para o jogo e articular o meio campo gallina seria Matías Garrido, do Desamparados. Para a mesma posição, poderia trazer ainda o excelente Martin Zapata (craque), do Instituto, de longe um dos melhores da Categoria há três anos e um jogador em torno do qual gira o mistério (caso parecido com o de Franco Vázquez), pelo qual ainda joga na segunda divisão. Para zaga, não faltam opções, mas vale o destaque para Pablo Nievas, do Los Andes, e com menos prestígio, para o bom Alan Cristian Vester, do Huracán Tres Arroyos. Para o ataque, poderia buscar o oportunista Jonathan Ledesma, do Dock Sud, ou Ezequiel Lazo, do Central Córdoba. Todos esses jogadores já estão acertando ou já acertaram novos contratos com outras equipes. Não faria mal ao River a contratação de um Mauro Laspada ou Javier “Satanás” Paez. O Ascenso está cheio deles, Pablo Nievas, citado acima, está quase neste perfil. Enquanto o time de Buenos Aires vira as costas para essa realidade, o Gimnasia y Esgrima não se acanha em abraçá-la rapidamente. Quase todos os jogadores que o Lobo contratou até agora têm experiência com o Ascenso.
O decaído de Núñez já conta com a simpatia de Grondona e de outros “maiorais imorais”. O River não deverá perder pontos pelo vandalismo dentro e fora de campo, após ser rebaixado pelo Belgrano. Fato que leva o Nueva Chicago a entrar com recurso para que lhe sejam devolvidos os 17 pontos, quando foi rebaixado, e por incidentes iguais no grau, mas incomparáveis nos números. Por causa disso, el Torito foi parar na B Metropolitana. Se de fato perdesse os 20 pontos cogitados, o Millionario dificilmente não pararia também na B Metro. Apesar disso, contudo, e de outras medidas que estão sendo articuladas nos bastidores, a coisa não irá muito, além disso. O fato de seus jogos como visitante serem com TV aberta vai inibir excessos de “equívocos” pró River, por partes dos árbitros. Além disso, os árbitros do Ascenso sabem que certos “equívocos” no Monumental, ou mesmo para o Millionario como visitante no Ciudad La Plata, no Cilindro ou no Tomás Adolfo Ducó, não é a mesma coisa que no El Serpantario, de San Juan, no 23 de Agosto, em Jujuy ou no Raúl Conti, em Chubut. Nesses lugares, os árbitros sabem que seus “equívocos” podem ter o custo de suas vidas.
Contar somente com o peso da camisa é outro erro que o clube tem cometido. O Rosário Central serve de exemplo. Depois de cair para a B Nacional, o Canalla achou que voltaria rapidamente, sem grandes esforços. Não subiu e se deu muito mal. Amargou grandes prejuízos pelos seus equívocos e agora tem feito um projeto sério para seu retorno ao futebol de elite. O fator “camisa” tem gerado um efeito contrário do que acreditam os dirigentes dos clubes grandes. É também pela camisa do River que seus adversários jogarão. Se ganharem farão história, se perderem pouco importa, pois estarão perdendo para um grande. Então, a coisa se resume ao seguinte: para alguns desses times o enfrentamento com o Millionario é um fato histórico, enquanto que para los Gallinas isso não significa absolutamente nada. Todos se preocupam com o River, enquanto que time de Núñez não se preocupa com nenhum deles. Todos estudam o River, enquanto este não estuda ninguém e, por fim, todos farão o jogo da vida frente ao River Plate, enquanto este fará mais um jogo para o qual precisa encontrar ânimo, já que parece ter deixado sua alma na primeira divisão. Por isso, se não mudar radicalmente (o que não acredito) o River Plate não deve subir ao fim da temporada.
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Meu amigo, é profundo seu texto e muito corajoso. Mas não concordo com ele não. O River vai subir fácil e ocupar o lugas justamente do Boca-lixo no ano que vem.
Esqueci de falar que nunca que o River vai perder para o miserável time do Merlo. E nem pro Chacarita. Que história é essa? Abraço e parabéns pelo site.
O River não vai subir fácil. Isso se subir ...
Meu caro João Carlos, antes de qualquer coisa, obrigado por prestigiar nosso trabalho aqui no site. Pergunto se você torce para o River? Em caso afirmativo, acho que você tem todo o direito de não concordar com minhas palavras. Porém, no meu caso, eu tenho de ficar alheio ao fato de torcer contra ou a favor, já que preciso manter um distanciamento necessário. Penso que o Millionario não deve subir porque até agora tem feito tudo para que isto ocorra. A empáfia dos dirigentes millionarios é assustadora. Estão achando que não precisarão fazer nada para subir, assim como o Canalla na temporada anterior. Quando abrirem os olhos poderá ser tarde demais. O clube vendeu o Lamela por uma boa grana. O correto era sanar parte da vergonhosa dívida que se arrasta faz tempo. Como não vão fazer isso, deveria investir parte desse dinheiro nas contratações que sugeri acima. Ao menos assim, daria uma demonstração de seriedade. Um grande abraço e, mais uma vez, grato pelo prestígio ao nosso trabalho.
Parei de ler o texto quando o autor se referiu ao maior clube da Argentina de modo desrespeitoso. Lamento que o site permita isso em uma publicação. Atitude ridícula que contradiz o que o "autor" disse no início do texto, que era imparcial. Para mim trata-se de um "bostero de mierda", e nunca mais lerei nada que esse cidadão venha a postar. Convoco a todos os torcedores do River a repudiar essa pessoa maldosa e desreipetosa.
Parabéns, Joza, pelo texto corajoso e imparcial. Logicamente os plumíferos não gostaram, mas essa possibilidade é real.
Magistral o texto, Joza, impecável mesmo. E para esse idiota acima, o tal de Elsio, eu digo que sou hincha do River até a morte e que não aceito que ele fale em nome de toda a torcida. É por pensamentos como esse que o nosso clube está na segunda divisão. Não reconheço esse cidadão no meio da hinchada millionaria e se ele lesse o texto até o fim talvez pensasse um pouco diferente. Parabéns ao autor por mais essa matéria brilhante.
Acho que o texto está perfeito. Reflete bem o atual momento do clube. Administrações desastrosas nas gestões anteriores levaram à essa situação. E pelo jeito, a direção(e boa parte da torcida) ainda não acordaram para a realidade, que é triste. Uma pena.
Em tempo, não sou River, nem Boca.
sou river,mas tenho que admitir a prepotência e o orgulho,podem fazer do river,mais um time grande na B nacional,o q é triste,já que existem tantos lá,que pagam até hoje por isso.
Não conheço esse tal de "Lucas" e não tenho hábito de ofender a quem não conheço. Apenas expressei minha opinião por não aceitar, como torcedor do River, ser chamado de "los Gallinas". Se ele se encaixa nesse perfil, não há nada que eu possa fazer. Acompanho diariamente o site desde seu começo, sou fã, pois amo o futebol argentino e o River, mas não irei puxar o saco de ninguém. Se não gostar de algo, colocarei minha crítica. Apenas lembrando o mestre Nélson Rodrigues: Toda unanimidade é burra. E, em tempo, Lucas vai para o INFERNO !